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Qual caminho devem seguir os “coletes amarelos” na França?

Por Alex Lantier
19 de dezembro de 2018

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Publicado originalmente em 10 de Dezembro de 2018

Depois de quatro sábados de protestos dos “coletes amarelos” contra o presidente francês Emmanuel Macron, está claramente surgindo um movimento de massa entre os trabalhadores contra o sistema capitalista. A suspensão de Macron do aumento do imposto sobre combustível que inicialmente desencadeou os protestos não resolveu nada. Demandas exigindo igualdade social, grandes aumentos salariais, a renúncia de Macron, a eliminação dos privilégios dos super-ricos, o fim do militarismo e um chamado para a realização de greves gerais e a necessidade de uma revolução estão cada vez mais assumindo um papel de destaque entre os “coletes amarelos”.

As alegações de que a dissolução da burocracia stalinista da União Soviética em 1991 marcou o fim da luta de classes, o triunfo final da democracia capitalista ou o fim da história foram quebradas em pedaços. À medida que os protestos dos “coletes amarelos” se espalharam da França para a Bélgica, Holanda, Bulgária e até o Iraque – onde trabalhadores em Basra vestiram coletes amarelos para protestar contra o regime neocolonial da OTAN – a classe trabalhadora internacional está emergindo na luta contra as imposições dos bancos.

A enorme repressão de sábado foi uma dura lição sobre o caráter da democracia burguesa: diante de qualquer sinal de genuína oposição popular, as armas são sacadas. Depois que a tropa de choque, apoiada por veículos blindados militares e canhões de água, encurralou e reprimiu manifestantes pacíficos no início da manhã, violentos confrontos surgiram em todas as maiores cidades da França. Um recorde de 1.385 pessoas foram presas.

Os protestos dos “coletes amarelos” estão agora em um momento crítico. O movimento provocou um confronto não apenas contra o presidente dos ricos, como Macron é conhecido entre os manifestantes, mas contra todo o regime político dos ricos. A maioria das principais figuras entre os “coletes amarelos” continua a recusar ofertas para iniciar negociações com o establishment político, que quer impor as concessões simbólicas de Macron, fazer as burocracias sindicais mediarem as negociações ou propor uma aliança com o partido da pseudo-esquerda França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon. Por outro lado, os manifestantes continuam extremamente populares.

O perigo, porém, é que sem uma perspectiva política clara e uma orientação para uma luta mais ampla contra Macron, o movimento pode ser desperdiçado em protestos infrutíferas ou subordinados às manobras da elite dominante.

A questão da liderança política é central. É significativo que alguns grupos de “coletes amarelos”, como o da comuna de Commercy, estejam chamando a construção de comitês populares para decidir e coordenar as atividades do movimento. O que está se desenvolvendo, em uma forma altamente embrionária, é a dualidade do poder. Contra o governo dos banqueiros, protegido por suas hordas de policiais, o espectro de instituições separadas e opostas, representando e organizando os trabalhadores em luta, está começando a surgir.

Esses acontecimentos ressaltam o significado contemporâneo do chamado de Leon Trotsky, realizado um pouco antes da greve geral francesa de 1936, para formar comitês de ação. Esses órgãos podem unificar greves e protestos de diferentes setores de trabalhadores e jovens, impedi-los de serem isolados e traídos pelas burocracias sindicais e fornecer um ponto de convergência para a vasta oposição entre as massas mais amplas de trabalhadores. Isso fornece uma base para mobilizar a profunda oposição da classe trabalhadora francesa ao esforço de Macron e da União Europeia para impor suas medidas de austeridade.

Trotsky enfatizou que, para os trabalhadores, tais comitês eram o “único meio de romper a oposição antirrevolucionária dos aparatos sindical e partidário”. Isso continua válido e assume uma tal importância hoje, uma vez que os trabalhadores se deparam com a mesma cruel hostilidade dos sindicatos e partidos políticos aliados da classe média abastada. Essas forças estão desesperadas para preservar seus privilégios, bloqueando uma luta independente da classe trabalhadora contra Macron e seu governo dos ricos.

Nenhuma tendência política na França, fora o Parti de l’egalite socialiste (PES - Partido Socialista pela Igualdade), respondeu de maneira progressiva ao movimento dos “colete amarelo”, que objetivamente desafia o sistema capitalista. Daniel Cohn-Bendit, o líder estudantil de classe média em Maio de 1968, descaradamente difamou o movimento dos “coletes amarelos” chamando-o de fascista, dizendo ao jornal alemão taz que “a grande maioria [deles] vem da Frente Nacional, do reservatório da extrema direita.”

O líder sindicalista da stalinista Confederação Geral do Trabalho (CGT), Philippe Martinez, insinuou a mesma coisa, dizendo de maneira ameaçadora que os “coletes amarelos” são “pessoas com as quais não podemos ser vistos”. Agora, depois de cancelar uma greve dos caminhoneiros, a CGT esta convocando uma greve simbólica de ferroviários de um dia em 14 de Dezembro.

O Novo Partido Anticapitalista (NPA) de classe média pretende usar essa manobra cínica para levar os “coletes amarelos” sob o controle dos sindicatos. Ele fez uma chamado para que os “coletes amarelos” pedissem a Martinez que os deixassem participar de um greve geral controlada pela CGT: “Sindicatos combativos e ‘coletes amarelos’ deveriam pedir ou até mesmo impor essa perspectiva às lideranças sindicais nacionais, começando com uma greve geral real no protesto dos ‘coletes amarelos’ de 14 de Dezembro.”

Sob tais manobras, a classe dominante espera subordinar os manifestantes aos sindicatos e à máquina do Estado. “Todo o sistema político está abalado”, escreveu o Journal du dimanche, mas a repressão policial de sábado “deu ao governo um espaço de manobra, um novo fôlego.” O jornal saudou o fato de o primeiro-ministro Edouard Philippe concluir seu breve discurso na noite de sábado dizendo: “E, agora, ao diálogo!”

Os “coletes amarelos” possuem razões de sobra para desconfiar de todos aqueles que querem fazê-los negociar infrutíferos e reacionários acordos com Macron. Não há nada a negociar com Macron, o implacável representante dos bancos. Implorar aos políticos capitalistas da Assembleia Nacional para que eles realizem a vontade do povo trará apenas decepção aos manifestantes.

A tarefa crítica é levar adiante uma luta política contra o governo Macron e o poder dos bancos. Nesta era do capitalismo globalizado, das finanças internacionais e das cadeias de produção e distribuição de mercadorias, isso significa levar adiante uma luta internacional com base em um genuíno programa socialista: expropriar as fortunas obscenas da aristocracia financeira e colocar os recursos da economia mundial sob o controle democrático dos trabalhadores.

Este programa decorre das tarefas objetivas colocadas pelo ressurgimento da luta de classes: em toda a Europa, a crescente revolta social e a disseminação da atividade grevista em todos os países tendem à erupção de uma greve geral.

A tarefa de organizar uma greve geral contra a União Europeia, Macron e governos semelhantes em toda a Europa não pode ser deixada para os sindicatos, que são hostis ao movimento e não conseguirão cumprir essa tarefa. O caminho a seguir é a formação de comitês de ação que possam preparar e lançar as bases da classe trabalhadora para uma verdadeira greve geral, na França e em toda a Europa, realizada em oposição às manobras dos sindicatos e dos partidos da pseudo-esquerda.

O papel do Parti de l’egalite socialiste e das outras seções europeias do Comitê Internacional da Quarta Internacional neste movimento será defender a transferência do poder político para as organizações independentes criadas pelos trabalhadores. O PES incentiva a discussão mais ampla possível desta perspectiva em fábricas, locais de trabalho, universidades e escolas em toda a França e Europa.