A polícia acabou violentamente com uma manifestação
pelos direitos dos imigrantes em Los Angeles, na tarde de terça-feira,
1º de maio, atacando os manifestantes com bombas de gás
lacrimogêneo, balas de borracha e cacetetes. Muitos foram
feridos, inclusive repórteres de emissoras de TV e observadores.
O incidente ocorreu no Parque Mac Arthur, localizada no centro
do bairro de Los Angeles habitado em grande parte por trabalhadores
imigrantes mexicanos e da América Central. A manifestação
reuniu dezenas de milhares em toda cidade. No final do ato, centenas
de pessoas se reuniram no parque.
Ernesto Arce, da rádio KPFK, afirmou que a polícia
começou a provocar os manifestantes, dirigindo as viaturas
no meio da manifestação, atrapalhando a passeata.
Depois das viaturas, passaram policiais em motocicletas e, finalmente,
às 17:30 horas, policiais a pé. Todos buscando dispersar
os manifestantes.
Menos de uma hora depois, às 18:15, a polícia
foi em direção à multidão, que incluía
famílias, repórteres e vendedores ambulantes, atacando
as pessoas durante cerca de meia hora. As pessoas que não
recuaram rapidamente foram atingidas nas pernas pelos policiais.
Arce descreveu como as tropas expulsaram as pessoas do parque.
Alguns dos feridos foram atingidos nas costas por balas de borracha.
Crianças e suas famílias foram empurradas ou feridas
por cacetetes. O ataque policial não cessou mesmo depois
de ter dispersado a população. Eles perseguiram
os manifestantes pela Rua n° 7, uma enorme avenida, por mais
de seis quarteirões.
Mais de uma dúzia de balas de borracha foi disparada
contra a multidão. Outra testemunha disse ter visto os
policiais agredindo pessoas com o cabo das armas e pais tendo
que atuar como escudos para seus filhos. Tanto os repórteres
quanto os manifestantes afirmam que alguns dos policiais não
portavam seus distintivos.
Testemunhas que falaram à rádio KPFK acusaram
os policiais de provocar e ridicularizar os manifestantes.
Telejornais mostraram imagens de pessoas, incluindo operadores
de câmera e repórteres, sendo empurradas ao chão
e agredidas. As agressões continuaram mesmo quando as pessoas
já estavam fora do parque. Pelo menos dez pessoas foram
feridas, a maioria com ferimentos na cabeça e no pescoço.
O Los Angeles Times noticiou: na última
terça-feira, um porta-voz da Telemundo confirmou que um
repórter e três operadores de câmera do canal
52, a emissora de televisão espanhola, foram feridos pela
polícia e levados ao hospital. Outra emissora de TV, a
Fox11, mostrou cenas de uma operadora de câmera sendo atacada
por um policial com um cacetete.
Um vídeo da agressão da repórter da Fox
pelo policial pode ser encontrado a aqui.
O Times entrevistou Hamid Khan, da South Asia Network,
que estava presente no parque. Ele descreveu a ação
policial como uma atrocidade.
Herb Wesson, um americano de origem africana e membro do conselho
da cidade de Los Angeles, testemunhou a ação policial
e a comparou aos ataques aos direitos civis dos manifestantes
na década de 1960: eu me lembrei do que aconteceu
há 45 anos, foi um pesadelo para mim, disse Wesson.
A polícia culpou os anarquistas que pretendiam bloquear
uma rua. Os oficiais afirmaram que alguns manifestantes atiraram
pedras e garrafas nos policiais. Mesmo se isso fosse verdade,
a resposta foi claramente excessiva e indiscriminada. É
evidente que o departamento de polícia de Los Angeles quis
fazer uma demonstração de força, acabando
com a manifestação, e usou como pretexto às
garrafas que teriam supostamente sido atiradas.
Na própria terça-feira, as autoridades tentaram
conter o escândalo público da brutalidade policial.
No mesmo dia o conselho de Los Angeles aprovou por unanimidade
(12 votos a favor e nenhum contra) uma moção emergencial
pedindo à Comissão Policial e ao chefe de polícia
de Los Angeles, William Bratton, que testemunhassem no conselho.
John Mack, presidente da Comissão Policial, declarou
que iniciará uma investigação acerca do incidente.
Qualquer investigação será uma forma de ocultar
as ações policiais. Em seu testemunho, o próprio
Mack já deu indicações desse provável
desfecho, quando procurou culpar alguns policiais individualmente.
Tanto Bratton quanto o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa,
procuraram transferir a culpa aos manifestantes, sugerindo que
alguns deles haviam jogado pedras contra a polícia. Vídeos
do incidente, todavia, fizeram com que Bratton tomasse conhecimento
de que algumas ações dos policiais... foram
inapropriadas, como o uso do cacetete e dos possíveis disparos
de projéteis não letais.
Villaraigosa prometeu uma investigação
imediata e transparente. No entanto, ele indicou o caráter
dessa investigação, ao tentar justificar novamente
a brutalidade policial, dizendo que aqueles que lançaram
pedras nos policiais instigaram a violência, mas que membros
da imprensa e o público parecem ter sido atingidos durante
o conflito entre os policiais e esses indivíduos.
Isso é uma mentira. Os vídeos mostram claramente
os policiais atacando manifestantes pacíficos, agarrando
e danificando equipamentos de filmagem e agredindo com cacetetes
membros da imprensa que estavam registrando o incidente.
Observadores e pessoas enviadas pela associação
de advogados, insistiram que nenhuma ordem de dispersão
foi dada antes dos policiais iniciarem seus ataques. Somente depois
de iniciados os disparos, um helicóptero policial deu uma
ordem de dispersão, uma ordem que na verdade foi ouvida
por poucas pessoas.
Todos estes testemunhos, somados às cenas gravadas nos
vídeos, indicam que as provocações dos policiais
e a repressão que se seguiu tinham como objetivo intimidar
os imigrantes e trabalhadores que haviam se reunido pacificamente
para exigir os seus direitos.