Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 2 de setembro de 2006.
A administração de Bush reagiu agressivamente
à posição assumida pelo Irã de não
interromper suas atividades nucleares, por meio de ameaças
de sanções punitivas que representam uma escalada
para um confronto aberto. Uma resolução do Conselho
de Segurança dos EUA, aprovada em 31 de julho sob pressão
de Washington, indicou o dia 31 de agosto como prazo final para
Teerã encerrar o enriquecimento de urânio, seguindo
assim as resoluções da Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA).
De acordo com o embaixador norte-americano da ONU, John Bolton,
a decisão do Irã em continuar enriquecendo urânio
hasteia a bandeira vermelha e exige que o Conselho
de Segurança imponha sanções ao Irã.
Enquanto alguns oficiais dos EUA recomendam medidas graduais contra
o Irã, Bolton propõe uma resolução
de sanções muito duras como uma opção
inicial.
De forma ameaçadora , Bolton levantou novamente a possibilidade
de ação militar contra o Irã. Numa entrevista
para a CNN, ele afirmou: estamos exercendo muita atividade
diplomática no sentido de tentar resolver a questão
pacificamente. Este é nosso objetivo, mas nenhum presidente
comprometido com a defesa do povo americano tira a opção
militar da mesa.
Na terça-feira, num discurso na convenção
da Legião Americana, o presidente Bush utilizou o mesmo
refrão ameaçador: é tempo do Irã
fazer uma escolha... nós continuaremos trabalhando atentamente
com nossos aliados para encontrar uma solução diplomáticamas
a desobediência do Irã terá conseqüências.
Nós não devemos permitir que o Irã produza
armas nucleares.
As referências à diplomacia são
completamente ilusórias. A administração
de Bush recusou-se a negociar, ou mesmo a reunir-se com Teerã.
A Casa Branca rejeitou a oferta iraniana de, no dia 22 de agosto,
travar sérias negociações sobre
um pacote de propostas feitas em junho pelos membros permanentes
do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, para acabar
com o impasse nuclear.
Uma das exigências principais do o Irã é
a garantia de segurança, que necessariamente precisa vir
dos EUA. Oficiais norte-americanos rejeitaram-na e repetidamente
redobraram as suspeitas de um ataque ao Irã, ao declarar
que a opção militar está sobre a mesa.
Ao invés de buscar uma solução negociada,
a administração Bush aumentou o financiamento neste
ano para grupos de oposição iranianos e para outras
atividades cujo objetivo é a mudança de regime
no Irã.
O Irã, que assina o Tratado de Não-Proliferação
Nuclear (NPT), insiste que seus programas nucleares têm
propósitos pacíficos. Teerã classificou a
resolução da ONU de ilegal por desconsiderar
os direitos iranianos previstos no NPT de pesquisar e desenvolver
todos os aspectos do ciclo do combustível nuclear, incluindo
o enriquecimento do urânio. O Irã possui uma pequena
cascata de 164 centrífugas operando em sua aparelhagem
de enriquecimento experimental, em Natanz.
Apesar da falta de provas, Bolton disse ontem à imprensa
que não tem dúvida de que o Irã pretende
produzir uma bomba nuclear. Simplesmente não há
explicação para a linha de conduta iraniana observada
ao longo dos anos, a não ser a de que eles estão
desenvolvendo uma indústria nuclear com fins bélicos,
afirmou Bolton. Na quinta-feira, a imprensa norte-americana divulgou
declarações de um relatório da AIEA enviado
para a ONU sobre vestígios de urânio altamente enriquecido
encontrados num recipiente de armazenamento de lixo.
Se, por um lado, é necessário admitir a hipótese
de que setores do regime iraniano têm pretensões
de produzir armas nucleares, por outro lado, a AIEA não
conseguiu encontrar, ao longo dos últimos três anos,
provas conclusivas sobre programas para armas secretas. Inspetores
da AIEA já chegaram a encontrar vestígios minúsculos
de urânio altamente enriquecido, mas depois confirmaram
que se tratava de equipamentos contaminados comprados do Paquistão.
As conclusões do último relatório da AIEA,
da mesma forma que as dos anteriores, foram negativas: que a AIEA
não poderia verificar a exatidão e a integridade
das declarações do Irã que afirmavam
que seus programas tinham fins pacíficos.
O objetivo principal da diplomacia de Washington
é o de pressionar seus rivais europeus e asiáticos
no sentido de apoiar seus ultimatos e ameaças contra o
Irã. A alegação da existência de programas
de armas nucleares não são nada mais do que pretextos
para justificar as ações dos EUA contra Teerã.
Acima de tudo, Washington está tentando evitar uma decisão
negociada para a disputa, que levaria a um relaxamento das tensões
diplomáticas e uma abertura econômica do Irã.
Tal resultado beneficiaria apenas as potências da União
Européia, a Rússia, a China e o Japãoque
possuem significativos interesses econômicos no Irã
- em detrimento dos EUAque têm imposto sanções
ao Irã por duas décadas. A única maneira
de estabelecer um domínio norte-americano no Irã
é através de uma agressiva política de mudança
de regime em Teerã.
Tensões inter-imperialistas
Todas as maiores potências foram favoráveis à
decisão tomada pela ONU do dia 31 de julho de mandar um
ultimato a Teerã. Porém, divergências surgiram
novamente devido ao descumprimento do prazo final de quinta-feira
por parte do Irã.
A Rússia, que relutou para aprovar a resolução,
opôs-se às sanções. O ministro do exterior,
Sergei Lavrov, declarou ontem que nós temos que levar
em conta a experiência do passado e não podemos nos
alinhar a ultimatos. Todos eles levam a um beco sem saída.
Ele exigiu que fossem despendidos todos os esforços em
dialogar com o Irã, evitando sanções
e seu isolamento. A China, que também tem poder de
veto no Conselho de Segurança da ONU, provavelmente fará
o mesmo.
Falando num encontro de Ministros do Exterior da União
Européia, o Ministro do Exterior finlandês, Erkki
Tuomioja, cujo país possui presidência rotativa da
União Européia, declarou que este não
é o lugar nem o momento para sanções.
Ele insistiu que a diplomacia deve ser a primeira opção
da União Européia.
Nos próximos dias, o coordenador de Política
Exterior da União Européia, Javier Solana, tem um
encontro marcado com o responsável pelos assuntos nucleares
do Irã, Ali Larijani, para conversar sobre o interesse
iraniano de estabelecer sérias negociações.
Isso não significa que daremos um prazo indeterminado
ao Irã, afirmou Solana. Nós esperamos
que no próximo encontro, ou nos próximos encontros,
nós tenhamos conhecimento suficiente [sobre a posição
do Irã] para avaliar a viabilidade de estabelecer negociações
formais.
O embaixador norte-americano Bolton afirmou que Washington
concorda em esperar até que Solana conclua sua negociação
antes que a ONU estabeleça sanções. Um encontro
dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONUEUA,
França, Inglaterra, China e Rússiamais a Alemanha,
foi agendado para o dia 7 de setembro, em Berlin, a fim de decidir
os próximos passos.
Mas há sinais crescentes de impaciência por parte
dos EUA em relação ao processo diplomático.
O editorial do dia 01/09 do Chicago Tribune, intitulado
Europa vacila novamente, ignora de forma arrogante
os esforços de Solana. Afirma-se que após
anos de inúteis negociações com os iranianos,
após anos oferecendo incentivos cada vez mais adocicados
para serem rejeitados pelos mullahs, em resumo, após
anos levando chutes de areia diplomática em suas caras,
eles ouvem não [de Teerã] e ainda pensam
que significa talvez.
Afirmações semelhantes foram divulgadas no Times,
de Murdoch, sediado em Londres que questiona: e agora? O
Irã desafiou a ordem da ONU de interromper seu mais controverso
projeto nuclear. Parece que a União Européia continuará
o embuste, arrastando consigo os EUA. Os europeus foram os primeiros
a vacilar quando, ao encerrar-se o prazo, alcançamos supostamente
o auge deste longo impasse. No artigo considera-se que o
fracasso de EUA-Israel no Líbano é um importante
fator na vacilação européia, pois diante
das tensas tentativas da ONU para manter a paz entre Israel e
o Hezbollah, que é apoiado pelo Irã, poucos querem
entrar numa nova briga.
No entanto, a administração Bush já demonstrou
que está preparada para arranjar uma nova coalizão
do bem para impor novas sanções sobre o Irã,
caso suas exigências sejam bloqueadas no Conselho de Segurança
da ONU. Um artigo publicado nos Los Angeles Times no último
fim-de-semana, revelou que o Tesouro norte-americano estaria pressionando
bancos europeus e japoneses a restringir seus negócios
com Teerã. A porta-voz do Tesouro, Molly Millerwise, disse
ao jornal que já havia obtido bons resultados, como, por
exemplo, o Banco da União da Suíça, que cortou
relações com o Irã.
Ao mesmo tempo, a propaganda de um ataque militar contra o
Irã continua. Um editorial no Australia, de Murdoch,
intitulado Um Irã nuclear não é uma
opção, declarou que, se a ONU fracassar ao
impor sanções, um ataque militar contra o
programa nuclear do Irã pode ser a única opção
para o ocidente. E concluiu: deve-se dar mais tempo
ao processo de diplomacia internacional. Mas não podemos
esperar para sempre. Demover, de qualquer maneira, as loucas ambições
nucleares do regime iraniano deve ser um projeto que unifique
o mundo.
A retórica do editorial reflete especialmente a loucura
da administração Bush. Tendo criado um desastre
atrás do outrono Afeganistão, no Iraque e
no Líbanoatravés de seu militarismo imprudente,
Washington está se preparando para mais uma aventura militar,
agora contra o Irã, que terá, inevitavelmente, conseqüências
ainda mais catastróficas.