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O governo Trump intensifica as ameaças de “destruição total” da Coréia do Norte

Joseph Kishore
10 de março de 2018

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Publicado originalmente em 1º de dezembro de 2017

O governo Trump está intensificando suas ameaças incendiárias contra a Coréia do Norte após o teste, na última terça-feira, de um míssil balístico intercontinental supostamente capaz de atingir a costa leste dos EUA.

Em um encontro de emergência do Conselho de Segurança das nações Unidas, quarta-feira passada, a embaixatriz norte-americana na ONU, Nikki Haley, avisou que “se vier uma guerra, não se iludam, o regime norte-coreano será totalmente destruído”. A “destruição total” do regime só pode querer dizer uma guerra genocida contra uma nação de 25 milhões de pessoas.

Haley apontou suas baterias tanto para a China quanto para a Coréia do Norte, relatando que o presidente Trump chamara o presidente chinês Xi para exigir que a China cortasse todas as exportações de petróleo para o empobrecido país asiático. “A China deve mostrar liderança e acatar. A China pode fazer isso sozinha”, ela disse, “ou nós podemos resolver essa questão do petróleo nós mesmos”. O que precisamente significa esta última ameaça, Haley não explicou.

Está claro que os EUA estão em estágio avançado do planejamento de alguma forma de operação militar contra a Coréia do Norte, a qual, se executada, poderia ter consequências catastróficas mesmo que não degringole em uma escaramuça com armas nucleares.

Em um sinal de que o governo Trump está se movendo na direção do abandono de qualquer pretensão diplomática, o New York Times reportou no último sábado que a Casa Branca planeja substituir o Secretário de Estado, Rex Tillerson, que já havia sido repreendido por Trump devido à “perda de tempo” ao tentar negociar com a Coréia do Norte. Tillerson disse na terça passada, após o teste com o ICBM, que “soluções diplomáticas permanecem viáveis e na pauta, por enquanto”.

O senador republicano Lindsey Graham, crítico ocasional de Trump, se solidarizou com as ameaças de guerra do governo, dizendo à CNN na última quarta que “se tivermos que ir à guerra para acabar com isso, iremos. Estamos no rumo da guerra, se as coisas não mudarem”.

Graham disse que Trump “está pronto, se necessário, a destruir esse regime para proteger a América, e eu espero que o regime entenda que se o presidente Trump tiver que escolher entre destruir o regime norte-coreano e a integridade do solo norte-americano, ele vai destruir o regime. Espero que a China também entenda”. O colunista Nicholas Kristof, do New York Times, sem dúvida ecoando informações provenientes de fontes militares e do estado, escreveu na quinta-feira (sob a manchete “Em direção à nova guerra da Coréia?”): “Uma lição da história: quando um presidente e seus assessores dizem que estão cogitando uma guerra, leve-os a sério”. Kristof relatou que “especialistas em segurança internacional que consultei oferecem estimativas do risco de guerra que variam entre 15% para mais de 50%. Isto deveria ser assustador”.

As ameaças dos EUA de riscar do mapa a Coréia do Norte vêm se intensificando ao longo do ano. As declarações de Haley foram feitas apenas dois meses após o discurso de Trump diante das Nações Unidas, em que ele declarou que os EUA estavam “prontos, dispostos e aptos” a “destruir totalmente” a Coréia do Norte e seus 25 milhões de habitantes.

As ameaças têm uma lógica própria. Tendo já declarado que os EUA tomarão medidas “de precaução” contra a Coréia do Norte se esta desenvolvesse armas capazes de atingir o território continental dos Estados Unidos, o governo sente-se crescentemente compelido a levar a cabo tais ameaças, temendo que qualquer recuo afete severamente a credibilidade de ameaças similares feitas pelo imperialismo norte-americano no futuro.

Uma guerra, uma vez deslanchada, também possui sua própria lógica, ameaçando as vidas de centenas de milhões de pessoas por toda a Ásia e além. As exigências de que a China aja contra a Coréia apontam para o fato de que a principal preocupação da classe dominante norte-americana, na região, é a crescente influência da China. Os EUA vêm sistematicamente incrementando sua capacidade militar no Mar do Sul da China e arredores há anos, especialmente sob a política de “Giro para a Ásia” do governo Obama. Generais proeminentes e institutos de estratégia política (“think tanks”) já avisaram que um conflito direto com a China é apenas questão de tempo.

A China reagiu à primeira Guerra da Coréia (1950-53), na qual os EUA arrasaram a maior parte da infra-estrutura da porção norte da península, com um massivo contra-ataque militar. O atual governo chinês sem dúvida veria um movimento dos EUA para derrubar o regime norte-coreano como uma ameaça à sua existência e aos seus próprios interesses estratégicos.

E como responderá a Rússia a um ataque à Coreia do Norte, com quem faz fronteira a leste? O principal diplomata do país, na quinta, acusou os EUA de pressionarem a Coréia do Norte a uma “ação extrema”, apelando aos EUA e à Coréia do Sul para que cancelem os exercícios militares conjuntos previstos para começar essa semana.

A impiedade criminosa do governo Trump – e da classe dominante norte-americana como um todo – é impressionante. A louca escalada da guerra prossegue sem nenhuma discussão significativa acerca de suas verdadeiras conseqüências - seja por parte da mídia norte-americana, seja por parte do Congresso. A mídia se consome em uma série infinita de alegações de assédio sexual, enquanto o Congresso está concentrado em aprovar massivas isenções fiscais para as grandes corporações e os ricos, levando as bolsas às alturas mais uma vez. Inabalado pelo perigo da guerra, o Dow Jones Industrial Average fechou acima de 24.000 pontos, pela primeira vez na história, na última quinta, com a aristocracia financeira “lambendo os beiços”.

As ameaças de guerra contra a Coréia do Norte entrelaçam-se com uma crise política sem precedentes nos EUA que envolve conflitos ferozes dentro de uma classe dominante que tenta controlar uma nação dilacerada pela tensão social. O governo Trump reage, de um lado, com a escalada das ameaças contra a Coréia do Norte e, do outro, com a intensificação dos esforços para mobilizar a extrema-direita, expressa nos re-tweets de Trump, essa semana, de vídeos anti-muçulmanos feitos pelo movimento fascista Britain First.

Os críticos de Trump, na classe dominante, têm graves discordâncias com o governo acerca da política externa. Na medida em que são expressas, porém, críticas dentro do establishment político acerca da última rodada de ameaças se concentram no seu impacto sobre os interesses do imperialismo norte-americano. Atualmente os democratas estão engajados em uma campanha macartista acerca de alegações de que a Rússia “semeia a divisão” dentro dos EUA – campanha esta usada para justificar um regime de censura à Internet e para preparar um conflito militar com a Rússia, o foco principal destas seções dos militares e dos setores de informação e inteligência que apoiaram Hillary Clinton nas eleições de 2016.

Em última análise, as divisões dentro da classe dominante são de caráter tático. Estão todos unidos em torno da estratégia básica de uso das forças militares dos EUA para manter sua posição global hegemônica.

Um quarto de século de guerras sem fim nos leva a um momento crítico de decisão. O perigo de uma guerra nuclear envolvendo as maiores potências do planeta é real e está presente. A intervenção independente da classe trabalhadora contra a guerra imperialista e o sistema capitalista que a provoca é a tarefa política decisiva.