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Trabalhadores automotivos brasileiros denunciam silêncio do sindicato sobre o fechamento de fábricas da GM

Por nossos repórteres
19 de dezembro de 2018

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Publicado originalmente em 11 de Dezembro de 2018

Na sexta-feira, 7 de Dezembro, uma equipe de reportagem foi para a fábrica automotiva mais antiga em operação no Brasil, inaugurada pela General Motors em São Caetano do Sul em 1930. Empregando atualmente 9.300 trabalhadores, a fábrica está localizada na maior região industrial da América do Sul, o ABC, que envolve as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, além de quatro outras cidades menores.


Entrada histórica da fábrica da GM de São Caetano do Sul

A equipe de reportagem distribuiu a declaração “Um chamado para lutar contra o fechamento de fábricas da GM e as demissões em massa”, traduzido para o português, e falou com os trabalhadores sobre a reestruturação global planejada pela GM. Além das fábricas nos EUA e Canadá, existe a possibilidade da GM fechar a segunda maior fábrica no Brasil, na cidade de São José dos Campos, a 150 km ao norte de São Caetano. A fábrica da GM em São José emprega aproximadamente 4.000 trabalhadores atualmente, um terço dos 12.000 trabalhadores que teve no início da década.

O Brasil está passando pela pior crise econômica da história do país, com uma queda de 8% do PIB entre 2015 e 2016, seguida pela recuperação mais lenta da história. A produção industrial caiu ainda mais do que o PIB, 20% no auge da crise, e ainda está 15% abaixo de seu maior nível na história, em 2011.

Os repórteres do WSWS discutiram com trabalhadores brasileiros da GM a contradição entre a interconexão global da cadeia produtiva mundial da indústria automotiva - e aquela da moderna economia capitalista como um todo - e o nacionalismo promovido pelos sindicatos no Brasil, assim como nos Estados Unidos e em todo o mundo. Isso, por sua vez, serve apenas para as empresas capitalistas ameaçarem fechar fábricas e transferir a produção para outros países com o objetivo de retirar ainda mais direitos dos trabalhadores.

Essa estratégia de dividir para conquistar coloca não apenas trabalhadores de um país contra os de outro, mas promove também a competição entre governos estaduais e municipais brasileiros, que se movimentam periodicamente para satisfazer as exigências das empresas automotivas em ter seus impostos reduzidos e menores regulações ambientais para atrair ou manter a produção diante de ameaças de se transferir para outras regiões do país.

Para trabalhadores brasileiros da GM, a experiência recente mais significativa com os fechamentos foi a competição realizada entre três dos principais estados industriais do Brasil - São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - para oferecer os maiores benefícios para a GM. Os sindicatos locais nas quatro cidades afetadas – Gravataí (RS), Joinville (SC), São Caetano do Sul (SP) e São José dos Campos (SP) - não apenas se vangloriaram da sua capacidade em tirar direitos dos trabalhadores, mas mentiram sobre o “radicalismo” dos outros sindicatos. Eles disseram aos seus membros respectivos de que era a não retirada suficiente de direitos a responsável por possíveis fechamentos, e apenas cortes salariais manteriam os empregos em cada cidade.

Na planta mais ameaçada, em São José dos Campos, o sindicato local impôs um corte salarial 50%, a introdução de turnos aos domingos e 500 demissões em troca da promessa da GM de trazer novos investimentos e que os demitidos seriam priorizados para recontratação.

O acordo foi assinado em 2013, conforme a produção industrial estava caindo vertiginosamente e milhões de brasileiros preenchiam as ruas em protestos contra o crescente custo de vida. A reação dos sindicatos foi de omitir notícias sobre o que os trabalhadores estavam enfrentando em toda a indústria automotiva e acusar os manifestantes de serem meros direitistas buscando derrubar o governo do PT.

O sindicato de São José dos Campos então ameaçou covardemente processar a GM, reclamando que não havia razão para a GM transferir a produção, uma vez que as exigências da empresa estavam sendo acatadas pelo sindicato. Ao mesmo tempo, em Fevereiro de 2017, em São Caetano, o sindicato local também ameaçou os trabalhadores com o fechamento da fábrica, mentindo para os trabalhadores e tomando o lado da administração da empresa.

Em 22 de Fevereiro de 2017, o jornal regional do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano citou o presidente, conhecido como Cidão, dizendo aos trabalhadores: “O capital é apátrida e a direção da GM poderá inclusive fechar a unidade que possui idade avançada e apresenta hoje uma certa defasagem tecnológica”. A reportagem acrescentou que “O exemplo cabal dessa afirmação é a unidade da GM em São José dos Campos ... que já contou com cerca de 12 mil trabalhadores e produzia vários modelos de veículos e emprega hoje menos de 4 mil pessoas”. Em Março, trabalhadores de São Caetano do Sul votaram por um contrato congelando os salários nos níveis de 2014, apesar da inflação do período de crise, cortando os salários de trabalhadores do turno noturno, liberando a empresa para demitir e acabando com a garantia de estabilidade no emprego para novos contratados feridos trabalhando.

Rogério, um trabalhador da GM de São José dos Campos, falou com o WSWS sobre o esforço proposital do sindicato em isolar os trabalhadores de diferentes fábricas, e ainda mais dos trabalhadores em outros países. Tendo descoberto a reestruturação global da GM através de grupos de Whatsapp, ele disse: “O sindicato fala que a GM está investindo aqui”, completando desconfiado: “Será então que essa notícia não é fictícia, e que ela está fazendo isso pra reduzir custos e continuar com a empresa lá?”. Esse fato, por sua vez, foi admitido pela revista automotiva americana Automotive News, que em 29 de Novembro, logo após o anúncio do fechamento de fábricas pela GM, publicou um artigo com o título “GM envia mensagem direta para o UAW [Sindicato dos Trabalhadores Automotivos dos EUA] com o potencial fechamento de fábricas”. Rogério perguntou ainda: “Será que isso não está acontecendo lá em termos dos chefes da GM com o presidente [americano Donald Trump]?”.

Rogério também concordou com os paralelos trazidos pela equipe do WSWS entre o resgate financeiro da GM realizado pelo governo Barack Obama em 2009 e os cortes de impostos oferecidos pela presidente Dilma Rousseff do PT a partir de 2013, que tiveram ambos ligados com a destruição de salários dos trabalhadores automotivos.

Denis, um trabalhador da manutenção terceirizado, repudiou o comportamento do sindicato em relação ao anúncio do fechamento de fábricas nos EUA e Canadá. Ele disse: “Entre os trabalhadores houve conversas sobre esses fechamentos, mas o sindicato não disse nada”. Quando perguntado sobre a razão para essa tentativa de manter os trabalhadores no escuro, ele respondeu: “É aí que o dinheiro fala”, acrescentando depois que o argumento do sindicato de que o aumento da competitividade garantiria empregos é “apenas uma tentativa de nos enganar”. Perguntado sobre os trabalhadores se unirem em uma luta internacional para lutar contra o fechamento de fábricas e as demissões, ele respondeu decididamente: “É claro que eu participaria!”.

Felipe, outro trabalhador terceirizado, também se opôs à linha nacionalista dos sindicatos, que querem impor ainda maiores retiradas de direitos. “É isso o que ouvimos o tempo todo, sobre as companhias transferirem a produção para a China”, ele disse.

Os trabalhadores também se surpreenderam com as condições sociais nos Estados Unidos, e criticaram fortemente os sindicatos por mantê-los no escuro sobre os problemas enfrentados pelos trabalhadores em outros países. Conforme os repórteres contaram para eles sobre a crise da água em Flint, no estado de Michigan, e os empregos de baixos salários que predominam em ex-cidades industriais que forçam alguns trabalhadores a viverem em seus carros, muitos disseram que “Eles [os sindicatos] não querem que saibamos” sobre o impacto de décadas de desindustrialização e retirada de direitos.

Conforme os últimos trabalhadores deixaram a fábrica, a equipe de reportagem do WSWS foi abordada por um grupo de trabalhadores que havia sido enviado à GM para instalar nova automação na fábrica. Segundo um deles, a instalação de nova automação gerará mais demissões: “A verdade é que o nosso trabalho aqui hoje foi de tirar os empregos de outras pessoas”. Outro deles, Marcos, também denunciou os sindicatos: para ele, os trabalhadores tinham “perdido uma oportunidade de lutar” com a greve dos caminhoneiros que fez o país parar em Maio, contra o isolamento promovido pelos sindicatos e toda a força política brasileira, da direita a pseudo-esquerda.