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Inglaterra: trabalhadores dos correios se preparam para primeira greve nacional em onze anos

Por Keith Lee
9 de julio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 28 de junho de 2007.

Trabalhadores dos correios britânicos estão se preparando para realizar a sua primeira greve nacional em onze anos no dia 29 de junho. A greve foi chamada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Comunicação (CWU - Communication Workers Union) depois que as negociações salariais entre o sindicato e a direção do Royal Mail chegaram a um impasse.

Mais de 75% dos trabalhadores do Royal Mail votaram a favor da greve.

O sindicato estava negociando com o Royal Mail, que propõe um reajuste salarial de 2,5% para os carteiros e ameaça cortar 40.000 empregos. Cerca de 5.000 associados do CWU concordaram em protestar contra os fechamentos, o rebaixamento dos salários e a mudança das agências para dentro de lojas comerciais na rua W. H. Smith. Trabalhadores da área financeira, que enviam dinheiro às agências, também votaram pela greve.

O Royal Mail emprega cerca de 193.000 trabalhadores e envia 84 milhões de itens a 27 milhões de residências e empresas todos os dias, o que representou, no ano passado, uma soma de £9,1 bilhões (US$ 18,1 bilhões).

Os trabalhadores dos correios estão enfrentando uma grande luta contra um oponente que está determinado a vencer a qualquer custo. O problema é que eles são dirigidos por um sindicato que faz reivindicações rebaixadas, e tenta impô-las aos seus associados, o que acaba ajudando o Royal Mail a atingir seus objetivos.

A direção do Royal Mail se preparou para a greve. O plano é mantido em segredo. Um porta-voz declarou apenas que “a companhia utilizará todos os recursos que puder para manter a normalidade dos serviços”. No passado, isso significava usar administradores e trabalhadores temporários como fura-greves.

A linguagem utilizada pelos representantes do Royal Mail na preparação do confronto é absurda. Um executivo chegou a dizer: “isso será sangrento. Nós tivemos os mineiros, nós tivemos Longbridge (greve em fábrica de automóveis em 1970) e agora nós temos isso”. Um outro executivo descreveu estas greves como “o ponto de tensão” da história do Royal Mail.

O que está em jogo na disputa entre os trabalhadores e a companhia é um programa de reestruturação que deve atacar ainda mais os empregos e as condições de trabalho. Um ex-chefe executivo do Royal Mail, Bill Cockburn, agora vice-presidente de uma empresa de correios concorrente, a Business Post, disse que as coisas devem se dar de forma semelhante à British Telecom. Segundo ele, “o Royal Mail deve se ajustar à realidade da concorrência e desenvolver inovações para o atacado, ao invés de se manter na defensiva, baseando-se num setor que não se sustenta”.

A British Telecom foi privatizada em 1984, e em três meses, mais de 80.000 empregos foram liquidados. A privatização das agências de correio se tornou algo difícil por causa da militância dos trabalhadores e a clara oposição pública. Todavia, com a ajuda da burocracia do CWU, o governo tem sido capaz de fazer tudo para preparar a privatização.

Numa recente pesquisa, apenas 29% dos trabalhadores disseram que se sentiam valorizados pela administração dos correios e 21% disse ter testemunhado intimidações e provocações por parte da administração.

Em 1986, a agência de correios foi desmembrada em quatro setores distintos — um dos quais, o Royal Mail, foi reestruturado em 1992, reduzindo 64 distritos postais para 9 divisões, com significativa perda de empregos.

Em 1999, a secretaria do comércio do governo trabalhista, de Peter Mandelson, organizou uma nova estrutura comercial, que exigiu “o mais radical conjunto de reformas, desde que a moderna agência de correios foi criada em 1969”.

O governo trabalhista abriu o serviço de correios britânico ao mercado no dia 1 de janeiro de 2006 — três anos depois do prazo final estabelecido pela Diretriz do Sindicato Europeu dos Serviços Postais, de 1997, que exigia acabar com o monopólio das transportadoras nacionais e abrir o serviço de correspondências ao mercado.

Acelerando a desregulamentação do Royal Mail, o governo tentou posicionar a companhia de forma a conquistar vantagens no mercado de serviço postal europeu, que equivale a 80 bilhões de euros por ano e envolve a circulação e entrega de 135 bilhões de itens.

A direção do Royal Mail reclama que, desde que o serviço postal foi aberto ao mercado em janeiro de 2006, a empresa perdeu 40% das correspondências empresariais, que representam 90% das correspondências britânicas. Ela reclama também que os concorrentes são 40% mais eficientes, em conseqüência da introdução de novas tecnologias. Além disso, eles pagam salários 25% menores aos seus trabalhadores.

Crozier afirma que “estamos perdendo negócios porque falhamos em mudar e modernizar — como resultado disso, nossos custos e preços são mais altos do que os dos nossos concorrentes num mercado que é altamente competitivo”.

O presidente do Royal Mail, Allan Leighton, disse ainda que “nós estamos ouvindo a população, mas isso não é um concurso de popularidade. Mudar é difícil para todos — e entendemos isso — mas nós não temos opção a não ser nos modernizarmos e termos um negócio competitivo, se quisermos ter sucesso num mercado como o de hoje”.

Tudo indica que o Royal Mail esteja preparado para uma longa batalha (a expectativa é que a greve possa durar até três meses). O mesmo não pode ser dito em relação ao CWU. No primeiro dia, o sindicato tentou bloquear a greve, com uma atitude hesitante diante de uma massa de trabalhadores revoltada e frustrada.

O CWU deixou clara a sua posição: “o CWU esclarece mais uma vez que nós sempre nos propusemos a conversar. Nós explicamos que não somos contra a modernização, nem exigimos um aumento salarial de 27%. Nós dissemos ao Royal Mail que eles precisavam considerar seus empregados como aliados, mudar o que for necessário e buscar o apoio dos trabalhadores por meio do aumento do salário”.

O sindicato reclamou que não foi autorizado pelo Royal Mail a celebrar um acordo salarial semelhante àquele aceito pelos trabalhadores da seção de empacotamentos do Royal Mail, a Parcelforce. O sindicato exerceu uma estreita colaboração com o Royal Mail no passado, o que causou a degradação das condições de trabalho e o aumento da produtividade. O presidente do CWU, Billy Hayes, disse recentemente que os trabalhadores dos correios são “insubstituíveis hoje. Em 2005, os trabalhadores do Royal Mail entregaram 99,7% das correspondências previamente separadas. Em 2006, os trabalhadores do Royal Mail entregaram 99,8% da correspondência previamente separada”.

Há anos, o sindicato vem colaborando com a administração do Royal Mail e com o governo trabalhista para forçar os trabalhadores dos correios a aceitar os acordos de modernização e eficiência, dizendo que eles seriam beneficiados pelas economias obtidas com a radical reestruturação da companhia — muitas das idéias tendo origem na própria proposta do CWU, que defendia uma Corporação de Propriedade Pública Independente. Todos os anos, os dirigentes do sindicato ameaçavam organizar greves, abortando-as no último momento. Isso fez com que os lucros subissem e que os postos de trabalho e os salários fossem sendo destruídos. Os salários dos carteiros estão entre os mais baixos do Reino Unido.

O Royal Mail converteu o antigo déficit, que era de £1,1 bilhões, para um lucro recorde de £355 milhões em 2005. Mesmo assim, os trabalhadores têm um salário semanal básico de £323 e reivindicam um reajuste de £14,53 — o dobro da oferta atual — numa tentativa de recompensar as perdas com a inflação. Os últimos números do governo já mostram que os trabalhadores do correio recebem menos do que o salário médio do país, e que essa queda tende a continuar.

Uma pesquisa do Comitê da Indústria e do Comércio publicada recentemente (O Royal Mail depois da liberalização) mostrou que tudo o que o Royal Mail conseguiu economizar foi conquistado por meio da destruição dos empregos e da degradação das condições de vida dos trabalhadores.

A pesquisa observa que desde que o acordo foi assinado em 2006, 33.000 trabalhadores contratados e 25.000 trabalhadores temporários perderam seus empregos e outros 30.000 podem perdê-los nos próximos anos. A pesquisa observa ainda que o Royal Mail pôde introduzir “práticas de trabalho diferentes em 1.400 agências”, enquanto reduzia o número de dias perdidos por greves, de 100.000 em 2006, para menos de 4.000 em 2005.

O CWU abriu o caminho para a privatização, promovendo as ações por meio da promessa de dividendos equivalentes à £800, caso fossem alcançadas as metas das unidades individuais e do grupo como um todo.

Uma coisa é certa: os trabalhadores que comprarem ações não terão o controle da companhia, pois as ações têm uma cláusula que não permite o voto. E as experiências do passado mostram que, em poucos anos, tais ações normalmente acabam nas mãos da administração, depois de serem vendidas pelos trabalhadores empobrecidos.

A globalização do comércio e da indústria desestruturou os monopólios dos correios organizados nacionalmente e forçou-os a competir dentro das fronteiras e internacionalmente. O enorme crescimento do correio eletrônico forçou o serviço de cartas a cortar custos em todo o mundo e aumentar a eficiência, criando novos mercados para entregas de itens comprados via internet. A British Gas anunciou recentemente que iniciará uma campanha, que deverá coincidir com a greve nos correios, visando persuadir 1 milhão de clientes a converterem suas contas para cobranças virtuais por meio da internet.

Isso tem sido desastroso para os trabalhadores dos correios, levando-os a uma luta fratricida, da qual só se beneficiam a administração e os acionistas. Os consumidores também foram afetados. De acordo com Jon Pedersen, do UNI-Europa (que representa os sindicatos em toda a Europa), “dez anos de liberalização dos correios na Europa significaram até agora uma diminuição do número de agências dos correios, das caixas de correio e, conseqüentemente, um aumento das distâncias entre as agências. Para os trabalhadores do setor postal isso significou menos empregos, piores condições de trabalho e salários cada vez mais baixos. Tudo isso é o contrário das promessas da EU (União Européia)”.

Na Suécia, o resultado da privatização foi o fechamento de 25% das agências de correio e a diminuição de 70.000 para 38.000 empregos no setor. Na Itália, o número de trabalhadores caiu de 220.000 para 150.000, enquanto na Alemanha, onde a rede dos correios (Deutsche Post) foi privatizada parcialmente, os empregos caíram mais da metade — de 306.000 para 150.000. Na Holanda, a TNT Post, o ex-monopólio alemão de operação dos correios, disse que deve cortar 7.000 empregos e congelar os salários. Na Nova Zelândia, o mesmo processo conduziu à destruição de 43% dos empregos.

O CWU se recusou explicitamente a unir a luta dos trabalhadores dos correios britânicos àquela de seus irmãos e irmãs europeus.

Um grande número de estados europeus como França, Alemanha e Itália chamaram a atenção para a taxa de liberalização. Estes governos disseram que a desregulamentação muito rápida está ameaçando a Obrigação Universal de Serviços — ou seja, as entregas a domicílio nos respectivos países. Além disso, os governos temem que a liberalização esteja aumentando a revolta dos trabalhadores dos correios da Europa. Apesar das greves nos países que estão passando pela liberalização ainda serem, no momento atual, poucas e pequenas, isso pode mudar rapidamente.

Houve recentes greves em 300 cidades de toda a Europa. Os trabalhadores protestavam contra a desregulamentação do serviço postal, os cortes de emprego e os ataques às condições de trabalho, o que é uma clara indicação de que existe a possibilidade de uma luta conjunta dos trabalhadores dos correios da Europa. Mas isso não será realizado, a não ser sob a forma de protestos simbólicos, se estiver sob a liderança de um sindicato comprometido com o sucesso de seus patrões e da economia nacional.

O requisito fundamental de qualquer luta para defender os empregos dos trabalhadores dos correios é organizar-se de forma independente da burocracia do CWU e rejeitar toda e qualquer proposta que leve ao comprometimento com a administração, baseadas em supostos interesses comuns entre trabalhadores e patrões pelo sucesso da companhia.

Os interesses dos trabalhadores dos correios na Inglaterra são os mesmos dos trabalhadores da Europa e de todo o mundo — a defesa de seus empregos, salários e condições de trabalho contra o constante busca de valorização e ampliação do mercado de ações, que é feito à custa dos trabalhadores. Os trabalhadores devem construir uma nova direção que tenha uma nova perspectiva socialista, a fim de organizar uma luta política independente contra o CWU e o governo trabalhista e seus parceiros no continente.

 



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