Publicado originalmente em inglês no WSWS em 6 de
setembro de 2008.
Este é o sétimo em uma série de artigos
sobre os eventos de maio/junho de 1968 na França. A parte 1, publicada em 28
de maio, aborda o desenvolvimento da revolta estudantil e da greve
geral até seu ápice no final de maio. A parte
2, publicada em 29 de maio, examina como o Partido Comunista
(PCF) e sua central sindical associada, a CGT, permitiram que
o Presidente Charles de Gaulle retomasse o controle. As partes
3 e 4
examinam o papel dos pablistas; as partes 5,
6, 7 e 8
examinam a Organization Communiste Internationaliste (OCI) de
Pierre Lambert.
A evolução à direita da
OCI
Os eventos de 1968 marcam um ponto de virada na história
da OCI. Na época da greve geral, a OCI, cujas raízes
estão no movimento trotskista, já evoluíra
numa direção marcadamente centrista, suas políticas
cada vez mais voltadas às burocracias stalinista e reformista.
Três anos depois, rompeu com o movimento trotskista internacional
e se tornou uma importante base do Partido Socialista Francês
e, conseqüentemente, do estado burguês da França.
O movimento estudantil e a greve geral haviam trazido à
OCI vários milhares de novos membros e contatos. Eles entraram
em uma organização aparentemente trotskista, mas
a orientação centrista da OCI os fez rumar em direção
aos aparatos burocráticos. Não foram treinados como
marxistas, e sim educados como oportunistas.
Esses jovens, que gradualmente substituíram os antigos
quadros, tiveram um importante papel no desenvolvimento da OCI
rumo à direita. Muitos depois se juntaram ao Partido Socialista,
embarcando em carreiras políticas e assumindo os mais altos
cargos governamentais.
A evolução da OCI rumo à direita estava
fortemente ligada ao ascenso de uma camada social que em 1968
era foco de suas atenções as fileiras inferiores
da burocracia sindical, que ela chamava de "quadros organizadores
da classe trabalhadora".
Como vimos, a OCI esperava que a aguda crise política
pusesse esses "quadros" em conflito com os "aparatos,"
forçando-os para a esquerda. Essa esperança se baseava
não apenas em um falso entendimento do caráter dos
sindicatos, como também numa avaliação incorreta
do regime gaullista, cuja força a OCI superestimou enormemente.
Desde 1958, quando o General de Gaulle voltou ao poder durante
o ápice da crise da Argélia e implementou uma constituição
talhada segundo seus caprichos pessoais, a OCI caracterizava seu
governo como bonapartista. "De Gaulle não é
apenas mais uma personalidade política da burguesia francesa",
escreveu a OCI num artigo programático publicado no La
Vérité no início de 1968, sob o título
de "O Bonapartismo Gaullista e as Tarefas da Vanguarda,"
mas, na realidade, de Gaulle havia se imposto sobre sua classe
e por ela era apoiado para "conduzir sua luta contra o proletariado
e seus rivais internacionais com a sustentação de
um Estado forte, que subordina todas as camadas sociais, mobiliza
todos os recursos da economia e todas as áreas da sociedade
exclusivamente em favor do grande capital" [25].
A OCI atribuiu poderes quase sobrehumanos a de Gaulle. "O
Estado estabelecido por ele é um braço de ferro
que permite que uma burguesia senil e febril permaneça
em pé", afirmava o mesmo artigo. O parlamento era
meramente uma fachada, permitindo que os "líderes
dos trabalhadores preservassem as ilusões eleitorais das
massas".
Por um longo tempo, a OCI levou uma existência subterrânea
porque antecipou que de Gaulle adotaria formas de governo abertamente
ditatoriais. A organização estava convencida que,
no caso de uma crise séria, ele esmagaria o movimento dos
trabalhadores com o apoio dos líderes sindicais, que estavam
integrados ao Estado.
A OCI escreveu: "Esmagar politicamente o movimento dos
trabalhadores, destruindo e dispersando o quadro organizador da
classe, é o objetivo compartilhado por de Gaulle e o aparato".
O "aparato" se confrontava com a alternativa de "ir
abaixo ou se integrar ao Estado, se tornando o agente direto dos
planos assassinos do bonapartismo", enquanto "o quadro
organizador, que permanece no campo da guerra de classes, tende
a separar-se das políticas do aparato".
Mas em 1968, a realidade parecia muito diferente daquilo que
a OCI havia imaginado. O regime gaullista provou ser muito mais
fraco do que ela antecipara e não ousou suprimir a greve
geral de 10 milhões de trabalhadores pela força.
Para colocá-la sob controle, usou não apenas o "aparato",
mas, acima de tudo, os "quadros" sobre os quais a OCI
depositava suas esperanças. Enquanto as concessões
materiais que o regime fez aos trabalhadores eram relativamente
pequenas, os verdadeiros beneficiários da greve geral foram
esses "quadros."
Para uma ampla camada de burocratas sindicais, 1968 marcou
o início de um ascenso social que assegurou cargos substanciosos
e influência política. Parte do acordo de Grenelle
consistia na estabilização e ancoramento legal dos
sindicatos dentro da indústria, algo que o governo insistiu
em levar adiante contra a resistência inicial das associações
de empregadores.
O acordo também garantia a continuidade da administração
conjunta do sistema de seguridade social por sindicatos e empregadores.
Os orçamentos subsidiados pelo Estado dos vários
esquemas de seguridade social valiam milhões, garantindo
a vários burocratas sindicais (incluindo muitos membros
proeminentes da OCI) cheques de pagamento cada vez maiores, mesmo
enquanto caía o número de membros dos sindicatos.
Além disso, a unificação dos grupos social-democratas
fragmentados no Partido Socialista em 1969 e sua aliança
eleitoral com o Partido Comunista deram oportunidades de avanço
político a muitos funcionários. A "esquerda",
desacreditada por seu papel infame na guerra da Argélia
e na Quarta República, era novamente uma força política.
Seus numerosos postos de nível local, regional e (depois
da eleição de François Mitterrand como presidente)
nacional se provaram muito atraentes.
Após 1968, a OCI manteve sua orientação
e adaptou seu programa político ao ascenso social da burocracia.
Em 1971, não mais traçava uma distinção
entre "quadros" e "aparato", flertando com
o "aparato" também. Mitterrand, quem a OCI havia
atacado ferozmente em 1968, apareceu como orador num grande encontro
da OCI que celebrava o centésimo aniversário da
Comuna de Paris. A "frente única de classe" não
mais era identificada com o "comitê central de greve",
mas com a aliança eleitoral entre partidos Socialista e
Comunista.
A OCI até denunciou alguns dos grupos radicais que lançaram
seus próprios candidatos eleitorais. Em 1969, a OCI atacou
agressivamente a pablista Ligue Communiste Internationaliste (LCR)
porque ela possuía seu próprio candidato presidencial,
Alain Krivine. Como afirmava a OCI em seu jornal da juventude,
Jeunesse révolutionnaire, isso separava os "trabalhadores
avançados' dos trabalhadores que permaneciam fiéis
às suas organizações e partidos", e
fornecia "munição para a burguesia e para o
aparato stalinista". Em 1974, a OCI condenou a participação
nas eleições de Krivine e Arlette Laguiller da Lutte
Ouvrière como "candidaturas sem princípios
contra a frente única dos trabalhadores". [26]
Em 1971, a OCI inseriu vários de seus membros no Partido
Socialista. A tarefa não era desenvolver uma facção,
mas sim apoiar Mitterrand. O mais bem-sucedido desses membros,
Lionel Jospin, subiu rapidamente dentro do círculo de conselheiros
do futuro presidente, finalmente sucedendo-o como chefe do Partido
Socialista em 1981. Nessa época, Jospin ainda era um membro
da OCI e se encontrava regularmente para consultas com Pierre
Lambert. Testemunhas desde então confirmaram que Mitterrand
estava bem ciente da verdadeira identidade política de
seu favorito. Entre 1997 e 2002, Jospin foi o primeiro ministro
da França pelo Partido Socialista.
A OCI conquistou o "aparato" da terceira maior federação
sindical francesa, a Force Ouvrière, e da federação
estudantil UNEF. Por muitos anos, membros da OCI ou apoiadores
próximos encabeçaram ambas as organizações.
Em 1986, Jean-Christophe Cambadélis, por muitos anos encarregado
do trabalho estudantil da organização, passou direto
do comitê central da OCI para a liderança do Partido
Socialista, levando consigo 450 membros da OCI.
De 1985 em diante, a OCI começou a cuidadosamente dissociar-se
do Partido Socialista, que desde 1981 havia suprido à república
burguesa seu presidente e formado seu governo, implementando políticas
em favor dos interesses do grande negócio. A OCI criou
o Mouvement pour un Parti des travailleurs (Movimento por um Partido
dos Trabalhadores, MPPT). Apesar de ter sido criado exclusivamente
pela OCI, ela sempre frisou que os "trotskistas" eram
apenas uma minoria dentro da organização, que estava
aberta às correntes social-democratas, comunistas e anarco-sindicalistas.
O MPPT era um reservatório de burocratas insatisfeitos,
vindos dos sindicatos e partidos, que perderam as lideranças
das suas próprias organizações ou cujo avanço
de carreira havia sido negligenciado.
Em 1985, o MPPT foi renomeado Parti des travailleurs (Partido
dos Trabalhadores PT), e em junho de 2008 foi dissolvido
no Parti ouvrier independent (Partido Operário Independente
POI). O slogan desse novo partido, "Pelo socialismo,
a República e Democracia," está inegavelmente
na tradição da social-democracia de direita. Fala
àquelas camadas da pequena-burguesia e da burocracia sindical
que responderam à globalização pela promoção
do estado nacional. Seu trabalho político se centra na
agitação contra a União Européia,
à qual não contrapõe uma Europa socialista,
mas "uma união livre e fraternal de todos os povos
da Europa". Um outro slogan do POI diz: "Sim à
soberania dos povos da Europa". É inescapável
a tonalidade nacionalista desses slogans.
As raízes do centrismo da OCI
O declínio centrista da OCI começou muito antes
de 1968. Em junho de 1967, a seção britânica
do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI),
a Socialist Labour League (Liga Socialista dos Trabalhadores
SLL na sigla em inglês), escreveu uma longa carta à
OCI com uma crítica afiada às políticas que
determinariam sua intervenção em 1968. Em particular,
a carta apontava para o crescente ceticismo da OCI em relação
à viabilidade do Comitê Internacional, e o significado
de sua luta contra o pablismo. [27]
Um ano antes, no Terceiro Congresso Mundial do CIQI, a OCI
apoiara uma emenda submetida pela SLL que insistia que os esforços
revisionistas de destruição da Quarta Internacional
haviam sido derrotados com sucesso. O congresso insistiu que a
luta contra o revisionismo não era um desvio das tarefas
mais importantes de construção do partido. Em vez
disso, em sua defesa persistente do marxismo contra o revisionismo
pablista, o movimento trotskista havia combatido a pressão
ideológica da burguesia e desenvolvido sua perspectiva
revolucionária. A luta contra o revisionismo pablista corporificava
a continuidade da Quarta Internacional, insistiu o congresso,
e era uma pré-condição necessária
da construção da uma nova direção
proletária.
A emenda do SLL era direcionada contra a tendência espartaquista
e contra o grupo Voix Ouvrière (hoje Lutte Ouvrière),
que participavam do congresso como convidados. Eles interpretaram
o título ambíguo da resolução, "Reconstrução
da Quarta Internacional", como significando que o CIQI havia
sido destruído e que a luta travada pelo Comitê Internacional
desde 1953 contra o revisionismo pablista carecia de qualquer
valor teórico ou político. Eles primavam pela "reconstrução"
da Quarta Internacional sobre a base de uma ampla anistia política,
onde as questões programáticas cruciais que levaram
à cisão de 1953 eram simplesmente postas de lado.
Quando essas duas organizações perceberam que o
Comitê Internacional se opunha a tal curso liquidacionaista,
elas deixaram o congresso.
Confrontados com a hostilidade histérica demonstrada
pela tendência espartaquista e pela Voix Ouvrière
em detrimento da luta histórica do CIQI contra os pablistas,
a OCI se alinhou com a SLL e votou em favor de sua emenda. Mas
logo ficou claro que a OCI mantinha suas reservas e considerações
próprias.
Em maio de 1967, ela publicou uma declaração
que questionava abertamente as conquistas do Terceiro Congresso
Mundial. Sob o pretexto de delinear um "balanço da
atividade do CI" desde o Terceiro Congresso Mundial e procurar
"a abertura de discussões necessárias à
solução de problemas que a Terceira Conferência
do CI não pôde discutir", a OCI negou a continuidade
da Quarta Internacional. [28]
"Tendo declarado a falência da liderança
pablista, não podemos simplesmente definir que a Quarta
Internacional continua pura e simplesmente, com o CI tomando o
lugar do SU [Secretariado Unificado] pablista", dizia o documento
da OCI. Ele continuava afirmando que "toda a velha liderança
da Quarta Internacional capitulou sob a pressão do imperialismo
e do stalinismo".
A "crise pablista deslocou a Quarta Internacional organizacionalmente",
continuava o documento da OCI, e "fez acumular problemas
teóricos e políticos para serem solucionados....
Não podemos gritar o Rei está morto, vida
longa ao Rei'. Precisamos abrir uma discussão sobre essas
questões, uma discussão que ainda não foi
cuidadosamente levantada pelo IC".
O documento culminava com a declaração: "Basicamente,
a Quarta Internacional foi destruída pela pressão
de forças de classe hostis.... O CI não é
a liderança da Quarta Internacional.... O CI é a
força motivadora da reconstrução da Quarta
Internacional." [29]
O documento então apresentava o pablismo de uma forma
que desconsiderava completamente a análise feita previamente
pelo Comitê Internacional. A OCI não acusava os pablistas
da revisão do programa marxista, de desistir da luta pela
independência política da classe trabalhadora e no
lugar buscar a liquidação da Quarta Internacional.
Em vez disso, acusava os pablistas da manutenção
da "concepção de uma Quarta Internacional acabada
e partidos posicionados segundo uma hierarquia piramidal, com
congressos mundiais e uma estrutura ultra-centralista". A
OCI chegou ao ponto de afirmar que Trotsky considerava a Quarta
Internacional "nem como construída nem como possuindo
uma estrutura definitiva" [30].
Na trilha da disputa com a tendência espartaquista e
com a Voix Ouvrière, a SLL britânica foi ágil
em compreender o significado dessas palavras e rejeitar determinadamente
a tentativa da OCI de questionar o papel do Comitê Internacional.
"O futuro da Quarta Internacional é representado na
experiência e no ódio armazenado de milhões
de trabalhadores pelos stalinistas e reformistas que traem suas
lutas", escreveu. "A Quarta Internacional precisa conscientemente
lutar pela direção, para suprir essa necessidade....
Apenas essa luta contra o revisionismo pode preparar os quadros
para tomarem a direção dos milhões de trabalhadores
lançados ao combate contra o capitalismo e contra a burocracia....
A luta viva contra o pablismo e o treinamento de quadros e partidos
sobre a base dessa luta foi a vida da Quarta Internacional nos
anos desde 1952" [31].
A SLL não se limitou a defender a continuidade histórica
da Quarta Internacional. Ela demonstrou a ligação
entre as mudanças objetivas na luta de classes e o crescente
ceticismo da OCI. Confrontada com uma progressiva radicalização
dos trabalhadores e jovens por todo o mundo e pela fraqueza numérica
de seus próprios quadros, a OCI buscou um atalho oportunista
que permitiria que ganhasse influência sem que conduzisse
uma luta laboriosa pela consciência marxista dentro da classe
trabalhadora. Esse era o significado da alegação
de que os pablistas advogavam uma Internacional "ultra-centralista",
da afirmação de que Trotsky favorecia uma internacional
sem estrutura firme, e da insistência em apontar após
o Terceiro Congresso Mundial fraquezas organizacionais e lapsos
do Comitê Internacional.
A SLL, então, advertiu: "Agora a radicalização
de trabalhadores na Europa ocidental está avançando
rapidamente, particularmente na França.... Há sempre
o perigo de que em tal estágio de desenvolvimento um partido
revolucionário responda à situação
da classe trabalhadora não de uma maneira revolucionária,
mas adaptando-se ao nível da luta ao qual os trabalhadores
estão restringidos pela própria experiência
sob a velha direção isto é, uma adaptação
à inevitável confusão inicial. Tais revisões
da luta pelo partido independente e o Programa de Transição
estão normalmente vestidas com o disfarce de chegar mais
perto da classe trabalhadora, unidade de todos aqueles em luta,
não colocar ultimatos, abandonar os dogmatismos etc"
(ênfase no original) [32].
A orientação oportunista da OCI emergiu particularmente
cristalina em sua interpretação da "frente
única". Como ela escreveu: "Entre 1944 e 1951
era costumeiro que o PCI [predecessor da OCI] enviasse cartas
ao BP [Birô Político] do PC francês para oferecê-lo
uma frente única, organização com organização".
Dada a fraqueza numérica do PCI, tal política era
irreal, pois: "Que setor liderado pelo PCI poderia fornecer
uma base para a frente única entre ele e o PC francês?"
"Agora", continua a OCI, "nossa política
de frente única é diferente. Nós expressamos
exigências dos trabalhadores avançados às
lideranças reconhecidas pela classe trabalhadora (SFIO,
PC francês, lideranças sindicais); é necessário
romper com a burguesia e levantar a frente única de classe....
Nós juntamos e organizamos camadas da juventude, trabalhadores
e militantes para lutar pela frente única. Através
dessas batalhas pela frente única estamos construindo a
OCI." [33]
A SLL protestou fortemente contra essa concepção
da "frente única." Insistiu que o partido "precisa
lutar abertamente com base em suas próprias políticas
para desafiar as lideranças centristas e oportunistas da
classe trabalhadora". Quando a "frente única
é posta como uma alternativa, um caminho mais fácil,
em oposição à luta pela liderança
independente", ela tira os trabalhadores do caminho da liderança
revolucionária. "Neste estágio da crise mundial,
neste estágio da luta contra o revisionismo, retirar toda
a ênfase da construção do Partido Bolchevique
é abrir a porta para toda a pressão do inimigo de
classe. A assim chamada frente única de classe é
uma expressão desse caminho perigoso, um caminho desastroso",
alertou a SLL (ênfase no original) [34].
A SLL escreveu que, essencialmente, a política da OCI
significava: "A Frente Única em primeiro lugar e,
através dela, o partido em segundo. Nós rejeitamos
isso". Continuava, "Na forma proposta pela OCI, é
uma preparação para a liquidação,
tão certamente quanto foi a teoria pablista do entrismo
sui generis'... A essência em ambos os casos é o
abandono da importância central da construção
do partido revolucionário" (ênfase no original)
[35].
Como vimos, a OCI rejeitava a crítica feita pela SLL.
A intervenção da OCI nos eventos revolucionários
de 1968 foi baseada na linha política que a SLL tanto criticou,
e, como a SLL previu, essa orientação eventualmente
trouxe a liquidação da OCI como partido trotskista.
A carta de 19 de junho de 1967 foi a última crítica
aprofundada da linha política da OCI pela seção
britânica. Nos anos seguintes, a SLL falhou em desenvolver
qualquer análise minuciosa da linha da OCI. Publicou uma
série de artigos superficiais escritos por Tom Kemp sobre
os eventos de Maio-Junho de 1968 que fundamentalmente ignoravam
o papel da OCI. Se evitar a crítica pública poderia
ser justificado pelo fato da OCI ainda estar em 1968 oficialmente
associada ao Comitê Internacional, a SLL também falhou
em examinar as raízes da degeneração centrista
da OCI depois que ela rompeu com o CIQI em 1971.
Tal investigação era vitalmente necessária
para armar os quadros do Comitê Internacional política
e teoricamente. Sua tarefa teria sido ir para bem antes dos eventos
de 1968 e 1966 e demonstrar como a orientação centrista
da OCI se desenvolveu, revelando os problemas políticos
implicados na degeneração. A SLL evitou essa tarefa,
porém, declarando que as diferenças políticas
envolvidas eram apenas manifestações secundárias
de diferenças filosóficas, e que a investigação
concreta das questões políticas poderia ser substituída
por uma discussão abstrata dos problemas epistemológicos.
Justificou sua quebra com a OCI somente sobre a base da rejeição
pela última do materialismo dialético enquanto teoria
marxista do conhecimento.
Atrás dessa evasão por parte da SLL estavam diferenças
dentro de suas próprias fileiras, que a direção
do partido não queria discutir. Uma discussão aberta,
incitada pela disputa com a OCI, poderia ter abalado os sucessos
práticos e organizacionais que a direção
considerava serem mais importantes que o esclarecimento político.
No final, a SLL pagou um alto preço por sua recusa em
examinar a degeneração da OCI. Os problemas políticos
fundamentais não esclarecidos achariam seu caminho para
dentro da SLL. Em 1974, a OCI foi capaz de provocar tensões
substanciais dentro do Workers Revolutionary Party (Partido Revolucionário
dos Trabalhadores WRP na sigla em inglês, foi o sucessor
da SLL) através da figura de Alan Thornett, o líder
do trabalho sindical da SLL/WRP. Na crise resultante, o WRP perdeu
uma larga parte de seu corpo de membros dentro das fábricas.
Ao final da década de 1970, o WRP havia percorrido um percurso
oportunista na Grã-Bretanha parecido com o da OCI na França
acima de tudo no que diz respeito a suas relações
com os sindicatos, com o Partido Trabalhista (Labour Party) e
com movimentos nacionalistas em ex-países coloniais. Finalmente,
em 1985, o WRP foi destroçado por suas contradições
internas.
Continua
Notas: 25. "Le bonapartisme gaulliste et les
tâches de l'avant-garde," la vérité
No. 540, fevereiro-março de 1968
26. Citado por Jean-Paul Salles, "La ligue communiste révolutionnaire,"
Rennes 2005, p. 98
27. "Reply to the OCI by the Central Committee of the SLL,
June 19, 1967," in Trotskyism versus Revisionism,
Volume 5, London 1975, pp. 107-132
28. "Statement by the OCI, May 1967" in Trotskyism
versus Revisionism, Volume 5, London 1975, p. 84
29. ibid. pp. 91-95
30. ibid. p. 92
31. "Reply to the OCI by the Central Committee of the SLL,
June 19, 1967," ibid. pp. 107-114
32. ibid., pp. 113-114
33. "Statement by the OCI, May 1967," ibid. p. 95
34. ibid. pp. 123-24
35. ibid. p. 125