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1968: A greve geral e a revolta estudantil na França

Parte 7 - A linha centrista da OCI (3)

Por Peter Schwarz
18 de outubro de 2008

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Publicado originalmente em inglês no WSWS em 6 de setembro de 2008.

Este é o sétimo em uma série de artigos sobre os eventos de maio/junho de 1968 na França. A parte 1, publicada em 28 de maio, aborda o desenvolvimento da revolta estudantil e da greve geral até seu ápice no final de maio. A parte 2, publicada em 29 de maio, examina como o Partido Comunista (PCF) e sua central sindical associada, a CGT, permitiram que o Presidente Charles de Gaulle retomasse o controle. As partes 3 e 4 examinam o papel dos pablistas; as partes 5, 6, 7 e 8 examinam a Organization Communiste Internationaliste (OCI) de Pierre Lambert.

A evolução à direita da OCI

Os eventos de 1968 marcam um ponto de virada na história da OCI. Na época da greve geral, a OCI, cujas raízes estão no movimento trotskista, já evoluíra numa direção marcadamente centrista, suas políticas cada vez mais voltadas às burocracias stalinista e reformista. Três anos depois, rompeu com o movimento trotskista internacional e se tornou uma importante base do Partido Socialista Francês e, conseqüentemente, do estado burguês da França.

O movimento estudantil e a greve geral haviam trazido à OCI vários milhares de novos membros e contatos. Eles entraram em uma organização aparentemente trotskista, mas a orientação centrista da OCI os fez rumar em direção aos aparatos burocráticos. Não foram treinados como marxistas, e sim educados como oportunistas.

Esses jovens, que gradualmente substituíram os antigos quadros, tiveram um importante papel no desenvolvimento da OCI rumo à direita. Muitos depois se juntaram ao Partido Socialista, embarcando em carreiras políticas e assumindo os mais altos cargos governamentais.

A evolução da OCI rumo à direita estava fortemente ligada ao ascenso de uma camada social que em 1968 era foco de suas atenções — as fileiras inferiores da burocracia sindical, que ela chamava de "quadros organizadores da classe trabalhadora".

Como vimos, a OCI esperava que a aguda crise política pusesse esses "quadros" em conflito com os "aparatos," forçando-os para a esquerda. Essa esperança se baseava não apenas em um falso entendimento do caráter dos sindicatos, como também numa avaliação incorreta do regime gaullista, cuja força a OCI superestimou enormemente.

Desde 1958, quando o General de Gaulle voltou ao poder durante o ápice da crise da Argélia e implementou uma constituição talhada segundo seus caprichos pessoais, a OCI caracterizava seu governo como bonapartista. "De Gaulle não é apenas mais uma personalidade política da burguesia francesa", escreveu a OCI num artigo programático publicado no La Vérité no início de 1968, sob o título de "O Bonapartismo Gaullista e as Tarefas da Vanguarda," mas, na realidade, de Gaulle havia se imposto sobre sua classe e por ela era apoiado para "conduzir sua luta contra o proletariado e seus rivais internacionais com a sustentação de um Estado forte, que subordina todas as camadas sociais, mobiliza todos os recursos da economia e todas as áreas da sociedade exclusivamente em favor do grande capital" [25].

A OCI atribuiu poderes quase sobrehumanos a de Gaulle. "O Estado estabelecido por ele é um braço de ferro que permite que uma burguesia senil e febril permaneça em pé", afirmava o mesmo artigo. O parlamento era meramente uma fachada, permitindo que os "líderes dos trabalhadores preservassem as ilusões eleitorais das massas".

Por um longo tempo, a OCI levou uma existência subterrânea porque antecipou que de Gaulle adotaria formas de governo abertamente ditatoriais. A organização estava convencida que, no caso de uma crise séria, ele esmagaria o movimento dos trabalhadores com o apoio dos líderes sindicais, que estavam integrados ao Estado.

A OCI escreveu: "Esmagar politicamente o movimento dos trabalhadores, destruindo e dispersando o quadro organizador da classe, é o objetivo compartilhado por de Gaulle e o aparato". O "aparato" se confrontava com a alternativa de "ir abaixo ou se integrar ao Estado, se tornando o agente direto dos planos assassinos do bonapartismo", enquanto "o quadro organizador, que permanece no campo da guerra de classes, tende a separar-se das políticas do aparato".

Mas em 1968, a realidade parecia muito diferente daquilo que a OCI havia imaginado. O regime gaullista provou ser muito mais fraco do que ela antecipara e não ousou suprimir a greve geral de 10 milhões de trabalhadores pela força. Para colocá-la sob controle, usou não apenas o "aparato", mas, acima de tudo, os "quadros" sobre os quais a OCI depositava suas esperanças. Enquanto as concessões materiais que o regime fez aos trabalhadores eram relativamente pequenas, os verdadeiros beneficiários da greve geral foram esses "quadros."

Para uma ampla camada de burocratas sindicais, 1968 marcou o início de um ascenso social que assegurou cargos substanciosos e influência política. Parte do acordo de Grenelle consistia na estabilização e ancoramento legal dos sindicatos dentro da indústria, algo que o governo insistiu em levar adiante contra a resistência inicial das associações de empregadores.

O acordo também garantia a continuidade da administração conjunta do sistema de seguridade social por sindicatos e empregadores. Os orçamentos subsidiados pelo Estado dos vários esquemas de seguridade social valiam milhões, garantindo a vários burocratas sindicais (incluindo muitos membros proeminentes da OCI) cheques de pagamento cada vez maiores, mesmo enquanto caía o número de membros dos sindicatos.

Além disso, a unificação dos grupos social-democratas fragmentados no Partido Socialista em 1969 e sua aliança eleitoral com o Partido Comunista deram oportunidades de avanço político a muitos funcionários. A "esquerda", desacreditada por seu papel infame na guerra da Argélia e na Quarta República, era novamente uma força política. Seus numerosos postos de nível local, regional e (depois da eleição de François Mitterrand como presidente) nacional se provaram muito atraentes.

Após 1968, a OCI manteve sua orientação e adaptou seu programa político ao ascenso social da burocracia. Em 1971, não mais traçava uma distinção entre "quadros" e "aparato", flertando com o "aparato" também. Mitterrand, quem a OCI havia atacado ferozmente em 1968, apareceu como orador num grande encontro da OCI que celebrava o centésimo aniversário da Comuna de Paris. A "frente única de classe" não mais era identificada com o "comitê central de greve", mas com a aliança eleitoral entre partidos Socialista e Comunista.

A OCI até denunciou alguns dos grupos radicais que lançaram seus próprios candidatos eleitorais. Em 1969, a OCI atacou agressivamente a pablista Ligue Communiste Internationaliste (LCR) porque ela possuía seu próprio candidato presidencial, Alain Krivine. Como afirmava a OCI em seu jornal da juventude, Jeunesse révolutionnaire, isso separava os "trabalhadores ‘avançados' dos trabalhadores que permaneciam fiéis às suas organizações e partidos", e fornecia "munição para a burguesia e para o aparato stalinista". Em 1974, a OCI condenou a participação nas eleições de Krivine e Arlette Laguiller da Lutte Ouvrière como "candidaturas sem princípios contra a frente única dos trabalhadores". [26]

Em 1971, a OCI inseriu vários de seus membros no Partido Socialista. A tarefa não era desenvolver uma facção, mas sim apoiar Mitterrand. O mais bem-sucedido desses membros, Lionel Jospin, subiu rapidamente dentro do círculo de conselheiros do futuro presidente, finalmente sucedendo-o como chefe do Partido Socialista em 1981. Nessa época, Jospin ainda era um membro da OCI e se encontrava regularmente para consultas com Pierre Lambert. Testemunhas desde então confirmaram que Mitterrand estava bem ciente da verdadeira identidade política de seu favorito. Entre 1997 e 2002, Jospin foi o primeiro ministro da França pelo Partido Socialista.

A OCI conquistou o "aparato" da terceira maior federação sindical francesa, a Force Ouvrière, e da federação estudantil UNEF. Por muitos anos, membros da OCI ou apoiadores próximos encabeçaram ambas as organizações. Em 1986, Jean-Christophe Cambadélis, por muitos anos encarregado do trabalho estudantil da organização, passou direto do comitê central da OCI para a liderança do Partido Socialista, levando consigo 450 membros da OCI.

De 1985 em diante, a OCI começou a cuidadosamente dissociar-se do Partido Socialista, que desde 1981 havia suprido à república burguesa seu presidente e formado seu governo, implementando políticas em favor dos interesses do grande negócio. A OCI criou o Mouvement pour un Parti des travailleurs (Movimento por um Partido dos Trabalhadores, MPPT). Apesar de ter sido criado exclusivamente pela OCI, ela sempre frisou que os "trotskistas" eram apenas uma minoria dentro da organização, que estava aberta às correntes social-democratas, comunistas e anarco-sindicalistas. O MPPT era um reservatório de burocratas insatisfeitos, vindos dos sindicatos e partidos, que perderam as lideranças das suas próprias organizações ou cujo avanço de carreira havia sido negligenciado.

Em 1985, o MPPT foi renomeado Parti des travailleurs (Partido dos Trabalhadores — PT), e em junho de 2008 foi dissolvido no Parti ouvrier independent (Partido Operário Independente — POI). O slogan desse novo partido, "Pelo socialismo, a República e Democracia," está inegavelmente na tradição da social-democracia de direita. Fala àquelas camadas da pequena-burguesia e da burocracia sindical que responderam à globalização pela promoção do estado nacional. Seu trabalho político se centra na agitação contra a União Européia, à qual não contrapõe uma Europa socialista, mas "uma união livre e fraternal de todos os povos da Europa". Um outro slogan do POI diz: "Sim à soberania dos povos da Europa". É inescapável a tonalidade nacionalista desses slogans.

As raízes do centrismo da OCI

O declínio centrista da OCI começou muito antes de 1968. Em junho de 1967, a seção britânica do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), a Socialist Labour League (Liga Socialista dos Trabalhadores — SLL na sigla em inglês), escreveu uma longa carta à OCI com uma crítica afiada às políticas que determinariam sua intervenção em 1968. Em particular, a carta apontava para o crescente ceticismo da OCI em relação à viabilidade do Comitê Internacional, e o significado de sua luta contra o pablismo. [27]

Um ano antes, no Terceiro Congresso Mundial do CIQI, a OCI apoiara uma emenda submetida pela SLL que insistia que os esforços revisionistas de destruição da Quarta Internacional haviam sido derrotados com sucesso. O congresso insistiu que a luta contra o revisionismo não era um desvio das tarefas mais importantes de construção do partido. Em vez disso, em sua defesa persistente do marxismo contra o revisionismo pablista, o movimento trotskista havia combatido a pressão ideológica da burguesia e desenvolvido sua perspectiva revolucionária. A luta contra o revisionismo pablista corporificava a continuidade da Quarta Internacional, insistiu o congresso, e era uma pré-condição necessária da construção da uma nova direção proletária.

A emenda do SLL era direcionada contra a tendência espartaquista e contra o grupo Voix Ouvrière (hoje Lutte Ouvrière), que participavam do congresso como convidados. Eles interpretaram o título ambíguo da resolução, "Reconstrução da Quarta Internacional", como significando que o CIQI havia sido destruído e que a luta travada pelo Comitê Internacional desde 1953 contra o revisionismo pablista carecia de qualquer valor teórico ou político. Eles primavam pela "reconstrução" da Quarta Internacional sobre a base de uma ampla anistia política, onde as questões programáticas cruciais que levaram à cisão de 1953 eram simplesmente postas de lado. Quando essas duas organizações perceberam que o Comitê Internacional se opunha a tal curso liquidacionaista, elas deixaram o congresso.

Confrontados com a hostilidade histérica demonstrada pela tendência espartaquista e pela Voix Ouvrière em detrimento da luta histórica do CIQI contra os pablistas, a OCI se alinhou com a SLL e votou em favor de sua emenda. Mas logo ficou claro que a OCI mantinha suas reservas e considerações próprias.

Em maio de 1967, ela publicou uma declaração que questionava abertamente as conquistas do Terceiro Congresso Mundial. Sob o pretexto de delinear um "balanço da atividade do CI" desde o Terceiro Congresso Mundial e procurar "a abertura de discussões necessárias à solução de problemas que a Terceira Conferência do CI não pôde discutir", a OCI negou a continuidade da Quarta Internacional. [28]

"Tendo declarado a falência da liderança pablista, não podemos simplesmente definir que a Quarta Internacional continua pura e simplesmente, com o CI tomando o lugar do SU [Secretariado Unificado] pablista", dizia o documento da OCI. Ele continuava afirmando que "toda a velha liderança da Quarta Internacional capitulou sob a pressão do imperialismo e do stalinismo".

A "crise pablista deslocou a Quarta Internacional organizacionalmente", continuava o documento da OCI, e "fez acumular problemas teóricos e políticos para serem solucionados.... Não podemos gritar ‘o Rei está morto, vida longa ao Rei'. Precisamos abrir uma discussão sobre essas questões, uma discussão que ainda não foi cuidadosamente levantada pelo IC".

O documento culminava com a declaração: "Basicamente, a Quarta Internacional foi destruída pela pressão de forças de classe hostis.... O CI não é a liderança da Quarta Internacional.... O CI é a força motivadora da reconstrução da Quarta Internacional." [29]

O documento então apresentava o pablismo de uma forma que desconsiderava completamente a análise feita previamente pelo Comitê Internacional. A OCI não acusava os pablistas da revisão do programa marxista, de desistir da luta pela independência política da classe trabalhadora e no lugar buscar a liquidação da Quarta Internacional. Em vez disso, acusava os pablistas da manutenção da "concepção de uma Quarta Internacional acabada e partidos posicionados segundo uma hierarquia piramidal, com congressos mundiais e uma estrutura ultra-centralista". A OCI chegou ao ponto de afirmar que Trotsky considerava a Quarta Internacional "nem como construída nem como possuindo uma estrutura definitiva" [30].

Na trilha da disputa com a tendência espartaquista e com a Voix Ouvrière, a SLL britânica foi ágil em compreender o significado dessas palavras e rejeitar determinadamente a tentativa da OCI de questionar o papel do Comitê Internacional. "O futuro da Quarta Internacional é representado na experiência e no ódio armazenado de milhões de trabalhadores pelos stalinistas e reformistas que traem suas lutas", escreveu. "A Quarta Internacional precisa conscientemente lutar pela direção, para suprir essa necessidade.... Apenas essa luta contra o revisionismo pode preparar os quadros para tomarem a direção dos milhões de trabalhadores lançados ao combate contra o capitalismo e contra a burocracia.... A luta viva contra o pablismo e o treinamento de quadros e partidos sobre a base dessa luta foi a vida da Quarta Internacional nos anos desde 1952" [31].

A SLL não se limitou a defender a continuidade histórica da Quarta Internacional. Ela demonstrou a ligação entre as mudanças objetivas na luta de classes e o crescente ceticismo da OCI. Confrontada com uma progressiva radicalização dos trabalhadores e jovens por todo o mundo e pela fraqueza numérica de seus próprios quadros, a OCI buscou um atalho oportunista que permitiria que ganhasse influência sem que conduzisse uma luta laboriosa pela consciência marxista dentro da classe trabalhadora. Esse era o significado da alegação de que os pablistas advogavam uma Internacional "ultra-centralista", da afirmação de que Trotsky favorecia uma internacional sem estrutura firme, e da insistência em apontar após o Terceiro Congresso Mundial fraquezas organizacionais e lapsos do Comitê Internacional.

A SLL, então, advertiu: "Agora a radicalização de trabalhadores na Europa ocidental está avançando rapidamente, particularmente na França.... Há sempre o perigo de que em tal estágio de desenvolvimento um partido revolucionário responda à situação da classe trabalhadora não de uma maneira revolucionária, mas adaptando-se ao nível da luta ao qual os trabalhadores estão restringidos pela própria experiência sob a velha direção — isto é, uma adaptação à inevitável confusão inicial. Tais revisões da luta pelo partido independente e o Programa de Transição estão normalmente vestidas com o disfarce de chegar mais perto da classe trabalhadora, unidade de todos aqueles em luta, não colocar ultimatos, abandonar os dogmatismos etc" (ênfase no original) [32].

A orientação oportunista da OCI emergiu particularmente cristalina em sua interpretação da "frente única". Como ela escreveu: "Entre 1944 e 1951 era costumeiro que o PCI [predecessor da OCI] enviasse cartas ao BP [Birô Político] do PC francês para oferecê-lo uma frente única, organização com organização". Dada a fraqueza numérica do PCI, tal política era irreal, pois: "Que setor liderado pelo PCI poderia fornecer uma base para a frente única entre ele e o PC francês?"

"Agora", continua a OCI, "nossa política de frente única é diferente. Nós expressamos exigências dos trabalhadores avançados às lideranças reconhecidas pela classe trabalhadora (SFIO, PC francês, lideranças sindicais); é necessário romper com a burguesia e levantar a frente única de classe.... Nós juntamos e organizamos camadas da juventude, trabalhadores e militantes para lutar pela frente única. Através dessas batalhas pela frente única estamos construindo a OCI." [33]

A SLL protestou fortemente contra essa concepção da "frente única." Insistiu que o partido "precisa lutar abertamente com base em suas próprias políticas para desafiar as lideranças centristas e oportunistas da classe trabalhadora". Quando a "frente única é posta como uma alternativa, um caminho mais fácil, em oposição à luta pela liderança independente", ela tira os trabalhadores do caminho da liderança revolucionária. "Neste estágio da crise mundial, neste estágio da luta contra o revisionismo, retirar toda a ênfase da construção do Partido Bolchevique é abrir a porta para toda a pressão do inimigo de classe. A assim chamada frente única de classe é uma expressão desse caminho perigoso, um caminho desastroso", alertou a SLL (ênfase no original) [34].

A SLL escreveu que, essencialmente, a política da OCI significava: "A Frente Única em primeiro lugar e, através dela, o partido em segundo. Nós rejeitamos isso". Continuava, "Na forma proposta pela OCI, é uma preparação para a liquidação, tão certamente quanto foi a teoria pablista do ‘entrismo sui generis'... A essência em ambos os casos é o abandono da importância central da construção do partido revolucionário" (ênfase no original) [35].

Como vimos, a OCI rejeitava a crítica feita pela SLL. A intervenção da OCI nos eventos revolucionários de 1968 foi baseada na linha política que a SLL tanto criticou, e, como a SLL previu, essa orientação eventualmente trouxe a liquidação da OCI como partido trotskista.

A carta de 19 de junho de 1967 foi a última crítica aprofundada da linha política da OCI pela seção britânica. Nos anos seguintes, a SLL falhou em desenvolver qualquer análise minuciosa da linha da OCI. Publicou uma série de artigos superficiais escritos por Tom Kemp sobre os eventos de Maio-Junho de 1968 que fundamentalmente ignoravam o papel da OCI. Se evitar a crítica pública poderia ser justificado pelo fato da OCI ainda estar em 1968 oficialmente associada ao Comitê Internacional, a SLL também falhou em examinar as raízes da degeneração centrista da OCI depois que ela rompeu com o CIQI em 1971.

Tal investigação era vitalmente necessária para armar os quadros do Comitê Internacional política e teoricamente. Sua tarefa teria sido ir para bem antes dos eventos de 1968 e 1966 e demonstrar como a orientação centrista da OCI se desenvolveu, revelando os problemas políticos implicados na degeneração. A SLL evitou essa tarefa, porém, declarando que as diferenças políticas envolvidas eram apenas manifestações secundárias de diferenças filosóficas, e que a investigação concreta das questões políticas poderia ser substituída por uma discussão abstrata dos problemas epistemológicos. Justificou sua quebra com a OCI somente sobre a base da rejeição pela última do materialismo dialético enquanto teoria marxista do conhecimento.

Atrás dessa evasão por parte da SLL estavam diferenças dentro de suas próprias fileiras, que a direção do partido não queria discutir. Uma discussão aberta, incitada pela disputa com a OCI, poderia ter abalado os sucessos práticos e organizacionais que a direção considerava serem mais importantes que o esclarecimento político.

No final, a SLL pagou um alto preço por sua recusa em examinar a degeneração da OCI. Os problemas políticos fundamentais não esclarecidos achariam seu caminho para dentro da SLL. Em 1974, a OCI foi capaz de provocar tensões substanciais dentro do Workers Revolutionary Party (Partido Revolucionário dos Trabalhadores — WRP na sigla em inglês, foi o sucessor da SLL) através da figura de Alan Thornett, o líder do trabalho sindical da SLL/WRP. Na crise resultante, o WRP perdeu uma larga parte de seu corpo de membros dentro das fábricas. Ao final da década de 1970, o WRP havia percorrido um percurso oportunista na Grã-Bretanha parecido com o da OCI na França — acima de tudo no que diz respeito a suas relações com os sindicatos, com o Partido Trabalhista (Labour Party) e com movimentos nacionalistas em ex-países coloniais. Finalmente, em 1985, o WRP foi destroçado por suas contradições internas.

Continua

Notas:
25. "Le bonapartisme gaulliste et les tâches de l'avant-garde," la vérité No. 540, fevereiro-março de 1968
26. Citado por Jean-Paul Salles, "La ligue communiste révolutionnaire," Rennes 2005, p. 98
27. "Reply to the OCI by the Central Committee of the SLL, June 19, 1967," in Trotskyism versus Revisionism, Volume 5, London 1975, pp. 107-132
28. "Statement by the OCI, May 1967" in Trotskyism versus Revisionism, Volume 5, London 1975, p. 84
29. ibid. pp. 91-95
30. ibid. p. 92
31. "Reply to the OCI by the Central Committee of the SLL, June 19, 1967," ibid. pp. 107-114
32. ibid., pp. 113-114
33. "Statement by the OCI, May 1967," ibid. p. 95
34. ibid. pp. 123-24
35. ibid. p. 125