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As raízes sociais e econômicas dos ataques aos direitos democráticos

Eric London
7 de dezembro de 2017

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Publicado originalmente em 6 de outubro de 2017

Um relatório publicado no dia 27 de Setembro pelo US Federal Reserve (o banco central norte-americano), intitulado Survey of Consumer Finances (Panorama Financeiro do Consumidor) mostra que os 10% mais ricos dos EUA agora detêm 77% de toda a riqueza. O 1% mais rico incrementou sua fatia de riqueza de 35,5% em 2013 para 38,5% em 2016. A fatia dos 90% mais pobres decresceu de 25% para 22,9% durante o mesmo período.

Esses números demonstram uma transferência de trilhões de dólares da classe trabalhadora americana para os ricos e afluentes em apenas três anos.

Os três quartos mais pobres da população, cerca de 240 milhões de pessoas, agora possuem menos de 10% da riqueza produzida. Ou seja, se os EUA fossem um prédio de dez andares com cem pessoas, a pessoa mais rica estaria vivendo nos quatro andares de cima e as nove pessoas seguintes nos quatro andares de baixo, enquanto 15 pessoas estariam no segundo andar e 75 se amontoariam no térreo.

Os dados do Federal Reserve demonstram, de forma empírica, mudanças profundas nas relações sociais que afetam centenas de milhões de pessoas, abarcando todos os aspectos da vida política, cultural e intelectual. Os EUA são uma oligarquia em que o governo, os sindicatos, a mídia, as universidades e os maiores partidos políticos são instrumentos usados pela classe dominante para manipular a população, esconder sua própria riqueza e esmagar a oposição social que vem de baixo.

As cifras expõem a base material para a emergência de uma campanha da classe dominante para bloquear o acesso ao WSWS e outros sites de esquerda sob a alegação de combate à “agressão russa”.

Em uma oligarquia, a desigualdade social é incompatível com os direitos democráticos. Incapaz de atender às necessidades sociais das massas, o governo se volta para a censura, a vigilância, as listas negras e a violência como seus métodos preferidos para a defesa de níveis inéditos de acumulação de riqueza monopolizada pela classe dominante.

Os dados mostram que a linha divisória principal se situa entre os 10% mais ricos e os 90% restantes, que compreende a classe trabalhadora. As cifras do Federal Reserve expõem as mentiras as alegações dos políticos e comentaristas da mídia de que a maior parte da população dos EUA pertence à “classe média”.

Abaixo da aristocracia e seus afluentes – concentrados em certas vizinhanças dos grandes centros como Nova Iorque, a região da Baía de São Francisco, Los Angeles, Chicago, Houston e outras cidades – os EUA são um país dominado por tremendas dificuldades econômicas. Os dados mostram que enquanto diferentes camadas da população enfrentam insegurança econômica em vários níveis de urgência, décadas de políticas sociais contra-revolucionárias implantadas pelos partidos Democratas e Republicanos os aproximaram ainda mais, marcando-os com o estigma da exploração de classe.

Os 10% mais pobres da população, algo em torno de 32 milhões de pessoas, possuem riqueza negativa. Isso inclui os sem-teto e os desesperadamente endividados. Para esta parte da população, igual à população do Texas e de Nova Iorque somadas, a expectativa de vida, a exposição a doenças e os baixos padrões de vida se parecem com aqueles em vigor no terceiro mundo.

Os próximos 10% mais pobres não possuem riqueza, que possuem entre 0 e 5.000 dólares por família, o que é menos do que o valor de um carro usado de dez anos. Toda a riqueza somada dessa camada social não é significativa como proporção da riqueza geral.

Basicamente, o terço de renda mais baixa e média da população, entre o 20˚ e o 50˚ percentil, controla apenas 1,6% da riqueza total. Uma família de quatro pessoas com dois adultos trabalhando em horário integral e recebendo salário mínimo, com um veículo de preço médio e nenhum outro tipo de propriedade estaria bem no meio desta imensa categoria de trabalhadores.

Os 64 milhões de pessoas na faixa entre os 50% e os 70% controlam apenas 5,1% da riqueza. Uma família com um imóvel avaliado em até 150.000 dólares, um carro e nada na poupança estaria acima do 60˚ percentil de riqueza. Uma família em que dois adultos ganham entre 40.000 e 50.000 dólares cada um estaria entre o 60˚ e o 80˚ percentil, provavelmente possuindo dois carros, um imóvel avaliado acima da média nacional de 175.000 dólares, um seguro de vida e 10.000 dólares na poupança.

A fatia entre o 80˚ e o 90˚ percentil possui 11,2% da riqueza. Dois trabalhadores qualificados com renda anual entre 60.000 e 80.000 dólares cada um, uma pensão, um imóvel de 300.000 dólares e dois carros se encontrariam neste nível. Esta seção é um pouco mais confortável, mas de forma alguma financeiramente segura.

O abismo que separa os 10% mais ricos da classe trabalhadora se alargou recentemente. De 2004 a 2016, a classe trabalhadora viu sua riqueza cair vertiginosamente em todos os níveis de renda. A riqueza familiar média do quinto mais pobre diminuiu 29,5% no período, seguida por uma diminuição de 24,7% para o segmento situado entre o 20˚ e o 39˚ percentil, 10,8% para os situados entre o 40˚ e o 59˚ percentil, 17,3% entre o 60˚ e o 79˚ percentil e 1,3% entre o 80 e 89˚ percentil. Toda essa riqueza foi transferida para os 10% mais ricos, que tiveram um aumento de 38,7% de sua riqueza média familiar no mesmo período.

Como um resultado dessa transferência massiva de renda, a riqueza média familiar entre os 10% mais ricos é quase o triplo dos que se situam entre 80 e 90%, 20 vezes maior do que uma família no 50˚ percentil e 254 vezes maior do que uma família dos 20% mais pobres.

O establishment político que vem supervisionando esta imensa transferência de renda ignora e agrava sistematicamente os urgentes problemas sociais que enfrenta a maior parte da população.

As imagens de Trump atirando rolos de papel toalha para as vítimas do furacão que arrasou Porto Rico são a expressão eloqüente da resposta arrogante e ofensiva da oligarquia aos problemas da classe trabalhadora. Porém, as alegações hipócritas dos Democratas de que a atitude de Trump foi “insensível” ignora o fato de que toda a classe dominante é responsável pela catástrofe social. Afinal, Barack Obama foi a Flint, em Michigan, e disse a uma multidão de pessoas para “beber a água”. Ninguém do partido Democrata ou Republicano fez algum esforço real para enfrentar a crise dos opiáceos, dos sem-teto, do declínio na expectativa de vida, da proteção contra as tempestades naturais e à infraestrutura, do crescente nível de endividamento dos estudantes e da crise do sistema de saúde.

Os três poderes governamentais, majoritariamente ocupados por milionários e bilionários, concentram-se exclusivamente nos interesses e nas demandas sociais do 1% mais rico e, mais amplamente, dos 10% mais ricos na sociedade. Uma preocupação central dos afluentes 10% é bloquear o crescimento da oposição social da população à guerra, à desigualdade e à pobreza.

Temerosa de que os avanços tecnológicos da Internet e das redes sociais possa aumentar o acesso a pontos de vista políticos alternativos, a oligarquia iniciou uma campanha para censurar os sites de esquerda e controlar as redes sociais para supostamente bloquear a “interferência russa” no sistema político norte-americano. Sem uma única evidência concreta para corroborar o que estão afirmando, editores de jornal, âncoras de programas de televisão, membros de comissões do Senado e da Câmara, executivos de grandes empresas, líderes sindicais e acadêmicos se engajaram em uma insana corrida para censurar a Internet e proteger a população de “notícias falsas”.

A censura contra as “notícias falsas”, além da elaboração de listas-negras, incrementa a escalada de uma campanha de longa data da classe dominante para criar uma situação que legitime métodos de governo típicos de um estado policial. Ao mesmo tempo, o crescimento da desigualdade social, revelado pelos dados do Federal Reserve, demonstra a inexorável intensificação do conflito social e de classe nos EUA, a base objetiva para a revolução socialista.