O pacote de austeridade conduzido pela Troika (União
Europeia, FMI e Banco Central Europeu) está conduzindo
a Grécia a uma revolução. O protesto de milhares
de pessoas diante do Parlamento grego na noite de domingo, 19
de fevreiro, seguido por um surto de violência depois que
a Polícia agiu com bombas de gás lacrimogêneo
contra os manifestantes, marcou uma ruptura radical da disposição
da população grega.
Ao longo prazo, quase ninguém mais acredita que as medidas
de austeridade levará a Grécia a sair da crise.
A ameaça do governo não funciona mais, a alternativa
é um Estado falido que conduzirá a um desastre econômico
e social, porque as consequências das medidas de austeridade
atuais são estritamente desastrosas. "Isso apenas
nos permite escolher entre diferentes formas de morrer",
comentou um manifestante de 50 anos a um jornalista.
Os dezoito meses de medidas de austeridade têm causado
um declínio social sem precedentes na História.
Os salários e ordenados do setor privado diminuiram em
20%, enquanto a do setor público reduziu até 50%.
Dos quase um milhão gregos, um em cada cinco adultos e
um em cada dois jovens estão desempregados. Eles recebem
apenas um terço do salário-desemprego, que agora
foi reduzido a entre 460 e 360 euros por mês.
O novo pacote de austeridade, aprovado na noite de domingo,
vai derrubar a classe trabalhadora e uma grande parte da classe
média na luta pela sobrevivência. Até 2015,
150.000 funcionários públicos serão demitidos,
os salários serão reduzidos ainda mais e os cortes
chegarão a 11,4 bilhões de euros. Para atender os
padrões de vida da Europa ocidental, a sobrevivência
torna-se assim impossível para muitos, principalmente quando
se tem que dar assistência às famílias carentes.
Não é preciso ser um gênio matemático
para ver que essas medidas não resolvem a crise da dívida,
mas a agravarão ainda mais. Todos os indicadores econômicos
apontam negativamente. A economia decresceu 7%no ano passado,
a produção industrial em 16%. A receita de impostos
caiu, apesar do aumento na alíquota do imposto em 19%,
porque 60.000 pequenas empresas faliram. Mais 50.000 falências
já são esperadas este ano.
O orçamento do Estado está operando no positivo,
uma vez que as despesas com juros e amortização
da dívida não são levadas em conta. Mas o
serviço da dívida é tão alto que a
dívida total aumentou ao longo do ano passado em torno
de 140% a 160% do PIB - um poço sem fundo.
É óbvio que o tratamento drástico prescrito
pela Troika à Grécia não tem como real objetivo
o "resgate" do país nem o equilíbrio de
suas metas orçamentárias. Pelo contrário,
deve servir de exemplo para intimidar a classe trabalhadora em
outros países europeus e deixar claro, de uma vez por todas,
qual o verdadeiro poder que governa a Europa.
O caráter de classe das medidas de austeridade não
poderia ser mais óbvio. Enquanto os desempregados, os trabalhadores
e servidores públicos são sugados até a última
gota de sangue, a elite rica do país, que há muito
tempo tem sua riqueza transferida para os mercados financeiros
e imobiliários internacionais, sai completamente ilesa.
As medidas de austeridade na Grécia são o pilar
de uma ofensiva internacional da aristocracia financeira, que
tem como objetivo descarregar todo o custo da crise financeira
de 2008 sobre a classe trabalhadora. Seja nos EUA, Grã-Bretanha,
França ou Alemanha, Espanha ou Portugal, Hungria ou Romênia
- toda a renda disponível, os ganhos sociais e direitos
democráticos dos trabalhadores estão sob ataque.
O governo alemão, que aparece especialmente arrogante com
a Grécia, prossegue com a mesma arrogância com os
trabalhadores desempregados na Alemanha e vai continuar com ainda
mais crueldade se a crise persistir na Grécia.
A classe trabalhadora grega tem experiência, pois não
aceitou pacificamente a ocupação nazista, a guerra
civil e a ditadura militar, e agora não aceita uma nova
tentativa de ser subjugada a uma ditadura do capital financeiro.
A combinação de desespero e raiva que se expressaram
na noite de domingo vão inevitavelmente se intensificar
e caminhar em uma direção revolucionária.
As eleições parlamentares estão marcadas
para abril e nenhum partido oferece uma solução.
Os dois partidos que apoiam o atual governo estão passando
por uma rápida desintegração e dificilmente
irão conseguir a maioria no governo. O partido social-democrata
PASOK, que ganhou as eleições de 2009 com 44%, agora
tem apenas 8%, o partido conservador Nova Democracia (ND) possui
cerca de 30%.
Os três maiores grupos de "esquerda" - a Esquerda
Democrática (DIMAR), a Coligação da Esquerda
Radical (SYRIZA) e do Partido Comunista Grego (KKE) - atualmente
alcançam juntos nas pesquisas mais de 40%. Mas todos os
três têm uma longa história de subordinação
ao Estado burguês.
A Esquerda Democrática (DIMAR) defendeu a União
Europeia e indicou certos cortes como inevitáveis e sugeriu
a transferência de 60%da dívida da Grécia
à UE. A Coligação da Esquerda Radical (SYRIZA)
há muito tempo defendeu o PASOK e agora quer a união
de toda a "esquerda" nas eleições.
Embora o partido stalinista KKE tenha agitado contra as medidas
de austeridade, eles socilitam a solução por parte
da União Europeia do cancelamento unilateral das dívidas
e até mesmo o cancelamento das dívidas dos "trabalhadores
e das forças populares". Mas este partido nunca
rompeu com sua tradição stalinista e em tempos de
crise promoveu diversas vezes o nacionalismo, colaborando com
a classe dominante e traindo a classe trabalhadora. Em 1989 chegou
até a formar um governo de coalizão com o partido
conservador Nova Democracia.
Caso um ou mais destes partidos em abril se movam em direção
ao governo, sua tarefa será a de manter a classe trabalhadora
em uma enorme crise e impedi-la de lutar. Diante do risco, a extrema
direita tenta usar a crise para reforçar seu poder militar
e novamente atingir o poder.
Esse exemplo de governo de "esquerda" seria comparável
com o governo da Frente Popular de Léon Blum, que chegou
ao poder na França em 1936 em uma onda de militância
trabalhista para, em seguida, golpear a classe trabalhadora pelas
costas na greve geral. A traição da Frente Popular
pavimentou o caminho de retorno da extrema direita. Quatro anos
depois, eles perceberam a traição que o seu lema
"Antes Blum do que Hitler estabeleu, permitindo a ascensão
do regime autoritário de Vichy que colaborou estreitamente
com a Alemanha nazista.
A fim de lutar contra as medidas de austeridade da Troika,
a organização da classe trabalhadora grega precisa
de um programa revolucionário independente que não
sirva apenas para colaboração de classes. Enquanto
o principal trabalho do governo e dos partidos que o apoiam consiste
em arruinar os padrões de vida da população,
a saúde e o sistema de ensino, a classe trabalhadora deve
assumir a responsabilidade de governar o país para si própria.
Nos locais de trabalho e em áreas residenciais devem
ser estabelecidos comitês de acção. A organização
da vida cotidiana deve ficar a cargo dos trabalhadores para organizar
a luta contra as medidas de austeridade e se preparar para se
defender contra ataques fascistas e militares. Os comitês
de ação precisam quebrar a resistência do
aparato sindical que colabora com o Estado e os partidos que o
apoiam. Os trabalhadores precisam coordenar sua luta a nível
nacional e entrar em contato com os trabalhadores da Espanha,
Portugal e outros países europeus.
Eles podem lançar as bases para um governo dos trabalhadores,
que exproprie as grandes propriedades, bancos e empresas; reorganize
a economia em uma base socialista, a serviço da sociedade
como um todo, ao invés de voltada aos interesses econômicos
da aristocracia financeira.
Essa luta só pode ter sucesso em escala internacional.
A União Europeia, os bancos e as corporações
devem ser substituídos pelo Estados Unidos Socialistas
da Europa. O pré-requisito é a criação
de um novo partido revolucionário da classe trabalhadora.
Esta é a luta do Comitê Internacional da Quarta Internacional
e de suas seções.