Publicado originalmente em inglês, no dia 20 de Abril de 2017
Centenas de milhares de cientistas e outros profissionais, ao lado de estudantes e trabalhadores que os apoiam, participarão neste sábado da Marcha Mundial pela Ciência. A manifestação recebeu amplo apoio, em grande medida porque é vista como uma forma de protestar contra os ataques da administração Trump ao conhecimento e investigação científicos.
O Partido Socialista pela Igualdade – Estados Unidos (Socialist Equality Party – USA) saúda essa manifestação. Chamamos a mobilização de trabalhadores por todo o mundo contra a destruição do meio ambiente pelas gigantes empresas químicas e energéticas; os ataques à educação pública que ameaçam o acesso a todos os aspectos da cultura humana de toda uma geração de jovens; a subordinação da ciência às exigências do lucro imposta pela classe dominante e às exigências militares; e toda censura e restrições à pesquisa e ao ensino.
O chamado à Marcha pela Ciência refere-se a essas questões, mas tem limitações bastante claras, resumidas em sua declaração de que os ataques à ciência “não são uma questão partidária.” Essa questão deve ser entendida corretamente. A defesa da ciência é apenas “não partidária” no sentido de que tanto os Democratas como os Republicanos são responsáveis pelo ataque à educação pública, pela degradação do meio ambiente, pelo crescimento do militarismo e pelo esforço de censurar e suprimir a pesquisa científica.
A defesa da ciência é, contudo, profundamente política, como tem sido ao longo da história, desde a época do julgamento de Galileu Galilei pela Inquisição da Igreja Católica. Todo governo reacionário e toda classe reacionária persegue os cientistas e busca suprimir e subordinar a ciência aos seus próprios fins. O progresso da ciência e da razão sempre dependeu do progresso da sociedade e das relações sociais – e esta é uma questão política.
O desafio hoje é reconhecer a origem do ataque à ciência, o qual não surgiu repentinamente do cérebro limitado de Donald Trump. Ele é apenas o representante mais grosseiro e atrasado de um sistema social no qual toda atividade humana, incluindo a ciência, está subordinada ao lucro privado. Ao mesmo tempo que a ciência e a tecnologia desenvolveram o poder da produção social, essa produção permanece aprisionada no interior de formas cada vez mais irracionais de propriedade privada capitalista.
A defesa da ciência é, assim, inseparável da luta revolucionária da principal força progressista da sociedade moderna, a classe trabalhadora, contra a elite empresarial dominante.
A ciência e a tecnologia tornaram possível a abolição da fome, a cura de doenças, banir a ignorância e assegurar um nível de vida decente para cada uma das pessoas nesse planeta. Mas sob o sistema do lucro, uma vasta riqueza é monopolizada por uma minúscula porção de super-ricos. Apenas oito mega-bilhonários possuem mais riqueza que a metade mais pobre da humanidade, enquanto centenas de milhões passam fome; milhões morrem de doenças que poderiam ser prevenidas; e escolas, estradas, sistemas de abastecimento de água e outras formas de infraestrutura pública estão caindo aos pedaços.
A tecnologia moderna, desde os desenvolvimentos revolucionários nos transportes até a criação da Internet, destruiu as barreiras à interação humana e tornou possível a integração de toda a humanidade. A ciência em si mesma é a mais internacional das empreitadas humanas, desenvolvendo-se através de uma colaboração global.
Contudo, por causa da divisão do mundo em Estados-nação rivais, a tecnologia torna-se instrumento de repressão e perseguição: a caça aos refugiados e imigrantes por todo o mundo; a construção de muros contra os imigrantes na fronteira México-EUA; o programa chinês “Great Firewall”, separando um bilhão de pessoas do resto do mundo; e o desenvolvimento do vasto aparato de espionagem global da NSA dirigido contra a população de todo o mundo.
De forma ainda mais sombria, nas mãos dos Estados-nação rivais, com o imperialismo americano em primeiro lugar, a ciência e a tecnologia foram pervertidas em meios de destruição em massa. A manifestação de 22 de Abril dá-se sob a ameaça crescente de guerra mundial, com a administração Trump, apoiada pela imprensa americana e pelo Partido Democrata, lançando mísseis sobre a Síria e a maior bomba desde Hiroshima e Nagasaki sobre o Afeganistão e ameaçando um ataque militar preventivo contra a Coreia do Norte.
O risco de um conflito militar direto envolvendo potências nucleares é bastante real. Mais do que ninguém, os cientistas sabem que isso significaria a extinção da civilização, se não da vida na Terra.
Qual é o caminho para avançar? Aqueles que desejam defender e fazer avançar o trabalho da ciência devem confrontar uma contradição em suas próprias formas de pensar. Eles estão acostumados a aplicar os métodos científicos aos processos da natureza, mas não ao funcionamento da sociedade, e muito menos à política.
Em parte, isso é devido à maior complexidade da vida social, na qual o número de variáveis – incluindo os seres humanos – torna a análise científica mais complicada. De modo mais importante, isso reflete a dominação ideológica da elite empresarial dominante, a qual se opõe aos esforços de aplicar procedimentos racionais às operações de um sistema social que propicia a ela riqueza e privilégios sem paralelo. No interior da academia, o ataque à verdade objetiva e à razão liderado pelo pós-modernismo e outras formas de irracionalismo é dirigido a todas as formas de conhecimento científico, acima de tudo à ciência social e à história.
Os cientistas precisam encontrar seu caminho de volta às visões de seus maiores predecessores, como Albert Einstein, que foram atraídos para o socialismo como uma aplicação da razão ao desenvolvimento da sociedade moderna – e como o único meio de acabar com as guerras e ditaduras. Isso significa assumir um estudo do Marxismo, o qual baseia sua política revolucionária em uma análise da realidade e interesses de classe objetivos.
A classe trabalhadora é a força revolucionária que tem as capacidades de colocar um fim no capitalismo e estabelecer uma sociedade socialista baseada na igualdade, democracia e propriedade social da riqueza criada pelo trabalho coletivo. Na Revolução Russa, cujo centenário comemoramos este ano, esse entendimento científico foi provado na prática, com a classe trabalhadora chegando ao poder sob a liderança de um partido marxista.
A classe trabalhadora não pode avançar sem a ajuda da ciência. Mas a ciência em si exige o avanço da classe trabalhadora, a qual proverá à ciência a base de massas na sociedade da qual ela necessita. Em última análise, o progresso da ciência – e o progresso da humanidade como um todo – depende do ressurgimento de um novo movimento revolucionário da classe trabalhadora. O movimento socialista une sob sua bandeira tanto a busca pela verdade científica em todas as formas quanto a luta pela igualdade humana.