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Operários da Foxconn ameaçam protesto suicida
na China
Por John Chan
20 de janeiro de 2012
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14Centenas de operários da planta da Foxconn, em Wuhan,
ameaçaram cometer suicídio coletivo - pulando do
teto da fábrica - no início de janeiro. O incidente
é mais uma denúncia do tratamento brutal dado aos
trabalhadores pela gigante da eletrônica, possível
graças ao regime de Estado policial do governo de Beijing.
A taiwanesa Foxconn é a maior fabricante de eletrônicos
contratada por grandes corporações internacionais
como Apple, Sony e Dell. Ela emprega um milhão de trabalhadores
na China. A fábrica em Wuhan é focada na produção
de consoles Xbox 360.
Em 2010, houve 18 tentativas de suicídio impulsionadas
pela insuportável disciplina de tipo militar imposta na
Foxconn. Quatorze jovens trabalhadores morreram ao pularem de
fábricas da Foxconn. Diante da indignação
na China e mundo afora, a empresa instalou redes de segurança
em alguns dormitórios e prometeu aumentar os salários
de fome concedidos aos trabalhadores.
Nenhuma das supostas melhorias se materializou. Ao contrário,
a companhia está transferindo sua produção
para cidades como Wuhan, nas quais a força de trabalho
é mais barata. Também está preparando um
programa para substituir um grande número de operários
por um milhão de robôs. Maio passado, uma explosão
numa fábrica de iPads em Chengdu matou três trabalhadores,
devido a ventilação insuficiente no departamento
de polimento.
As últimas manifestações emergiram depois
que os administradores da planta de Wuhan decidiram transferir
600 operários para uma nova linha de produção
de fabricação de gabinetes para a Acer no dia 2
de janeiro. Um grevista anônimo disse ao britânico
Telegraph que eles foram colocados para trabalhar sem receber
qualquer treinamento e que recebiam seus salários em frações.
A linha de montagem rodava muito rápido e depois
de uma manhã todos nós já tínhamos
bolhas na pele e nossas mãos estavam pretas. A fábrica
estava tão cheia de poeira que ninguém podia aguentar,
disse o operário.
Como não podiam aguentar as condições
de trabalho, os operários entraram em greve. Não
era uma questão de dinheiro; não tínhamos
outra opção, o trabalhador explicou. Cerca
de 100 operários começaram a reivindicar aumentos
salariais, mas a administração emitiu um ultimato,
exigindo que os empregados voltassem ao trabalho ou se demitissem,
com pagamento de um mês para cada ano de serviço.
Outro trabalhador disse ao New York Times que alguns
funcionários inicialmente trabalhavam na cidade costeira
de Shenzhen, mas foram forçados a se mudar para Wuhan com
a promessa de um salário de US$ 450 ao mês. Eles
recebem um terço desse valor, e se sujeitam a condições
de trabalho muito piores.
Depois que muitos trabalhadores escolheram se demitir, a administração
retirou a oferta de compensação, forçando
os operários a tomar medidas desesperadas. Cerca de 300
retornaram à fábrica para ensaiar um protesto, com
muitos ameaçando pular do telhado. A ação
forçou o prefeito de Wuhan Tang Liangzhi e outros oficiais
a intervir e convencê-los a não ir adiante no dia
3 de janeiro.
Em meio às preocupações internacionais
renovadas quanto às tentativas de suicídio na Foxconn,
a Microsoft, proprietária da marca Xbox 360, emitiu uma
declaração, afirmando estar comprometida com um
tratamento justo e segurança para os trabalhadores empregados
por nossos fabricantes, e com a garantia de conformidade com as
políticas da Microsoft. Frente aos suicídios
de 2010, a Microsoft fez comentários semelhantes, ao mesmo
tempo em que defendia a Foxconn como uma companhia responsável.
Grandes corporações ocidentais como Microsoft
e Apple dependem da exploração implacável
dos trabalhadores chineses em mega-fábricas como a Foxconn.
Com vendas altíssimas de iPads e iPhones, a taxa de lucro
operacional da Apple subiu para 30% durante os últimos
anos - comparado com apenas 1,25% de aumento para a Foxconn. Na
primeira metade de 2011, a Foxconn registrou uma perda líquida
de US$17,65 milhões, enquanto a Apple ultrapassou a Exxon
Mobil como a maior corporação baseada em capitalização
de investimentos.
Os últimos protestos na Foxconn são parte de
uma onda crescente de greves pelos trabalhadores chineses que
começou com paralisações em fábricas
de sapatos e eletrônicos na província de Guangdong,
em novembro do ano passado. A inquietação dos trabalhadores
é impulsionada pela resposta dos empregadores aos prospectos
de exportação reduzidos, uma bolha imobiliária
em desenvolvimento, e o corte de linhas de crédito para
pequenas e médias empresas, todos efeitos da instabilidade
econômica mundial.
Outras greves apareceram durante a última quinzena,
de acordo com o China Labour Bulletin de Hong Kong. Na
província de Sichuan, 10 mil operários siderúrgicos
entraram em greve exigindo aumentos salariais e bloquearam a principal
rodovia local por três dias desde 4 de janeiro, entrando
várias vezes em conflito com a polícia anti-tumulto,
que utilizou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.
No dia 5 de janeiro, mais de mil operários da antiga
estatal Daxue Beer no nordeste da cidade de Dalian pararam de
trabalhar devido aos baixos salários e más condições,
depois da firma ter sido assumida pela cervejaria belga AB InBev.
Todos os cinco departamentos ficaram fechados durante a ação
de 5 dias dos trabalhadores.
Numa fábrica de brinquedos da cidade de Wuzhou, na província
de Guangxi, sudoeste, 1.300 operários marcharam para fora
da fábrica no dia 7 de janeiro por causa de salários
não-pagos. A polícia foi alocada para impedir que
os trabalhadores tomassem as ruas.
Milhares de trabalhadores de uma firma taiwanesa de fabricação
de cabos de informática na cidade de Dongguan, província
de Guangdong, pararam de trabalhar depois que descobriram um rato
no banquete de ano novo. O incidente liberou o ódio acumulado
dos trabalhadores quanto a má qualidade da comida. Um operário
veterano disse ao Yangcheng Evening Post que desde que
a cozinha foi terceirizada no ano passado, baratas, ratos e areia
foram encontrados nas refeições. A manifestação
terminou apenas quando os executivos prometeram jantar com os
trabalhadores todos os dias.
Os ataques coordenados conduzidos pelas companhias contra os
já ínfimos salários, condições
e postos de trabalho representam uma mudança em relação
à 2010, quando as greves iniciadas por metalúrgicos
da Honda e a indignação do público em relação
aos suicídios resultou em concessões na forma de
aumentos salariais. Hoje, os empregadores não podem mais
oferecer essas concessões.
As ameaças de suicídio dos trabalhadores da Foxconn
indicam que uma camada da classe trabalhadora acredita que não
tem nada a perder. É um sinal certo de que as tensões
de classe estão atingindo um ponto de ebulição.
(Traduzido por movimentonn.org)
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