Na semana passada, a Grécia sofreu forte pressão
de organizações financeiras, bancos, líderes
de Governo e dos principais representantes da UE (União
Europeia) para intensificar as medidas de austeridade econômica
e impor demissões adicionais no setor público, assim
como, aumentar as privatizações. Eles pedem mais
cortes no orçamento estatal, embora as medidas tomadas
nos últimos três anos já tiveram efeitos catastróficos
sobre os trabalhadores gregos.
Conforme o tratado assinado em outubro do ano passado com o
"Troika" (FMI, Banco Central Europeu e União
Europeia), o governo grego precisaria fazer novos cortes para
obter a próxima parcela do pacote de resgate de
130.000 milhões. Em troca, os credores privados abririam
mão de uma parcela significativa de seus investimentos
em títulos do governo grego (cinquenta por cento ou mais).
Na semana passada, representantes do governo grego reuniram-se
com credores privados, representado pelo IIF (Instituto de Finanças
Internacionais). Para que eles não reduzissem seus investimentos,
o governo grego deve lutar para "cortar os gastos" (reduzir
a dívida). Na quinta-feira passada, a imprensa especializada
informou que os hedges funds, cuja a parcela da dívida
grega está estimada entre dez e vinte por cento, quer processar
o país perante o Tribunal Europeu, a fim de recuperar seus
todos os seus investimentos.
Um acordo final entre os credores e o governo grego devem ser
feitas neste fim de semana, e o Ministro de Finanças Europeu
deve anunciar nesta segunda-feira o sucesso nas negociações.
Se a Grécia não atender as condições
para receber a próxima parcela prometida da "Troika",
isso poderá significar a falência do país
e, possivelmente, levar à sua saída da Zona Euro.
Isso traria consequências imprevisíveis para a Grécia
e a União Europeia como um todo.
Depois de negociar até o último minuto com o
Governo, Charles Dallara, diretor do IIF (Instituto de Finanças
Internacionais) deixou a Grécia no domingo passado sem
resultado.
Uma delegação do FMI (Fundo Monetário
Internacional) foi na semana passada, em Atenas. Os funcionários
do FMI vasculharam várias agências do governo grego
e exigiram que os cortes fossem rigorosamente adotados o mais
rápido possível. Em particular, a delegação
do FMI apela para a privatização de instituições
e serviços, que ainda estão nas mãos do Estado.
A proposta atualmente em estudo do governo é criar fontes
de receitas, liberando tesouros nacionais, como a Acrópole,
para uso comercial.
Enquanto os principais representantes da "Troika"
e os do IIF em Atenas tentam acertar o imbróglio, os líderes
europeus deixaram bem claro que o governo grego não pode
esperar nenhuma misericórdia deles.
Na edição do Jornal alemão Süddeutsche
de sexta-feira, o Comissário da UE, Olli Rehn, advertiu
que diante do eminente fracasso do plano de ajuda à Grécia,
os líderes europeus devem apertar o país para mais
cortes. "Caso contrário, este programa terminará
em fracasso", disse ele, "e não vai ajudar nem
a Grécia nem a Europa."
No mesmo dia em Paris, o presidente Sarkozy disse em tom irritado
que os partidos políticos precisam lutar juntos e fazer
cumprir o programa da "Troika". "A zona do euro
está em risco", disse Sarkozy. "Toda a classe
política da Grécia precisa compreender que são
necessários todos para resolver os problemas do país,
eles não podem adiar decisões por mais tempo".
O Ministro francês de Assuntos Europeus, Jean Leonetti,
foi ainda mais direto e disse em uma entrevista de rádio:
"Europa não vai pagar mais para a Grécia".
Existem diferenças táticas entre algumas nações
europeias, especialmente com o governo alemão, que se mantem
mais firme com o "corte dos gastos", pois os investidores
alemães detêm parte significativa da dívida
pública grega. No entanto, todos os líderes europeus
concordam mais uma vez que devem ser disponibilizados enormes
somas de dinheiro aos bancos.
Nisto se revelou a importância da política do
Banco Central Europeu (BCE). Recentemente, o BCE ofereceu taxas
de juros ultrabaixa para reabastecer as reservas dos bancos privados.
Os bancos privados aceitaram a oferta com entusiasmo, e levou
quase meio bilhão de euros em empréstimos do BCE.
Esta é a razão principal para a recuperação
dos mercados de ações europeus na semana passada.
Os líderes de Governo, incluindo o primeiro-ministro
grego - o ex-banqueiro Lucas Papademos, que em novembro do ano
passado foi utilizado pelo "Troika" como o novo chefe
de governo - também concordaram que os bancos devem ser
compensados ??rapidamente. Isso significa os últimos vestígios
do desmantelado do Estado de bem-estar social.
Os sindicatos gregos têm fortalecido o governo reacionário
com suas decisões decisivamente retrógradas. Nos
últimos três anos, houve em média, 25 a 40%
em cortes salariais no serviço público e 15 a 25%
em cortes salariais dos trabalhadores do setor privado. Os sindicatos
já manifestaram disponibilidade para ajudar na execução
das novas medidas do governo de cortes de salários adicionais.
Na terça-feira passada, apenas sete mil pessoas participaram
de um protesto que foi organizado pelos sindicatos do setor público.
Um dia depois, os líderes sindicais se reuniram com empresários
para discutir cortes de salários. Os sindicatos declararam
que são contra os cortes dos salários, mas estão
dispostos a aceitar, por alguns anos, o congelamento de salários
e cortes nas contribuições para a segurança
social pagas pelos trabalhadores.
A oferta dos sindicatos seria condenar trabalhadores, por tempo
indeterminado, aos baixos salários que recebem atualmente.
Ao mesmo tempo, os sindicatos concordam com cortes na área
social e do desmantelamento do Estado de bem-estar social da Grécia.
O desemprego atinge proporções bastante alarmantes
- o desemprego dos jovens é agora de 45% - mas os sindicatos
estão dispostos a negociar as últimas reservas financeiras
disponíveis dos trabalhadores quando esses perdem seus
empregos.
Os sindicatos irão defender os atuais salários
e por isso não devem ser dados nenhuma fé aos protestos
organizados por eles. As últimas estatísticas da
OCDE mostram que a média dos salários anuais da
Europa incluindo os gregos são de 17.500 euros brutos e
o salário mínimo grego é de 751 euros brutos
por mês, ou seja, é o mais baixo salário na
zona euro. Além disso, os sindicatos já aceitaram
as mudanças legais, segundo a qual os empregadores podem
definir os jovens trabalhadores abaixo do salário mínimo
oficial.
Os novos cortes do governo grego impostos pelas instruções
da "Troika", irão levar inevitavelmente a novos
protestos dos trabalhadores gregos. Ao mesmo tempo, os vizinhos
búlgaros e todo o Sudeste da Europa devem unir-se para
luta europeia dos trabalhadores contra medidas de austeridade
econômica. A experiência grega ensina uma coisa: É
absolutamente necessário romper completamente com os nacionalismos,
pró-capitalistas dos sindicatos e chamar para um movimento
pan-europeu contra medidas de austeridade econômica e a
favor da vida, com base em um programa socialista.