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Um mundo convulsionado por crises

Por Andre Damon e Barry Grey
23 de setembro de 2015

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Publicado originalmente em inglês em 12 de Setembro de 2015

Ao longo do último mês, o mundo foi apanhado por uma proliferação de crises - econômica, geopolítica, social – emergindo diariamente, interagindo entre si, e trazendo o fantasma de uma calamidade global.

Na frente econômica, os mercados financeiros internacionais oscilaram enormemente entre ganhos e perdas massivos, à medida que governos e bancos centrais procuraram desesperadamente opor-se ao impacto de crescentes quedas na produção e investimentos que ameaça derrubar o castelo de cartas financeiro construído desde a quebra de Wall Street de 2008.

A economia chinesa, a plataforma preferencial de mão de obra barata do capitalismo mundial, que propiciou a maior parte do crescimento econômico depois do da quebra financeira, está afundando, juntamente com uma série de outras chamadas “economias emergentes”.

Na frente geopolítica, tensões entre grandes potencias capitalistas estão se intensificando sob o impacto de desastres sociais produzidos por guerras imperialistas que arrasaram países inteiros, do Afeganistão ao Iraque, Líbia, Síria, Iêmen e grandes partes da África. A ruína de grande parte da Ásia Central e do Oriente Médio pelo imperialismo americano e seus aliados europeus e no Golfo Pérsico provocou uma maré de refugiados desesperados em uma escala não vista desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Centenas de milhares de migrantes inundando a Europa expuseram o abismo existente entre a solidariedade e simpatia pelos refugiados sentidos por amplas massas da população e a indiferença e desumanidade dos governos tanto dentro quanto fora da Europa. A crise, ao mesmo tempo, intensificou os conflitos que estão despedaçando a união européia.

Washington intensificou sua pressão militar e diplomática sobre Rússia e china em meio a novos chamados por uma guerra aberta para derrubar o regime do presidente Bashar al Assad na Síria.

Ao redor do mundo, os partidos tradicionais da dominação burguesa, de direita e “esquerda”, estão desmoronando sob a pressão de níveis sem precedentes de desigualdade social e crescente nervosismo e descontentamento populares. As elites dominantes buscam novos meios de suprimir a luta de classes e prevenir o desenvolvimento de um movimento político independente da classe trabalhadora. Cada vez mais eles confiam nos partidos da pseudo-esquerda – Syriza, o Partido de Esquerda alemão, o Novo Partido Anti-capitalista francês, a Organização Socialista Internacional nos EUA – para desarmar politicamente a classe trabalhadora e dar-lhes tempo para impor suas políticas reacionárias.

Alguns setores das classes dominantes brincam com a promoção de figuras autoritárias e fascistóides que se baseiam em demagogia racista e anti-imigrante. Outras fazem experimentos com forças de “esquerda” – Tsipras na Grécia, Corbyn no Reino Unido, Sanders nos EUA para conter e dissipar a resistência popular e preparar o terreno para um violento ajuste de contas com a classe trabalhadora.

A crise não é a exceção, mas a regra. A própria velocidade dos acontecimentos, com uma virtual ausência de intervalos de calmaria entre as tempestades, denota uma crise geral profunda e que se intensifica.

Todos esses desenvolvimentos são manifestações de uma crise histórica do sistema econômico e político do capitalismo. Dentro dos marcos do capitalismo, baseado na propriedade privada dos meios de produção e na divisão do mundo entre estados nação rivais, não há solução racional ou progressista.

A burguesia mesma está inevitavelmente dividida – a não ser quando se trata de impor sua crise nas costas dos trabalhadores. Ela age de forma perplexa, ao final optando por medidas desesperadas e violentas. Se o destino da humanidade for deixado em suas mãos, o resultado inevitável será uma terceira guerra mundial e a aniquilação nuclear.

A situação política mundial cada vez mais assume a forma da década de 1930. Como escreveu Leon Trotsky em 1938 n'o Programa de Transição, o programa fundacional da Quarta Internacional, “sob a crescente tensão da desintegração capitalista, os antagonismos imperialistas chegam a um impasse no qual choques separados e distúrbios locais sangrentos (Etiópia, Espanha, extremo oriente, Europa central) devem inevitavelmente coalescer em uma conflagração de dimensões mundiais.

Trotsky cunhou a expressão “agonia mortal do capitalismo” para denotar a natureza da época – a nossa época hoje. As expressões seguidas de crise econômica, geopolítica e social, foram, ele explicou, características de um estado pré-revolucionario da sociedade. A resistência das massas cresce em oposição ao aumento da pobreza em meio a riqueza obscena no topo, juntamente com repressão crescente e a ameaça cada vez maior de uma guerra mundial.

A questão central urgente colocada diante da humanidade, Trotsky insistia, era o desenvolvimento da consciência política da classe trabalhadora e a construção da direção revolucionária. Naquele momento, como agora, o destino da humanidade estava concentrado na questão: o que se desenvolveria mais rapidamente, a decadência do capitalismo à barbárie e à guerra ou a luta consciente politicamente da classe trabalhadora internacional pela revolução socialista?

Para que a última triunfe, a classe trabalhadora deve ter um partido à sua frente que baseie seu programa, estratégia e táticas nas lições das experiências estratégicas da classe trabalhadora no século XX e início do XXI. Esse é o ingrediente indispensável para a o sucesso na derrubada do sistema capitalista falido e estabelecimento do socialismo.

O Programa de Transição começa com um afirmação profunda: “a situação política mundial como um todo é acima de tudo caracterizada pela crise histórica da direção do proletariado”. Isso resume a essência da situação atual, e coloca diante dos trabalhadores e jovens com consciência de classe a tarefa de construir o Comitê Internacional da Quarta Internacional como essa direção.