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Mortes por drogas diminuem a expectativa de vida nos EUA pelo segundo ano consecutivo

Eric London
28 de setembro de 2018

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Publicado originalmente em 22 de dezembro de 2017

Dois relatórios publicados na última terça-feira pelo CDC - Center for Disease Control (Centro para o Controle de Doenças) – revelam que a expectativa de vida da classe trabalhadora norte-americana está diminuindo devido a um aumento no número de mortes por suicidio e overdose de drogas.

Os dados refletem, em termos empíricos, a devastação social provocada sobre as vidas de milhões de pessoas por décadas de políticas bipartidárias destinadas a enriquecer ainda mais os ricos. O declínio da expectativa de vida, uma medida fundamental do progresso social, é um marco histórico do declínio do capitalismo norte-americano. Este é o segundo ano seguido de queda na expectativa de vida nos EUA – a primeira vez em quase cinqüenta anos em que o declínio da expectativa de vida acontece de forma consecutiva.

A expectativa de vida caiu de 78.7 anos em 2015 para 78.6 anos em 2016, devido à queda de 0.2 anos (de 76.3 para 76.1 anos) entre os homens. A expectativa de vida das mulheres permaneceu em 81.1 anos, e a diferença entre mulheres e homens atingiu um pico histórico.

No entanto, a expectativa de vida para aqueles que atingem a terceira idade continua a aumentar, e as taxas de mortalidade de doenças cardíacas, câncer e outras moléstias estão diminuindo à medida que avanços médicos e tecnológicos aumentam a capacidade de estender a duração da vida humana. O declínio da expectativa de vida está sendo causado por um aumento dramático nas taxas de mortalidade entre aqueles com menos de 44 anos que sofrem overdoses, particularmente por opióides, ou mesmo tirando suas próprias vidas.


GRÁFICO: MORTES POR NARCÓTICOS NOS EUA, RESPECTIVAMENTE: OPIÓIDES SINTÉTICOS (EXCETO METADONA), HEROÍNA, OPIÓIDES NATURAIS E SEMISINTÉTICOS, COCAÍNA, METANFETAMINAS E METADONA

O relatório do CDC mostra um incremento ano a ano de 21% nas mortes por overdose de drogas, que tiraram as vidas de 63.600 pessoas em 2016. É como se, a cada ano, todos os habitantes de cidades do tamanho de Palo Alto, na Califórnia, Bismarck, na Dakota do Norte, ou Fort Myers, na Flórida, fossem mortos. Desde 2006, cerca de 430.000 pessoas morreram de overdose provocada por drogas, mais do que o número de soldados dos EUA mortos durante a 2ª Guerra Mundial. Um verdadeiro exército de pessoas que deveriam estar vivas hoje não está mais entre nós.

42.249 pessoas morreram de overdose provocada por opióides em 2016, um aumento de 28% em relação ao ano anterior. Enquanto Barack Obama viajava pelo país em apoio a Hillary Clinton, proclamando a “grandeza da América”, 115 pessoas morriam todo dia apenas devido aos opióides.

As grandes corporações inundaram as áreas mais pobres do país com pílulas e estão escudadas de qualquer processo pelo governo. Entre 2007 e 2012, por exemplo, o distribuidor de drogas Miami-Luken enviou 11 milhões de doses de oxycodona e hydrocodona para Mingo County, West Virginia, cuja população não ultrapassa 25.000 pessoas...


GRÁFICO: ÍNDICES DE OVERDOSE POR DROGA, NOS EUA, DE ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA

Joe Rannazzisi, ex-funcionário da DEA (Drugs Enforcement Agency – a agência de combate às drogas dos EUA), disse ao noticiário 60 Minutes, em outubro último, que é “um fato” que as companhias farmacêuticas inundam áreas mais pobres de remédios sabendo que muitos morrerão em conseqüência disso. Embora processos contra estas companhias tenham gerado multas de muitos milhões de dólares, isto é considerado parte do negócio. O governo Obama cortou o número de investigações da DEA contra distribuidores de drogas em 69.5%, entre 2011 e 2014.

O declínio na expectativa de vida e o aumento no número de overdoses causadas por drogas são o resultado de um crescimento robusto da desigualdade social. Daniel Kim, professor da Northeastern University, disse ontem à Reuters que “o que se sabe a partir de vários estudos médicos é que uma distância maior entre ricos e pobres significa que mais gente morrerá desnecessariamente”.

Nos últimos 40 anos, os partidos democrata e republicano se engajaram conscientemente em uma estratégia de refugo dos ganhos obtidos pela classe trabalhadora através das lutas sociais do início do século XX. Um conluio bipartidário cortou salários, eliminou pensões, acabou com programas sociais, reduziu impostos para os ricos e torpedeou os seguros-saúde fornecidos pelas empresas.

Neste processo, o governo transferiu trilhões da classe trabalhadora para as contas bancárias da elite financeira. Hoje, os 10% mais ricos possuem 77% da riqueza. Os três bilionários mais ricos possuem a mesma quantidade de riqueza que os 160 milhões mais pobres – o que equivale à metade da população.

A contra-revolução social se intensificou durante o governo democrata de Barack Obama, que presidiu à salvação financeira dos bancos após a crise de 2008, evitou a falência da mesma indústria automobilística que reduziu os salários dos seus operários a níveis historicamente baixos, e executou a falência de da cidade de Detroit. A aprovação do Obamacare coincidiu com um drástico incremento no número de mortes por overdose. Enquanto a taxa de overdoses por 100.000 pessoas aumentava 3% de 2006 a 2014, começou a aumentar em 18% em 2014, o ano de implantação do Obamacare.

A taxa de mortalidade continuará a subir à medida que o governo Trump incrementar os cortes de impostos para os ricos. Citando a pesquisa do professor Kim, a Reuters escreveu que “a desigualdade de renda produzida pelo último corte de impostos significará mais 29.689 mortes todo ano, talvez mais”. Bilhões em cortes no Medicare, exigidos pela lei que determina cortes orçamentários que acompanhem a queda nas receitas, levarão à morte de milhares de pessoas a mais.


GRÁFICO: NÚMERO DE MORTES RELACIONADAS A OPIÓIDES POR CADA 100.000 HABITANTES EM 2015, RESPECTIVAMENTE: BRANCOS, NEGROS, NATIVOS AMERICANOS, HISPÂNICOS OU LATINOS, ASIÁTICOS OU NATIVOS DAS ILHAS DO OCEANO PACÍFICO

As vítimas da crise dos opióides vêm de todas as regiões e de todos os meios sociais, mas a imensa maioria dos que foram mortos são pobres e da classe trabalhadora. De acordo com os dados do CDC referentes ao ano passado, 90% eram brancos, e a maior parte era composta por homens, com o número de overdoses entre brancos sendo quase três vezes maior do que entre negros e duas vezes maior do que entre os latinos. A taxa de overdoses entre os nativos americanos é equivalente à dos brancos.

Esta realidade expõe as mentiras reacionárias divulgadas pelo movimento Black Lives Matter e suas alegações de “supremacia branca”, e pelo movimento #MeToo, que assegura que a sociedade está organizada segundo o princípio do patriarcado e da dominação masculina.

Michael Eric Dyson, um articulista do New York Times que é ideólogo de políticas racialistas, recentemente tentou transformar a crise dos opióides em exemplo de privilégio dos brancos, ao afirmar, em março de 2017, que “os brancos foram medicalizados em função do seu trauma e do seu vício, enquanto negros e latinos foram criminalizados pelos mesmos motivos”.

Sem disfarçar seu desprezo pela classe trabalhadora, Dyson ignora o fato de que, se serviços médicos adequados estivessem disponíveis para todos, dezenas de milhares de pessoas não morreriam todos os anos por overdose; em vez de ajudar as vítimas, os governos estaduais responderam com um chamado à Guarda Nacional para o policiamento das ruas (West Virgínia), e com a exigência de quadruplicar a pena de prisão para usuários de ópio (New Jersey). Enquanto isso, ambos os partidos votaram por um incremento com gastos militares de 80 bilhões de dólares em relação ao montante do ano passado.

O SEP (Socialist Equality Party - Partido Socialista pela Igualdade) apela à expropriação dos bilhões de dólares que as grandes companhias farmacêuticas faturaram ao longo desta crise. Este dinheiro, assim como a riqueza pessoal da aristocracia corporativa e financeira, deve ser colocado em um fundo de emergência para pagar pela construção imediata de uma rede de hospitais e de clínicas de saúde, dotadas de uma equipe de médicos bem formados, para fornecer cuidados médicos gratuitos e permanentes a todos os que foram afetados por esta crise.

Centros de reabilitação devem ser expandidos e outros mais devem ser construídos para que milhões de pessoas com problemas de vício e dependência possam buscar ajuda gratuita. Um imposto de 90% deve ser cobrado de todo rendimento acima de cinco milhões de dólares para financiar a criação massiva de empregos e de obras públicas naquelas áreas mais atingidas pela crise, aliviando a desigualdade e a pobreza.

Estas demandas só podem ser realizadas através da construção de um movimento de massa pela classe trabalhadora, independentemente dos partidos democrata e republicano, e que possa unir os trabalhadores de todas as raças e nacionalidades em uma luta comum contra o sistema capitalista.