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Estados Unidos preparam o caminho para o conflito com Irã

Por Peter Symonds
7 Setembro 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 2 de setembro de 2006.

A administração de Bush reagiu agressivamente à posição assumida pelo Irã de não interromper suas atividades nucleares, por meio de ameaças de sanções punitivas que representam uma escalada para um confronto aberto. Uma resolução do Conselho de Segurança dos EUA, aprovada em 31 de julho sob pressão de Washington, indicou o dia 31 de agosto como prazo final para Teerã encerrar o enriquecimento de urânio, seguindo assim as resoluções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

De acordo com o embaixador norte-americano da ONU, John Bolton, a decisão do Irã em continuar enriquecendo urânio hasteia a “bandeira vermelha” e exige que o Conselho de Segurança imponha sanções ao Irã. Enquanto alguns oficiais dos EUA recomendam medidas graduais contra o Irã, Bolton propõe “uma resolução de sanções muito duras” como uma opção inicial.

De forma ameaçadora , Bolton levantou novamente a possibilidade de ação militar contra o Irã. Numa entrevista para a CNN, ele afirmou: “estamos exercendo muita atividade diplomática no sentido de tentar resolver a questão pacificamente. Este é nosso objetivo, mas nenhum presidente comprometido com a defesa do povo americano tira a opção militar da mesa”.

Na terça-feira, num discurso na convenção da Legião Americana, o presidente Bush utilizou o mesmo refrão ameaçador: “é tempo do Irã fazer uma escolha... nós continuaremos trabalhando atentamente com nossos aliados para encontrar uma solução diplomática—mas a desobediência do Irã terá conseqüências. Nós não devemos permitir que o Irã produza armas nucleares”.

As referências à “diplomacia” são completamente ilusórias. A administração de Bush recusou-se a negociar, ou mesmo a reunir-se com Teerã. A Casa Branca rejeitou a oferta iraniana de, no dia 22 de agosto, travar “sérias negociações” sobre um pacote de propostas feitas em junho pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, para acabar com o impasse nuclear.

Uma das exigências principais do o Irã é a garantia de segurança, que necessariamente precisa vir dos EUA. Oficiais norte-americanos rejeitaram-na e repetidamente redobraram as suspeitas de um ataque ao Irã, ao declarar que “a opção militar está sobre a mesa”. Ao invés de buscar uma solução negociada, a administração Bush aumentou o financiamento neste ano para grupos de oposição iranianos e para outras atividades cujo objetivo é a “mudança de regime” no Irã.

O Irã, que assina o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (NPT), insiste que seus programas nucleares têm propósitos pacíficos. Teerã classificou a resolução da ONU de “ilegal” por desconsiderar os direitos iranianos previstos no NPT de pesquisar e desenvolver todos os aspectos do ciclo do combustível nuclear, incluindo o enriquecimento do urânio. O Irã possui uma pequena cascata de 164 centrífugas operando em sua aparelhagem de enriquecimento experimental, em Natanz.

Apesar da falta de provas, Bolton disse ontem à imprensa que não tem dúvida de que o Irã pretende produzir uma bomba nuclear. “Simplesmente não há explicação para a linha de conduta iraniana observada ao longo dos anos, a não ser a de que eles estão desenvolvendo uma indústria nuclear com fins bélicos”, afirmou Bolton. Na quinta-feira, a imprensa norte-americana divulgou declarações de um relatório da AIEA enviado para a ONU sobre vestígios de urânio altamente enriquecido encontrados num recipiente de armazenamento de lixo.

Se, por um lado, é necessário admitir a hipótese de que setores do regime iraniano têm pretensões de produzir armas nucleares, por outro lado, a AIEA não conseguiu encontrar, ao longo dos últimos três anos, provas conclusivas sobre programas para armas secretas. Inspetores da AIEA já chegaram a encontrar vestígios minúsculos de urânio altamente enriquecido, mas depois confirmaram que se tratava de equipamentos contaminados comprados do Paquistão. As conclusões do último relatório da AIEA, da mesma forma que as dos anteriores, foram negativas: que a AIEA não poderia verificar “a exatidão e a integridade das declarações do Irã” que afirmavam que seus programas tinham fins pacíficos.

O objetivo principal da “diplomacia” de Washington é o de pressionar seus rivais europeus e asiáticos no sentido de apoiar seus ultimatos e ameaças contra o Irã. A alegação da existência de programas de armas nucleares não são nada mais do que pretextos para justificar as ações dos EUA contra Teerã. Acima de tudo, Washington está tentando evitar uma decisão negociada para a disputa, que levaria a um relaxamento das tensões diplomáticas e uma abertura econômica do Irã. Tal resultado beneficiaria apenas as potências da União Européia, a Rússia, a China e o Japão—que possuem significativos interesses econômicos no Irã - em detrimento dos EUA—que têm imposto sanções ao Irã por duas décadas. A única maneira de estabelecer um domínio norte-americano no Irã é através de uma agressiva política de “mudança de regime” em Teerã.

Tensões inter-imperialistas

Todas as maiores potências foram favoráveis à decisão tomada pela ONU do dia 31 de julho de mandar um ultimato a Teerã. Porém, divergências surgiram novamente devido ao descumprimento do prazo final de quinta-feira por parte do Irã.

A Rússia, que relutou para aprovar a resolução, opôs-se às sanções. O ministro do exterior, Sergei Lavrov, declarou ontem que “nós temos que levar em conta a experiência do passado e não podemos nos alinhar a ultimatos. Todos eles levam a um beco sem saída.” Ele exigiu que fossem despendidos todos os esforços em “dialogar com o Irã, evitando sanções e seu isolamento”. A China, que também tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, provavelmente fará o mesmo.

Falando num encontro de Ministros do Exterior da União Européia, o Ministro do Exterior finlandês, Erkki Tuomioja, cujo país possui presidência rotativa da União Européia, declarou que “este não é o lugar nem o momento” para sanções. Ele insistiu que “a diplomacia deve ser a primeira opção da União Européia”.

Nos próximos dias, o coordenador de Política Exterior da União Européia, Javier Solana, tem um encontro marcado com o responsável pelos assuntos nucleares do Irã, Ali Larijani, para conversar sobre o interesse iraniano de estabelecer “sérias negociações”. “Isso não significa que daremos um prazo indeterminado ao Irã”, afirmou Solana. “Nós esperamos que no próximo encontro, ou nos próximos encontros, nós tenhamos conhecimento suficiente [sobre a posição do Irã] para avaliar a viabilidade de estabelecer negociações formais”.

O embaixador norte-americano Bolton afirmou que Washington concorda em esperar até que Solana conclua sua negociação antes que a ONU estabeleça sanções. Um encontro dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU—EUA, França, Inglaterra, China e Rússia—mais a Alemanha, foi agendado para o dia 7 de setembro, em Berlin, a fim de decidir os próximos passos.

Mas há sinais crescentes de impaciência por parte dos EUA em relação ao processo diplomático. O editorial do dia 01/09 do Chicago Tribune, intitulado “Europa vacila novamente”, ignora de forma arrogante os esforços de Solana. Afirma-se que “após anos de inúteis negociações com os iranianos, após anos oferecendo incentivos cada vez mais adocicados para serem rejeitados pelos mullahs, em resumo, após anos levando chutes de areia diplomática em suas caras, eles ouvem ‘não’ [de Teerã] e ainda pensam que significa ‘talvez’”.

Afirmações semelhantes foram divulgadas no Times, de Murdoch, sediado em Londres que questiona: “e agora? O Irã desafiou a ordem da ONU de interromper seu mais controverso projeto nuclear. Parece que a União Européia continuará o embuste, arrastando consigo os EUA. Os europeus foram os primeiros a vacilar quando, ao encerrar-se o prazo, alcançamos supostamente o auge deste longo impasse”. No artigo considera-se que o fracasso de EUA-Israel no Líbano é um importante fator na vacilação européia, pois “diante das tensas tentativas da ONU para manter a paz entre Israel e o Hezbollah, que é apoiado pelo Irã, poucos querem entrar numa nova briga”.

No entanto, a administração Bush já demonstrou que está preparada para arranjar uma nova “coalizão do bem” para impor novas sanções sobre o Irã, caso suas exigências sejam bloqueadas no Conselho de Segurança da ONU. Um artigo publicado nos Los Angeles Times no último fim-de-semana, revelou que o Tesouro norte-americano estaria pressionando bancos europeus e japoneses a restringir seus negócios com Teerã. A porta-voz do Tesouro, Molly Millerwise, disse ao jornal que já havia obtido bons resultados, como, por exemplo, o Banco da União da Suíça, que cortou relações com o Irã.

Ao mesmo tempo, a propaganda de um ataque militar contra o Irã continua. Um editorial no Australia, de Murdoch, intitulado “Um Irã nuclear não é uma opção”, declarou que, se a ONU fracassar ao impor sanções, “um ataque militar contra o programa nuclear do Irã pode ser a única opção para o ocidente”. E concluiu: “deve-se dar mais tempo ao processo de diplomacia internacional. Mas não podemos esperar para sempre. Demover, de qualquer maneira, as loucas ambições nucleares do regime iraniano deve ser um projeto que unifique o mundo”.

A retórica do editorial reflete especialmente a loucura da administração Bush. Tendo criado um desastre atrás do outro—no Afeganistão, no Iraque e no Líbano—através de seu militarismo imprudente, Washington está se preparando para mais uma aventura militar, agora contra o Irã, que terá, inevitavelmente, conseqüências ainda mais catastróficas.

 



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