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O caminho na luta contra o perigo da extrema-direita na Alemanha

Ulrich Rippert e Johannes Stern
6 de novembro de 2018

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Publicado originalmente em 18 de Outubro de 2018

No último fim de semana, cerca de 250 mil pessoas protestaram em Berlim, na Alemanha, contra o militarismo, o racismo e a promoção da extrema-direita realizada pela grande coalização que governa o país. A manifestação, chamada de “#indivisível” por seus organizadores, foi o maior protesto na Alemanha desde aqueles contra a guerra do Iraque em 2003.

Alguns dos cartazes exibidos nos protestos, muitos dos quais feitos em casa, diziam: “Não à caça às bruxas contra os muçulmanos”, “Não há lugar para os nazistas” e “O racismo não é uma alternativa”. Uma faixa ainda declarava: “Solidariedade às vítimas da violência de direita, racista e anti-semita”.

Em conversas com repórteres do World Socialist Web Site, os manifestantes descreveram o serviço secreto da Alemanha como um reduto de extrema-direita e condenaram a aproximação de todos os partidos do establishment político alemão com a Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), o partido de extrema-direita.

A eleição estadual da Baviera realizada no dia seguinte também mostrou o profundo abismo entre a elite política e os sentimentos de esquerda de amplas camadas da população. Depois que a União Democrática Cristã/União Social Cristã (CDU/CSU, nas siglas em alemão) e o Partido Social-Democrata (SPD, na sigla em alemão) tiveram seus piores resultados em 70 anos nas eleições federais do ano passado, a CSU e o SPD praticamente colapsaram na Baviera, perdendo mais de 21 pontos percentuais. O SPD na Baviera, que estava na oposição, perdeu ainda mais votos do que a CSU, que governa o estado. Com apenas 9,5% dos votos, o SPD alcançou seu pior resultado nas eleições estaduais.

O partido de extrema-direita AfD também perdeu uma grande quantidade de votos. Enquanto na eleição federal do ano passado a AfD alcançou 12,4% dos votos na Baviera, nas eleições estaduais de domingo diminui sua votação para 10,2%. Em outras palavras: embora a elite dominante da Alemanha, e seus principais partidos e porta-vozes na mídia, tenham sistematicamente promovido a AfD e legitimado concepções de extrema-direita, o partido de extrema-direita perdeu cerca de 231.000 votos, ou um quarto de seus eleitores.

Tudo isso confirma duas posições centrais tomadas pelo Sozialistische Gleichheitspartei (Partido Socialista pela Igualdade – SGP, na sigla em alemão), a seção alemã do Comitê Internacional da Quarta Internacional.

Em primeiro lugar, a AfD não reflete a disseminação geral de sentimentos de extrema-direita na população, mas antes foi encorajada pela elite dominante com o objetivo de impor suas políticas de austeridade social e guerra diante da crescente oposição popular. “Apesar de todo o distanciamento dos crimes dos nazistas, a democracia alemã é tão frágil quanto no passado”, escreveu o SGP em seu comunicado distribuído na manifestação. “Quando a elite dominante adota um novo curso imperialista e sente a oposição dos de baixo, ela mostra sua preferência pela extrema-direita”.

Em segundo lugar, a luta contra a ameaça da extrema direita requer uma perspectiva socialista. Indignação política e protestos em massa são necessários, mas não são suficientes. Para impedir que a classe dominante volte a levar adiante sua agenda reacionária promovendo forças fascistas, é necessário construir um movimento socialista internacional capaz de combinar a oposição à desigualdade social, à ascensão da extrema-direita e à guerra com a luta contra o capitalismo.

Após os eventos do último final de semana, a questão de uma estratégia socialista para se opor à extrema-direita é colocada com urgência renovada. Toda a elite dirigente está respondendo à oposição generalizada nas urnas e nas ruas com mais uma guinada à direita. A elite dominante está fechando fileiras, suprimindo todas as formas de oposição democrática e intensificando sua conspiração política contra a população.

O ex-líder do SPD, Sigmar Gabriel, pediu ao governo da grande coalizão que contratasse “mais policiais” e não cedesse à pressão das ruas. “Provocar uma nova crise governamental desistindo do fantasma certamente não tornará a Alemanha mais estável”, disse ele ao jornal Bild. A Alemanha é “grande demais para se concentrar apenas em nós mesmos. E o mundo só nos ouvirá se mantivermos a Europa unida ”.

Em sua declaração na quarta-feira, a chanceler Angela Merkel utilizou o mesmo tom reacionário. Ela exigiu uma nova repressão contra os refugiados, exigindo “melhorias conjuntas” na “proteção das fronteiras externas” e “repatriações”. Ela também exigiu aumentar a “segurança interna”. Para as eleições europeias, o governo está planejando “criar diretrizes para os partidos que espalharem desinformação em suas campanhas.”

As consequências disso são claras. Sob o pretexto de combater a “desinformação”, o Google tem censurado agências notícias de esquerda e progressistas, incluindo o World Socialist Web Site, em estreita colaboração com o governo alemão. No último relatório da grande coalizão realizado pela agência de inteligência doméstica, toda a oposição ao capitalismo, ao nacionalismo, ao imperialismo e ao militarismo foi criminalizada como “extremismo de esquerda” e “anticonstitucional”. O SGP foi caracterizado como um partido de “extrema-esquerda” e um “objeto de observação”.

O governo é capaz de agir de forma tão agressiva apenas porque é apoiado pelo aparato estatal e de fato pelos partidos de oposição de “esquerda”. Vinte anos depois que o Partido Verde organizou a primeira intervenção militar da Alemanha na era do pós-guerra diante de uma enorme oposição, esses partidos guinaram muito à direita em questões domésticas e em relação aos refugiados. Onde quer que façam parte de coalizões governamentais, eles fortaleceram as forças de segurança e organizaram deportações brutais de refugiados. Na Baviera, eles estão esperando conseguir formar uma coalização com a CSU, partido do ministro do interior Horst Seehofer, que defendeu explicitamente a recente onda neonazista em Chemnitz.

A líder do grupo parlamentar do Partido A Esquerda, Sahra Wagenknecht, acusou Merkel em sua declaração na quarta-feira de ser “uma fracassada na chancelaria”, e reclamou “que a Alemanha atualmente tem um governo incapaz de funcionar.” Em um evento na semana passada, ela desassociou abertamente seu partido dos protestos em massa em Berlim e descreveu a ideia de “fronteiras abertas” como “irreal e completamente impraticável”. É apenas uma questão de tempo antes de Wagenknecht realizar um acordo com a extrema-direita. Ela é uma “voz corajosa da razão”, disse entusiasmado o líder da AFD, Alexander Gauland, que recentemente escreveu um artigo no Frankfurter Allgemeine Zeitung que foi baseado em grande parte em um discurso de Hitler em 1933.

A mídia está cumprindo um papel central na conspiração política para promover a extrema-direita. Enquanto promove a AfD, dá cobertura generosa a todas as manifestações anti-refugiados e descreve os neonazistas como “cidadãos preocupados”, ela praticamente não noticiou o protesto em massa em Berlim. Comentaristas políticos denunciaram abertamente a manifestação. O Tagesspiegel, com sede em Berlim, acusou de maneira provocativa os organizadores da censura ilegal por proibir bandeiras alemãs e membros da AfD.

Círculos influentes na política, na mídia, nas agências de inteligência e nas forças armadas estão trabalhando nos bastidores para conceder à AfD ainda mais poder em Berlim. A entrada da AfD no parlamento “produziu algumas mudanças positivas”, declarou o presidente do parlamento Wolfgang Schäuble em entrevista ao Bild am Sonntag. “A maioria da grande coalizão” não é “tão clara quanto foi durante o último período legislativo”, e isso torna “os debates mais empolgantes”, acrescentou.

Referindo-se aos discursos fascistas e racistas da AfD no parlamento, Schäuble declarou que tal retórica “dura” “não é tão ruim a ponto de precisarmos nos preocupar com isso.”

Diante dessa situação, o SGP está renovando seu chamado por novas eleições. Um grupo de conspiradores de direita, sem qualquer mandato, não pode ser autorizado a instalar uma ditadura de direita, rearmar a Alemanha e obrigar a população a pagar o preço sangrento por isso. Numa campanha eleitoral, o SGP mobilizaria todas as suas forças e recursos para expor as políticas reacionárias da elite dominante e construiria uma alternativa socialista ao capitalismo, à guerra e ao autoritarismo.

Nós exigimos o seguinte:

  • Pelo fim da conspiração da grande coalizão, do aparato estatal e dos extremistas de direita!
  • A oposição em massa à extrema-direita deve ser mobilizada com base em um programa socialista e internacionalista.
  • Não mais guerra! Pelo fim do retorno da Alemanha a uma política de grande potência militarista!
  • Pela dissolução do serviço secreto e a interrupção imediata da monitoramento do SGP e outras organizações de esquerda!
  • Defender o direito de asilo! Não à militarização do estado e à espionagem!
  • Acabar com a pobreza e a exploração – pela igualdade social! A riqueza da elite financeira, juntamente com os bancos e corporações, deve ser expropriada e colocada sob controle democrático.