O seguinte artigo é o primeiro em uma série
de quatro artigos.
É provável que não haja um evento histórico
que tenha chamado tanto a atenção do público
quanto o aniversário dos levantes de 1968. Nas últimas
semanas, centenas de artigos, entrevistas, documentários
e filmes foram lançados sobre os protestos estudantis e
sobre as lutas operárias que ocorreram naquele ano. Certamente,
na Alemanha, o aniversário teve mais cobertura do que qualquer
outro a que se compare.
Como se explica este interesse pelos eventos de 1968?
A resposta tem menos a ver com o passado do que com o presente
e o futuro. O ano de 1968 não foi caracterizado apenas
por meras revoltas estudantis que balançaram
os EUA, Alemanha, França, Itália, Japão,
México e muitos outros países. Ele foi o prelúdio
da maior ofensiva da classe trabalhadora internacional desde o
fim da Segunda Guerra. Esta ofensiva durou sete anos, assumindo
em diversas ocasiões formas revolucionárias, forçando
a renúncia de governos, trazendo abaixo ditaduras e abalando
o sistema de dominação burguesa em suas bases.
Isto foi mais visível na França, onde em maio
de 1968 dez milhões de trabalhadores tomaram parte em uma
greve geral, ocuparam fábricas e levaram o governo do General
Charles de Gaulle a ficar de joelhos. Em 1969, as chamadas greves
de setembro aconteceram na Alemanha, e a Itália sofreu
um outono quente de confrontos industriais. Os EUA
presenciaram imensas passeatas do movimento de direitos humanos
contra a guerra e rebeliões em guetos urbanos. Na Polônia
e Tchecoslováquia - a Primavera de Praga - trabalhadores
se revoltaram contra a ditadura stalinista. Nos anos 70, ditaduras
de direita foram derrubadas na Grécia, Espanha, e Portugal.
Durante o mesmo período, o exército americano sofreu
uma derrota humilhante no Vietnã.
O pano de fundo destes eventos era a primeira crise profunda
da economia capitalista desde a Segunda Guerra. Em 1966 uma recessão
abalou a economia mundial. Em 1971, o governo americano quebrou
o lastro existente entre o dólar e o ouro, despindo, assim,
a base do sistema monetário inaugurado em Bretton Woods
em 1944, que havia estabelecido os moldes para o boom do pós-guerra.
Em 1973, a economia mundial afundou-se ainda mais na recessão.
A onda de protestos, greves e revoltas internacionais deixou
sua marca. Em uma série de países os salários
e as condições de trabalho melhoraram, muitas vezes
em níveis consideráveis. O movimento de 68 também
deixou rastros na esfera cultural e na vida social como um todo.
Varreu a atmosfera sufocante e claustrofóbica dos anos
50 e 60, trazendo melhorias importantes nos direitos das mulheres
e das minorias. Universidades foram expandidas e se abriram a
camadas mais amplas da sociedade. Porém, o domínio
capitalista e as relações de propriedade mantiveram-se
intactas. A burguesia foi forçada a fazer concessões
políticas e sociais, mas manteve-se no poder.
No final da década de 70 começou a contra-ofensiva.
Margaret Thatcher chegou ao poder na Grã Bretanha, Ronald
Reagan nos EUA e Helmut Kohl na Alemanha. Concessões sociais
foram revertidas e os ataques à classe trabalhadora intensificaram-se.
Hoje as nuvens negras estão no horizonte novamente e
o abismo social é mais fundo do que nunca. Milhões
estão desempregados ou trabalham em subempregos. No leste
europeu e na Ásia um imenso exército de trabalhadores
está sendo explorado com salários miseráveis.
A recente crise financeira demonstra que um colapso do sistema
bancário internacional é cada vez mais provável.
As tensões entre as grandes potências são
crescentes e as guerras imperialistas, como a do Iraque, estão
mais uma vez na agenda internacional. O resultado inevitável
será o de novos conflitos e lutas de classe.
Este é o principal motivo do atual interesse nos eventos
de 1968. Eles podem se repetir sob uma forma diferente. Enquanto
a classe dominante tenta se preparar para isso, os trabalhadores
e a juventude também devem se preparar tirando as lições
da experiência de 1968.
Esta série de artigos concentra-se nos eventos da França.
Nela, a luta de classes irrompeu à superfície de
forma explosiva em maio e desbancou por completo a tese da Nova
Esquerda, de que a classe trabalhadora havia sido integrada com
sucesso ao capitalismo através do consumo e da mídia.
O que em janeiro parecia ser uma disputa relativamente inofensiva
entre estudantes e governo transformou-se, dentro de poucas semanas,
em uma situação revolucionária. O país
estava paralisado, o governo impotente e os sindicatos haviam
perdido o controle da situação. Ao final de maio,
a classe trabalhadora não só estava na posição
de forçar a renúncia do governo liderado pelo presidente
de Gaulle, como também de derrubar o sistema capitalista
e estabelecer seu próprio poder. Isto teria mudado fundamentalmente
o curso dos eventos políticos ao redor da Europa, tanto
no leste quanto no oeste.
Tal desenvolvimento foi barrado pelo Partido Comunista Francês
(PCF) e sua central sindical aliada, a CGT (Confédération
Générale du Travail), que se recusou estritamente
a tomar o poder e usou de toda sua influência para estrangular
o movimento de massas. O Partido Comunista recebeu um apoio adicional
do Secretariado Unificado (SU) pablista liderado por Ernest Mandel
e suas sucursais francesas (o Partido Comunista Internationalista,
PCI, liderado por Pierre Frank e a Juventude Comunista Revolucionária,
JCR, liderada por Alain Krivine). Por 15 anos os pablistas haviam
atacado sistematicamente as tradições marxistas
do movimento trotskista. Agora eles desorientavam e enganavam
os estudantes que buscavam uma alternativa ao stalinismo ao fazer
apologia a Che Guevara e ao ativismo de tipo anarquista como modelos
de atuação.
A primeira parte desta série trata do desenvolvimento
da revolta estudantil e da greve geral até seu ponto alto
no final de maio. A segunda parte examina a maneira com a qual
o Partido Comunista e a CGT ajudaram o General Charles de Gaulle
a retomar o controle da situação. A terceira parte
lidará com o papel dos pablistas e a quarta tratará
da Organização Comunista Internacionalista (OCI),
liderada por Pierre Lambert. A OCI, na época ainda seção
oficial francesa do Comitê Internacional da Quarta Internacional,
adotou uma posição centrista em 1968 e logo depois
acabou seguindo atrás do Partido Socialista.
A França antes de 1968
A França nos anos 60 é caracterizada por uma
profunda contradição. O regime político é
autoritário e extremamente reacionário. Sua personificação
é o General de Gaulle, que parece vir de outra era e representar
inteiramente em sua pessoa a Quinta República. De Gaulle
tem 68 anos de idade quando eleito presidente em 1958 e 78 quando
renuncia em 1969. No entanto, sob o regime fossilizado do velho
general, uma rápida modernização econômica
está acontecendo, alterando fundamentalmente a composição
social da sociedade francesa.
No final da Segunda Guerra, grandes regiões da França
sustentam-se na agricultura, com 37% da população
tirando seu sustento da terra. Nos 20 anos que se seguiram, dois
terços dos fazendeiros franceses deixaram suas terras e
mudaram-se para as cidades, onde - juntamente com trabalhadores
imigrantes - adicionaram às fileiras da classe trabalhadora
uma camada social jovem e politizada, difícil de ser controlada
pela burocracia sindical.
Após o fim da Guerra da Algéria, em 1962, a economia
francesa cresce rapidamente. A perda de suas colônias força
a burguesia francesa a orientar sua economia mais fortemente em
direção à Europa. Em 1957, a França
já havia assinado o Tratado de Roma, documento fundador
da Comunidade Econômica Européia, antecessora da
União Européia. A integração econômica
da Europa favorece a construção de novos ramos da
indústria, que compensam o declínio das minas de
carvão e de outras velhas indústrias além
do esperado. Na área de automóveis, aeronaves, tecnologia
espacial, armamentos e energia nuclear, com o apoio do governo
abrem-se novas fábricas e companhias. Elas são normalmente
localizadas fora dos centros industriais tradicionais e mais adiante
estarão entre as fortalezas da greve geral de 1968.
A cidade de Caen na Normandia é exemplar neste sentido.
O número de habitantes cresce entre 1954 e 1968 de 90.000
a 150.000, dos quais metade tem menos de 30 anos de idade. Saviem,
uma parceira da automotiva Renault, emprega em torno de 3.000
trabalhadores. Eles decretam greve em janeiro, quatro meses antes
da greve geral, ocupando a fábrica temporariamente e engajando-se
em uma acirrada batalha com a polícia.
Nota-se uma radicalização também dentro
dos sindicatos. A antiga central sindical católica, a CFTC
(Confederação Francesa de Trabalhadores Cristãos),
racha e a maioria dos membros se reorganiza em uma base laica
na CFDT (Confederação Francesa Democrática
do Trabalho), que reconhece a luta de classes e, no
início de 1966, aceita agir em unidade com a CGT.
O estabelecimento de novas indústrias traz consigo um
crescimento exaltado no setor educacional. Novos engenheiros,
técnicos e trabalhadores especializados são requisitados
com urgência. Somente entre 1962 e 1968, o número
de estudantes dobra. As universidades estão lotadas, mal
equipadas e, como as fábricas, controladas por uma administração
patriarcal de valores antiquados.
A oposição às más condições
de educação e ao autoritário regime universitário
- dentre outras coisas, a proibição a moradores
da residência estudantil de visitar residências do
sexo oposto - é um fator importante na radicalização
dos estudantes, que logo ligam tais questões a questões
políticas. Em maio de 1966 ocorre a primeira manifestação
contrária à guerra no Vietnã. Um ano depois,
em 2 de junho de 1967, o estudante Benno Ohnesorg é morto
a tiro pela polícia de Berlim, e os protestos estudantis
alemães ecoam na França.
No mesmo ano os efeitos da recessão mundial são
sentidos e têm um impacto de radicalização
sobre os trabalhadores. Por anos, os níveis de vida e as
condições de trabalho têm estado abaixo do
ritmo do desenvolvimento econômico. Salários estão
baixos, as horas de trabalho longas e dentro das fábricas
os trabalhadores não possuem direitos. Agora o desemprego
e a carga de trabalho são crescentes. As indústrias
mineradoras, do aço e têxteis estão se estagnando.
A liderança dos sindicatos organiza protestos burocratizados,
de cima para baixo, para não perderem o controle. Mas os
protestos locais são construídos pela base e brutalmente
reprimidos pela polícia. Em fevereiro de 1967, os trabalhadores
da manufatura têxtil Rhodiacéta na cidade de Besançon
são os primeiros a ocuparem sua fábrica, protestando
contra demissões e exigindo melhores condições
de trabalho.
Produtores rurais também protestam contra a queda em
seus rendimentos. Em 1967 vários protestos rurais no oeste
da França se transformam em batalhas nas ruas. De acordo
com um relatório policial da época, os fazendeiros
são numerosos, agressivos, organizados e armados
com vários projéteis: pregos, paralelepípedos,
estilhaços metálicos, garrafas e pedregulhos.
No início de 1968, a França parece relativamente
calma em sua superfície, mas abaixo dela as tensões
sociais estão fermentando. O país inteiro aparenta
um barril de pólvora. Tudo que é necessário
para causar uma explosão é uma faísca repentina.
Esta faísca foram os protestos estudantis.
Revolta estudantil e greve geral
A Universidade de Nanterre está entre os colégios
que foram abertos nos anos 60. Construída sobre terreno
que antes pertencia às forças armadas há
apenas cinco quilômetros de Paris, ela foi aberta em 1964.
Ela é cercada por vizinhanças pobres, chamadas bidonvilles,
e fábricas. Em 8 de janeiro de 1968, os estudantes em protesto
confrontam o ministro da juventude François Missoffe, que
está na região para inaugurar uma nova piscina.
Apesar de o incidente ser, em si mesmo, relativamente insignificante,
as medidas disciplinares aplicadas contra os estudantes, assim
como as repetidas intervenções policiais, intensificaram
o conflito e fizeram de Nanterre o ponto de partida de um movimento
que se alastrou rapidamente pelas universidades e escolas secundaristas
de todo o país. No centro de seu movimento estão
as reivindicações por melhores condições
de aprendizado, livre acesso à universidade, mais liberdades
políticas e pessoais, a libertação dos estudantes
detidos, assim como a oposição à guerra americana
contra o Vietnã, na qual, no fim de janeiro, inicia-se
a Ofensiva Tet.
Em algumas cidades, como Caen e Bordeaux, trabalhadores, estudantes
universitários e secundaristas tomam as ruas conjuntamente.
Em 12 de abril ocorre uma marcha em Paris em solidariedade ao
estudante alemão Rudi Dutschke, que levou um tiro de um
fascista enraivecido em uma rua de Berlim.
Em 22 de março, 142 estudantes ocupam o prédio
da administração da Universidade de Nanterre. A
administração reage fechando completamente a universidade
por um mês inteiro. O conflito chega então à
Sorbonne, a mais velha universidade da França, localizada
no Quarteirão Latino (Quartier Latin) de Paris. Em 3 de
maio, representantes de diversas organizações estudantis
se reúnem para discutir como a campanha deve prosseguir.
Enquanto isso, grupos de extrema direita estão protestando
do lado de fora. O reitor da universidade chama a polícia,
que procede desocupando o campus. Uma imensa e espontânea
manifestação irrompe. A polícia reage brutalmente
e os estudantes reagem erguendo barricadas. Até o final
da noite, cerca de cem estudantes são feridos e mais outras
centenas são presos. Um dia após as prisões,
13 estudantes recebem sentenças cruéis baseadas
exclusivamente em depoimentos de policiais.
O governo e a mídia se esforçam por retratar
as batalhas urbanas no Quarteirão Latino como obra de arruaceiros
e grupos radicais. O Partido Comunista também se junta
ao coro contrário aos estudantes. Sua segunda figura mais
importante, Georges Marchais, que mais tarde se tornaria o secretário
geral do partido, dispara um ataque violento contra os estudantes
pseudo-revolucionários na primeira página
do jornal do partido LHumanité. Ele os acusa
de legitimar os provocadores fascistas. Marchais está
acima de tudo revoltado pelo fato de os estudantes distribuírem
panfletos e outros materiais de propaganda em números cada
vez maiores nas portas das fábricas e nos bairros de trabalhadores
imigrantes. E ameaça: Esses falsos revolucionários
têm que ser denunciados, porque estão objetivamente
servindo os interesses do regime gaullista e dos grandes monopólios
capitalistas.
Mas suas iscas não foram mordidas. O país está
chocado com as ações violentas da polícia
que são transmitidas pelas estações de rádio.
Os eventos agora recebem um impulso próprio. Os atos em
Paris ficam maiores a cada dia e se espalham a outras cidades.
Eles são direcionados contra a repressão policial
e exigem a soltura daqueles estudantes presos. Estudantes secundaristas
também tomam parte na greve. No dia 8 de maio ocorre uma
primeira greve geral de um dia no oeste da França.
A partir da noite de 10-11 de maio o Quarteirão Latino
está envolto pela Noite das Barricadas. Dezenas
de milhares de pessoas se fecham em barricada no bairro da universidade,
que é então invadido pela polícia usando
gás lacrimogêneo às duas da manhã.
Centenas de pessoas são feridas.
No dia seguinte, o Primeiro Ministro Georges Pompidou, que
acaba de voltar de uma visita diplomática ao Irã,
anuncia a reabertura da Sorbonne e a libertação
dos estudantes em custódia. Porém, suas ações
não conseguem mais controlar a situação.
Os sindicatos, incluindo a CGT dominada pelo Partido Comunista,
conclamam uma greve geral para o dia 13 de maio contra a repressão
policial. Os sindicatos temem perder controle sobre os trabalhadores
engajados caso não atuem dessa forma.
O chamado de greve é recebido com uma enorme repercussão.
Muitas cidades testemunham os maiores protestos de massas desde
a Segunda Guerra. Somente em Paris 800.000 pessoas vão
às ruas. Reivindicações políticas
vêm à tona. Muitos reivindicam a derrubada do governo.
Durante a noite, a Sorbonne e outras universidades são
reocupadas pelos estudantes.
O plano dos sindicatos de limitar a greve geral a um só
dia não consegue se materializar. No dia seguinte, 14 de
maio, os trabalhadores ocupam a fábrica Sud-Aviation, em
Nantes. A fábrica permanece sob controle dos operários
por um mês, com bandeiras vermelhas tremulando sobre o prédio
da administração. O diretor regional, Duvochel,
é mantido refém pelos ocupantes por 16 dias. O gerente
geral da Sud-Aviation nesta época é Maurice Papon,
um colaborador nazista, criminoso de guerra e chefe da polícia
parisiense em 1961, quando foi responsável pelo assassinato
de pessoas que protestavam contra a guerra da Algéria.
Operários de outras fábricas seguem o exemplo
da Sud-Aviation, e uma onda de ocupações avança
sobre o país de 15 a 20 de maio. Em todos os lugares bandeiras
vermelhas são erguidas e em muitas fábricas a gerência
é mantida em cativeiro. As ações afetam centenas
de fábricas e escritórios incluindo a maior fábrica
do país, a fábrica principal da Renault, em Billancourt,
que havia desempenhado um papel fundamental na onda de greves
de 1947.
Inicialmente, os trabalhadores levantam reivindicações
imediatas, que se diferenciam de lugar a lugar: remuneração
mais justa, diminuição das horas de trabalho, nenhuma
demissão, mais direitos aos trabalhadores da fábrica.
Comitês de ação e de trabalhadores surgem
nas fábricas ocupadas e arredores atraindo residentes locais,
estudantes universitários e secundaristas junto aos operários
e trabalhadores da administração em greve. Os comitês
tomam responsabilidade pela organização de greves
e desenvolvem-se em fóruns de intenso debate político.
O mesmo é válido para as universidades, que estão
em grande parte ocupada por estudantes.
Em 20 de maio o país inteiro está paralisado,
atingido por uma greve geral - mesmo não tendo os sindicatos
e nenhuma outra organização lançado um chamado
a esta greve. Fábricas, escritórios, escolas e universidades
estão ocupados, a produção e o sistema de
transportes paralisados. Artistas, jornalistas e até mesmo
jogadores de futebol juntam-se ao movimento. Dez milhões
de pessoas, das 15 milhões da força de trabalho
francesa, estão envolvidas na ação. Estudos
posteriores revisaram este número para 7-9 milhões,
mas, ainda assim, esta continua sendo a maior greve geral da história
da França. Somente três milhões
de trabalhadores haviam tomado parte na greve geral em 1936, enquanto
que 2,5 milhões de trabalhadores participaram da greve
geral de 1947.
A onda de greves atinge seu pico entre 22 e 30 de maio, mas
chega a durar até julho. Mais de 4 milhões de trabalhadores
permanecem em greve por mais de três semanas e 2 milhões
por mais de quatro semanas. De acordo com o Ministério
do Trabalho francês, um total de 150 milhões de dias
de trabalho são perdidos em 1968 devido a greves. Em comparação
com a greve de mineiros na Grã-Bretanha em 1974, que levou
o governo conservador de Edward Heath abaixo, resultou em um total
de 14 milhões de dias de trabalho perdidos.
Em 20 de maio o governo perde o controle sobre o país.
A reivindicação pela renúncia de de Gaulle
e seu governo (dez anos é demais) já
está disseminada. Em 24 de maio, de Gaulle tenta retomar
o controle da situação através de um discurso
televisionado à nação. Ele promete um plebiscito
dando aos estudantes e trabalhadores mais direitos em empresas
e universidades. Mas sua aparência só demonstra impotência.
Seu discurso não causa nenhum impacto.
Nas três primeiras semanas de maio, uma situação
revolucionária que possui poucos precedentes na história
se desenvolveu na França. Com uma direção
determinada, o movimento poderia ter selado o destino político
do governo de Gaulle e da Quinta República. As forças
de segurança ainda pairavam sobre o regime, mas elas raramente
resistiriam a uma ofensiva política sistemática.
O próprio tamanho do movimento teria causado um impacto
corrosivo em suas fileiras.