Estamos publicando abaixo a terceira parte da palestra proferida
por Nick Beams na abertura da escola internacional organizada
pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI)
e pela Internacional Estudantil para a Igualdade Social (IEIS)
em Sidney, Austrália, de 21 a 25 de janeiro. Beams é
membro do comitê editorial internacional do World Socialist
Web Site (WSWS) e secretário nacional do Partido Socialista
da Igualdade da Austrália. A primeira
parte foi publicada no dia 21 de março 2008 . A segunda parte foi publicada no dia1 de abril de 2008.
As questões relativas à situação
atual e ao perigo de uma recessão, ou até mesmo
de um colapso ou de uma quebra, resultam do enorme crescimento
do endividamento na economia norte-americana como em toda a economia
mundial, durante o último período. A questão
colocada ao nosso movimento é a seguinte: Qual o significado
desta crise para o desenvolvimento de nossas perspectivas?
Há dois anos, na abertura de nosso encontro, David North
colocou o seguinte problema: Qualquer tentativa de um prognóstico
político, de uma estimativa das potencialidades da situação
política atual, precisa ter como pressuposto uma precisa
e acurada compreensão do desenvolvimento histórico
do sistema capitalista mundial.
A análise do desenvolvimento histórico
do capitalismo deve responder a seguinte questão essencial:
o capitalismo, enquanto um sistema econômico mundial, está
numa trajetória ascendente, aproximando-se do apogeu, ou
está em declínio e mesmo descendo o abismo?
A resposta que nós demos a esta pergunta tem,
inevitavelmente, conseqüências do mais longo alcance,
não apenas para decidir nossas tarefas práticas,
mas para toda a orientação teórica e programática
de nosso movimento. O que determina nossa análise a respeito
das condições históricas do sistema capitalista
mundial não é o desejo subjetivo da revolução
social. Ao invés disso, a perspectiva revolucionária
deve estar baseada numa avaliação cientificamente
fundamentada das tendências objetivas do desenvolvimento
sócio-econômico. Separada de necessários pré-requisitos
objetivos sócio-econômicos, uma perspectiva revolucionária
não pode ser mais do que uma proposta utópica.
(Ver David
North: Opening report to meeting of WSWS International Editorial
Board).
A crise atual certamente acentua o ponto central que nós
temos enfatizado em nossas análises - que a globalização,
ao invés de impulsionar o capitalismo a uma nova época
de progresso, tem intensificado todas as contradições
que o afligiram no decorrer do século XX, resultando em
guerras e revoluções.
Nossos adversários se oporão, argumentando que,
apesar do sistema capitalista estar indubitavelmente enfrentando
alguns problemas de baixa demanda,talvez mesmo
de crise, esta é uma daquelas tempestades de destruição
criativa que tem se mostrado tão vital para o desenvolvimento
do sistema capitalista no decorrer de toda sua história,
e que, depois de um período de trovoadas e estresse, um
novo e mais estável processo de desenvolvimento emergirá
e mais uma vez estaremos todos no melhor do melhor dos mundos
possível.
Finalmente eles argumentarão que o colapso do mercado
de 1987 foi superado, assim como a crise asiática de 1997-1998
e o colapso do mercado de ações e da bolha das empresas
de informática de 1998. Do mesmo modo, o problema atual,
que está relacionado ao colapso da bolha doméstica
e ao empréstimo subprime,tambémserá resolvido.
Mas, afinal, como nós podemos avaliar a situação
atual? Não podemos avaliá-la simplesmente colocando
um mais onde a burguesia coloca um menos
ou vice-e-versa, mas através de uma análise do processo
histórico que tem originado essa situação.
Se o marxismo é a ciência da perspectiva, então
um dos mais importantes instrumentos de análise é
o conceito de curva de desenvolvimento capitalista, empregada
por Trotsky em sua famosa tese apresentada no III Congresso do
Comintern em 1921 e nos seus escritos e discussões realizadas
no decorrer de toda a década 1920.
Naquela tese, Trotsky estabeleceu uma distinção
fundamental entre as mudanças causadas pelo ciclo econômico
- boom, crise, recessão, crescimento, boom -
originado desde o nascimento do capitalismo e que continuará
até sua morte, e a longa fase de desenvolvimento do capitalismo
na qual esse ciclo econômico opera.
Citando exemplos do mercado mundial, ele indicou diferentes
fases do desenvolvimento capitalista no decorrer do século
anterior. O período entre 1781 e 1851 caracterizou-se por
um movimento ascendente relativamente lento na curva de
desenvolvimento. Após as revoluções
de 1848 - as quais, ao serem derrotadas, acabaram ampliando o
mercado capitalista europeu - ocorreu um acentuado movimento ascendente,
que durou até 1873. A crise bancária e financeira
daquele ano foi superada, mas isso não foi suficiente para
garantir um retorno às antigas condições.
Ao contrário, nos 20 anos seguintes a economia entrou em
depressão - queda dos preços e dos lucros. Desde
a metade dos anos 1890, entretanto, houve uma recuperação
na curva de desenvolvimento, que culminou na crise de 1913 e na
deflagração da guerra em 1914.
A relação entre os dois movimentos foi o seguinte:
em períodos de recuperação na base da curva,
o crescimento tendia a se prolongar, enquanto as crises eram relativamente
curtas. Por outro lado, em períodos de estagnação,
o crescimento tendia a ser superficial e especulativo, enquanto
as recessões tendiam a ser mais prolongadas.
Posteriormente, numa série de artigos e discussões
durante a década de 1920, Trotsky aprofundou suas análises.
Em particular, ele discordou da análise de Kondratiev,
um economista burguês e social-democrata que defendia que
as longas fases de desenvolvimento capitalista deveriam também
ser caracterizadas como ciclos. Isto não significava
uma mera diferença de terminologia, mas envolvia questões
fundamentais de perspectiva.
A recorrência periódica de ciclos menores,
escreveu Trotsky, é condicionada pela dinâmica
interna das forças capitalistas e manifesta por si só,
sempre e em todos os lugares, que o mercado adquiriu existência.
Com respeito às ondas longas de desenvolvimento capitalista
(cinqüenta anos) que o Professor Kondratiev descuidadamente
propôs que se designassem também como ciclos, sua
característica e duração são determinados
não por uma interação interna, mas por aquelas
condições externas através das quais o canal
do desenvolvimento capitalista escoa. O domínio de novos
países e continentes por parte do capitalismo, a descoberta
de novos recursos naturais, e, sob esta base, a maioria dos acontecimentos
na instância superestrutural, como guerras e
revoluções, determinam o caráter e a transição
entre as épocas de crescimento, estagnação
e declínio do desenvolvimento capitalista (Trotsky,
The Curve of Capitalist Development in: Problems
of Everyday Life, Pathfinder, 2005, pp. 341-342).
A caracterização feita por Kondratiev das longas
fases de desenvolvimento capitalista como ciclos está em
estreita relação com a perspectiva social-democrata,
a qual defende que não haveria um colapso na
ordem capitalista, e que qualquer período de retração
seria inevitavelmente seguido de um novo crescimento, justamente
como uma recessão era seguida por uma retomada do ciclo
de negócios.
Analisando a situação mundial nos anos 1920,
Trotsky não excluiu a possibilidade de uma recuperação
na curva de desenvolvimento capitalista. Mas isso poderia se dar
somente se a economia européia fosse lançada violentamente
em marcha-ré, causando a morte de milhões de trabalhadores.
Uma nova recuperação seria possível somente
se a Internacional Comunista e suas seções fracassassem
e não aproveitassem as oportunidades revolucionárias
que se apresentariam a ela nos anos seguintes.
Como se sabe, estas condições que Trotsky considerava
somente hipoteticamente, se efetivaram. Sob o domínio da
burocracia stalinista, a Internacional Comunista não apenas
não aproveitou as oportunidades, como foi transformada
numa agência contra-revolucionária do imperialismo
mundial.
Após a II Guerra Mundial, houve uma nova recuperação
na curva de desenvolvimento capitalista, como conseqüência
da propagação para o resto do mundo de métodos
mais produtivos desenvolvidos pelo capitalismo norte-americano,
ocasionando um crescimento da massa de mais-valia extraída
da classe trabalhadora e a elevação da taxa de lucro
do sistema capitalista como um todo.
Mas, de acordo com Trotsky, esta recuperação
somente foi possível através de um profundo desenvolvimento
na superestrutura - em particular, a traição do
levante revolucionário da classe trabalhadora no último
período da guerra e no imediato pós-guerra pelo
aparato stalinista, além das enormes mudanças nas
relações políticas internacionais provocadas
pela entrada do imperialismo norte-americano na guerra.
Em seu famoso artigo publicado em 1934, intitulado Nacionalismo
e Vida Econômica, Trotsky chamou a atenção
para as explosivas conseqüências da contradição,
existente durante os anos 30, entre o enorme desenvolvimento do
capitalismo norte-americano e a divisão do mundo numa série
de impérios fechados - o Império britânico,
o avanço do Japão na conquista da Ásia e
a ambição do regime nazista em dominar a Europa.
No início do artigo, Trotsky expôs o significado
do desenvolvimento da produtividade do trabalho para a evolução
da sociedade humana. A produtividade do trabalho era o mais profundo
critério para definir a natureza do regime social e determinar,
em última análise, a substituição
de uma formação social por outra - a substituição
do canibalismo pelo escravismo, do escravismo pela servidão,
e do feudalismo pelo sistema de contrato de trabalho sob o capitalismo.
Como esta lei da produtividade do trabalho manifesta-se nas
condições dos anos 1930?
O país Estados Unidos, escreveu Trotsky,
representou o mais perfeito tipo de desenvolvimento capitalista.
O equilíbrio relativo de seu mercado interno aparentemente
inesgotável assegurou aos Estados Unidos uma preponderância
técnica e econômica em relação à
Europa. Mas sua intervenção na Guerra Mundial foi
realmente a expressão de que o seu equilíbrio interno
já estava comprometido. As mudanças introduzidas
pela guerra na estrutura norte-americana fizeram com que o seu
ingresso na arena mundial se transformasse numa questão
de vida ou morte para o país. É evidente que este
ingresso deverá assumir formas extremamente dramáticas.
A lei da produtividade do trabalho tem um significado
decisivo nas inter-relações da América com
a Europa e na determinação do futuro lugar que os
Estados Unidos ocuparão no mundo. A mais elevada forma
que os norte-americanos deram à lei da produtividade do
trabalho é denominada como a guia, o condutor, ou a produção
em massa. Seria como se o ponto no qual a alavanca de Arquimedes
deveria girar o mundo tivesse sido descoberto. Mas o velho planeta
recusa-se a ser girado. Cada um de nós defende a si mesmo
contra um outro qualquer, protege-se de uma barreira aduaneira
ou de um cerco de soldados. A Europa não compra mercadorias,
não paga suas contas, e ainda por cima se arma. Com cinco
divisões miseráveis, o faminto Japão apoderou-se
de um país inteiro [China]. A mais avançada técnica
no mundo parece repentinamente ser impotente diante de obstáculos
baseados numa técnica muito inferior. A lei da produtividade
do trabalho parece perder sua força.
Mas apenas parece. A lei fundamental da história
humana precisa inevitavelmente se impor sobre fenômenos
secundários e derivados. Cedo ou tarde, o capitalismo norte-americano
deve explorar caminhos por si mesmo em todo comprimento e largura
de nosso planeta. Por quais métodos? Por todos os
métodos. Um alto coeficiente de produtividade significa
também um alto coeficiente de força destrutiva.
Estarei eu pregando uma guerra? Não, em absoluto. Eu não
estou pregando nada. Eu estou apenas chamando a atenção
para analisar a situação mundial e para tirar conclusões
a partir das leis do mecanismo econômico (Trotsky,
Writings 1933-34, Pathfinder, pp. 161-162).
A questão fundamental para o capitalismo norte-americano
na II Guerra Mundial não era a democracia, mas a reconstrução
da economia mundial a fim de assegurar a livre movimentação
de mercadorias e de capital e por fim aos velhos impérios.
A reconstrução da economia mundial no pós-guerra
possibilitou uma nova recuperação da curva do desenvolvimento
capitalista. Ou seja, garantiu o desenvolvimento e a expansão
de métodos mais produtivos, capazes de sustentar e elevar
a taxa de lucro.
Mas todas as contradições do sistema de lucro
permanecem e durante a metade da década de 1960 elas voltavam
a se manifestar por meio da queda da taxa de lucro.
O fim do boom do pós-guerra foi marcado pelo
ascenso da classe trabalhadora. Como David North observou corretamente
no seu comentário no encontro nacional do SEP nos Estados
Unidos, a característica fundamental deste período
não foi o levante estudantil e o surgimento de uma nova
vanguarda, como os teóricos da Nova Esquerda defenderam,
mas o ascenso da classe trabalhadora.
No livro Homem Uni-dimensional, publicado em 1964, que
representa um resumo das teorias da Escola de Frankfurt, Marcuse
defendeu que a classe trabalhadora não era mais uma força
revolucionária nos países capitalistas avançados.
Ele escreveu: A teoria crítica da sociedade enfrentava,
no momento de sua origem, a presença de forças reais
(objetivas e subjetivas) na sociedade estabelecida que se moviam
(ou podiam ser forçadas a mover-se) através de instituições
mais livres e racionais, por meio da abolição daquelas
forças que haviam se tornado obstáculos ao progresso.
Estes eram os fundamentos empíricos nos quais a teoria
se baseava, e destes fundamentos empíricos resultou a idéia
da liberação de possibilidades inerentes - o desenvolvimento,
de outro modo bloqueado ou desviado, da produtividade material
e intelectual, das habilidades e necessidades. Sem a demonstração
de tais forças, a crítica da sociedade estaria ainda
válida e racional, mas seria incapaz de transformar esta
racionalidade numa prática histórica. Qual a conclusão?
Liberação de possibilidades inerentes
não expressa mais adequadamente a alternativa histórica.
Ou seja, a classe trabalhadora tem sido completamente incorporada
na estrutura da ordem capitalista. Outras forças, um substrato
de parias e estrangeiros, representam a única oposição
revolucionária.
Quatro anos mais tarde, a França enfrentava a maior
greve geral da história. Todos os principais países
do mundo estavam abalados por uma série de lutas econômicas
e políticas. Como Trotsky já havia observado anteriormente,
o desenvolvimento da atividade política dos estudantes
não representava o surgimento de uma nova força
social, mas uma expressão, nos mais voláteis elementos
da sociedade, de que movimentos mais profundos e fundamentais
estavam acontecendo.
O ascenso revolucionário de 1968 a 1975 foi traído
pela direção stalinista e social-democrata da classe
trabalhadora, com o apoio decisivo das tendência Pablistas,
que trabalharam para afrouxar e enfraquecer a IV Internacional
no período pós-guerra. Eles cumpriram um nefasto
papel no restabelecimento da ordem burguesa durante o ascenso
dos anos 1960 e início dos anos 1970. No caso do Sri Lanka,
é preciso que se diga, eles cumpriram um papel decisivo
no restabelecimento da situação política,
não apenas no país, mas em todo o sub-continente
e na região asiática como um todo, com o seu ingresso
no governo Bandaranaike em 1964.
O fim da recuperação na curva do desenvolvimento
capitalista ocorrida no pós-guerra foi marcado pelo choque
da inflação em 1973 e pela recessão de 1974-75
- a mais profunda do período do pós-guerra. Após
1975 houve uma recuperação no ciclo de negócios.
No entanto, esta recuperação não foi capaz
de repor novamente os níveis de crescimento e lucratividade
dos anos 1960. Ao contrário, um novo fenômeno surgiu
- estagflação, uma combinação de altos
níveis de desemprego e altos índices de inflação.
As medidas keynesianas - às quais os social-democratas
submeteram o marxismo, por considerarem que a economia capitalista
poderia ser solucionada por governos - aprofundaram ainda mais
a grave situação. Pode se dizer que o seu enterro
oficial ocorreu na conferência do Partido Trabalhista Britânico
em setembro de 1976, na qual o Primeiro Ministro, James Callaghan,
declarou: Nós imaginávamos que se poderia
evitar a recessão e aumentar o nível de emprego
cortando impostos e estimulando despesas governamentais. Eu digo
a vocês com toda a franqueza que esta opção
não existe mais...
Após a estabilização da situação
política a burguesia passou à ofensiva. A tentativa
de reverter a queda da taxa de lucro foi realizada de duas maneiras:
pela diminuição dos salários e a conseqüente
degradação das condições de vida da
classe trabalhadora, por um lado; e pela destruição
massiva dos setores menos lucrativos do capital, por outro. Este
foi o conteúdo essencial do programa implementado por Reagan
e Thatcher. Este programa começou a ser aplicado em 1979
sob o governo do Democrata Jimmy Carter, que indicou Paul Volcker
como o chefe do Banco Central norte-americano (Federal Reserve
Board - FED) com a missão de combater a inflação.
Esta não era uma simples questão de política
econômica, mas estava intimamente relacionada com o desenvolvimento
da luta de classes. Ao assumir o cargo, Volcker se envolveu imediatamente
no processo de falência da Chrysler, em 1980. A empresa
havia realizado uma série de cortes salariais e deixado
de pagar suas dívidas. Volcker se envolveu também
no ataque à greve dos controladores de tráfego aéreo.
Mais tarde ele admitiu quão importante foi quebrar esta
greve e destruir o sindicato (PATCO) em 1981. A mais importante
ação isolada do governo (Reagan) na luta antiinflacionária,
afirmou ele, foi derrotar a greve dos controladores de tráfego
aéreo.
A derrota dos controladores de tráfego aéreo
- traídos pela AFL-CIO - foi o começo de uma ofensiva
contra a classe trabalhadora nos Estados Unidos e internacionalmente.
Na Inglaterra, a questão chave era derrotar a greve dos
mineiros de 1984-85. Na Austrália, a ofensiva contra a
classe trabalhadora foi liderada pelo governo trabalhista Hawke-Keating,
após o colapso do governo liberal de Fraser, no período
de 1982-83.
A elevação da taxa de juros introduzida por Volcker
conduziu à recessão de 1982-83, que foi a mais profunda
depressão desde aquela da década de 1930. A evolução
do aumento da taxa de juros é indicada no gráfico
seguinte:
Figura 2: Desenvolvimento da Taxa de Juros Real no
Mundo
(percentual por ano)
(Fonte: Fundo Monetário Internacional)
O impacto da elevação da taxa de juros foi sentido
principalmente nos chamados países desenvolvidos, pois
estes já estavam fortemente endividados devido à
elevação dos preços do petróleo em
1973-74. Soma-se a isso a queda dos preços das mercadorias
destinadas à exportação, o que contribuiu
para elevar a inadimplência da dívida externa dos
chamados países em desenvolvimento. Esta situação
desencadeou um processo que continua até hoje - a transferência
de recursos de alguns dos países mais pobres do mundo para
os cofres dos principais bancos e instituições financeiras.
O resultado deste processo está indicado nas figuras
abaixo: Em 1970, os países mais pobres do mundo (sobretudo
os 60 países classificados pelo Banco Mundial como países
de baixa-renda), haviam contraído US$ 25 bilhões
em dívidas. Em 2002 esta dívida estava em US$ 523
bilhões. Em 1970, a dívida da África era
menos de US$ 11 bilhões. Em 2002 já era de US$ 295
bilhões. Nas últimas três décadas,
foram pagos US$ 550 bilhões relativos ao valor principal
e aos juros de empréstimos de US$ 540 bilhões, e
ainda falta pagar US$ 523 bilhões.