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Trump, a Coréia do Norte e o perigo de uma guerra mundial

Peter Symonds
3 de novembro de 2017

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Publicado originalmente em 4 de Setembro de 2017

O teste nuclear norte-coreano de ontem, 3, seu sexto e mais poderoso, expôs mais uma vez o estado extremamente instável e precário da geopolítica global e a grande ameaça de uma guerra mundial nuclear.

O instável regime em Pyongyang concluiu que sua única esperança de autopreservação, diante das ameaças provocativas da administração também instável de Trump, é tentar expandir seu arsenal nuclear o mais rápido possível. O líder da Coréia do Norte, Kim Jong-un, é extremamente consciente do brutal fim de Saddam Hussein, no Iraque, e Muammar Gaddafi, na Líbia, depois que eles abandonaram suas chamadas armas de destruição em massa.

Embora as ações da Coréia do Norte certamente estejam agravando o risco de conflito com os EUA, a principal responsabilidade por empurrar o mundo à beira de uma guerra nuclear repousa sobre o imperialismo americano. Além disso, como as declarações imprudentes e beligerantes de Trump e seus funcionários demonstram, o limitado armamento nuclear da Coréia do Norte e seu caráter nacionalista reacionário não impedirão que os EUA usem seu poder militar, incluindo seu enorme arsenal nuclear, contra o povo norte-coreano.

Após uma reunião entre Trump e seus principais assessores militares e de segurança nacional, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, James “Cachorro Louco” Mattis advertiu a Coréia do Norte que enfrentará “uma enorme resposta militar” diante de qualquer ameaça para os EUA ou seus aliados. “Nós não estamos querendo a aniquilação total de um país, a saber, a Coréia do Norte”, continuou Mattis, “mas, como eu disse, temos muitas opções para respondê-la militarmente.” O presidente Trump “queria ser informado sobre cada uma delas”, ele acrescentou.

O próprio Trump preveniu a Coreia do Norte sobre um ataque nuclear dos EUA quando ele declarou no mês passado que a enfrentará com “fogo e fúria como o mundo nunca viu”. Uma declaração da Casa Branca sobre seu telefonema ontem ao primeiro-ministro japonês Shinzo Abe mostra explicitamente que os EUA estavam prontos para usar “todas as possibilidades diplomáticas, convencionais e nucleares à nossa disposição.”

Perguntado domingo se atacará a Coréia do Norte, Trump se recusou excluir a possibilidade de ataques preventivos militares, simplesmente declarando: “Veremos.”

O presidente dos EUA repetidamente disse que não avisaria antecipadamente sobre um ataque militar, agravando a incerteza e, portanto, os temores em Pyongyang. Além disso, à medida que a crise na península coreana tem aumentado, as divisões na administração Trump resultaram em uma política inconsistente em relação à Coréia do Norte, que varia desde as ameaças de uma guerra total até sugestões de conversações, inflamando ainda mais a já explosiva situação.

Na sequência do teste nuclear de ontem, a Casa Branca, juntamente com a mídia americana, virou seu fogo sobre a China e a Rússia, ressaltando o fato de que o confronto dos EUA com a Coréia do Norte está vinculado a objetivos estratégicos muito mais amplos. Os estrategistas americanos consideram a dominação da vasta massa de terra eurasiana como a chave para a hegemonia global dos EUA, e a China como o principal obstáculo a esse objetivo.

Os apresentadores da NBC Andrea Mitchell e Chuck Todd, no programa “Meet the Press” de ontem, enfatizaram repetidamente a acusação de que a China e a Rússia estavam fornecendo “ajuda econômica” à Coréia do Norte. O senador Republicano Roy Blunt acrescentou: “Há alguma sensação de que eles foram mais úteis do que deveriam ter sido e apoiaram a economia norte-coreana mais do que deveriam.”

No mês passado, tanto a China como a Rússia votaram a favor de prejudiciais sanções da ONU à Coreia do Norte, e começaram a implementá-las, que reduzirão suas exportações em um terço. O que agora está sendo discutido intensamente em Washington é um embargo econômico total - em si mesmo um ato de guerra - e o fim dos negócios com aqueles que continuarem realizando trocas comerciais com a Coreia do Norte – sobretudo a China e a Rússia.

Trump, que já está preparando medidas de guerra comercial contra a China por causa de um suposto “roubo” de propriedade intelectual, tuitou ontem: “Os Estados Unidos estão considerando, junto com outras medidas, parar todo o comércio com qualquer país que esteja realizando negócios com a Coréia do Norte.” O secretário do Tesouro Steve Mnuchin confirmou no programa “Fox News Sunday” que estava preparando “um pacote de sanções para enviar ao presidente, por sua forte consideração” em fazer exatamente isso.

As implicações disso para a economia global são imensas - um colapso do comércio, mergulhando o mundo na depressão econômica, como na década de 1930. Que tal possibilidade esteja sendo ativamente considerada é uma medida das enormes tensões econômicas e geopolíticas que estão arruinando o mundo. Além disso, a ameaça de uma guerra comercial total entre as duas maiores economias do mundo está sendo realizada juntamente com os preparativos para um confronto militar total.

A administração Trump acelerou a provocação diplomática, econômica e militar em relação a China iniciada pelo presidente Obama com seu “giro para a Ásia.” O crescimento da presença militar dos EUA no Nordeste da Ásia, incluindo a instalação de sistemas de mísseis antibalísticos e imensos e altamente provocativos exercícios de guerra entre os EUA e a Coreia do Sul, está sendo realizado mais para se preparar para um guerra nuclear com a China do que contra a pequena e atrasada Coreia do Norte.

Além de acelerar o confronto na península coreana, a administração Trump deu luz verde para mais operações de “liberdade de navegação” em outro dos pontos instáveis da região - o Mar do Sul da China. O Wall Street Journal informou na sexta-feira que o Comando do Pacífico dos EUA está se preparando para enviar navios de guerra e aeronaves militares para as águas e o espaço aéreo de pequenas ilhas reivindicadas pela China, duas ou três vezes nos próximos meses como parte de um cronograma regular.

Na Europa, os EUA estão aumentando o seu confronto com a Rússia dando os primeiros passos para anular o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário de 1987 com a antiga União Soviética. Como advertiu o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, o perigo é “que os EUA construam novos mísseis e os estacionem na Europa”, elevando o espectro aterrorizante de uma guerra nuclear na Europa entre os dois países - os EUA e a Rússia - que possuem milhares de ogivas nucleares.

O fator mais perigoso nessa situação altamente instável é a profunda crise econômica, social e política do imperialismo americano - do qual Trump é a expressão mais perversa. Sua administração enfrenta profundas divisões internas e uma enorme e cada vez maior crise social, que está gerando uma enorme oposição dentro dos EUA diante de sua incompetência e indiferença pelo sofrimento humano causado pelas inundações em Houston. O perigo é que Trump recorrerá a uma guerra contra a Coréia do Norte com consequências incalculáveis como uma maneira de canalizar as agudas tensões de classe nos EUA contra um inimigo exterior.

Ao mesmo tempo, essas tensões sociais, tanto nos EUA como em todo o mundo, estão alimentando as revoltas revolucionárias da classe trabalhadora que estão por vir. A questão crucial nesse momento é a construção de uma liderança revolucionária, que consiga unificar a classe trabalhadora internacional a partir de um programa científico socialista com a perspectiva de acabar com o capitalismo e sua ultrapassada divisão do mundo em estados-nação rivais. É por essa perspectiva política que o Comitê Internacional da Quarta Internacional e suas seções espalhadas pelo mundo lutam.