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Por que o capitalismo americano foi incapaz de se preparar para o furacão Irma?

Niles Niemuth
3 de novembro de 2017

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Publicado originalmente em 11 de Setembro de 2017

Depois devastar ilhas no Caribe, o Irma chegou no domingo aos Estados Unidos como um furacão da categoria 4, atingindo o arquipélago de Florida Keys com ventos de mais de 200 km/h e inundando as ilhas de baixa altitude com ondas de até 3 metros causadas pela tempestade.

A tempestade de 640 km de largura atingiu todo o estado, chegando à costa ocidental da Flórida e lançando-se sobre a região da cidade de Tampa como um furacão da categoria 2 ao redor da meia-noite. Miami, no sudeste, viu inundações sem precedentes, enquanto a tempestade provocava grandes ondas nos dois lados da península.

Já foram anunciadas a morte de 26 pessoas pela tempestade, com quatro mortes registradas na Flórida. Espera-se que o número total de mortes aumente à medida que se consiga avaliar melhor os danos causados pelo furacão Irma. As estimativas iniciais indicam que o Irma poderia deixar um estrago de US$ 200 bilhões, maior que o causado pelo furacão Harvey.

O furacão Irma é um acontecimento de magnitude impressionante. A tempestade terá impacto sobre a vida de dezenas de milhões de pessoas, incluindo os amigos e a família dos afetados diretamente. Mais de 6,5 milhões de pessoas estão sob ordem de evacuação na Flórida e outras 570 mil no estado da Geórgia. Aproximadamente 116 mil pessoas estão aguardando a tempestade em abrigos de emergência. Milhares de quartos de hotel foram reservados no interior da Flórida e por centenas de quilômetros ao norte das zonas de evacuação.

Tais enormes efeitos expõem as estruturas básicas da vida social e política de uma forma particularmente severa. Os furacões Irma e Harvey revelaram um país dividido pela desigualdade social, afligido por um sistema de infraestrutura decadente e presidido por uma elite dominante que age com indiferença criminal quando confrontada com as necessidades básicas da sociedade.

Mesmo com os trabalhadores de Houston e seus arredores enfrentando a difícil tarefa de reconstruir suas casas com mínima assistência e sem seguro, muitos dos que enfrentam a chuva e os ventos de Irma não conseguiram nem ao menos deixar suas casas. Ao emitir ordens de evacuação, o governo ofereceu pouco ou nenhum auxílio. Quantas pessoas ficaram para trás porque não conseguiram pagar uma passagem de avião ou o custo da gasolina, ou ainda não conseguiram assentos no excessivamente limitado número de ônibus e trens?

Para aqueles com automóveis, o êxodo causado pela tempestade foi prejudicado pela ausência de um plano de evacuação, sem esforços para mobilizar de forma eficiente os recursos cruciais, incluindo a gasolina, ou organizar lugares para as pessoas ficarem. Muitos foram obrigados a procurar abrigo onde quer que acabasse a gasolina ao longo das duas rodovias para o norte do estado.

O deplorável estado da infraestrutura e o rápido desenvolvimento urbano suscitaram preocupações sobre o potencial de inundações históricas e a integridade dos sistemas públicos de água. Ao menos dois milhões de pessoas estão atualmente sem energia, uma consequência do fato de que os EUA ainda usam linhas de transmissão de energia elétrica terrestres. Espera-se que centenas de milhares de pessoas permaneçam sem energia por semanas.

Existe uma mudança na consciência de amplos setores da população, que se estende além das questões imediatas em jogo. De maneira significativa, um artigo do World Socialist Web Site publicado no sábado, 9, “Por que os trens não estão evacuando as pessoas no caminho do furacão Irma?”, foi compartilhado dezenas de milhares de vezes nas redes sociais. Essa ampla divulgação aconteceu porque o artigo faz uma pergunta básica que não é realizada em qualquer meio de comunicação tradicional ou no próprio establishment político.

Por que os recursos da sociedade não devem ser mobilizados de forma racional e organizada para enfrentar uma ameaça como o furacão Irma? Além do uso de trens, poderia ter sido organizado de maneira massiva a evacuação através de ônibus e balsas, para não falar da requisição de hotéis e outras acomodações para fornecer abrigo para os necessitados. Não se trata de falta de recursos, mas que eles foram desviados para outros fins.

Durante décadas, a elite governante levou adiante uma política de contrarrevolução social, saqueando fundos públicos e recuperando todos os ganhos conquistados pela classe trabalhadora nos últimos 100 anos. O dinheiro que poderia ter sido alocado em infraestrutura para combater o impacto de tempestades cada vez mais poderosas e previsíveis foi canalizado para os bolsos dos ricos à custa da classe trabalhadora e dos pobres.

A classe dominante americana é incapaz de planejar qualquer coisa, exceto a transferência de riqueza e o acúmulo de um exército que tem sido usado para destruir um país depois do outro.

O establishment político tem usado os furacões Irma e Harvey como pretexto para aumentar ainda mais a transferência de riqueza dos pobres para os ricos.

O presidente Donald Trump usou sua mensagem semanal no sábado para relacionar a recuperação dos danos da tempestade com necessidade de reduzir os impostos de grandes empresas. Os Democratas, ao mesmo tempo, se movimentaram para formar uma aliança com Trump, o presidente menos popular da história, para apoiar uma administração que tem tropeçado em crise após crise.

Quaisquer que sejam suas diferenças, o establishment político está unido em torno de questões estratégicas básicas. A classe dominante está aterrorizada com o fato da instabilidade política poder provocar uma crise econômica. Acima de tudo, temem o surgimento de um movimento independente da classe trabalhadora e farão tudo o que puderem para evitar isso.

No entanto, um clima de raiva profunda e oposição a tudo isso vem se desenvolvendo há algum tempo. É necessário, agora, que essa oposição ganhe uma forma política. Como o impacto desses furacões demonstrou, o socialismo não surge de um esquema utópico, mas como a única maneira de atender as necessidades concretas da classe trabalhadora e do desenvolvimento social como um todo.

Algumas ações fundamentais devem ser tomadas. Aqueles que foram afetados pelo furacão Harvey e agora o Irma devem ser integrados através de um enorme esforço social para reconstruir habitações de qualidade e seguras. Todos têm o direito a um lugar seguro para se morar, sem a possibilidade de acontecer o que aconteceu com aqueles que agora sofrem na Flórida.

Um programa de obras públicas de vários trilhões de dólares é necessário para modernizar e desenvolver a infraestrutura social, incluindo sistemas de água, redes elétricas, pontes, estradas e uma ampla rede de transporte. Transporte público de alta qualidade é necessário não só para as exigências diárias da vida moderna, mas é também importante em situações de emergência. Planos devem ser desenvolvidos em todas as áreas propensas a desastres para fornecer transporte gratuito e habitação de emergência para todos os que necessitarem.

Além do mais, medidas imediatas devem ser tomadas em escala global para parar e reverter o impacto do aquecimento global, que contribui para o tamanho e a intensidade dos furacões. Isso requer um programa internacional coordenado para desenvolver fontes alternativas de energia.

Tais tarefas fundamentais, no entanto, são incompatíveis com o sistema capitalista, em que uma pequena camada de especuladores financeiros e executivos empresariais controla o sistema político e dita seu rumo. Para quebrar o domínio dessa aristocracia e liberar recursos para necessidades sociais mais importantes, os principais bancos e empresas devem ser colocados sob controle público e democrático, nos Estados Unidos e em todo o mundo. A riqueza da elite governante deve ser confiscada por aqueles que criam toda a riqueza da sociedade, a classe trabalhadora.