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O colapso do Sindicato dos Trabalhadores Automotivos na fábrica da Nissan no Mississipi

Jerry White
27 de outubro de 2017

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Publicado originalmente em 7 de Agosto 2017

No último desastre para o Sindicato dos Trabalhadores Automotivos (United Auto Workers - UAW), 63% dos trabalhadores da fábrica da Nissan em Canton, Mississippi rejeitaram na sexta-feira, 4, a proposta do UAW para torná-lo representante dos funcionários na negociação com a empresa. Essa é apenas a mais recente de uma série de derrotas parecidas do UAW, que não conseguiu o voto de reconhecimento dos trabalhadores em nenhuma das grandes fábricas de automóveis no sul dos EUA, incluindo a da Volkswagen em Chattanooga, Tennessee, em 2014, e a fábrica da Nissan em Smyrna, Tennessee, em 1998 e de novo em 2001.

Depois de presenciarem o UAW colaborar com as empresas automobilísticas por quase quatro décadas no fechamento das fábricas, na eliminação de empregos e na imposição do reajuste salarial e no oferecimento de benefícios, os trabalhadores tiraram conclusões definitivas. O UAW é desprezado não apenas por trabalhadores fora do sindicato, mas também pela maioria dos trabalhadores que ainda fazem parte dele. Os trabalhadores da Nissan não acharam nenhuma razão para entregar 2,5 horas mensais de seu salários para uma burocracia corrupta e de direita que os parasita e que supostamente os representa.

Incapaz de fazer qualquer apelo à unidade de classe dos trabalhadores, o UAW e seus apoiadores, incluindo Bernie Sanders e vários outros políticos do Partido Democrata, clérigos afro-americanos e celebridades de Hollywood, condenaram o voto da fábrica de Mississippi em termos raciais, alegando que com uma vitória do UAW seria possível garantir “direitos civis” dos trabalhadores majoritariamente afro-americanos da fábrica.

Os trabalhadores não acreditaram nisso, e por boas razões. O UAW não é identificado com nenhuma luta séria na defesa de seus interesses. Fundado em 1935, passou a última metade de sua existência reprimindo greves e esforçando-se para impulsionar os lucros e a competitividade das gigantes corporações automotivas nos EUA. Há muito tempo, estendeu o apoio nacionalista ao capitalismo americano e começou a abraçar a perspectiva corporativa da “parceria” entre os trabalhadores e a administração das empresas. Isso foi resumido no slogan das camisetas entregues pelo UAW aos trabalhadores no Mississippi, que dizia: “Pró-Nissan, Pró-Sindicato.”

O UAW tentou convencer a empresa de que teria um lucro maior utilizando-se de seus serviços do que deixando-os de lado. Antes da votação de 2014 na fábrica da Volkswagen em Chattanooga, o UAW assinou um “acordo de neutralidade” compromete-se a “manter e, sempre que possível, melhorar os custos e outras vantagens competitivas” que a Volkswagen desfrutava sobre seus concorrentes. Isso significou, na prática, um corte salarial para os trabalhadores da VW.

A administração da VW apoiou o UAW, mas mesmo assim o sindicato perdeu a votação. Já a Nissan não encontrou qualquer razão para pagar um intermediário para ajudá-la a explorar a força de trabalho.

Após a votação da Nissan, o presidente do UAW Dennis Williams culpou o governador Republicano Phil Bryant e outros políticos pela derrota, dizendo que eles “realizaram uma campanha perversa contra sua própria força de trabalho, com enormes táticas para amedrontar os trabalhadores, desinformação e intimidação”.

Essa é uma resposta que não faz sentido e serve aos próprios interesses de Williams. O UAW perdeu não por causa da agitação contra o sindicato, mas por causa de seu podre histórico a favor das empresas. É um fato histórico que os socialistas e militantes de esquerda que construíram o UAW e o Congresso de Organizações Industriais (Congress of Industrial Organizations - CIO) na década de 1930 foram forçados a atuar na clandestinidade, enfrentando a constante violência de capangas e espiões das empresas.

O UAW foi erguido através de batalhas gigantescas da classe trabalhadora, incluindo a greve da Auto Lite de Toledo, Michigan e a ocupação da fábrica de Flint, também em Michigan, da General Motors, então a maior empresa do mundo. Os trabalhadores desafiaram a Guarda Nacional, a polícia e os juízes que emitiam mandados à medida que as empresas exigiam. O rápido crescimento do UAW - de 35.000 trabalhadores filiados para 350.000 entre 1937 e 1938 - coincidiu com uma onda de lutas industriais de massa, lideradas principalmente por trabalhadores inspirados pela vitória da classe trabalhadora russa na Revolução de Outubro de 1917.

A degeneração de décadas do UAW e a sua transformação em um instrumento direto da administração empresarial tiveram suas origens na caça às bruxas aos socialistas e seu expurgo dos sindicatos após a Segunda Guerra Mundial. A partir daí, o UAW e os outros sindicatos industriais recentemente formados consolidaram-se como organizações pró-capitalistas e pró-imperialistas, aliadas ao Partido Democrata e contrárias à organização política independente da classe trabalhadora.

O presidente da UAW Walter Reuther expulsou mais de 100 membros da equipe do sindicato em 1947 e forçou outros a assinarem juramentos de fidelidade anticomunista, levando um adversário a dizer mais tarde: "Não se deveria ter chamado de McCarthyismo, mas de Reutherismo”.

A dominação americana da economia mundial e sua política de relativa conciliação de classes chegaram ao fim no final da década de 1970. A classe dominante americana, enfrentando uma competição crescente de seus rivais europeus e asiáticos, mudou para uma política de guerra de classes. Isso foi iniciado sob a administração Democrata de Jimmy Carter, que deliberadamente impulsionou o desemprego por meio de altas taxas de juros e supervisionou o primeiro resgate financeiro da Chrysler em 1980, que envolveu uma onda de fechamentos de fábricas e cortes salariais. O presidente Republicano Ronald Reagan expandiu essa política, iniciando uma década de repressão aos sindicatos com a demissão de 11 mil controladores de voo em greve.

O UAW e os outros sindicatos, com uma perspectiva nacionalista e defensores do capitalismo, não apresentaram uma resposta satisfatória à globalização da produção, que fez os capitalistas mudarem a produção para regiões do mundo com mão de obra mais barata. Em nome do aumento da competitividade internacional das gigantes empresas automobilísticas de Detroit, o UAW abandonou qualquer resistência ao ataque das empresas e do governo, adotou o corporativismo como doutrina oficial em 1983 e travou uma campanha nacionalista imunda para culpar os japoneses e outros trabalhadores estrangeiros, não os donos das empresas automobilísticas, pelo assalto aos trabalhadores americanos.

Em troca do UAW ter se tornado um parceiro ativo na imposição das ordens da administração empresarial, os executivos canalizaram bilhões de dólares em programas conjuntos de “treinamento” e outros esquemas de parceria entre trabalhadores e a administração controlados pela burocracia do UAW, que passaram a ter uma nova fonte de renda independente da contribuição cada vez menor de seus membros. Para resolver as proibições legais contra os sindicatos remunerados pelas empresas da década de 1930, o Congresso americano teve que aprovar a Lei de Cooperação Empresa-Trabalhador em 1978.

Um fator significativo na derrota do UAW no Mississippi foi o escândalo de corrupção envolvendo o ex-vice-presidente do UAW, General Holiefield, que, segundo os procuradores federais, recebeu mais de US$ 1,2 milhão em subornos de executivos da Fiat Chrysler entre 2009 e 2014, quando estava renegociando contratos traídos com a empresa. Os pagamentos foram realizados através do Centro Nacional de Treinamento UAW-Chrysler. Não se trata de um único “mau elemento”, como afirmou Williams, o presidente do UAW, na semana passada, mas a essência da relação entre os sindicatos, as empresas e o governo.

As mesmas organizações pequeno-burguesas e da pseudo-esquerda que estavam longe dos sindicatos nas décadas de 1960 e 1970, quando eles ainda gozavam de confiança de dezenas de milhões de trabalhadores, tornaram-se as defensoras mais ávidas dos sindicatos quando foram transformados em uma força policial industrial. Todas essas falsas organizações “de esquerda”, incluindo a Organização Socialista Internacional (International Socialist Organization) e os Socialistas Democráticos da América (Democratic Socialists of America), insistem hoje que os trabalhadores se curvem diante da autoridade dos aparatos sindicais de direita e contrários aos interesses da classe trabalhadora.

A luta contra a ditadura industrial nas fábricas e a pilhagem de salários, benefícios de saúde e pensões não irá e não pode ser levada adiante pelos sindicatos, mas apenas através de uma luta dos trabalhadores para libertarem-se do controle dos mesmos. O Partido da Igualdade Socialista chama os trabalhadores a formarem comitês de fábricas, democraticamente eleitos e controlados pela base ciente dos interesses irreconciliáveis entre a classe trabalhadora e os exploradores capitalistas e seus representantes políticos.

As décadas de traição do UAW mostram a impossibilidade de se construir um movimento de trabalhadores baseado no anticomunismo e no nacionalismo. É necessária uma nova estratégia para orientar as próximas lutas de massa contra a desigualdade, a pobreza e a guerra. Isso significa uma ruptura com os partidos capitalistas Democrata e Republicano e a construção de um movimento político de massa da classe trabalhadora, baseado na luta pela unidade internacional de todos os trabalhadores e pela reorganização socialista da vida econômica para atender às necessidades dos trabalhadores, não o lucro ganancioso dos muito ricos.