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Grécia a caminho de uma explosão revolucionária

Por Peter Schwarz
25 de fevereiro de 2012

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O pacote de austeridade conduzido pela Troika (União Europeia, FMI e Banco Central Europeu) está conduzindo a Grécia a uma revolução. O protesto de milhares de pessoas diante do Parlamento grego na noite de domingo, 19 de fevreiro, seguido por um surto de violência depois que a Polícia agiu com bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes, marcou uma ruptura radical da disposição da população grega.

Ao longo prazo, quase ninguém mais acredita que as medidas de austeridade levará a Grécia a sair da crise. A ameaça do governo não funciona mais, a alternativa é um Estado falido que conduzirá a um desastre econômico e social, porque as consequências das medidas de austeridade atuais são estritamente desastrosas. "Isso apenas nos permite escolher entre diferentes formas de morrer", comentou um manifestante de 50 anos a um jornalista.

Os dezoito meses de medidas de austeridade têm causado um declínio social sem precedentes na História. Os salários e ordenados do setor privado diminuiram em 20%, enquanto a do setor público reduziu até 50%. Dos quase um milhão gregos, um em cada cinco adultos e um em cada dois jovens estão desempregados. Eles recebem apenas um terço do salário-desemprego, que agora foi reduzido a entre 460 e 360 euros por mês.

O novo pacote de austeridade, aprovado na noite de domingo, vai derrubar a classe trabalhadora e uma grande parte da classe média na luta pela sobrevivência. Até 2015, 150.000 funcionários públicos serão demitidos, os salários serão reduzidos ainda mais e os cortes chegarão a 11,4 bilhões de euros. Para atender os padrões de vida da Europa ocidental, a sobrevivência torna-se assim impossível para muitos, principalmente quando se tem que dar assistência às famílias carentes.

Não é preciso ser um gênio matemático para ver que essas medidas não resolvem a crise da dívida, mas a agravarão ainda mais. Todos os indicadores econômicos apontam negativamente. A economia decresceu 7%no ano passado, a produção industrial em 16%. A receita de impostos caiu, apesar do aumento na alíquota do imposto em 19%, porque 60.000 pequenas empresas faliram. Mais 50.000 falências já são esperadas este ano.

O orçamento do Estado está operando no positivo, uma vez que as despesas com juros e amortização da dívida não são levadas em conta. Mas o serviço da dívida é tão alto que a dívida total aumentou ao longo do ano passado em torno de 140% a 160% do PIB - um poço sem fundo.

É óbvio que o tratamento drástico prescrito pela Troika à Grécia não tem como real objetivo o "resgate" do país nem o equilíbrio de suas metas orçamentárias. Pelo contrário, deve servir de exemplo para intimidar a classe trabalhadora em outros países europeus e deixar claro, de uma vez por todas, qual o verdadeiro poder que governa a Europa.

O caráter de classe das medidas de austeridade não poderia ser mais óbvio. Enquanto os desempregados, os trabalhadores e servidores públicos são sugados até a última gota de sangue, a elite rica do país, que há muito tempo tem sua riqueza transferida para os mercados financeiros e imobiliários internacionais, sai completamente ilesa.

As medidas de austeridade na Grécia são o pilar de uma ofensiva internacional da aristocracia financeira, que tem como objetivo descarregar todo o custo da crise financeira de 2008 sobre a classe trabalhadora. Seja nos EUA, Grã-Bretanha, França ou Alemanha, Espanha ou Portugal, Hungria ou Romênia - toda a renda disponível, os ganhos sociais e direitos democráticos dos trabalhadores estão sob ataque. O governo alemão, que aparece especialmente arrogante com a Grécia, prossegue com a mesma arrogância com os trabalhadores desempregados na Alemanha e vai continuar com ainda mais crueldade se a crise persistir na Grécia.

A classe trabalhadora grega tem experiência, pois não aceitou pacificamente a ocupação nazista, a guerra civil e a ditadura militar, e agora não aceita uma nova tentativa de ser subjugada a uma ditadura do capital financeiro. A combinação de desespero e raiva que se expressaram na noite de domingo vão inevitavelmente se intensificar e caminhar em uma direção revolucionária.

As eleições parlamentares estão marcadas para abril e nenhum partido oferece uma solução. Os dois partidos que apoiam o atual governo estão passando por uma rápida desintegração e dificilmente irão conseguir a maioria no governo. O partido social-democrata PASOK, que ganhou as eleições de 2009 com 44%, agora tem apenas 8%, o partido conservador Nova Democracia (ND) possui cerca de 30%.

Os três maiores grupos de "esquerda" - a Esquerda Democrática (DIMAR), a Coligação da Esquerda Radical (SYRIZA) e do Partido Comunista Grego (KKE) - atualmente alcançam juntos nas pesquisas mais de 40%. Mas todos os três têm uma longa história de subordinação ao Estado burguês.

A Esquerda Democrática (DIMAR) defendeu a União Europeia e indicou certos cortes como inevitáveis e sugeriu a transferência de 60%da dívida da Grécia à UE. A Coligação da Esquerda Radical (SYRIZA) há muito tempo defendeu o PASOK e agora quer a união de toda a "esquerda" nas eleições.

Embora o partido stalinista KKE tenha agitado contra as medidas de austeridade, eles socilitam a solução por parte da União Europeia do cancelamento unilateral das dívidas e até mesmo o cancelamento das dívidas dos "trabalhadores” e das “forças populares". Mas este partido nunca rompeu com sua tradição stalinista e em tempos de crise promoveu diversas vezes o nacionalismo, colaborando com a classe dominante e traindo a classe trabalhadora. Em 1989 chegou até a formar um governo de coalizão com o partido conservador Nova Democracia.

Caso um ou mais destes partidos em abril se movam em direção ao governo, sua tarefa será a de manter a classe trabalhadora em uma enorme crise e impedi-la de lutar. Diante do risco, a extrema direita tenta usar a crise para reforçar seu poder militar e novamente atingir o poder.

Esse exemplo de governo de "esquerda" seria comparável com o governo da Frente Popular de Léon Blum, que chegou ao poder na França em 1936 em uma onda de militância trabalhista para, em seguida, golpear a classe trabalhadora pelas costas na greve geral. A traição da Frente Popular pavimentou o caminho de retorno da extrema direita. Quatro anos depois, eles perceberam a traição que o seu lema "Antes Blum do que Hitler” estabeleu, permitindo a ascensão do regime autoritário de Vichy que colaborou estreitamente com a Alemanha nazista.

A fim de lutar contra as medidas de austeridade da Troika, a organização da classe trabalhadora grega precisa de um programa revolucionário independente que não sirva apenas para colaboração de classes. Enquanto o principal trabalho do governo e dos partidos que o apoiam consiste em arruinar os padrões de vida da população, a saúde e o sistema de ensino, a classe trabalhadora deve assumir a responsabilidade de governar o país para si própria.

Nos locais de trabalho e em áreas residenciais devem ser estabelecidos comitês de acção. A organização da vida cotidiana deve ficar a cargo dos trabalhadores para organizar a luta contra as medidas de austeridade e se preparar para se defender contra ataques fascistas e militares. Os comitês de ação precisam quebrar a resistência do aparato sindical que colabora com o Estado e os partidos que o apoiam. Os trabalhadores precisam coordenar sua luta a nível nacional e entrar em contato com os trabalhadores da Espanha, Portugal e outros países europeus.

Eles podem lançar as bases para um governo dos trabalhadores, que exproprie as grandes propriedades, bancos e empresas; reorganize a economia em uma base socialista, a serviço da sociedade como um todo, ao invés de voltada aos interesses econômicos da aristocracia financeira.

Essa luta só pode ter sucesso em escala internacional. A União Europeia, os bancos e as corporações devem ser substituídos pelo Estados Unidos Socialistas da Europa. O pré-requisito é a criação de um novo partido revolucionário da classe trabalhadora. Esta é a luta do Comitê Internacional da Quarta Internacional e de suas seções.

(traduzido por movimentonn.org)