O encontro da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque está ocorrendo sob a sombra do avanço cada vez mais rápido das grandes potências, com os Estados Unidos à frente, em direção à Terceira Guerra Mundial. A expressão mais tóxica desse avanço foi o discurso fascista de Donald Trump na assembleia na terça-feira, 19, no qual o presidente dos EUA ameaçou “destruir a Coréia do Norte” e atacar o Irã e a Venezuela.
Trump dedicou uma parte significativa de sua tirada à uma crítica do socialismo e do comunismo, refletindo o medo da elite dominante dos EUA com o crescimento da oposição social e do crescimento do sentimento anticapitalista e socialista na classe trabalhadora.
Outro foco importante da assembleia foi a campanha cada vez mais agressiva dos governos dos EUA e da Europa em reprimir a troca de informações e diferentes pontos de vista na Internet. A primeira ministra britânica Theresa May, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro ministro italiano Paolo Gentiloni utilizaram o pretexto de combater o terrorismo e as “fake news” para pedir medidas mais drásticas na censura da Internet pelas maiores empresas de tecnologia, que Gentiloni chamou de um “campo de batalha por corações e mentes.”
Esse ataque ao livre discurso é uma parte central da resposta das elites dominantes capitalistas em crise ao crescimento das tensões geopolíticas globais e da instabilidade econômica e à radicalização política da vasta massa de trabalhadores e jovens.
Nos Estados Unidos, o avanço da censura da internet tem sido liderado pela chamada ala “liberal” do establishment político, concentrado no Partido Democrata, cujo órgão midiático principal é o The New York Times. Na véspera da assembleia da ONU, o Times publicou uma breve declaração claramente a favor da censura da internet através de um artigo de opinião da embaixadora da ONU do governo de Barack Obama, Samantha Power.
Sob a manchete “Porque a propaganda estrangeira é mais perigosa agora”, e sob o pretexto de combater as mentiras e a subversão russa, Power pede pelo uso de “porteiros profissionais” para policiar o discurso público na internet.
Power, uma das principais defensoras do imperialismo em nome dos “direitos humanos”, relembra com nostalgia a Guerra Fria como uma era dourada de disseminação de notícias, quando “a maior parte dos americanos recebia suas notícias e informações via plataformas mediadas.” Ela continua: “Repórteres e editores servindo no papel de porteiros profissionais tinham controle quase total sobre o que era publicado na mídia. Um adversário estrangeiro buscando alcançar a audiência americana não tinha grandes chances de ultrapassar esses árbitros, e a desinformação russa raramente penetrava.”
É importante considerar quem está escrevendo essas palavras. Primeiro como uma importante conselheira política de Obama, depois como representante dos Estados Unidos na ONU, Power foi um dos principais elaboradores da operação desastrosa liderada pelos EUA de desestabilização na Líbia que destruiu a sociedade daquele país. Ela é uma das principais propagandistas da guerra civil na Síria instigada pelos americanos, que causou centenas de milhares de mortes e a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.
Power lamenta o fim dos tempos quando, como acontecia durante a Guerra da Coréia e no início da guerra do Vietnã, o monopólio das maiores emissoras sobre o discurso público podia ser usado para manter as políticas criminosas do imperialismo americano escondidas.
Ela se mostra ressentida e amargurada pelo fato de, apesar dos grandes esforços da mídia controlada pelas corporações em retratar as operações dos EUA no Oriente Médio para o público como esforços antiterroristas e humanitários, organizações como o Wikileaks e jornalistas como Seymour Hersh terem exposto as alianças dos EUA com a Al Qaeda e o Estado Islâmico para alterar os regimes políticos na Líbia e na Síria, derrubando totalmente a narrativa da “Guerra ao Terror” que tem sido utilizada para justificar a política imperialista desde 2001.
Se Power pudesse decidir, a divulgação de Chelsea Manning do assassinato de jornalistas e civis iraquianos pelos militares dos EUA e a exposição por Edward Snowden da rede ilegal de vigilância da Agência de Segurança Nacional seriam rotuladas de “fake news” e bloqueadas pelas empresas gigantes de tecnologia, como Google, Apple e Facebook.
Em seu artigo no Times, ela lamenta o fim do amplo quadro ideológico anticomunista – e profundamente repressivo – do período da Guerra Fria, e escreve: “Durante a Guerra Fria, a luta maior contra o comunismo criava um consenso comum sobre contra quem os EUA se defendiam. Hoje, nossa sociedade parece ser definida por uma forma particularmente maléfica de ‘partidarismo’ afetando tanto os Democratas como os Republicanos.”
Power apresenta a crescimento da internet, e o consequente enfraquecimento do controle sobre o fluxo de informações e opinião pelos meios de comunicação como o Times, sancionadas pelo estado e aliadas das corporações, como um fenômeno completamente perigoso e negativo. Sob condições nas quais a mídia empresarial está cada vez mais desacreditada – “60% acreditam que notícias atuais são 'frequentemente imprecisas', de acordo com o Gallup” –, Power constata, o fato de que “dois terços dos americanos estarem adquirindo pelo menos uma parte das suas notícias através da rede social" é uma questão seriamente preocupante.
A “confiança crescente na nova mídia – e a ausência de árbitros reais”, ela escreve, abriram os EUA à desinformação e à subversão da demoníaca Rússia, com seus poderosos meios de comunicação como o Russia Today e o Sputnik, e seus “’trolladores’, ‘bots’ e milhares de contas falsas no Twitter e no Facebook, que ampliaram histórias danosas sobre Hillary Clinton.”
Aqui se apresenta a fusão de uma campanha histérica, neo-Macartista contra a Rússia, que tem sido utilizada pelas agências de inteligência, pelo Partido Democrata e seus aliados na mídia para criar um clima de guerra e pressionar Trump a tomar uma postura mais agressiva em relação à Moscou, ao ataque crescente sobre o acesso público à sites anti-guerra, progressistas e socialistas.
As demandas de Power pela censura patrocinada pelo estado já foi colocada em prática pelo Google, o gigante da internet. Em nome de combater “fake news” e promover “conteúdo de autoridade” ao invés de “pontos de vista alternativos”, o Google tem implementado mudanças em seu sistema de busca que reduziram o acesso aos principais sites de notícias alternativas e de esquerda em 55%. O alvo principal desse ataque é o WSWS, cujas citações no Google caíram 75%.
Quando se refere a “porteiros”, Power quer dizer conselhos editoriais enormemente corretivos e subservientes de jornais tais como o Times, que esconde lealmente do povo americano o que quer que a CIA e o Departamento de Estado não quer que ele saiba, enquanto distribui mentiras do estado e propaganda sob o disfarce de “notícias”.
Em 2010, o então Editor Executivo do The New York Times, Bill Keller, detalhou a política de tais jornais “mediados” com franqueza incomum quando declarou que “a transparência não é um bem absoluto.” Ele acrescentou que “a liberdade de imprensa inclui a liberdade de não publicar, e essa é uma liberdade que exercitamos com alguma frequência.”
Mais de um quarto de século depois da dissolução da União Soviética, todas as facções da elite dominante americana estão assombradas pela compreensão de que as políticas socialistas estão, como Hillary Clinton colocou em seu livro publicado recentemente, tocando em “correntes emocionais poderosas” da população. O fato de que nas primárias do Partido Democrata, em 2016, 12 milhões de americanos, na maior parte jovens e trabalhadores, votaram por um candidato, Bernie Sanders, que se declarou socialista, chocou e desconcertou a classe dominante.
Incapaz de implementar quaisquer políticas para resolver os problemas sociais dos trabalhadores ou de se afastar da sua agenda exterior de militarismo e guerra, a elite dominante responde ao crescimento da oposição através de métodos policiais. O ataque cada vez maior patrocinado pelo estado e pelas corporações sobre a liberdade de expressão na internet torna ainda mais urgente a campanha do WSWS contra a censura do Google. Nós pedimos que todos os nossos leitores e apoiadores assinem nossa petição exigindo o fim da censura, enviem declarações de apoio para a nossa campanha, e compartilhem artigos do WSWS o mais amplamente possível através do Facebook e outras redes sociais.