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O capitalismo e a catástrofe das enchentes em Houston

Tom Hall
29 de setembro de 2017

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Publicado originalmente em 28 de Agosto de 2017

Quase doze anos após o furacão Katrina devastar a cidade de Nova Orleans, o furacão Harvey está causando enormes estragos ao longo da Costa do Golfo do Texas. Harvey causou inundações generalizadas em Houston, a quarta maior cidade do país, com 2,3 milhões de pessoas e uma área metropolitana de quase 6,5 milhões.

Mais uma vez, uma grande tempestade revelou a brutal realidade da sociedade americana, expondo a pobreza generalizada, níveis de desigualdade social impressionantes e a negligência oficial e a corrupção descontroladas. Cenas estão sendo mostradas de famílias inteiras atravessando a água no nível da cintura cheia de óleo, esgoto e produtos químicos; jovens e idosos subindo nos telhados na esperança desesperada de serem resgatados da água que subia rapidamente; partes inteiras da cidade sem abrigo, comida e água limpa. A situação piorará à medida que a tempestade continuar causando chuvas recordes na cidade e seus arredores.

No país mais rico do mundo, onde trilhões de dólares foram disponibilizados aos bancos após o colapso financeiro de 2008, a destruição generalizada e a perda de vidas tornaram-se uma característica comum dos tornados, inundações, furacões e outros eventos climáticos severos cada vez mais frequentes. Isso é devido sobretudo à deterioração do sistema de infraestrutura e a uma aguda crise social que deixou milhões sem os meios para se preparar para um desastre natural.

As vítimas, como sempre, pertencem esmagadoramente à classe trabalhadora. Mais uma vez, cenas de sofrimento humano em meio à incapacidade de responder aos efeitos do furacão estão destruindo as pretensões dos Estados Unidos de serem um terra de prosperidade e progresso.

Como em todas as crises como esta, a resposta espontânea das pessoas comuns é de enorme solidariedade. As vítimas da tempestade estão correndo para ajudar seus vizinhos e milhares de pessoas estão se deslocando para a área afetada para ajudar a salvar vidas e fornecer comida, abrigo e cuidados médicos. Isso contrasta com a resposta das autoridades, que não fizeram nada para evitar o impacto de uma grande inundação ou se preparar para lidar com suas consequências.

Isso está acontecendo mesmo depois de Houston e o sudeste do Texas terem assistido um desastre causado por inundações após o outro. A própria existência de Houston como uma grande cidade portuária é devida ao furacão em 1900, que destruiu a cidade vizinha de Galveston. Desde o início deste século, Houston foi atingida pela tempestade tropical Allison em 2001, o furacão Rita em 2005 e o furacão Ike em 2008. Nos últimos três anos, a inundação causada pelo Harvey é a terceira do tipo. Ao longo dos últimos quarenta anos, Houston teve mais inundações do que qualquer outra grande cidade nos Estados Unidos. As inundações são a principal causa de mortes por eventos naturais em Houston, conhecida como a “cidade pantanosa”.

Centro da indústria do petróleo e lar da família Bush, Houston e o estado do Texas são considerados modelos do capitalismo de livre mercado sem restrições. Houston e outras grandes cidades do Texas viram um crescimento substancial à medida que grandes corporações se mudaram para tirar proveito dos baixos impostos, regulações mínimas e força de trabalho barata, que inclui milhões de imigrantes ilegais.

Durante décadas, Houston permitiu que construtores e especuladores imobiliários realizassem uma expansão descontrolada da cidade, pavimentando as zonas úmidas e as terras das pradarias, que absorvem água, aumentando o risco de inundações. Políticos nacionais, estaduais e locais ignoraram as repetidas advertências de cientistas e especialistas que diziam esperar por outro desastre.

A infraestrutura de proteção contra furacões foi totalmente negligenciada. Após o furacão Ike, especialistas propuseram a construção de muros de contenção ao longo da costa e a construção de uma comporta em torno do Canal de Navios de Houston. Este projeto ainda não foi realizado. Seu custo é estimado entre US$ 6 bilhões e US $ 8 bilhões, uma pequena fração da receita da indústria de petróleo dos EUA em um único ano.

Se o furacão e as inundações são fenômenos da natureza, a escala de seu impacto foi ampliada por fatores humanos. Na verdade, mesmo os eventos climáticos são profundamente afetados por condições econômicas e sociais. Não há dúvida de que o aquecimento global, resultado da natureza anárquica, irracional e orientada pelo lucro do capitalismo, é responsável pelas cada vez mais frequentes e severas tempestades e inundações nos EUA e em todo o mundo.

Para a classe dominante americana, os principais bens a serem protegidos são as refinarias de petróleo na região de Houston, e não os residentes da classe trabalhadora da cidade. Rex Tillerson, Secretário de Estado e multimilionário ex-presidente da ExxonMobil, em uma entrevista ao programa “Fox News Sunday”, disse para a elite financeira que seus investimentos estão seguros, declarando que o setor de petróleo e gás estava “provavelmente entre os mais preparados para esse tipo de eventos.”

O Wall Street Journal publicou um artigo no domingo, à medida que as enchentes aumentavam em Houston, com a manchete “É improvável que o furacão Harvey danifique os balanços financeiros das seguradoras.”

Houston exemplifica os colossais níveis de desigualdade social nos EUA. Treze dos mais de 1.600 bilionários do mundo vivem na cidade, que tem uma taxa de pobreza oficial de 25% e uma taxa de pobreza infantil de 38%. Um estudo recente do Pew Research Center descobriu que Houston é a cidade mais segregada economicamente nos Estados Unidos, com os ricos geograficamente isolados dos pobres.

Muitos que ficaram presos pela inundação do furacão Harvey disseram aos repórteres que simplesmente não tinham dinheiro para deixar a cidade.

Como aconteceu após o furacão Katrina, o derramamento de óleo da BP em 2010 e dezenas de inundações em Houston e em todo o país, nada será feito pelas vítimas. Mais de dez anos após o furacão Katrina, dezenas de milhares de antigos residentes ainda não conseguiram voltar para casa, e bairros inteiros em Nova Orleans continuam totalmente despovoados. Além disso, as inundações em Houston acontecem ao mesmo tempo em que a administração Trump propõe realizar centenas de milhões de dólares em cortes no orçamento da Agência de Gestão de Emergência de 2018, incluindo cortes acentuados nos projetos associados ao Programa Federal de Seguro à Inundação.

A demonstração espontânea de solidariedade, compaixão e energia por parte dos trabalhadores em resposta às inundações em Houston mostra em forma embrionária o imenso potencial para o desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente humana e racional que atenda as necessidades das pessoas. O que impede isso são as relações sociais ultrapassadas do capitalismo, que permitem que uma pequena elite monopolize riqueza e recursos e saqueie a sociedade para acumular fortunas pessoais cada vez maiores.

Diante de tudo isso, é necessária a mobilização da classe trabalhadora para pôr fim ao sistema capitalista e estabelecer o socialismo, baseado na propriedade e controle comuns das forças produtivas e no princípio da igualdade social.