Apoiadores do World Socialist Web Site (WSWS) entrevistaram
manifestantes e distribuíram milhares de panfletos nos
protestos do dia 19 de março, convocado pelos sindicatos
da França contra a crise econômica e as políticas
estatais francesas. Muitos milhares de trabalhadores e jovens
participaram das manifestações.
O panfleto - distribuído em Paris, Marselha, Nancy e
Amiens - intitulava-se "Quais são as políticas
da manifestação de 19 de Março?" O panfleto
insistia no caráter internacional da crise e na necessidade
de resolvê-la com base no socialismo revolucionário,
através da construção de um partido de massa
trotskista entre classe operária.
Líderes do sindicado rejeitaram a proposta de um novo
dia de ação nacional antes das tradicionais manifestações
de 1º de maio. Bernard Thibault da CGT (Confederação
Geral do Trabalho, vinculada ao Partido Comunista) e Annick Coupé,
da confederação do sindicato Solidaires, sugeriram
que atos regionais menores antes da data podem ser realizados.
A greve surge dentro de um cenário de aprofundamento
da crise econômica mundial, que esmaga a economia da França
e de todo o mundo. Previsões econômicas, publicadas
no dia seguinte à manifestação, prenunciaram
uma contração de 3% da economia francesa no ano
até junho de 2009. O jornal Le Figaro comentou:
"São raros os economistas que não prevêem
uma taxa de 10% [de desemprego] até o final do ano."
Paris
De acordo com a CGT, 350.000 participaram das manifestações
na capital do país. A enorme Praça da República,
o local da assembléia, estava lotada. Havia muitos jovens
que vinham em grupos de amigos e aqueles que vinham por sua própria
iniciativa, excedendo o número dos representantes oficiais
do sindicato.
Em sua imprensa, os sindicatos procuraram promover a ilusão
de que o impacto da crise pode ser atenuado através de
apelos ao governo.
Entre aqueles que falaram ao WSWS, havia uma variada avaliação
da profundidade da crise.
Nicolas estuda Ciências Políticas e está
desempregado. Ele disse: "Não deveriam ser os pobres
os atingidos pela crise. Era assim antes, mas agora está
pior. Nós precisamos caminhar para uma igualdade".
Um estudante do ensino médio, que estuda manutenção,
estava chateado com o custo de vida e os cortes de emprego. "Estou
indignado com o fato de ir tanto dinheiro para os bancos e nada
ser feito sobre o déficit do seguro social. Também
acho ruim o fato de que ninguém se mobilizou em apoio à
luta de Guadalupe", acrescentou.
"O nacionalismo econômico é para quem aceita
o sistema. Nós não estamos nem aí para os
lucros do chefe. Nós queremos manter nossos empregos. Um
dia de greve não é suficiente. Nós precisamos
de uma semana de manifestações. O capitalismo precisa
mudar".
Um encanador desempregado contou ao WSWS: "O sistema capitalista
é completamente defeituoso. Existem aqueles que trabalham
e aqueles que enchem seus bolsos. A terra está morrendo".
Ele disse que não era membro de nenhum sindicato e acrescentou:
"A mensagem dos sindicatos não está clara,
existem muitas ambigüidades. Eu sou 100% a favor das mudanças
sociais internacionalmente".
Martine é professora em um colégio. Ela veio
das províncias a Paris para ver como era uma manifestação
em Paris. "Nós estamos fartos. Sempre as mesmas pessoas
são atingidas. Esta é uma crise profunda que une
as pessoas. Isto afeta a cada um e não está confinado
somente a uma categoria de trabalhadores. Estou aqui como professora,
mas também como a filha de minha mãe e como a mãe
de minha filha. Aumentar salários não é suficiente,
é limitado. Nós precisamos de uma mudança
profunda, uma redefinição da sociedade".
Martine disse que não conhece partidos políticos
que lutem por estas mudanças fundamentais, mas acrescentou:
"A perspectiva de vocês do CIQI parece interessante.
No entanto, as pessoas ainda precisam ser educadas. Então,
é necessário dinheiro para a educação.
Isto demandaria que aqueles que estão no poder sejam honestos
e é isso que eu procuro hoje... Nós precisamos de
internacionalismo, sim, eu concordo. Isso é lógico,
não é fácil, mas é lógico".
Marselha
O sindicato contabilizou 320.000 participantes, enquanto a
polícia disse que havia 30.000. A CGT estava representada
em vários setores, com trabalhadores da fabricante de aço
Arcelor Mittal, da companhia petroquímica Arkéma,
e enfermeiras e profissionais da saúde em oposição
ao regressivo contrato coletivo CC 66. A principal federação
sindical da educação, a FSU, estava bem representada
e estavam presentes também estudantes do ensino médio
membros da agremiação estudantil junto com representantes
de todos os outros sindicatos. Os sindicatos mantiveram um forte
controle sobre os protestos. Estavam também os representantes
do Partido Comunista e do Partido de Esquerda.
Os panfletos do WSWS, ao contrário de muitos outros,
foram lidos com interesse.
Caroline, de 23 anos, assistente de educação,
estava com sua amiga Sylvie, uma enfermeira. Ela contou ao WSWS
que as condições de trabalho para os trabalhadores
da educação são incertas. "A profissão
não é apoiada e isso desencoraja as pessoas a lutar
por ela. " Ela se opôs a que jovens trabalhadores tenham
que pagar pela crise. "Para lutar contra o desemprego nós
teremos que mudar o governo", disse Caroline.
Caroline também disse que se opunha ao nacionalismo
econômico. "Todos os trabalhadores devem se unir. Apenas
oferecer trabalho aos franceses aumentará o desemprego,
especialmente porque a maioria dos imigrantes na França
faz trabalhos que ninguém mais quer, são muito duros".
Ela pensa que o protecionismo é impossível "porque
nós estamos em uma economia globalizada"
Stéphane, 47, técnico da indústria de
entretenimento, disse que as pessoas têm que protestar para
mostrar ao governo que elas são seres humanos. Ele era
altamente crítico à cobertura da mídia para
as lutas em Guadalupe e Martinica e se opôs ao nacionalismo
econômico. Ele considerou intolerável que 58% dos
franceses votaram a favor da reintegração da França
à OTAN.
Mathias Amore, estudante de literatura na universidade, disse
que estava manifestando por serviços públicos decentes
e disse ser absurda a promessa de Sarkozy de que conseguiria pessoas
para "trabalhar mais e ganhar mais". Mathias disse que,
na verdade, o que acontecia era o "trabalhe mais e ganhe
menos". Ele era favorável à perspectiva do
CIQI de uma economia socialista planejada e não conhecia
nenhum outro partido que propunha tal solução para
a crise.
Nancy
O número de pessoas na manifestação em
Nancy era maior do que o do dia 29 de janeiro. Ao final da manifestação,
a CGT cantou o slogan "25 mil em 29, 40 mil em 19, construir
o movimento!" Apesar disso, não oferecia nenhuma perspectiva
para combater a crise.
Frank e Nicolas, professores da escola vocacional Jean-Prouvé,
vieram com uma delegação de colegas e estudantes
do colégio. Vieram para protestar contra a "destruição
da educação". Eles eram contrários ao
"corte de empregos, à deterioração da
situação atual das escolas, à completa incerteza
sobre o futuro".
Doriam, aluno de uma escola superior de agricultura, disse
que veio ao protesto para mudar a situação da educação.
"Temos a prova em Guadalupe de que as pessoas estão
dispostas a lutar, todos já tivemos o suficiente. Mesmo
nas cidades pequenas as pessoas realizam manifestações",
afirmou. "Estávamos em Mirecourt outro dia [uma pequeníssima
cidade nas montanhas de Vosges, com 1.000 habitantes] e nunca
vimos tantas pessoas nas ruas".
Amiens
A manifestação do dia 19 de março atraiu
cerca de 50.000 pessoas na região de Picardy ao norte da
França, 15.000 a mais do que em 29 de janeiro. Na capital
regional, Amiens, 12.000 pessoas protestaram, muitos trabalhadores
do governo, professores e trabalhadores de hospitais. Muitos estudantes
também participaram, protestando contra a nova lei de autonomia
das universidade, a LRU.
Os trabalhadores do setor privado também estavam presentes
com força, principalmente das fábricas de pneu de
Amiens, contra os efeitos da crise sobre as indústrias.
Os trabalhadores da fábrica da Goodyear encaram a ameaça
de fechamento da fábrica, assim como os trabalhadores da
fábrica Continental em Claroix, ao sul de Picardy. Cerca
de 1.200 trabalhadores serão cortados na região
por conta da crise. Os trabalhadores da Continental pararam a
fábrica e engrossaram o protesto na cidade de Compiène,
que contou com 12.000 manifestantes. A Goodyear está prestes
a cortar seus trabalhadores.
Uma delegação da fábrica de aviões
Méaulte em Albert teme perder seus empregos. Junto a outras
fábricas de avião, é dirigida pelo sindicato
Force Ouvrière. A faixa do sindicato contra a destruição
dos empregos dizia: "Preserve, desenvolva e apoie a nossa
indústria em Picardy".
Mais da metade dos manifestantes marcharam sob as faixas da
CGT, centradas no slogan: "É hora defender o aumento
dos salários". Trabalhadores ferroviários,
taxistas, trabalhadores da alfândega, estudantes de escolas
e universitários, professores de escolas e universitáriostodos
engrossaram a marcha.
Quatro amigosMarielou, Marion, Marine e Adrientodos
nos primeiro ano de diferentes faculdades, disseram que protestavam
contra as reformas educacionais do ministro Xavier Darcos. Disseram
também que a reforma destruía a parte mais importante
do corrículo e tornava o acesso à universidade ainda
mais difícil, impedindo os menos privilegiados.
Marion Disse: "Se a reforma for aprovada a situação
ficará ainda pior". Eles disseram que estavam lá
para "fazer as coisas mudarem e por uma amanhã melhor.
Os bancos enriquecem com nosso dinheiro. Não estamos aqui
apenas em defesa do ensino superior, mas por tudotrabalhos,
pensões e todas as coisas que teremos que encarar quando
deixamos a universidade".
Adrian se opôs ao militarismo francês e sua entrada
na OTAN. "Eles tentam ajustar o problema da França
impondo este aos outros".
Mairon pensa que as greves de apenas um dia são insufientes:
"Elas não mudam muita coisa. São apenas simbólicas.
Sarkozy nem dá importância". Todos concordaram
que os ricos e empresários é que devem pagar pela
crise. Marion acrescentou: "Precisamos ao menos estar informados
para sermos cidadãos ativos". Após informado
que o CIQI é uma organização trotskista,
marxista, oposta ao stalinismo, ele disse: "Se vocês
são contra Stálin, então já são
importantes para nós".