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Relatos das manifestações de 19 de março na França

Pela equipe de reportagem do WSWS
26 de março de 2009

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Apoiadores do World Socialist Web Site (WSWS) entrevistaram manifestantes e distribuíram milhares de panfletos nos protestos do dia 19 de março, convocado pelos sindicatos da França contra a crise econômica e as políticas estatais francesas. Muitos milhares de trabalhadores e jovens participaram das manifestações.

O panfleto - distribuído em Paris, Marselha, Nancy e Amiens - intitulava-se "Quais são as políticas da manifestação de 19 de Março?" O panfleto insistia no caráter internacional da crise e na necessidade de resolvê-la com base no socialismo revolucionário, através da construção de um partido de massa trotskista entre classe operária.

Líderes do sindicado rejeitaram a proposta de um novo dia de ação nacional antes das tradicionais manifestações de 1º de maio. Bernard Thibault da CGT (Confederação Geral do Trabalho, vinculada ao Partido Comunista) e Annick Coupé, da confederação do sindicato Solidaires, sugeriram que atos regionais menores antes da data podem ser realizados.

A greve surge dentro de um cenário de aprofundamento da crise econômica mundial, que esmaga a economia da França e de todo o mundo. Previsões econômicas, publicadas no dia seguinte à manifestação, prenunciaram uma contração de 3% da economia francesa no ano até junho de 2009. O jornal Le Figaro comentou: "São raros os economistas que não prevêem uma taxa de 10% [de desemprego] até o final do ano."

Paris

De acordo com a CGT, 350.000 participaram das manifestações na capital do país. A enorme Praça da República, o local da assembléia, estava lotada. Havia muitos jovens que vinham em grupos de amigos e aqueles que vinham por sua própria iniciativa, excedendo o número dos representantes oficiais do sindicato.

Em sua imprensa, os sindicatos procuraram promover a ilusão de que o impacto da crise pode ser atenuado através de apelos ao governo.

Entre aqueles que falaram ao WSWS, havia uma variada avaliação da profundidade da crise.

Nicolas estuda Ciências Políticas e está desempregado. Ele disse: "Não deveriam ser os pobres os atingidos pela crise. Era assim antes, mas agora está pior. Nós precisamos caminhar para uma igualdade".

Um estudante do ensino médio, que estuda manutenção, estava chateado com o custo de vida e os cortes de emprego. "Estou indignado com o fato de ir tanto dinheiro para os bancos e nada ser feito sobre o déficit do seguro social. Também acho ruim o fato de que ninguém se mobilizou em apoio à luta de Guadalupe", acrescentou.

"O nacionalismo econômico é para quem aceita o sistema. Nós não estamos nem aí para os lucros do chefe. Nós queremos manter nossos empregos. Um dia de greve não é suficiente. Nós precisamos de uma semana de manifestações. O capitalismo precisa mudar".

Um encanador desempregado contou ao WSWS: "O sistema capitalista é completamente defeituoso. Existem aqueles que trabalham e aqueles que enchem seus bolsos. A terra está morrendo". Ele disse que não era membro de nenhum sindicato e acrescentou: "A mensagem dos sindicatos não está clara, existem muitas ambigüidades. Eu sou 100% a favor das mudanças sociais internacionalmente".

Martine é professora em um colégio. Ela veio das províncias a Paris para ver como era uma manifestação em Paris. "Nós estamos fartos. Sempre as mesmas pessoas são atingidas. Esta é uma crise profunda que une as pessoas. Isto afeta a cada um e não está confinado somente a uma categoria de trabalhadores. Estou aqui como professora, mas também como a filha de minha mãe e como a mãe de minha filha. Aumentar salários não é suficiente, é limitado. Nós precisamos de uma mudança profunda, uma redefinição da sociedade".

Martine disse que não conhece partidos políticos que lutem por estas mudanças fundamentais, mas acrescentou: "A perspectiva de vocês do CIQI parece interessante. No entanto, as pessoas ainda precisam ser educadas. Então, é necessário dinheiro para a educação. Isto demandaria que aqueles que estão no poder sejam honestos e é isso que eu procuro hoje... Nós precisamos de internacionalismo, sim, eu concordo. Isso é lógico, não é fácil, mas é lógico".

Marselha

O sindicato contabilizou 320.000 participantes, enquanto a polícia disse que havia 30.000. A CGT estava representada em vários setores, com trabalhadores da fabricante de aço Arcelor Mittal, da companhia petroquímica Arkéma, e enfermeiras e profissionais da saúde em oposição ao regressivo contrato coletivo CC 66. A principal federação sindical da educação, a FSU, estava bem representada e estavam presentes também estudantes do ensino médio membros da agremiação estudantil junto com representantes de todos os outros sindicatos. Os sindicatos mantiveram um forte controle sobre os protestos. Estavam também os representantes do Partido Comunista e do Partido de Esquerda.

Os panfletos do WSWS, ao contrário de muitos outros, foram lidos com interesse.

Caroline, de 23 anos, assistente de educação, estava com sua amiga Sylvie, uma enfermeira. Ela contou ao WSWS que as condições de trabalho para os trabalhadores da educação são incertas. "A profissão não é apoiada e isso desencoraja as pessoas a lutar por ela. " Ela se opôs a que jovens trabalhadores tenham que pagar pela crise. "Para lutar contra o desemprego nós teremos que mudar o governo", disse Caroline.

Caroline também disse que se opunha ao nacionalismo econômico. "Todos os trabalhadores devem se unir. Apenas oferecer trabalho aos franceses aumentará o desemprego, especialmente porque a maioria dos imigrantes na França faz trabalhos que ninguém mais quer, são muito duros". Ela pensa que o protecionismo é impossível "porque nós estamos em uma economia globalizada"

Stéphane, 47, técnico da indústria de entretenimento, disse que as pessoas têm que protestar para mostrar ao governo que elas são seres humanos. Ele era altamente crítico à cobertura da mídia para as lutas em Guadalupe e Martinica e se opôs ao nacionalismo econômico. Ele considerou intolerável que 58% dos franceses votaram a favor da reintegração da França à OTAN.

Mathias Amore, estudante de literatura na universidade, disse que estava manifestando por serviços públicos decentes e disse ser absurda a promessa de Sarkozy de que conseguiria pessoas para "trabalhar mais e ganhar mais". Mathias disse que, na verdade, o que acontecia era o "trabalhe mais e ganhe menos". Ele era favorável à perspectiva do CIQI de uma economia socialista planejada e não conhecia nenhum outro partido que propunha tal solução para a crise.

Nancy

O número de pessoas na manifestação em Nancy era maior do que o do dia 29 de janeiro. Ao final da manifestação, a CGT cantou o slogan "25 mil em 29, 40 mil em 19, construir o movimento!" Apesar disso, não oferecia nenhuma perspectiva para combater a crise.

Frank e Nicolas, professores da escola vocacional Jean-Prouvé, vieram com uma delegação de colegas e estudantes do colégio. Vieram para protestar contra a "destruição da educação". Eles eram contrários ao "corte de empregos, à deterioração da situação atual das escolas, à completa incerteza sobre o futuro".

Doriam, aluno de uma escola superior de agricultura, disse que veio ao protesto para mudar a situação da educação. "Temos a prova em Guadalupe de que as pessoas estão dispostas a lutar, todos já tivemos o suficiente. Mesmo nas cidades pequenas as pessoas realizam manifestações", afirmou. "Estávamos em Mirecourt outro dia [uma pequeníssima cidade nas montanhas de Vosges, com 1.000 habitantes] e nunca vimos tantas pessoas nas ruas".

Amiens

A manifestação do dia 19 de março atraiu cerca de 50.000 pessoas na região de Picardy ao norte da França, 15.000 a mais do que em 29 de janeiro. Na capital regional, Amiens, 12.000 pessoas protestaram, muitos trabalhadores do governo, professores e trabalhadores de hospitais. Muitos estudantes também participaram, protestando contra a nova lei de autonomia das universidade, a LRU.

Os trabalhadores do setor privado também estavam presentes com força, principalmente das fábricas de pneu de Amiens, contra os efeitos da crise sobre as indústrias. Os trabalhadores da fábrica da Goodyear encaram a ameaça de fechamento da fábrica, assim como os trabalhadores da fábrica Continental em Claroix, ao sul de Picardy. Cerca de 1.200 trabalhadores serão cortados na região por conta da crise. Os trabalhadores da Continental pararam a fábrica e engrossaram o protesto na cidade de Compiène, que contou com 12.000 manifestantes. A Goodyear está prestes a cortar seus trabalhadores.

Uma delegação da fábrica de aviões Méaulte em Albert teme perder seus empregos. Junto a outras fábricas de avião, é dirigida pelo sindicato Force Ouvrière. A faixa do sindicato contra a destruição dos empregos dizia: "Preserve, desenvolva e apoie a nossa indústria em Picardy".

Mais da metade dos manifestantes marcharam sob as faixas da CGT, centradas no slogan: "É hora defender o aumento dos salários". Trabalhadores ferroviários, taxistas, trabalhadores da alfândega, estudantes de escolas e universitários, professores de escolas e universitários—todos engrossaram a marcha.

Quatro amigos—Marielou, Marion, Marine e Adrien—todos nos primeiro ano de diferentes faculdades, disseram que protestavam contra as reformas educacionais do ministro Xavier Darcos. Disseram também que a reforma destruía a parte mais importante do corrículo e tornava o acesso à universidade ainda mais difícil, impedindo os menos privilegiados.

Marion Disse: "Se a reforma for aprovada a situação ficará ainda pior". Eles disseram que estavam lá para "fazer as coisas mudarem e por uma amanhã melhor. Os bancos enriquecem com nosso dinheiro. Não estamos aqui apenas em defesa do ensino superior, mas por tudo—trabalhos, pensões e todas as coisas que teremos que encarar quando deixamos a universidade".

Adrian se opôs ao militarismo francês e sua entrada na OTAN. "Eles tentam ajustar o problema da França impondo este aos outros".

Mairon pensa que as greves de apenas um dia são insufientes: "Elas não mudam muita coisa. São apenas simbólicas. Sarkozy nem dá importância". Todos concordaram que os ricos e empresários é que devem pagar pela crise. Marion acrescentou: "Precisamos ao menos estar informados para sermos cidadãos ativos". Após informado que o CIQI é uma organização trotskista, marxista, oposta ao stalinismo, ele disse: "Se vocês são contra Stálin, então já são importantes para nós".

[traduzido por movimentonn.org]

 



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