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Demissões em massa levam trabalhadores automotivos brasileiros a greves

Por Armando Cruz
16 de setembro de 2015

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Publicado originalmente em inglês em 8 de Setembro de 2015

Em meio a uma massiva onda de demissões na indústria automotiva brasileira, os trabalhadores foram empurrados a uma luta para manter seus padrões de vida e de trabalho enquanto o capital internacional e seu sócio no governo do Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma Rousseff sacrificam seus empregos para sustentar os lucros corporativos.

A economia brasileira foi a mais afetada, entre os "mercados emergentes", pelo fim do chamado "boom das commodities" que se deu devido à desaceleração da economia da China, a qual substituiu os EUA como o maior parceiro comercial do Brasil na última década. O setor automotivo recebeu todo o impacto da crise econômica que lançou a maior economia da América Latina na recessão neste ano. Até agora no ano, 38 700 empregos foram eliminados na indústria automobilística brasileira, a qual é dominada pelas gigantes multinacionais GM, Mercedes-Benz e Volkswagen, entre outras. Todas elas citam a queda de 20% nas vendas ao consumidor - ela mesma um reflexo do aumento da taxa de desemprego no último trimestre para 8,3% - e a queda nas exportações para a Argentina, a qual vive sua própria crise econômica.

Os 38,7 mil empregos destruídos na indústria automobilística representam 11% de todas as demissões até agora no ano, de acordo com a Folha de S. Paulo.

Durante a última década, o país foi visto como uma estrela em ascensão para a produção de automóveis, com as gigantes automotivas globais investindo no Brasil em grande parte por sua "estabilidade política", garantida por governos consecutivos do Partido dos Trabalhadores sob o presidente anterior, o antigo líder sindical metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) e a atual, Dilma Rousseff. Agora, com o governo do PT completamente desmoralizado pelo escândalo de corrupção na Petrobras e a economia mergulhando na recessão, as multinacionais estão começando a voltar-se para outros mercados. O México ultrapassou recentemente o Brasil como o maior produtor de automóveis na América Latina.

Em 7 de agosto, a Mercedes-Benz tornou-se a última empresa a cortar empregos, anunciando 1500 demissões em sua fábrica de ônibus e caminhões em São Bernardo do Campo (parte da região industrial conhecida como o "ABC" em São Paulo).

Em comunicado, a empresa pediu aos trabalhadores para aceitar "compartilhar sacrifícios" para manter todos os 10 000 empregos na fábrica. De acordo com o site metalurgicos.org.br, a empresa tomou essa decisão depois de o sindicato rejeitar sua exigência de colocar em votação para os membros mais uma vez a proposta de "salvar os empregos" e concordar com um corte salarial de 10%, o corte de 50% no reajuste programado para o próximo ano e outras concessões. O sindicato sustentou que estas propostas já haviam sido rejeitadas por 74% dos trabalhadores no mês passado.

José Djalma Souza, 41, um os trabalhadores da Mercedes-Benz, que foi demitido depois de trabalhar por 12 anos na fábrica, disse ao Brasil de Fato que a empresa poderia ter mantido os empregos, considerando os grandes lucros que teve recentemente e o aumento de produtividade dos trabalhadores. "Você se sente completamente sem nada, sem o pé no chão", ele disse, dizendo que espera poder recuperar seu emprego por causa de seu filho recém-nascido. Cerca de 2000 famílias estão sendo afetadas pelas demissões em massa, as maiores desde que a VW demitiu 4000 trabalhadores em 1998. Cerca de 7000 trabalhadores da Mercedes-Benz entraram em greve em 24 de agosto, com quase todos os 10 000 trabalhadores participando nas manifestações e bloqueios de estradas dos dias seguintes, demonstrando a solidariedade entre os demitidos e os demais. Enquanto isso, mais trabalhadores estão recebendo telegramas comunicando a demissão, já que a empresa insiste que 500 trabalhadores ainda são "excedentes".

A greve acabou em 31 de agosto, quando os trabalhadores em greve aceitaram a proposta do sindicato de readmissão dos demitidos com estabilidade de 12 meses, mas com uma redução de salário de 20% para todos os trabalhadores da fábrica, com metade dessa redução subsidiada pelo Programa de Proteção ao Emprego (PPE) do governo.

O sindicato, apoiado pelo corporativista conselho de trabalhadores da Alemanha, apresentou o desfecho de suas negociações como o único "resultado possível". "Sempre quando há uma crise você tenta fazer o melhor possível para não demitir trabalhadores, mas isso não é sempre possível", disse Michael Brecht, o burocrata sindical alemão que chefia o Conselho Geral de Trabalhadores da Daimler AG, a empresa matriz da Mercedes-Benz.

Os trabalhadores demitidos da GM receberam suas notificações na véspera do Dia dos Pais no Brasil, levando 250 trabalhadores furiosos a ocupar a sede do sindicato local em busca de explicações. Dois dias depois, 5200 trabalhadores começaram uma greve por tempo indeterminado cujo objetivo era a recuperação dos empregos. Durante os primeiros quatro dias da greve, alguns trabalhadores entraram na fábrica para ocupá-la durante os turnos de trabalho. A fábrica de São José dos Campos produz os modelos S-10 e Trailblazer, assim como motores, transmissões e kits para exportação.

A GM alegou que tinha feito "todos os esforços" para evitar as demissões, incluindo "férias coletivas, suspensões e demissões voluntárias". Essas medidas não foram suficientes, no entanto, dada a redução na demanda brasileira (quase 30% em comparação com o ano passado). As demissões têm a intenção de "trazer o contingente da empresa para realidade atual do mercado, de modo a manter a competitividade e viabilidade do negócio", afirmou a empresa em um comunicado. Nos dias seguintes ainda mais trabalhadores estavam sendo notificados de suas demissões por telefonemas e até mensagens de Whatsapp. O número de demissões chegou a mais de 700. Em uma reunião com membros do sindicato, representantes da empresa tentaram enganar os funcionários, dizendo que "não haverá mais demissões [depois dessas]" e censurando trabalhadores que estavam fazendo piquetes na planta e bloqueando a entrada de fura-greves.

Os trabalhadores também bloquearam auto-estradas importantes com pneus em chamas e receberam o apoio de trabalhadores da Volkswagen, os quais também estavam em greve por causa de demissões, assim como de estudantes universitários. O resultado das negociações entre o sindicato e a empresa deixou os trabalhadores extremamente decepcionados.

Trabalhadores que foram dispensados são incluídos no chamado layoff (suspensão temporária de contratos de trabalho) por cinco meses. Se forem demitidos ao final do período, receberão quatro meses de salários-base como compensação, mas nem estabilidade no emprego e nem retorno ao trabalho são garantidos àqueles em layoff.

Sem nenhum fim à vista para a queda nas vendas automotivas e para a crise econômica como um todo, é provável que a GM decida não apenas demitir aqueles trabalhadores novamente, mas muitos outros. O acordo estabelece que a GM também abrirá um "Programa de Demissão Voluntária" para trabalhadores que a empresa considera "excedentes". As tentativas do sindicato de exercer pressão no governo do PT para passar legislação garantindo estabilidade dos empregos chegaram a um beco sem saída, servindo e primeiro lugar como uma forma de promover ilusões no desacreditado governo Rousseff.

Essa estratégia nacionalista é também elaborada para desviar a atenção dos trabalhadores do fato de que eles enfrentam em todo o mundo um inimigo comum representado pelas empresas e investidores globais que planejam fazê-los pagar por uma crise que eles não criaram. Este inimigo é ajudado por seus sócios nos governos e sindicatos que defendem implacavelmente o sistema que sustenta o lucro à custa do empobrecimento das pessoas que trabalham.

 



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