As audiências desta semana no Congresso sobre “conteúdo extremista” na Internet marcam um novo estágio na caça às bruxas macartista dos representantes democratas que, trabalhando em conjunto com as agências de inteligência e os principais porta-vozes da mídia, legitimam a censura e atacam a liberdade de expressão na Internet.
Um após outro, os deputados e senadores admoestaram representantes da Google, Twitter e Facebook, a admitir que suas respectivas plataformas foram usadas para semear “divisões sociais” e opiniões políticas “extremistas”. O objetivo desta campanha é alegar que o conflito social dentro dos EUA surge não a partir da escala da desigualdade social na América, muito maior do que em qualquer outro país do mundo desenvolvido, mas antes das ações de “agitadores externos” que trabalham a serviço do Kremlin.
As audiências giraram em torno de alegações de que a Rússia tentou “instrumentalizar” a Internet através do estímulo à ira social dentro dos Estados Unidos. “A Rússia”, disse o deputado democrata Adam Schiff, promoveu a “discórdia nos EUA ao inflamar as paixões em uma série de questões polêmicas”. Tentou “mobilizar norte-americanos de verdade a assinar petições online e se juntar a protestos e manifestações”.
A caça às bruxas macartista dos anos 1950 tentou suprimir o pensamento político de esquerda e rotular todas as formas de dissenso como ilegítimas e traiçoeiras. Os que a lideraram, trabalharam para expurgar opiniões de esquerda de Hollywood, dos sindicatos e das universidades.
Da mesma forma, o novo macartismo se destina a criar um clima político em que as organizações de esquerda e seus representantes são demonizados como agentes do Kremlin que estão engajados essencialmente em ações de traição que merecem indiciamento criminal.
Com este fim, os inquisidores do Congresso exibiram uma série de postagens em mídias sociais, “ligadas à Rússia”, que expressam oposição à violência policial e à desigualdade social. Estes deveriam ser exemplos “cabais” de como a Rússia trabalhou para semear divisões sociais dentro dos EUA.
O argumento de que um Vladimir Putin seria necessário para dividir os Estados Unidos da América é francamente risível. Só neste ano registraram-se 273 tiroteios de massa nos quais quatro ou mais pessoas foram mortas ou feridas. Mais de mil pessoas são mortas pela polícia todos os anos.
Os EUA estão explodindo com o descontentamento social, com a desigualdade, a guerra e as pressões causadas por empregos de “salário de fome” – fatores de imensa raiva e frustração social.
A absurda narrativa dos democratas emerge de sua tentativa de racionalizar sua desastrosa derrota nas eleições de 2016, pondo a culpa em uma conspiração apoiada pelo Kremlin em vez de da sua própria indiferença para com a miséria social que permeia a vida do país.
Nas audiências da última quarta-feira, Schiff declarou que o problema não é “só estrangeiro” e reclamou que os algoritmos usados pelas companhias de mídia social “tendem a acentuar conteúdo baseado no medo ou na raiva”.
“Isto ajuda a formar audiência para “viralizar” e ser amplificado”, ele disse, com a conseqüência de “ampliar as divisões em nossa sociedade”.
Qual foi a última vez em que Schiff ou qualquer dos seus colegas participou de uma audiência sobre as verdadeiras causas da divisão e do descontentamento social na América? Participam de audiências sobre o acúmulo disparatado de riquezas pela elite financeira, sobre condutas criminosas nas guerras do Afeganistão ou da Síria? Não, a preocupação de Schiff é impedir o povo de saber qualquer coisa que possa inflamar sua “raiva”.
Com este fim, ele perguntou aos representantes da Google, do Twitter e do Facebook, que “obrigações societárias” eles têm para mudar o fato de que “o que acaba aparecendo com mais freqüência em nossas contas tende a ser aquilo que buscamos”.
Nesta declaração, Schiff deixa claro qual é a verdadeira questão em relação ao furor do partido democrata com as “notícias falsas” e a “intromissão russa”. O que preocupa Schiff e seus colegas não são as “notícias falsas”, mas as notícias verdadeiras que se tornam “virais” e são “amplificadas” porque refletem a raiva popular.
O problema, de acordo com Schiff e seus acólitos inquisitoriais do Congresso, é que as pessoas que procuram por pontos de vista políticos críticos podem de fato encontrá-los na Internet, por oposição ao que se encontra nos jornais e telejornais controlados e transmitidos pelas grandes corporações da mídia capitalista.
Em meio a uma desigualdade social cada vez mais insuportável, uma crise política incontrolável e a contínua ameaça da guerra nuclear, milhões de pessoas se tornaram justificadamente hostis ao sistema capitalista e ao establishment político. A popularidade imensa da internet reflete o fato de que esta provê as pessoas da chance de obter informação que órgãos da mídia como o jornal The New York Times, que trabalha diretamente com as agências de inteligência, tenta esconder de todos.
A elite dominante vê a combinação de discórdia social com acesso ilimitado à informação através da Internet como uma ameaça à sua existência que deve ser combatida pela censura. É o que foi dito por Clint Watts, oficial reformado do exército dos EUA e agente do FBI, diante do Comitê Judiciário do Senado, na audiência da última terça-feira: “Guerras civis não começam com tiros, começam com palavras. A guerra da América consigo mesma já começou. Agora, temos todos que agir no campo de batalha das mídias sociais para suprimir revoltas informacionais... Parar com a artilharia de falsas informações que se abate sobre os usuários das mídias sociais é algo possível somente se as instâncias que distribuem essas histórias mentirosas forem silenciadas – silencie as armas e o fogo de barragem terá um fim”.
O fato de que se fale de censura tão abertamente significa que uma grande intensificação do conflito se aproxima. A elite dominante dos EUA, para usar as palavras de Watts, acredita já estar engajada em uma guerra civil contra sua própria população e está mais do que disposta a usar da censura para “silenciar” fontes de “revolta”.
A Google, o Facebook e o Twitter já se engajam nesta censura, cada um deles anunciando que estão contratando “milhares” de pessoas para atuarem como moderadores e revisarem conteúdo. No início deste mês, a Google removeu de sua lista de canais “preferidos” do Youtube a RT TV – uma emissora de televisão financiada pela Rússia de notícias online que transmitiu várias reportagens censuradas pela grande imprensa. O Twitter também bloqueou a RT dos seus serviços de publicidade.
Em abril, a Google implantou uma mudança no seu algoritmo de busca que derrubou a navegação em sites de esquerda, pacifistas e progressistas, em mais de 55%. No último mês, removeu quase todas as páginas do WSWS do seu serviço de notícias, o Google News, assim como artigos de proeminentes jornalistas de esquerda como o vencedor do prêmio Pulitzer, Chris Hedges.
A tendência à destruição da liberdade de expressão deve ser impedida! É a ponta de lança para o desmantelamento dos direitos democráticos não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.
Apelamos a todos os leitores do WSWS por uma doação à campanha contra a censura da Google, e para que se juntem ao Comitê Internacional da 4ª Internacional, que lidera a luta pela defesa dos direitos democráticos como parte do desenvolvimento de um movimento da classe trabalhadora internacional pelo socialismo.