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As audiências do congresso estadunidense sobre “conteúdo extremista” preparam um ataque à liberdade de expressão

Andre Damon
11 de dezembro de 2017

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Publicado originalmente em 31 de Outubro de 2017

Há três meses, o World Socialist Web Site lançou a sua primeira publicação documentando a lista negra do Google, na qual estão o WSWS e outros sítios eletrônicos de esquerda. A publicação alertou que as atuações do Google eram parte de uma campanha abrangente, coordenada pelo governo estadunidense, mídia e agências de inteligência, a fim de censurar a Internet.

Desde o início do seu desnudamento, a campanha tem se desenvolvido com extraordinária velocidade, enquanto o Partido Democrata, trabalhando com os veículos da grande mídia, usa alegações sem evidências compatíveis de manipulação russa nas eleições de 2016 para preparar uma campanha de criminalização da oposição política nos Estados Unidos. O que está envolvido é nada menos que o maior ataque à Primeira Emenda da Constituição dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial.

Essa campanha atingirá um novo marco com os depoimentos de funcionários do Facebook, Twitter e Google diante do Comitê Jurídico do Senado hoje e dos comitês de inteligência da Câmara e do Senado amanhã sobre seus planos para enfrentar “conteúdos extremistas e a manipulação russa online.”

Nos últimos três anos, os líderes do Partido Democrata dos comitês de inteligência da Câmara e do Senado, Mark Warner e Adam Schiff, em conjunto com as agências de inteligência estadunidenses e a mídia, têm inventado uma narrativa absurda de que 100.000 dólares de propagandas russas nas redes sociais, sobretudo a partir de Novembro, colaboraram com o favorecimento de Donald Trump nas eleições.

Tendo forçado as empresas de tecnologia a compilar listas de “contas relacionadas à Rússia”, os legisladores agora irão focar no seu verdadeiro objetivo: O que eles chamam de “conteúdo orgânico” ou, de uma forma mais direta, discurso político na Internet.

De acordo com o jornal Hill, Warner e Schiff irão pressionar as empresas de rede social a admitir “que a Rússia criou ‘conteúdos orgânicos’... para dividir e influenciar os estadunidenses”.

“Provavelmente, o mais importante é: qual foi o conteúdo que eles estavam propagando que era não publicitário”, Schiff disse ao Hill nesta semana. “Eu acho que isso provavelmente irá ofuscar o que nós vimos nas propagandas pagas”.

Em uma antecipação do depoimento obtida pelos veículos de notícias na noite desta segunda-feira, o Facebook expandiu a sua lista de atividades online “ligadas à Rússia” para incluir tais “conteúdos orgânicos”, declarando que dezenas de milhares de postagens “incendiárias” de contas “falsas” ligadas à Rússia atingiram 126 milhões de usuários estadunidenses do Facebook.

Esse “conteúdo divisionista” incluía sem dúvida republicações de artigos da esquerda e de veículos de notícias oposicionistas, colocando-os enfaticamente no foco dos investigadores congressistas. Como foi exposto no início deste mês pelo jornal New York Times, conteúdo “registrado, publicado ou escrito por estadunidenses... acabou se tornando vantajoso para uma rede de páginas do Facebook ligadas à obscura companhia russa que realizou campanhas de propaganda para o Kremlin”.

Em outro desenvolvimento extraordinário, na sexta-feira, Dianne Feinstein, a líder do Partido Democrata no Comitê Judiciário do Senado, enviou uma carta ao chefe executivo do Twitter exigindo que a empresa entregue informações que podem identificar pessoalmente contas relacionadas a “conteúdo orgânico” publicado por usuários do Twitter. A carta exige especificamente todo “conteúdo orgânico publicado por usuários ligados à Rússia e direcionados a algum lugar dos Estados Unidos, apesar do indivíduo ou entidade ter ou não violado quaisquer políticas do Twitter”. A definição para “usuários ligados à Rússia” é extremamente ampla, incluindo qualquer “pessoa ou entidade que possa estar ligada de alguma forma à Rússia”.

A carta pede que para todo “conteúdo orgânico descrito acima, o Twitter forneça todas as informações do assinante”, e a “informação do endereço de IP”. Isso significa que a empresa está sendo solicitada a providenciar nomes completos, números de telefone, endereços de e-mail e de IP, que possam ser usados para determinar a localização física.

Considerando o recém-instalado foco dos investigadores congressistas em “conteúdo registrado, publicado ou escrito por estadunidenses” e republicado por contas “ligadas à Rússia”, é razoável inferir que o “conteúdo orgânico” a que Feinstein está se referindo inclui conteúdo publicado por sítios eletrônicos de esquerda e suas contas associadas em redes sociais. Neste caso, o que Feinstein está solicitando é uma lista de nomes, números de telefone e localização física de proeminentes opositores às políticas do governo estadunidense.

Igualmente inquietante é o fato de que a carta pede “todo conteúdo de cada mensagem direta [privada]” entre uma lista não revelada de contas no Twitter anexada e contas pertencentes ao Wikileaks, Julian Assange e à advogada de direitos civis Margaret Ratner Kunstler.

Kunstler, de acordo com sua biografia oficial, defendeu “apoiadores do Wikileaks e de Bradley [Chealsea] Manning em casos ligados à intimações para Grandes Júris, contados com o FBI… e supressão governamental.”

O pedido extraordinário do Comitê Judiciário do Senado para que uma empresa exponha as correspondências privadas de uma advogada constitui uma brutal violação ao direito de sigilo entre cliente e advogado, para não mencionar o seu nefasto efeito aos direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

O foco de Feinstein sobre Assange e o Wikileaks, combinado ao seu foco no “conteúdo orgânico”, torna claro que o objetivo verdadeiro da caça às bruxas não são agentes estrangeiros, mas a oposição política doméstica.

Reforçando essa tese, na segunda-feira o Wall Street Journal publicou uma reportagem, novamente sem evidência factual alguma, que dizia que contas “ligadas à Rússia” ajudaram a organizar reuniões e manifestações, incluindo protestos contra a violência policial. O Journal escreveu: “pelo menos 60 manifestações, protestos e marchas foram divulgados ou financiados por contas russas”. Essas alegações expandem o alvo da caça às bruxas anti-russa da liberdade de expressão para a liberdade de reunião, que também é garantida pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

Isso está alinhado com uma reportagem publicada no início desta semana por McClatchy (com a manchete “Manifestantes estão cada vez mais sendo rotulados como ameaças terroristas domésticas, alertam especialistas”) sobre a criação, pelo FBI, de uma categoria de grupos de “terrorismo doméstico” chamada “extremistas da identidade negra”, que poderia incluir participantes de atos contra a violência policial.

A relação do Google, a maior e mais poderosa empresa de tecnologia, com a caça às bruxas do Congresso tem sido mais branda e silenciosa que o do Facebook e Twitter. Como o Financial Times escreveu, a empresa tem “mantido um perfil mais discreto, reunindo-se com o comitê de inteligência em particular e silenciosamente”, e discretamente “introduzindo” mudanças nos seus algoritmos.

Nos bastidores, porém, a empresa tem promovido as ações mais abrangentes entre todos os seus pares. Em Abril, o Google anunciou medidas a fim de promover “conteúdo com respaldo” acima de “opiniões alternativas”. Isso causou uma queda de mais de 55% no tráfego de busca a sítios eletrônicos de esquerda. O sítio World Socialist Web Site é particularmente perseguido, com tráfego de busca do Google despencando 74%.

Enquanto a administração Trump procura promover um movimento político autoritário, de extrema direita, a oposição nominal dentro do Estado, liderada pelo Partido Democrata, está concentrada numa campanha histérica e belicista baseada em acusações inconsistentes de interferência russa nas eleições estadunidenses de 2016. O propósito, remetendo à caça às bruxas Macarthista, é associar toda a oposição política dentro dos Estados Unidos aos esforços nefastos dos “agitadores externos”, neste caso, “agentes estrangeiros”.

Esse ataque devastador à liberdade de expressão, o alicerce da democracia, reflete o medo que a elite dominante tem do surgimento de um movimento independente da classe trabalhadora contra o capitalismo. Apesar de suas diferenças com Trump, a maior preocupação dos Democratas é prevenir a erupção da fúria social contra a desigualdade e a guerra que tome a forma de um movimento socialista contra o capitalismo.

Muito além da Rússia, eles, e toda a classe dominante, temem a classe trabalhadora internacional. Este é o porquê do alvo central do Google ter sido o WSWS.

O alarme deve ser soado! O WSWS começou um contra-ataque agressivo. Nossa petição contra a censura do Google foi assinada por milhares de trabalhadores de mais de 100 países ao redor do mundo. A luta apenas começou, entretanto.

Trabalhadores e jovens ao redor do mundo devem ser alertados para o que está acontecendo. A luta contra a censura e a lista negra e em defesa da liberdade política e de expressão deve ser levada a cada seção da classe trabalhadora e associada à luta contra a desigualdade social e a guinada em direção à guerra mundial.

No centro da construção desse movimento está o desenvolvimento do World Socialist Web Site. Nós precisamos do apoio de nossos leitores agora mais do que nunca. Doe hoje para ajudar o WSWS a combater esse ataque do governo estadunidense e das empresas de tecnologia. Envolva-se! Abrace a luta pelo socialismo!