Esta é a quinta e última parte do seminário
de abertura de Nick Beams para o curso internacional realizado
pelo Comitê Internacional da IV internacional e da Internacional
Estudantil pela Igualdade Social (ISSE) em Sydney, Australia de
21 da 25 de Janeiro de 2008. Beams é membro do comitê
editorial do WSWS e secretário do SEP da Austrália.
A primeira parte foi
publicada no dia 27 de março 2008, a segunda
parte, o1 de abril, a terceira
parte o 3 de abril, e a quarta parte,
ontem.
Quais são as implicações desta análise
para o desenvolvimento de nossa perspectiva?
Será que a tendência de crescimento na curva do
desenvolvimento capitalista desde 1992 significa que a revolução
socialista pode ser tirada da agenda, ao menos para o futuro próximo?
Ou, por outro lado, é precisamente o desenvolvimento
desta tendência que desenvolve novas tensões e novas
contradições no sistema capitalista mundial que
estabelecem novos elementos para um novo período de levantes
e lutas revolucionárias?
Comecemos nossa análise apontando que o surgimento de
uma curva de crescimento no desenvolvimento capitalista não
elimina a possibilidade de uma revolução socialista.
Ao contrário, a Primeira Guerra Mundial de 1914 e a Revolução
Russa de 1917 correram justamente ao fim de um período
de crescimento que se iniciou no fim da década de 1890.
No início daqueles processos, Eduard Bernstein observou
as mudanças na economia e concluiu que a revolução
não era mais uma perspectiva válida e que o socialismo
se realizaria apenas através de um período marcado
por uma série de reformas. Quão errada essa perspectiva
se mostrou.
Da mesma forma, o ressurgimento da força revolucionária
da classe operária no período de 1968-75, que sob
uma direção diferente, poderia certamente ter sido
levada a uma revolução, veio depois do mais longo
período de crescimento na história do capitalismo
mundial. Isto aconteceu, como notamos anteriormente, exatamente
no momento em que os teóricos da Nova Esquerda,
como Marcuse, concluíram que a classe operária havia
sido tão integrada na ordem capitalista, ao menos nos países
avançados, que ela não seria mais capaz de representar
um papel revolucionário. Aquela perspectiva também
se mostrou completamente falida.
Posto isso, nossa tarefa aqui não é propriamente
fazer um jogo de palavras ou simplesmente colocar um mais
onde outros colocaram um menos, mas sim realizar uma
análise clara das condições objetivas que
se desenvolveram, examinar suas implicações e se
preparar para os desdobramentos políticos que surgirão
a partir disso.
Ao analizar as perspectivas da luta pelo socialismo, nós
precisamos examinar o que Trotsky dizia sobre o equilíbrio
capitalista. O capitalismo, ele diz, produz um certo equilíbrio,
o rompe, e então reestabelece uma nova ordem para rompê-la
novamente. Ele aponta três componentes chave: processos
econômicos, relações de classe e relações
entre os Estados capitalistas. Examinemos cada um destes aspectos,
separando-os aqui como método de análise, mas lembrando
que eles reagem e interagem uns com os outros.
Na esfera econômica, fica claro que a expansão
dos últimos 15 anos produziu uma situação
altamente instável-crescimento econômico acelerado
em algumas regiões, ainda que sobre bases instáveis,
como no caso da China, associados a profundas mudanças
na estrutura econômica dos países capitalistas mais
avançados.
Os EUA, que ainda é o país capitalista mais poderoso
e o maior mercado mundial, construiu uma balança de pagamentos
tão grande que é totalmente dependente do afluxo
de 75% das reservas do resto do mundo para sustentá-la.
Pelos últimos 15 anos, 20 se voltarmos ao colapso da bolsa
em 1987, a economia americana tem sido sustentada artificialmente
através de uma série de bolhas. Agora isto atingiu
um estágio no qual surge uma série de ameaças
a todo o sistema financeiro.
A reestruturação que se iniciou nos anos 80 e
que acelerou pelos processos de globalização dos
90 aos dias de hoje modificaram a fisionomia do capitalismo americano.
A ascensão do capitalismo americano no século
XX era associada acima de tudo com a dominância de sua indústria
manufatureira. Ao fim do século XX, no entanto, o setor
financeiro, imobiliário e securitário significavam
20% da economia americana, comparada aos 14,5% da indústria
manufatureira.
Em seu livro American Theocracy, Kevin Phillips escreve:
O lucro do setor financeiro deixou para trás aqueles
da indústria manufatureira nos meados da década
de 90, avançando para muito além. Em 2004 as empresas
financeiras atingiram 40% de todo o lucro americano. O setor financeiro
comandou um quarto das bolsas americanas naquele ano, comparados
aos 6% em 1980 e 11% em 1990. Historicamente, esta transformação
é tão momentânea quanto a emergência
das vias férreas, do ferro e do aço e do deslocamento
da agricultura durante as décadas da Guerra Civil
(Kevin Phillips, American Theocracy, Penguin, 2006, pp.
265-266).
Estas vastas mudanças na economia americana não
significaram simplesmente o avanço do mercado financeiro
contra a indústria manufatureira, mas envolveu profundas
modificações na forma como o próprio sistema
financeiro passou a operar.
Durante o boom pós segunda guerra, o capital financeiro
nos EUA acumulou lucros através de empréstimos para
a indústria e outras formas de transações
bancárias, assim como proveu empréstimos imobiliários
de acordo como modelo 3-6-3. Isto é, havia uma relação
direta entre a extração de mais-valia e apropriação
de uma porção de mais-valia pelo capital financeiro.
Agora existem mecanismos muito diferentes. Os lucros do capital
financeiro não envolvem tanto uma apropriação
direta da mais-valia já que eles são acumulados
através de mudanças sucessivas nos valores dos títulos-isto
é, através de múltiplas operações
no mercado financeiro.
O que troxe essa mudança? Em poucas palavras, a queda
da taxa de lucro nos anos 70 e o fracasso da recuperação
destas taxas nos anos 80. Em outras palavras, o movimento de queda
na curva do desenvolvimento capitalista não apenas trouxe
mudanças na estrutura da indústria e uma ofensiva
contra a classe trabalhadora, mas também a reestruturação
do capital financeiro.
Um estudo recente demonstra esses processos: Seguindo
o declínio nos ganhos dos bancos comerciais nos EUA nos
anos 80, as regulações limitando os empréstimos
bancários foram afrouxadas para permitir uma gama maior
de atividades financeiras, em particular, a incorporação
de setores que não estavam previamente engajados nestas
atividades.
O autor observa que a seção 20 da emenda Glass-Steagall
de 1933 havia regulado esse tipo de mecanismo, mas através
dos anos 80 eles foram afrouxados.
Assim, o sistema bancário que emergiu da crise imobiliária
dos anos 80 não mais servia empréstimos, nem estava
mais dependente de margens de lucro para suas receitas. Ao invés
disso, o sistema estava baseado na habilidade dos gerentes de
bancos em gerar lucros e de...seus associados em produzir taxas
e comissões...
Este sistema produziu um novo conjunto de operações
bancárias agora conhecidas como originar e distribuir
na qual os bancos procuram maximizar sua receita de taxas e comissões
gerando títulos, gerenciando aqueles títulos em
off-balance-sheet, riscando a distribuição
primária de seguros colateralizados com estes títulos
e servindo eles (Jan Kregel Minsky, Cushions of Safety,
Levy Institute Public Policy Brief No. 93, 2008, pp. 10-11).
Neste modelo, o banco lucra através de sua habilidade
de vender os títulos que ele originou, não mais
por reter aquele título em seu portfólio de empréstimos
e segurar os lucros de suas margens de juros-a diferença
entre os juros do dinheiro que empresta e aquele cobrado nos empréstimos.
No sistema originar e distribuir, a quantidade
de empréstimos é determinada pela habilidade de
distribuir os débitos-isto é, pela demanda dos mercados
financeiros pelos empréstimos segurados. Com taxas de juros
baixas, as demandas se mantiveram altas, com forte pressões
do mercado financeiro por empréstimos, novos e mais arriscados.
O regime de baixas taxas de juros que era tão crucial
para este processo, dependia, por sua vez, na manutenção
de baixa inflação, mesmo frente a expansão
do crédito. Isto só foi possível através
da incorporação da China, India e os antígos
países stalinistas no mercado mundial.
Agora existem claros sinais de que o regime de baixa inflação
chega a seu fim e isto se coloca como um problema gigantesco de
administração da política econômica.
O método favorito do antigo presidente do Fed Alan Greenspan
para se contrapor à tendência recessionária
e às consequências da crise financeira era reduzir
as taxas de juros para esquentar os mercados financeiros. Mas
agora o aumento da inflação coloca grandes problemas.
Por outro lado, como indicou o presidente do FED Bernake em
sua fala em 10 de janeiro, o Fed está pronto para fazer
o que for necessário para conter a recessão. Mas
por outro lado, as pressões inflacionárias estão
crescendo e qualquer tendência por espectativas de
inflação aumentam poderia complicar
muito a tarefa de manter a estabilidade dos preços e reduzir
a flexibilidade do banco central para conter quedas de crescimento
no futuro.
Isto não é um problema de curto prazo. Na sua
recente autobiografia, Greenspan explicou que ele foi muito sortudo
em seu mandato porque o impacto deflacionário resultante
da incorporação da China no mercado mundial permitiu
que ele não se preocupasse com o impacto inflacionário
do corte de juros. Mas em entrevistas subseqüentes ele deixou
claro que seus sucessores poderiam não ser tão sortudos,
porque os preços e as pressões inflacionárias
poderiam inevitavelmente começar a crescer.
É claro que na frente econômica existem grandes
fatores tendendo a quebrar o equilíbrio do período
anterior. As contradições que os encarregados das
políticas econômicas enfrentam podem muito bem ser
um sinal de que o impulso dado às taxas de lucro, sustentado
pela diminuição do custo do trabalho e do capital
durante os 15 últimos anos, está diminuindo e o
período de crescimento capitalista chega ao fim.
A segunda questão chave são as relações
entre as potências capitalistas. O crescimento da economia
capitalista mundial, que foi traduzido em um boom de crescimento
desde 2000 se manifestou como um processo desestabilizante.
A ascensão da China, assim como outras potências
econômicas como a Rússia está rompendo o equilíbrio
que fora estabelecido depois da II Guerra Mundial, assim como
no período anterior a Alemanha o Japão e os EUA
romperam o equilíbrio que havia sido estabelecido pela
Inglaterra e seu Império. Naquele caso, o resultado de
três décadas de guerras. Um novo equilíbrio
interno foi finalmente estabelecido sob a égide dos EUA
em 1945. Isto não foi ancorado apenas no poderio militar
americano, mas sobre tudo, em sua superioridade econômica.
Agora esta hegemonia econômica foi abalada. Uma estatística
avassaladora resume tudo: A economia americana tem a mesma proporção
que a economia mundial tinha em 1940.
Agora o imperialismo americano luta para conter a perda da
sua dominância econômica e manter sua posição
global através de meios militares. Este é o significado
histórico do crescimento do militarismo americano do qual
o Iraque é apenas o mais sangrento confronto de um conflito
global. Do Ártico ao Oriente Médio, Ásia
Central, África, Europa do Leste e os Balkãs, existe
uma série de explosões iminentes onde os interesses
de duas ou mais potências econômicas entram em conflito.
Revendo a história do século XX, fica claro que
a Pax Americana estabelecida depois da II Guerra Mundial
foi de fundamental importância na estabilização
do sistema capitalista mundial depois de três décadas
de turbulência. Agora, o declínio do capitalismo
americano é o fator de maior peso nas relações
internacionais, enquanto é desafiado por antigas e novas
potências.
Está acontecendo a mais significativa mudança
na estrutura econômica mundial. Quinze anos atrás,
as economias dos G7 correspondiam a 70% da atividade econômica
global (em termos nominais). Agora elas correspondem a apenas
62% da atividade econômica, e apenas 43 % de PPP.
Agora vamos focar na questão do equilíbrio de
classe.
O fator marcante da vida social em todas as economias capitalistas
é o crescimento da desigualdade social. A questão
nos EUA é flagrante, mas eles não são uma
exceção. Eles expressam um processo geral.
Como observou David North em seu boletim no encontro do SEP
Estudos recentes de Edward N. Wolff do the Levy Economics
Institute of Bard College documentam o crescimento de níveis
extremos de desigualdade social nos EUA. As estatísticas
relativas a concentração de renda revelam o grau
extraordinário de estratificação social.
34,3% da riqueza nacional dos EUA se concentram nas mãos
de apenas 1% das famílias. Os próximos 4% mais ricos
detém 24,6% e os próximos 5% detém 12,3%.
Aproximadamente 71% da riqueza nacional está concentrada
nas mãos de 10% das famílias americanas. Os próximos
10% mais ricos detém apenas 13,4% da riqueza. Os 80% mais
pobres detém apenas 15,3% da riqueza. Os 40% mais pobres
detém apenas 0,2% da riqueza!
Quando a riqueza não familiar também é
levada em consideração, a estratificação
é ainda maior. Cerca de 42,2% da riqueza não familiar
se concentra nas mãos de 1% das famílias. Os 10%
do topo possuem pouco abaixo de 80% da riqueza. Os 80% mais pobres
possuem 7,5% da riqueza não familiar. Os 40% mais pobres
possuem 1,1% da riqueza não familiar.
Medindo a receita, 1% das famílias recebem 20%
do total. Os 10% do topo recebem 45% da receita total. Os 80%
da base recebem 41,4 %. Os 40% mais pobres recebem apenas 10,1%
da receita total
Ainda há alguns outros aspectos deste estudo que demonstram
o significado destes processos. Os primeiros anos deste século
testemunharam a explosão da dívida familiar. A riqueza
média -isto é, a riqueza dos lares medianos -diminuiu
0,7% entre 2001 e 2004. A única vez que isto aconteceu
anteriormente foi durante um período de recessão.
A riqueza não doméstica (riqueza total menos propriedade
familiar) caiu 27% entre 2001 e 2004. A receita média caiu
quase 7% de 2000 a 2003.
Observando um período mais amplo, a riqueza média
dos 40% mais pobres caiu 59% entre 1983 e 2004. Durante o mesmo
período, os 1% mais ricos receberam 35% correspondentes
ao crescimento total, 42% do crescimento total em riqueza não
doméstica e 33% do crescimento total da receita bruta.
Para os três quintos da riqueza média, houve um crescimento
gigantesco da proporção dívida-receita, de
100,3 a 141,2 % de 2001 a 2004, e a duplicação da
relação dívida-patrimônio de 31,7 a
61,6 %.
O financiamento da economia norte-americana - um processo que
foi reproduzido em todos os outros principais países capitalistas
- tem sido o mecanismo central através do qual a riqueza
foi transferida para as mãos da alta burguesia. Isto se
baseou na manutenção de baixas taxas de juros e
expansão do crédito, o que abasteceu o crescimento
de títulos e a acumulação de lucros como
resultado de transações financeiras. As baixas taxas
de juros, por sua vez, foram possíveis graças ao
impacto deflacionário de integração da China
e outros produtores de baixo custo no mercado mundial.
Isto deixa clara a conexão entre o crescimento da desigualdade
social e a formação de uma formação
social que possuí interesse material direto na extensão
dos domínios do livre mercado, sob a égide
dos EUA, para todos os cantos do mundo.
Como explica David North em After the Slaughter: Political
Lessons of the Balkan War (Depois de Slaughter: As lições
políticas da guerra dos Balkãs), existe um setor
nos países capitalistas avançados que foi diretamente
beneficiado pela explosão do imperialismo e do militarismo.
Esta formação social não é produto
da administração Bush. Sua origem data de muito
antes.
Clinton mencionou o fundamento do militarismo americano no
despertar do bombardeio da Sérvia em abril de 1999. Ele
disse: Se nós vamos ter uma forte relação
econômica que inclui nossa habilidade de vender ao redor
do mundo, a Europa deve ser uma chave...É disso que se
trata esta questão de Kosovo.
O correspondente de assuntos internacionais do New York Times,
Thomas Friedman, coloca a questão de forma um pouco mais
crua: A mão invisível do mercado jamais funcionará
sem um pulso invisível-Mc Donalds não pode
prosperar sem McDonnell Douglas, o construtor do F-15. E o punho
invisível que mantém o mundo a salvo para a tecnologia
do Vale do Silício prosperar se chama Exército dos
Estados Unidos da América, Força Aérea, Marinha...Sem
a América em serviço, não haverá America
Online (Without America on duty, there will be no America Online)
(New York Times Magazine, 28 de Março de 1999).
O desenvolvimento destes processos objetivos que nós
explicamos, colocam as bases para o surgimento de conflitos de
classe e mudanças decisivas na orientação
política das massas. Todos os fatores objetivos apontam
um novo período para o surgimento de novos conflitos revolucionários.
Devemos nos preparar politicamente para responder aos desafios
colocados pelo aprofundamento das condições objetivas.
É fundamental esclarecer e expôr os mecanismos políticos
e ideológicos que são desenvolvidos para dispersar
a classe operária, bloquear o desenvolvimento de uma orientação
revolucionária e trazer o movimento de volta ao controle
da burguesia.
Eu gostaria de concluir minhas observações examinando
algumas dessas tendências na esfera da economia política.
O acadêmico David Harvey escreveu uma série de
livros sobre política econômica e seus trabalhos
contêm apontamentos importantes. Mas ao que concerne a seu
Marxismo Acadêmico ele distorce completamente
a história de luta do Marxismo e da classe trabalhadora.
Em seu livro O Novo Imperialismo Harvey polemiza
com o que ele chama visão clássica da
esquerda marxista, que definia os trabalhadores assalariados como
o principal agente das transformações sociais. Conceber
o proletariado como o principal agente de transformação
histórica, ignorando movimentos sociais como feminismo
e ambientalismo, e um setor de esquerdistas inspirados no marxismo,
foi um erro fatal (Harvey, The New Imperialism, Oxford
University Press, 2004, p. 171).
Na visão de Harvey isso foi responsável pelos
refluxos do pós-guerra. O problema não está
onde Harvey tenta encontrá-lo, mas na liderança
do movimento dos trabalhadores e nas traições das
lutas do período entre 1968 e 1975 que abriram caminho
para uma ofensiva da burguesia durante os 30 últimos anos.
A análise de Harvey apela para os pensamentos de Marcuse
no período anterior. Exatamente no período em que
os processos do capitalismo global criaram uma estagnação
na classe operária-aquela classe que, independentemente
do tipo de trabalho que executa, é separada dos meios de
produção e recebe salário-ele insiste que
devemos nos orientar para novos tipos de movimentos sociais.
Harvey identifica uma virada para a classe operária
com a luta sindical pelos salários. Na verdade, o verdadeiro
Marxismo sempre se opôs a estas concepções,
insistindo que o movimento socialista só pode ser desenvolvido
na base de uma luta política que abraça todas as
formas de opressão.
Precisamos simplesmente lembrar as palavras de Lenin de que
um líder revolucionário precisa lutar como uma
tribuna do povo, capaz de tirar vantagem de todos
os eventos, ainda que pequenos, para levar adiante suas convicções
socialistas e reivindicações democráticas
para esclarecer para todos e todo mundo o significado histórico
mundial da luta pela emancipação dos trabalhadores.
Em outras palavras, o movimento social é fundado na concepção
de que apenas através da tomada do poder político
pela classe trabalhadora podem ser resolvidos os problemas e contradições
colocados pelo capitalismo.
No lugar desta luta o que propõe Harvey? Após
observar que o surgimento do militarismo é uma tentativa
desesperada dos EUA de preservar sua dominação global,
ele escreve: A única resposta possível, ainda
que temporária para este problema é algum tipo de
New Deal que tenha um alcance global. Isto significa
liberar a lógica da circulação do capital
de suas amarras neo-liberais, reformulando o poder do Estado com
outra linha muito mais redistributiva, observando o poder especulativo
do capital financeiro e descentralizando ou controlando democraticamente
o poder gigantesco dos oligopólios e monopólios
(em particular a influência nefasta do complexo militar
industrial) em ditar absolutamente tudo, desde os termos do comércio
internacional até o que vemos, lemos e ouvimos na mídia.
O efeito será um retorno a um New Deal mais
benevolente, preferivelmente conquistado através de uma
coalisão das potências capitalistas que Kautsky visionou
há muito tempo (David Harvey, The New Imperialism,
p. 209).
Existem, é claro, ele continua, soluções
muito mais radicais que não a construção
de um New Deal liderada pelos EUA e Europa, tanto
nacional como internacionalmente, em face de forças sociais
espetaculares e interesses especiais contra elas, pelas quais
definitivamente vale a pena lutar (Harvey, pp. 210-211).
A depredação do capital financeiro e o livre
mercado neo-liberal produziram vários apelos pelo
retorno de uma regulação.
Nas palavras de um escritor, é tempo de firmar uma posição
e exigir o retorno da mão visível, mas não
mais em nível nacional - que é claramente insuficiente-mas
numa escala global. Chegou a hora de estabelecer um contrato
social global para construir um mundo com espaço suficiente
para todos...o momento histórico chegou para a mão
visível tomar o controle e reorganizar as relações
de mercado para reintegrá-las às vidas das pessoas
(Wim Dierckxsens, The Limits of Capitalism, Zed Books,
2000, pp. 126-127).
Os economistas franceses Dumenil and Levy, associados ao movimento
ATTAC, não deixam dúvidas sobre sua orientação
política reformista, apesar de todas as suas referências
a Marx. Eles insistem que a análise da crise do capitalismo
ao fim do século XX tem demonstrado a significação
correta do diagnóstico Keynesiano: o controle da situação
macroeconômica e instituições financeiras
não devem ser deixados em mãos privadas, isto é
aquelas do mercado financeiro.
Eles continuam: Esta visão Keynesiana da história
do capitalismo, incluindo seus problemas atuais é muito
sensível. Alguém só pode se arrepender que
as condições políticas das últimas
décadas não possibilitaram barrar a ofensiva neo-liberal
e colocar em prática políticas alternativas - uma
forma diferente de gerenciar a crise -no contexto de outras alianças
sociais.
Keynes deve ser denunciado pelo seu reformismo por aqueles
que ainda sonham com um futuro revolucionário?...O trabalho
de Keynes é realmente o de um reformista. Suas perspectivas
brilhantes, mas socialmente limitadas jamais foram uma alternativa
para uma via mais radical...que fracassaram por décadas
por toda a parte (Dumenil and Levy, Capital Resurgent,
Harvard University Press, 2004, pp. 201, 204).
Outros como Panitch e Gindin da Universidade de Nova York,
associados ao jornal Socialist Register, sustentam que
longe de passar por um declínio, o imperialismo americano
é capaz de conter e gerenciar a crise da ordem capitalista
mundial. Na China, na América do Norte e em toda
a parteeles escrevem, a questão central para
os socialistas ainda é como desenvolver uma resistência
que pode transformar o capitalismo. A luta pela sua derrubada
está definitivamente fora de cogitação.
Naomi Klein, a autora canadense radical, explica seu último
livro, entitulado The Shock Doctrine, é um
desafio para os desejos mais centrais da estória oficial-que
o triunfo do capitalismo desregulado nasce da liberdade, que os
mercados livres andem de mãos dadas com a democracia.
Ao invés disso, ela argumenta que esta forma fundamentalista
de capitalismo, venerada pelo economista de direita do livre mercado
Milton Friedman e a assim chamada escola de Chicago, tem sido
acompanhada pelas formas mais brutais de coerção
sobre a política e sobre os indivíduos (Naomi
Klein, The Shock Doctrine, Penguin, 2007, p. 18).
Mas Klein insiste que ela não está dizendo que
todas as formas de sociedade de mercado possuem uma violência
inerente. Ela escreve: é possível ter
uma economia de mercado que não requer qualquer brutalidade
e exigências ou qualquer pureza ideológica. Pode
haver livre mercado em produtos de consumo, ao lado de serviços
públicos gratuitos, escolas publicas, um grande setor da
economia guardado nas mãos do Estado, leis exigindo que
as corporações paguem um salário digno e
o respeito aos direitos dos sindicatos e a redistribuição
da riqueza para diminuir a desigualdade.
Keynes propôs exatamente este tipo misto de economia
regulada depois da Grande Depressão, uma revolução
em políticas públicas que criaram o New Deal e transformações
como estas ao redor do mundo. Foi exatamente este sistema de compromissos,
cheques e balanços que a contra-revolução
de Friedman foi lançada para desmantelar metodicamente
país após país (Klein, p. 20).
Numa entrevista em seu livro, Klein deixa claro que ela defende
a economia mista Keynesiana porque ela era realista.
Mas não há nada mais irrealista que a noção
de que é possível fazer girar para trás a
roda da história e reinventar o boom pós-segunda
guerra do século XX.
Antes de mais nada, os advogados de tal proposição
ignoram o fato de que aquele boom não surgiu por causa
das políticas Keynesianas, mas estava ligado a profundas
modificações na estrutura capitalista mundial, resultando
da destruição violenta trazida pela II Guerra Mundial.
E o colapso do boom-resultado de processos objetivos -medidas
Keynesianas foram incapazes de aliviar a crise. Em algumas maneiras
elas pioraram a crise e assim desenvolveram uma base social em
meio à classe média para uma ofensiva contra o movimento
operário.
Segundo, mesmo que um movimento significativo por uma reforma
social que se desenvolva ao longo de linhas propostas por Klein
e outros Keynesianos, ele seria rapidamente absorvido pela burguesia
e seus aparatos para manter seus interesses.
Os proponentes de tais políticas dizem ser realistas
na oposição aos marxistas que insistem que a única
forma de progresso é a mobilização da classe
operária numa luta política contra a ordem capitalista
e levar adiante a luta pela consciência histórica
com base nesta perspectiva.
Na verdade, eles seguem o mesmo procedimento que os radicais
criticados por Marx mais de 150 anos atrás. Isto é,
mais do que examinar os processos objetivos e desenvolvimentos
e conceber o programa político necessário resultante
desta análise, eles desenvolvem uma série de medidas
mais convenientes e mais confortáveis para eles mesmos
e então proclamam que essas medidas são uma solução
universal.
A perspectiva da revolução socialista mundial
e a reorganização da economia mundial não
é uma perspectiva distante. Um exame da lógica dos
processos econômicos objetivos e das tendências da
economia capitalista demonstram que este é o único
caminho viável pelo qual a classe trabalhadora mundial
pode enfrentar o agravamento da crise do capitalismo global e
as catástrofes que ela tem produzido. Nossa tarefa ao longo
dos próximos cinco dias é desenvolver uma clarificação
teórica e política para desenvolver a consciência
política necessária para levar esta luta adiante.