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As lições da eleição no Alabama

Patrick Martin
28 de setembro de 2018

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Originalmente publicado em 14 de Dezembro de 2017

Comentaristas políticos e líderes do Partido Democrata estão saudando o resultado da eleição especial no Alabama para preencher uma vaga no Senado dos EUA – com o democrata Doug Jones derrotando por pouco o republicano de extrema-direita Roy Moore – como um “milagre” político.

“Obrigado, Alabama”, escreveu o Washington Post, por escolher “poupar a nação da indignidade de colocar um acusado de molestar crianças no Senado dos EUA.” O editorial concluiu: “Graças ao Alabama, americanos podem acordar na manhã de quarta-feira com esperança em relação à decência e dignidade de sua democracia.”

O New York Times ecoou o mesmo tom, intitulando seu editorial “Roy Moore Perde, a Sanidade Impera”, e exaltando sua derrota como um “triunfo para a decência e o senso comum em um estado que parecia por um período em risco de abandonar ambos... .” Referindo-se ao democrata de direita que derrotou Moore, o Times declarou que os moradores do estado tinham acertado ao “escolher um candidato cujo histórico era causa de orgulho, não vergonha, que gastou sua carreira combatendo o preconceito, não explorando-o.”

Ao lançar pétalas de rosa sobre o resultado da eleição no Alabama, os editoriais não podem enganar ninguém. O democrata de direita, com uma campanha eleitoral aproximadamente dez vezes maior do que a do republicano, venceu o candidato fascista não enfrentando e se opondo aos pronunciamentos de extrema-direita de Moore, muito menos oferecendo uma alternativa para defender o povo trabalhador. Ao invés disso, Jones deve a minúscula margem de votos a seu favor a uma série de alegações de má conduta sexual por Moore lançadas ao longo do último mês.

Depois da derrota de Moore, os democratas estão redobrando o foco em sua estratégia de se opor à administração Trump baseada na histeria anti-russa e alegações de má conduta sexual, tendo como objetivo principalmente mobilizar seções da classe média alta. Eles estão buscando desviar e suprimir a oposição da classe trabalhadora à administração Trump através de uma política que é compatível com os objetivos da aristocracia financeira e do aparelho militar e de inteligência.

Alegações de má conduta sexual de Moore foram primeiro relatadas pelo Washington Post em 9 de Novembro, com uma reportagem especial sobre as abordagens de Moore a uma série de adolescentes quando ele era procurador de condado no início de seus 30 anos de idade. Esse se tornou o assunto principal da propaganda de TV da campanha de Jones. Para avançar essa campanha contra Moore mais agressivamente, o Partido Democrata forçou a saída de dois de seus congressistas importantes, o deputado John Conyers e o senador Al Franken, que renunciaram diante de alegações de má conduta sexual durante as semanas finais da campanha eleitoral no Alabama.

Ao mesmo tempo em que deram atenção contínua às alegações de conduta sexual de Moore, a campanha democrata no Alabama não fez quase nenhuma referência às visões políticas de extrema-direita de Moore: seu apoio à criminalização da homossexualidade, sua declaração de que muçulmanos devem ser barrados do Congresso e outros cargos eleitorais, seu apoio ao envio do exército para atacar imigrantes na fronteira dos EUA com o México, e sua defesa do que só pode ser descrito como uma teocracia, elevando a Bíblia acima da Constituição dos EUA.

Mesmo os comentários de Moore durante a semana final da campanha – retratando positivamente a vida no Sul escravocrata, a última vez na história americana, de acordo com sua crença intolerante e ignorante, em que os valores familiares foram honrados – provocaram pouco enfrentamento, apesar de sem dúvida terem aumentado a participação de eleitores afro-americanos em todo o estado.

Logo após o resultado no Alabama, ao mesmo tempo que o Partido Democrata e seus aliados na mídia comemoravam a vitória de Jones, declaravam que essa vitória é o resultado da campanha #MeToo de alegações de má conduta sexual, frequentemente sem provas ou contestadas.

Analisando o resultado eleitoral, o Post afirmou que a derrota de Moore “foi um divisor de águas para o movimento nacional envolvendo a questão do abuso sexual”, e previu que isso encorajaria uma enorme quantidade de candidatas mulheres a concorrerem em 2018.

O próximo alvo é Trump, não por seu corte de impostos para os multi-milionários, cortes planejados de orçamento em programas sociais vitais, ataques sobre os direitos dos imigrantes e minorias, ou ameaças de guerra nuclear contra a Coréia do Norte, mas por seus supostos crimes contra mais de uma dúzia de mulheres antes dele entrar na Casa Branca.

Os democratas agora legitimam o tipo de caça-às-bruxas sexual que foi empregado pela extrema-direita para tentar levar ao impeachment o presidente Bill Clinton em 1998-99. Os republicanos não hesitarão em responder da mesma forma. Tudo leva a crer que a eleição de 2018 será dominada por insultos e acusações mútuas tão sujas que farão as campanhas de ataques de anos anteriores parecerem esclarecidas.

O tom foi definido pelo depoimento do vice-procurador-geral Rod Rosenstein na quarta-feira, que focou largamente na investigação de Robert Mueller sobre as acusações de interferência russa nas eleições de 2016, mas também incluiu uma descrição sinistra e detalhada do congressista democrata Luis Gutierrez das acusações de má conduta sexual levantadas contra Trump durante a campanha eleitoral, imitando o procurador Kenneth Starr no caso contra Bill Clinton.

Grupos da pseudo-esquerda, como a Organização Socialista Internacional (ISO), farão o papel de faxineiros políticos para o Partido Democrata nas próximas eleições. A publicação online da ISO, Socialist Worker, agiu com velocidade incomum para comentar a eleição especial do Alabama, saudando a vitória de um democrata de direita, ao mesmo tempo que declarava que o “maior vencedor nesta eleição são as mulheres do #MeToo – que quebraram o silêncio sobre assédio e agressão sexuais cometidos por homens poderosos.”

A ISO aplaude de maneira inteiramente acrítica a campanha #MeToo, que descarta toda consideração sobre os direitos democráticos e o devido processo legal, insistindo que alegações de assédio sexual devem ser acreditadas, sem investigação ou apreciação crítica das evidências.

O comentário conclui: “Essa eleição foi sobre muito mais do que [sic] voto no Alabama para um assento no Senado. Foi um teste de apoio para monstros republicanos como Moore, suas políticas intolerantes e a presidência de Donald Trump.”

O Socialist Worker nunca empregou tal crítica política contra um democrata como Barack Obama, que coordenou a maior transferência de riqueza dos trabalhadores para os ricos na história, ao mesmo tempo que intensificou as guerras iniciadas sob George W. Bush e lançou suas próprias na Líbia, Síria, Iêmen e em mais uma dúzia de países através de drones. Isso acontece porque a ISO opera como um braço político do Partido Democrata, utilizando retórica de “esquerda” para se opor a qualquer movimento da classe trabalhadora que tenta romper com as amarras do sistema bipartidário controlado pelas corporações.

O primeiro ano da administração Trump assistiu a uma oposição em massa dos trabalhadores à sua agenda de extrema-direita, expressa em manifestações, pesquisas de opinião e as agitações iniciais de lutas sociais de massa. Mas esses deslocamentos para a esquerda da classe trabalhadora não poderão encontrar expressão no sistema político, dominado pelos dois partidos que são ambos instrumentos da elite corporativa.

A administração Trump é profundamente impopular, e o Congresso republicano ainda mais. Tem havido um deslocamento significativo para a esquerda na opinião pública, mas, dentro do quadro da política capitalista, a hostilidade em massa à Trump levou à eleição de democratas de direita: nas eleições para governador em Nova Jersey e na Virginia no mês passado, a vitória de um ex-banqueiro da Goldman Sachs e de um conservador vice-governador que votou duas vezes por George W. Bush; e, agora, na corrida do senado do Alabama, a vitória de Doug Jones, que concorreu como um candidato da lei e da ordem e promete trabalhar com o senador republicano de direita Richard Shelby e buscar uma “base comum” com a Casa Branca de Trump.

A última semana da campanha eleitoral no Alabama coincidiu com a visita do relator especial da ONU em extrema pobreza e direitos humanos no estado, que foi a áreas rurais onde as condições são tão abomináveis, com péssima infraestrutura da água e de esgoto, moradias primitivas e pobreza, que ele disse que nunca tinha visto uma tão precária em qualquer país industrializado.

Os partidos Democrata e Republicano são os responsáveis por essas condições, uma vez que possuem todos os mandatos políticos nos Estados Unidos e controlam o governo municipal, estadual e federal. O padrão de vida e condições sociais continuam a se deteriorar sob democratas e republicanos. A classe trabalhadora precisa tirar as conclusões política necessárias, e tomar o caminho da luta política independente contra o sistema capitalista, construindo um novo partido político de massas baseado em um programa socialista.