Esta é a segunda parte de uma série dividida
em 4 partes, que trata dos acontecimentos de Maio/Junho de 1968
na França. A primeira parte
é sobre a situação revolucionária
que se desenvolveu, estando posta no dia 23 de junho de 2008,
conduzida pelo avanço da revolta estudantil e da greve
geral até seu ponto crítico no fim de maio. A segunda
parte expõe como o Partido Comunista Francês (PCF)
e a central sindical controlada por ele, a CGT, permitiram que
o presidente Charles de Gaulle retomasse o poder. A terceira parte
trata da ação dos Pablistas; a quarta irá
discorrer sobre a Organização Comunista Internacionalista
(OCI), de Pierre Lambert.
A França está paralisada desde 20 de maio de
1968. Dois terços de todos os assalariados participam da
greve geral; estudantes ocupam as universidades. No momento, o
destino de de Gaulle e seu governo está nas mãos
do Partido Comunista Francês (Parti Communiste Français
- PCF) e da CGT (Confederation Generale de Travail - Confederação
Geral do Trabalho) controlada por ele. São eles que garantem
a sobrevivência política do presidente Charles de
Gaulle e salvam a Quinta República. Em 1968, o PCF continua
sendo uma força política considerável, com
cerca de 350.000 membros e tendo 22,5% dos votos em 1967. Embora
o número de membros da CGT tenha caído desde 1948,
de 4 milhões para 2,3 milhões, esta ainda era a
principal central sindical dos setores mais importantes da economia.
O seu Secretário - Geral, Georges Séguy, é
membro do Bureau Político do PCF.
Como já vimos, o PCF e a CGT reagiram aos protestos
estudantis de forma explicitamente hostil. O famigerado artigo
de 3 de maio, no qual Georges Marchais ridiculariza os estudantes
chamando-os de baderneiros e agentes gaullistas não seria
a exceção, mas sim a regra. O jornal do PCF lHumanité
não se cansa de suas críticas contra a esquerda
radical (gauchistes) - entre os quais se incluem
todos aqueles que se opõem a linha direitista do PCF. A
CGT se recusa a participar de manifestações conjuntas
entre trabalhadores e estudantes, e instrui seus membros a manterem
os estudantes - que estão tentando avançar o contato
com os trabalhadores - longe das fábricas.
As ocupações de fábricas e as greves gerais
se desenvolveriam à revelia dos interesses da CGT e por
fora dela. A ocupação da Sud-Aviation, que se tornou
um modelo para todas as outras ocupações, surge
através de uma iniciativa da central sindical Force Ouvrière,
que tem influência entre os grupos de salários mais
baixos e é liderada em Nantes por um trotskysta, o membro
da OCI Yves Rocton. Apesar da CGT não impedir as ocupações,
ela tenta mantê-las sob controle e limitá-las meramente
às demandas econômicas. Opõe-se ao estabelecimento
de um comitê central de greve e rejeita a colaboração
com forças que sejam externas à fábrica.
Recusa-se a sancionar a detenção dos chefes.
No dia 16 de maio, a liderança da disputada central
sindical CFDT (Confédération Française Démocratique
du Travail - Confederação Francesa Democrática
do Trabalho) publica uma declaração, na qual tenta
exercer sua influência sobre a onda de ocupações.
Contrastando com a CGT, ela é favorável à
revolta estudantil, a qual diz ser diretamente contra as
incrustadas e asfixiantes estruturas de classe de uma sociedade
na qual eles não podem exercer seus anseios. A CFDT
levanta a palavra de ordem de auto-gestão das
fábricas: a monarquia administrativa e industrial
deve ser substituída por estruturas administrativas baseadas
na auto-gestão.
O líder da CGT, Séguy, reage com raiva e ataca
publicamente a CFDT. Ele rejeita as tentativas de dar ao crescente
movimento qualquer orientação comum, única,
não importando quão limitada ela fosse. A demanda
da CFDT, que neste momento está sob influência do
partido de esquerda-reformista de Michael Rocard, o PSU (Parti
Socialiste Unifié - Partido Socialista Unificado) dirige-se
para um beco sem saída. O PSU não questiona nem
o governo capitalista nem a dominação do mercado
capitalista.
No dia 25 de maio, a CGT finalmente apressa-se em apoiar diretamente
o governo acuado. Às 15 horas, representantes do sindicato,
associações patronais e o governo reúnem-se
no Ministério do Trabalho, na Rue de Grenelle. Seu objetivo
é assegurar a ordem nas fábricas o mais rápido
possível. Embora todos os sindicatos estejam representados,
as negociações são conduzidas quase que exclusivamente
por dois homens: o primeiro ministro Georges Pompidou e o cabeça
da CGT, Georges Séguy.
Séguy quer um aumento salarial linear, sem reduzir a
diferença salarial entre as diversas categorias, o que
trabalhadores de diversas fábricas exigiam. Além
disso, a posição dos sindicatos tem de ser reforçada.
Sobre esta questão, ele tem o apoio de Pompidou contra
as associações patronais. O governo está
convencido de que a integração da classe operária
através dos sindicatos, que têm o treinamento necessário
e a influência apropriada, contribuem para o bom funcionamento
da fábrica é a formulação dada
na ata de reunião.
Ao lado de Georges Pompidou, ao lado do governo, na mesa de
negociação, está outro futuro presidente,
Jacques Chirac, assim como um futuro primeiro ministro, Edouard
Balladur. Assim como o atual presidente da França, Nicolas
Sarkozy, eles todos apóiam o acordo no momento e utilizam
os sindicatos para integrar a classe trabalhadora.
O termo Grenelle tem se tornado sinônimo de
negociações de alto nível entre governo,
sindicatos e associações patronais.
Somente após 2 dias os negociadores entram num acordo.
De manhãzinha, na segunda-feira de 27 de maio, eles assinam
o Pacto de Grenelle. Nele estão inclusos um
aumento salarial de 7%, um aumento no salário mínimo
de 2,22 para 3 francos a hora de trabalho e a permissão
legal para o estabelecimento dos sindicatos nas fábricas.
A CGT abandona sua exigência inicial por escala móvel
de salários, pagamento integral dos dias parados e a retirada
das regras do governo em relação à seguridade
social. Depois de saber que o PSU de Rocard, a CFDT e a UNEF (Union
Nationale dês Étudiants de France - União
Nacional dos Estudantes da França) estão planejando
uma manifestação sem nenhum acordo prévio
com o PCF e a CGT, Séguy promove um acordo imediato, fechado
através de uma conversa cara a cara com Jacques Chirac.
Às 7h30min da manhã, Séguy e Pompidou
aparecem diante da imprensa e anunciam o Pacto de Grenelle. Séguy
explica: O trabalho pode começar novamente sem demora.
Ele vai pessoalmente para Billancourt, com o propósito
de tentar vender o acordo para os trabalhadores na fábrica
da Renault. Mas os trabalhadores julgam o pacto como uma provocação
e não estão preparados para serem comprados por
poucos francos. Séguy é vaiado e encara um coro
enfurecido. A mensagem se espalha rapidamente pelo país
e ninguém está disposto a trair a luta. A manchete
do Le Monde do dia seguinte diz: CGT, incapaz de
induzir grevistas a retomarem o trabalho.
A questão do poder está posta
Neste momento a crise política chega a seu ponto mais
alto. Todo país está em alvoroço. O governo
foi perdendo cada vez mais sua autoridade, e a CGT o seu controle
sobre os trabalhadores. Ninguém tem a menor dúvida
de que a questão de quem exerce o poder, de fato, no país,
está sendo, agora, abertamente posta.
Os social-democratas, que por muito tempo mantiveram-se cautelosamente
na retaguarda, agora erguem suas vozes. Desde quando se tornou
questionável se de Gaulle poderia manter-se no poder, preparativos
para um governo alternativo burguês foram feitos. François
Mitterrand organiza uma entrevista coletiva no dia 28 de maio,
que é transmitida detalhadamente pela televisão.
Ele defende um governo interino, assim como uma nova eleição
presidencial, na qual ele será um candidato.
Mitterrand encabeça a Federação Democrática
e Socialista de Esquerda (FGDS), uma aliança de partidos
liberais e social-democratasque tinha desacreditado
a si próprios na 4ª República e não
tinha qualquer base nas massas. Em 1965, Mitterrand tinha enfrentado
de Gaulle nas eleições presidenciais, apoiado também
pelo PCF.
O PSU, a CFDT e a união estudantil UNEF depositam suas
esperanças em Pierre Mendès-France. Em 1936, Mendès-France,
então membro dos Socialistas Radicais, um partido puramente
burguês, aderiu ao governo de frente popular de León
Blum. Durante a guerra, apoiou o General de Gaulle. Na Quarta
República, ele organizou a retirada das tropas francesas
do Vietnã como chefe do governo em 1954, ganhando a aversão
da direita. Em 1968 ele é próximo do PSU.
A orientação à esquerda pronunciada por
Mendès-France faz com que o PCF o considere como um arquiinimigo.
O alarme soa na sede do PCF no dia 27 de maio, quando ele é
visto numa grande reunião entre o PSU, a CFDT e a UNEF,
no estádio Paris Charléty. O medo do PCF era que
Miterrand e Mendès-France pudessem formar um novo governo,
sem que obtivesse qualquer influência nele.
No dia 29 de maio, o PCF e a CGT organizam sua própria
manifestação em Paris; várias centenas de
milhares de pessoas marcham na capital, levantando a seguinte
palavra de ordem: Por um governo popular. O PCF nem
sequer sonhava com a tomada revolucionária do poder. Sua
exigência de um governo popular é uma
tentativa para apaziguar os ânimos revolucionários
das fábricas, sem levantar questões sobre as instituições
da Quinta República. A CGT enfatiza sua rejeição
a uma ação revolucionária insistindo na necessidade
de mudanças democráticas.
O chefe de polícia de Paris mais tarde relata que ele
não tinha preocupações quanto à manifestação
da CGT e do PCF; ele esperava uma clássica e disciplinada
manifestação sindical, que foi o que aconteceu.
Mas o governo não tem certeza se os organizadores têm
a situação sob controle. Tropas paramilitares estão
em alerta e tanques estão estacionados no subúrbio
de Paris como precaução.
No dia 30 de maio, o Comitê Central do PCF reúne-se
para discutir a situação. Uma gravação
dessa reunião confirma que o partido rejeita qualquer ambição
de assumir o poder sozinho e está estritamente preocupado
com a preservação da ordem existente. Seis meses
depois, uma afirmação do Comitê Central justifica
essa atitude com as palavras: A correlação
de forças não permitiu que a classe trabalhadora
e seus aliados tomassem o poder político em maio passado.
Na reunião do dia 30 de maio, o secretário-geral
Émile Waldeck-Rochet declara sua disponibilidade para participar
de um governo provisório sob François Mitterrand,
se ele conceder ao PCF influência suficiente. Este governo
deverá cumprir três tarefas, diz ele: recuperar o
funcionamento do Estado novamente, responder às legítimas
exigências dos grevistas e realizar com êxito as eleições
presidenciais.
No entanto, a garantia de eleições parlamentares
imediatas é a opção preferida do PCF. Um
orador do partido resume a atitude geral: nós só
podemos nos beneficiar a partir de uma eleição geral.
A situação nesse dia esteve por um fio. O General
de Gaulle desapareceu na noite anterior sem deixar rastros, fugindo
para Baden-Baden, onde manteve conversas com o General Massu,
comandante das tropas francesas na Alemanha. Massu é conhecido
por seu papel na guerra da Argélia. Questiona-se até
hoje se de Gaulle estava planejando sua fuga ou apenas estava
procurando apoio. Em sua biografia Massu afirma que aconselhou
de Gaulle a retornar a Paris e abordar publicamente o povo francês.
Na tarde do dia 30 de maio, de Gaulle faz um pronunciamento
no rádio. A república está em perigo e precisa
ser defendida, disse ele. Ele anuncia a dissolução
do parlamento e chama novas eleições para os dias
23 e 30 de junho. No mesmo instante, várias centenas de
adeptos do general estão manifestando-se no Champs Elysées
sob as cores nacionais francesas.
O PCF apóia a decisão de de Gaulle na mesma noite
e a apresenta como o resultado do sucesso de sua própria
política. Proferem seu apoio à estrutura legal da
Quinta República e buscam aproximar-se dos gaullistas pela
proclamação da união entre bandeira
vermelha e a bandeira tricolor da nação. No
dia 31 de maio, o líder da CGT, Georges Séguy anuncia
seu acordo com as eleições. A CGT não
dificultará a condução das eleições,
diz ele, o que, levando-se em consideração a paralisia
que toma conta do país, significa abandonar a greve geral.
É do interesse dos trabalhadores manifestarem sua
vontade por mudanças.
A CGT agora usa toda sua energia para acabar com as greves
e as ocupações muito antes da data das eleições,
algo que só é capaz de fazer com dificuldade. Mas,
gradualmente, o front da greve desagrega-se. Trabalhadores voltam
ao trabalho após a conclusão dos acordos nas fábricas,
a maior parte dos setores militantes está isolada, e a
polícia começa a evacuar as universidades. No dia
16 de Junho, trabalhadores da Renault-Billancourt retomam o trabalho,
uma semana antes das eleições - o mesmo dia em que
a Sorbonne é evacuada.
No entanto, ainda leva semanas até que as últimas
greves e ocupações acabem, e o país não
voltou, de fato, à calma nos meses e anos seguintes. Mas
a classe trabalhadora perdeu uma oportunidade de tomar o poder.
Michel Dreyfus, autor de uma obra sobre a história da CGT,
resume a atitude da mais influente central sindical no momento
culminante da greve da seguinte forma: A CGT evitou intencionalmente
o confronto com o Estado em maio de 1968, quando a correlação
de forças parecia estar a seu favor.
O contra-ataque da direita
Nas primeiras semanas de maio, a direita estava completamente
paralisada e isolada. Agora, graças à ajuda do PCF
e CGT, ela gradualmente recupera sua iniciativa e autoconfiança.
Com o início da campanha eleitoral, a luta sai das ruas
e das fábricas e caminha para as urnas, beneficiando de
Gaulle e seus aliados. Eles agora estão numa posição
para trazer as seções mais passivas e mais recuadas
da sociedade para dentro do jogo, apelando para os temores da
maioria silenciosa.
Os primeiros esforços nesse sentido já podem
ser vistos em maio. O governo exerce estrita censura sobre os
meios de comunicação através do Estado (não
existem emissoras privadas neste momento). No dia 19 de maio,
a televisão é banida por espalhar informações
que podem ser úteis à oposição. No
dia 23 de maio, são desligadas as freqüências
usadas por emissoras estrangeiras que podiam ser recebidas na
França, e cujos jornalistas estão noticiando ao
vivo as manifestações.
No dia 22 de maio, o governo retira de Daniel Cohn-Bendit sua
autorização de residência. O líder
estudantil, que tem um passaporte alemão, vem de uma família
judia que fugiu para a França para escapar dos nazistas.
O fim do regime nazista deu-se somente há 23 anos, e o
simbolismo desta medida pode ser visto por todos. Há uma
insatisfação massiva e os protestos estudantis tornam-se
mais radicais. Novamente há violentos combates de rua.
Uma vez que a CGT continua a isolar os estudantes, e rejeitar
qualquer ação conjunta, naturalmente os estudantes
agirão sem a proteção dos trabalhadores -
o que só serve para agravar a situação.
No dia 24 de maio violentos combates deixam duas vítimas.
Em Lyon, um policial morre, em Paris um jovem manifestante é
morto. O choque é grande e a mídia começa
uma campanha ensurdecedora contra os perpetuadores da violência
estudantil.
Alguns gaullistas criam um Comitê pela Defesa da República
(CDR), que colabora com elementos da extrema direita do meio argelino-francês.
A propósito, estes últimos consideravam de Gaulle
um traidor, uma vez que ele garantiu a independência da
Argélia, mas o perigo da revolução serviu
para unir as diferentes frações da direita. No dia
30 de maio gritos de Algérie française
(Argélia é francesa) combinam-se com os símbolos
do gaullismo no Champs Elysées. A primeira grande manifestação
de apoio a de Gaulle tinha sido preparada em conjunto. No dia
17 de junho, de Gaulle retribui com o perdão do General
Raoul Salan assim como de 10 outros membros da organização
terrorista OAS, que em 1961 tinham organizado um golpe contra
ele na Argélia.
Com o início da campanha eleitoral, os órgãos
de repressão estatal começam a agir com mais autoconfiança.
No dia 31 de maio, o Ministro do Interior Christian Fouchet é
substituído por Raymond Marcellin, que é saudado
por de Gaulle com as seguintes palavras: Finalmente, um
verdadeiro Fouché - uma referência a Joseph
Fouché, que, após o declínio da Revolução
Francesa de 1789, tornou-se ministro da polícia sob o Diretório
e sob Napoleão, criando um amplo e temido aparato de opressão.
Marcellin age com extrema dureza. No dia em que ele é
nomeado, piquetes são retirados das ruas, a partir dos
depósitos de combustível, a fim de garantir o abastecimento
e por o tráfego em movimento novamente. No dia 12 de junho,
ele proíbe todas as manifestações de rua
durante a campanha eleitoral. No mesmo dia, ele emite um decreto
dissolvendo todas as organizações revolucionárias
e expulsando 200 estrangeiros suspeitos do país.
A proibição atinge a trotskista OCI, sua juventude
e outras organizações estudantis como a JCR (Jeunesses
Communistes Révolutionnaires - Juventude Comunista Revolucionária)
de Alain Krivine, o anarquista Movimento 22 de Março
de Daniel Cohn-Bendit, assim como organizações maoístas.
O Renseignements Généraux (serviços secretos
internos) é ordenado a observar e coletar informações
sobre todos os membros de todas as organizações.
Marcellin permanece no cargo por seis anos e nesse tempo é
capaz de desenvolver a polícia, o serviço secreto
e a CRS (polícia especializada em conter manifestações)
nos moldes de um aparato de guerra civil fortemente preparado.
Ele dobra os gastos com a força policial, a equipa com
moderna tecnologia e armas, assim como, recruta 20.000 novos policiais.
Os gaullistas conduzem uma campanha eleitoral baseada no medo.
Eles salientam o perigo de uma guerra civil, advertem sobre uma
tomada totalitária e comunista do poder e professam a unidade
da república e da nação. Partidos de oposição
e sindicatos unem-se a esse coro. A agitação contínua
do PCF contra a esquerda radical é trigo para
os moinhos da propaganda da direita. Na televisão, na véspera
da eleição, François Mitterrand protesta:
Desde o primeiro dia, apesar dos ataques, só temos
pensado na unidade da pátria e na preservação
da paz.
A eleição é um desastre para a esquerda
oficial. Os gaullistas e seus aliados recebem 46% dos votes, o
PCF, como o partido de oposição mais forte, recebe
apenas 20%, muito menos que no ano anterior. O sistema de eleição
proporcional mostra que, quando se trata da atribuição
de assentos, o resultado é ainda mais devastador.
Quatro quintos dos lugares vão para os partidos
burgueses de direita - 59% para os gaullistas, 13 para os liberais
e 7 para partidos do centro. A FGDS (Fédération
de la Gauche Démocrate et Socialiste Federação
da Esquerda Democrática e Socialista) de Mitterrand tem
12% dos lugares e o PCF somente 7%. Sobretudo as áreas
rurais conservadoras votam esmagadoramente pela direita; enquanto
muitos dos mais ativos elementos - estudantes secundaristas, universitários,
jovens trabalhadores e imigrantes - não são permitidos
a votar. A idade oficial para o voto é de 21 anos e as
regras eleitorais não foram atualizadas antes da rápida
convocação das eleições.
Dois meses depois do início da crise revolucionária,
a burguesia restabeleceu mais uma vez seu controle sobre o poder.
Ela agora tem tempo para calmamente substituir de Gaulle e desenvolver
um novo mecanismo político com o qual possa garantir seu
domínio e manter a classe trabalhadora sob controle pelas
próximas décadas - o Partido Socialista de Mitterrand.
Para isso, deve pagar um preço econômico: o Pacto
de Grenelle finalmente entra em vigor e a classe trabalhadora
experimenta uma clara melhoria de seu padrão de vida nos
próximos anos. Essas melhorias, no entanto, não
duraram e agora foram vorazmente tomadas de volta.