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Audiência no Senado americano expõe perigo de guerra nuclear

Andre Damon
22 de febrero de 2018

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Publicado originalmente em 16 de Novembro de 2017

A audiência do Comitê de Relações Exteriores do Senado sobre o uso de armas nucleares destacou o perigo do início de uma guerra que poderia matar centenas de milhões ou mesmo bilhões de pessoas.

A audiência foi convocada em meio a uma série de ameaças feitas pela administração Trump de uma guerra contra a Coréia do Norte. Além das ameaças de Trump de se lançar com “fogo e fúria como o mundo jamais viu” contra um país cuja economia é um milésimo da americana, o Conselheiro de Segurança Nacional H. R. McMaster, um general do Exército da ativa, deixou claro que os EUA estão preparados para uma guerra “preventiva”, isto é, sem terem sido provocados.

Para apoiar essa ameaça, a administração Trump enviou uma vasta frota de navios para a Península da Coréia, incluindo três porta aviões e submarinos e bombardeiros com capacidade de lançar bombas nucleares. Ao mesmo tempo, Washington está se mobilizando para expandir e modernizar o arsenal nuclear dos EUA.

Na audiência de terça-feira, o senador do estado de Massachusetts, Ed Markey, declarou que planos poderiam estar prontos “agora mesmo na Casa Branca para o presidente lançar uma guerra preventiva contra a Coréia do Norte usando armas nucleares americanas sem consultar ou informar o Congresso.”

O senador Chris Murphy, de Connecticut, disse que o Congresso estava “preocupado com o fato do presidente ser tão instável, tão volátil, com um processo de tomada de decisão tão quixotesco, que ele poderia ordenar um ataque de armas nucleares” por capricho.

Essas declarações são um reconhecimento de que mesmo o menor dos incidentes, desde um teste inesperado de mísseis até um confronto entre a Rússia, China, Coréia de Norte ou Irã e quaisquer das dezenas de milhares de tropas americanas, aviões e navios de guerra operando nas suas fronteiras, além dos comuns acessos de raiva noturnos do presidente, poderiam levar a um ataque nuclear em escala total pelos Estados Unidos.

Comentando sobre a audiência, Bruce Blair, especialista nuclear da Universidade de Princeton, afirmou à revista Newsweek de que “esse sistema dá à uma pessoa o poder divino de trazer o fim do mundo.” O poder de destruir a civilização humana é empunhado unilateralmente por um homem, que por acaso é um enganador de carreira e estrela de um “reality show” conhecido pela sua impulsiva petulância, temperamento curto e capacidade de atenção ainda menor.

Convocada pelo senador Bob Corker para considerar “as condições sob as quais o presidente poderia ordenar o uso de armas nucleares”, a audiência foi oficialmente realizada para discutir “a potencial legislação que requereria aprovação do Congresso para o uso dessas armas.”

O resultado da audiência foi categórico: o poder do presidente de ordenar um holocausto nuclear é total e inquestionável, e ninguém no Congresso está solicitando seriamente por uma mudança dessa situação. O presidente do Comitê, Corker, apesar de todos os seus ataques retóricos contra Trump, incluindo sua comparação da Casa Branca com uma “creche de adultos”, não fez nenhuma proposta para limitar o poder de Trump em lançar uma guerra nuclear preventiva, declarando, “eu não vejo uma solução legislativa hoje.”

O único impedimento possível discutido na audiência contra o poder de Trump de lançar unilateralmente armas nucleares foi um motim dos militares. “Ação pode ser tomada”, disse o General Robert Kehlet, que testemunhou diante do Comitê. Entretanto, ela colocaria uma “situação constitucional muito interessante”. A ação, em outras palavras, seria um golpe militar.

Essa situação, em que a possibilidade dos militares tomarem o poder é discutida em uma reunião do Congresso como o único meio de impedir um holocausto nuclear, é a expressão de uma sociedade profundamente doente.

A fonte da crise não está na personalidade de Donald Trump. Pelo contrário, Trump incorpora a criminalidade e corrupção da oligarquia financeira da qual ele faz parte.

Se Trump fosse retirado do governo, quem o substituiria? Seu vice-presidente, Mike Pence, é um notório defensor da guerra. Se Trump fosse derrubado pelos Democratas, o resultado seria uma escalada dos EUA contra a Rússia, o país com o segundo maior arsenal nuclear do mundo. Se fossem os militares, o arsenal nuclear estaria nas mãos de assassinos profissionais, que cometeram incontáveis crimes de guerra na Sérvia, Oriente Médio, África do Norte e Ásia Central.

O papel incendiário dos Estados Unidos no palco mundial é a expressão externa de suas relações sociais internas. Os EUA são um país dominado por tensões sociais colossais, no qual três pessoas – Bil Gates, Jeff Bezos e Warren Buffett – controlam tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população. Assim como muitos dos seus predecessores, essa classe dominante decadente e mergulhada em crise está buscando direcionar as tensões sociais para o exterior através da guerra.

O Congresso, que autorizou consecutivas guerras ilegais e criminosas por décadas, abandonou há muito tempo sua responsabilidade exigida pela Constituição de fiscalizar os poderes de realizar guerras do presidente.

As ameaças de Washington contra o mundo são o resultado do colapso da ordem geopolítica pós-Segunda Guerra Mundial liderada pelos EUA, no centro do qual está o declínio do poder econômico dos EUA e a ascensão de competidores estratégicos na Ásia e na Europa. A viagem de 12 dias de Trump pelo Pacífico foi um exemplo disso: com uma estrondosa retórica protecionista, Trump visitou vários países exigindo acordos comerciais mais favoráveis e voltou de mãos vazias.

Mergulhado em uma crise geopolítica e doméstica, os Estados Unidos tem um último recurso: a ameaça de destruir qualquer opositor com armas nucleares. Partindo do único país que utilizou armas nucleares em uma guerra, seria o cúmulo da tolice pensar que isso é apenas um blefe. Se os Estados Unidos, no auge do seu poder global, destruíram duas cidades japonesas indefesas com armas nucleares para enviar uma mensagem para a União Soviética, quanto maior é a ameaça agora, quando a dominação global dos EUA está erodindo visivelmente?

O perigo iminente de uma nova guerra mundial, desta vez travada com armas nucleares, levanta a necessidade urgente da classe trabalhadora intervir independentemente e construir um movimento anti-guerra internacional de massas baseado na perspectiva socialista de acabar de vez com a causa fundamental da guerra: o sistema capitalista.