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Israel comemora seus 70 anos em meio a crimes de guerra e crescente desigualdade social

Bill Van Auken
4 de outubro de 2018

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Publicado originalmente em 14 de Maio de 2018

Israel comemora hoje os 70 anos da declaração que criou um Estado judeu na Palestina, que coincidiu com o fim do mandato britânico estabelecido após a derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial.

Este ano, o aniversário será marcado por tropas israelenses atirando contra manifestantes palestinos na fronteira com a Faixa de Gaza e as ameaças de guerra contra o Irã.

O aniversário será ofuscado pela abertura formal de uma nova embaixada dos EUA em Jerusalém, uma violação da lei internacional ordenada pelo governo Trump, que colocou o último prego no caixão do assim chamado “processo de paz” entre Israel e os palestinos e a ilusão de uma “solução de dois Estados”.

Também será a ocasião para um novo derramamento de sangue na fronteira altamente militarizada com a Faixa de Gaza, onde há mais de seis semanas milhares de palestinos tem realizado manifestações no que foi considerado como a “Grande Marcha de Retorno”. Nesse período, foram mortos cerca de 50 manifestantes e milhares foram feridos, tendo as Forças de Defesa de Israel recebido ordens para atirar para matar manifestantes desarmados. Hoje, as forças israelenses mataram 37 manifestantes e feriram mais de 500 em mais um dia de manifestação.

Os protestos estão ligados às origens do Estado de Israel e suas consequências históricas. Os manifestantes estão exigindo o direito de retornar às casas e aldeias de onde foram expulsos 70 anos atrás, no que os palestinos chamam de Naqba, ou catástrofe. Cerca de 250 mil palestinos foram expulsos de suas terras por meio de uma campanha sistemática de terrorismo e intimidação, uma gigantesca “limpeza étnica” com o objetivo de criar um Estado judeu baseado nesse grupo étnico e em sua religião.

As ações de Washington, tanto a transferência de sua embaixada para Jerusalém quanto a retirada dos EUA do acordo nuclear entre as principais potências mundiais e o Irã, foram comemoradas pelo governo israelense de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Essas ações deram a Netanyahu luz verde tanto para redobrar a repressão violenta contra o povo palestino quanto para realizar ataques militares na Síria com o objetivo de provocar um confronto com o Irã que poderia se transformar em uma guerra catastrófica em toda a região.

Os governantes de Israel estão deliberadamente estimulando uma guerra como um meio de direcionar para fora do país as imensas tensões sociais que se acumulam na sociedade israelense e desviar a atenção da série de escândalos de corrupção que atingiram todo o establishment político, dos políticos de mais baixo escalão até o próprio Netanyahu.

Dados os eventos que acontecem hoje – a comemoração criminosa dos oficiais da embaixada dos EUA e de Israel e a nova carnificina na fronteira entre Gaza e Israel –, haverá pouca atenção às grandes questões históricas mundiais ligadas às origens e ao desenvolvimento do Estado de Israel, que estão intrinsicamente ligados ao destino da classe trabalhadora no século XX e à crise histórica da liderança revolucionária.

Foi em relação a essas questões históricas essenciais que o World Socialist Web Site se voltou em 1998, quando se completaram os 50 anos da criação do estado de Israel.

“Na criação e na evolução de Israel estão concentradas as grandes contradições não resolvidas do século XX. Suas origens essenciais estão em um dos maiores crimes da história contra a humanidade, o Holocausto nazista. O extermínio de seis milhões de judeus europeus foi, por sua vez, o terrível preço pago pela crise do movimento da classe trabalhadora provocada pela degeneração Stalinista da União Soviética e da Internacional Comunista. Os crimes do Stalinismo e seu domínio sobre o movimento operário impediram a classe trabalhadora de pôr fim ao sistema capitalista, que encontrou no fascismo sua última linha de defesa.

“As derrotas da classe trabalhadora, os crimes do Stalinismo e os horrores do Holocausto criaram as condições históricas para a criação de Israel e a tentativa bem-sucedida do movimento sionista, auxiliada tanto pelo imperialismo norte-americano quanto pelo Stalinismo, de igualar o sionismo ao judaísmo mundial. O movimento sionista e o Estado de Israel foram fundados, em última instância, no desânimo e no desespero. As traições do Stalinismo produziram desilusão na alternativa socialista que tinha exercido uma influência tão poderosa nos trabalhadores judeus em todo o mundo. Os crimes do fascismo alemão foram apresentados como a prova definitiva de que era impossível derrotar o antissemitismo na Europa ou em qualquer outro lugar. A resposta do sionismo foi conseguir um Estado e um exército e derrotar os opressores históricos do povo judeu em seu próprio jogo.

“A ironia trágica dessa suposta solução é a associação de Israel do povo judeu – tradicionalmente e historicamente ligado à luta pela tolerância e liberdade – com a brutal repressão de outra população oprimida.”

Nos 20 anos desde a publicação da declaração de 1998 pelo WSWS, as perversas contradições da sociedade de Israel só se aprofundaram. O número de habitantes nos assentamentos sionistas ilegais nos territórios ocupados por Israel desde a guerra de 1967 – a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã da Síria – aumentou de 160.000 para mais de 600.000.

Apesar de Israel ter retirado suas tropas e os assentamentos da Faixa de Gaza, essa região continua a ser um território ocupado, uma prisão ao ar livre sobre a qual Tel Aviv exerce controle direto das fronteiras, do espaço aéreo e do mar, impondo uma situação de desemprego em massa – que atinge 60% dos jovens palestinos – e pobreza em um lugar cuja renda média é aproximadamente equivalente a do Congo. As Forças de Defesa de Israel lançaram repetidos ataques contra a Faixa de Gaza que mataram milhares de civis, ao mesmo tempo que destruía a já precária infra-estrutura essencial da região. Esta campanha quase genocida continua até hoje com o massacre de manifestantes na fronteira com a Faixa de Gaza.

Os salários reais vêm caindo constantemente desde 2000 na Cisjordânia sob o domínio da Autoridade Palestina, que funcionou como uma força policial auxiliar para a ocupação israelense, enquanto enriquecia uma pequena camada de funcionários e empresários corruptos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Em Israel, que perde apenas para os Estados Unidos como a nação membro da OCDE mais socialmente desigual, onde a taxa de pobreza é de 22% – 55% dos quais são palestinos israelenses e um terço são as crianças do país – as tensões entre as classes sociais estão crescendo.

Trabalhadores portuários israelenses encerraram uma greve de três dias no domingo diante de uma ordem judicial pra voltar ao trabalho

Trabalhadores portuários israelenses encerraram uma greve de três dias no domingo diante de uma ordem judicial pra voltar ao trabalho depois de fechar os portos de Eilat, Haifa e Ashdod. Em Dezembro passado, houve uma greve nacional contra a decisão da gigante empresa farmacêutica de medicamentos genéricos Teva de demitir um quarto de sua força de trabalho, e trabalhadores da cidade de Jerusalém realizaram uma greve em Janeiro impedindo o acesso ao Knesset, o parlamento israelense, com caminhões de lixo mesmo sendo ameaçados de demissões em massa e cortes dos salários.

Setenta anos após a fundação do Estado de Israel, agora está mais claro do que nunca que não há solução nacional para os problemas que enfrentam qualquer setor da classe trabalhadora em Israel e nos territórios palestinos ocupados. Somente a unificação de trabalhadores judeus e árabes em toda a região a partir de um programa socialista e internacionalista pode oferecer uma saída para o sangrento e cada vez mais perigoso impasse de hoje.

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[16 de Maio de 2008]