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O índice Dow Jones a 25.000 pontos: a bonança para a oligarquia continua

Nick Beams
1 de outubro de 2018

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Publicado originalmente em 05 de janeiro de 2018

A escalada ontem do índice médio de ações industriais, Dow Jones, acima dos 25.000 pontos marca um incremento ainda maior na corrida especulativa que tomou conte de Wall Street e dos mercados de ação globais ano passado, implicando massiva transferência de riqueza para o topo da sociedade.

Foram necessários apenas 23 dias para que o Dow pulasse dos 24.000 pontos para este novo recorde, o mais curto período de tempo para que ocorresse um incremento de 1000 pontos na história do índice.

Durante 2017, o índice ampliado do mercado global, S&P, aumentou em 22%, no maior incremento desde a crise global de 2008-2009. Isto representa um aumento de cerca de 9.6 trilhões em valor de mercado. O índice global FTSE aumentou 1.6% em dezembro, acumulando 14 meses seguidos de alta, o maior período consecutivo já registrado.

A escalada do mercado inflacionou as previsões de que isto continuará 2018 adentro, com alguns “bruxos” apontando até mesmo para a possibilidade de um “estouro de bolha” já no próximo período.

Apesar de um ligeiro incremento no crescimento global durante o último ano, o aumento nos índices do mercado não é uma expressão da recuperação da economia mundial, uma década após a erupção da crise financeira global. Trata-se, antes, de um mecanismo de aceleração da transferência de renda para as camadas superiores da sociedade. O dono da Amazon, Jeff Bezos, por exemplo, aumentou sua riqueza em 33 bilhões de dólares no ano passado.

Todos os braços do governo e das instituições financeiras se concentram na canalização da bolha de ativos. Em primeiro lugar, temos o Federal Reserve (banco central) norte-americano e os outros grandes bancos centrais do mundo, que injetaram um montante estimado em 15 trilhões de dólares nos mercados financeiros globais e abaixaram as taxas de juro a níveis baixíssimos para criar as condições favoráveis à recompra de ações e às fusões de capital que tiveram um papel essencial na valorização das bolsas de valores.

A extensão desta permissividade financeira é indicada pelo fato de que os bancos centrais compraram virtualmente todos os títulos emitidos pelos governos das dez maiores economias do mundo nos últimos dois anos – um fator chave na manutenção das taxas de juro perto do zero, em termos reais.

Estas políticas representam uma continuação e um aprofundamento do processo começado trinta anos atrás em resposta à crise da bolsa de valores dos EUA de outubro de 1987, quando o presidente do Fed, Alan Greenspan, garantiu a sustentação financeira dos preços dos ativos.

A resposta a toda e qualquer tempestade financeira durante os anos 1990 e o início dos anos 2000 foi sempre a mesma: a provisão de cada vez mais dinheiro para financiar a próxima rodada de especulação, culminando com a salvação dos bancos após 2008 e as políticas de “quantitative easing” da última década.

Tais medidas foram implantadas em sintonia com os cortes com gastos em benefícios sociais, assim como com saúde e educação. Nos EUA, assim como em todas as outras grandes economias capitalistas, as políticas governamentais – não importando a coloração política do regime porventura no poder – são baseadas em medidas de austeridade destinadas a transferir a riqueza gerada pelo trabalho da classe trabalhadora na direção do topo da pirâmide de distribuição de renda.

Logo após a concessão de uma bonança inestimável às corporações e aos ultra-ricos sob a forma do maior corte de impostos da história, todas as facções do “establishment” político norte-americano estão unidos no desenvolvimento de uma agenda que proponha incursões ainda mais profundas na provisão de serviços sociais.

O verdadeiro caráter do “boom” na bolsa de valores pode ser medido pela comparação com a mesma situação em períodos anteriores.

Nos últimos nove anos de “recuperação” econômica, o Dow Jones subiu 177%, enquanto o PIB real dos EUA subiu apenas 19%.

Durante um período similar, cinqüenta anos atrás, entre 1959 e 1968, o Dow subiu apenas 22%, enquanto a economia real crescia 48%, mais do dobro da taxa atual.

O crescimento massivo do valor das ações ocorreu durante a pior “recuperação” econômica do pós-guerra, caracterizada por níveis historicamente baixos de investimento, produtividade decrescente e salários estagnados.

A natureza parasítica deste “boom” se evidencia pelo fato de que cerca de um quarto do aumento total no valor das ações vem de apenas cinco das maiores companhias norte-americanas em valor de mercado: Apple, Alphabet (proprietário da Google), Amazon, Facebook e Microsoft.

O traço característico destas companhias é o fato de que sua acumulação de valor não deriva de investimentos em fábricas e equipamentos com o emprego de um vasto número de trabalhadores, como acontecia com os gigantes industriais do passado, mas sim através da apropriação de riqueza através da propriedade de direitos intelectuais, uma forma moderna de renda. Esta forma de parasitismo depende, em última instância, da super-exploração de trabalhadores na China e outras regiões em que a mão-de-obra é barata.

A Amazon, em contraste com as demais companhias gigantes de tecnologia, tem uma grande força de trabalho. O aumento expressivo no valor de suas ações reflete sua pressão pela eliminação das redes de distribuição menores através de uma combinação entre o poder monopolístico de mercado e a exploração quase escravagista de sua empobrecida força de trabalho.

Há também outro, não menos decisivo, aspecto do “boom” da bolsa de valores: a supressão da luta de classes e o virtual desaparecimento, nas últimas décadas, de greves mais amplas.

Isto não é o resultado de uma incapacidade orgânica da classe trabalhadora de estar à altura dos desafios que enfrenta. Trata-se, antes, de um produto do papel desempenhado pelas burocracias sindicais e pelos partidos políticos, apoiados pelas várias tendências da pseudo-esquerda que os dominaram por décadas.

O papel crucial destas organizações na facilitação da bonança financeira não é o resultado de “erros” ou de análises incorretas, mas deriva dos seus interesses materiais e privilégios, que estão enraizados na manutenção do sistema de lucro privado.

Com o começo do ano novo, no entanto, há sinais de que a classe trabalhadora está mais uma vez preparando-se para entrar em uma luta renhida, como o demonstram as manifestações de massa no Irã, a última greve geral dos trabalhadores da indústria automobilística na Romênia, e a crescente militância dos trabalhadores na Europa e no Oriente Médio.

O sistema de lucros privados capitalista constitui apenas um instrumento altamente coordenado para a transferência da riqueza da sociedade para seus escalões superiores e asseclas. Não pode ser mudado através de uma perspectiva reformista, mas apenas através de sua derrubada e da reconstrução da sociedade de cima a baixo, com base em um programa socialista.

Ou seja, como o coloca Marx, não há outro caminho adiante a não ser a “expropriação dos expropriadores”, pondo um fim à propriedade privada dos meios de produção e estabelecendo uma ordem sócio-econômica que vá ao encontro das necessidades humanas. A necessidade de empreender o rearmamento político da classe trabalhadora na luta por esta perspectiva é a conclusão que deve ser tirada do frenesi na bolsa de valores e do crescimento da pobreza e da miséria social que o acompanha.