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A mídia estadunidense intensifica propaganda ofensiva sobre a questão ucrania

Por Joseph Kishore e David North
16 de março de 2014

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Publicado originalmente em inglês em 4 de março de 2014

Em coincidência com o golpe de direita na Ucrânia, organizado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, a mídia americana tem assacado uma torrente inflamatória e belicosa direcionada contra a Rússia.

Nos jornais, nos veículos radiofônicos e televisivos, a demonização da Rússia é incessante. A cobertura dos fatos segue uma linha única e simplista. As ações da Rússia são retratadas como o epítome do mal. Seu presidente, Vladimir Putin, é encarnação demoníaca.

A base histórica deste comportamento, os interesses econômicos, o contexto político e as avaliações geopolíticas que fundamentam as ações russas são ignorados. Não se permite que nenhum fato surja nas mensagens programadas. Nenhuma mentira é demasiado absurda ou ridícula. O propósito da campanha propagandística não é convencer a opinião pública, mas intimidá-la.

O editorial principal da segunda-feira (“A agressão da Rússia”) do New York Times não contém ao menos um traço de análise. Ele consiste inteiramente de denunciações, ameaças belicosas e hipocrisia ilimitada.

O Times começa denunciando “a cínica e ultrajante exploração da crise ucraniana por Putin para assumir o controle da Criméia”. A realidade é destorcida. Os Estados Unidos apoiaram grupos de direita e fascista na Ucrânia para conseguirem a mudança de regime em um país limítrofe da Rússia. Estas operações foram expostas ao mundo em uma conversa telefônica que vazou o mês passado, em que o embaixador dos Estados Unidos na Ucrânia e o secretário de estado discutiram a composição de um novo governo apoiado por Washington. Evidentemente, o Times não aludiu ao episódio.

Com surpreendente cinismo, o Times exige que Obama diga a Putin que a “Rússia excedeu os limites de um comportamento civilizado, e que isto acarretará preço elevado diante da situação internacional e nas relações econômicas”.

Quem excede os limites do “convívio civilizado”? Os Estados Unidos têm intervindo em país após país - do Panamá à Granada, do Vietnam ao Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria. De suas operações militares no decorrer do último quartel do século passado resultarem mortes de pelo menos um milhão de pessoas.

O Times também publicou na coluna de Roger Cohen (“O crime de Putin na Criméia”) em que ele assume a postura de intelectual e especialista em política internacional. Tem ele defendido, ano após ano, todo o posicionamento agressivo dos Estados Unidos, dos Bálcãs à Síria. Era amigo íntimo de Christopher Stevens, o último embaixador dos Estados Unidos na Líbia, assassinado na representação diplomática americana em Benghazi após organizar a operação que derrubou Muammar Gaddafi.

A coluna de Cohen no Times consiste em uma enfiada de insultos e epítetos. O dirigente ucraniano deposto, Yanukovych, é descrito como um “presidente sibarita, grosseiro, de mau gosto, rápido no gatilho”, e Putin, como “obsessivo quanto ao ‘impérium' russo.

As ações de Putin são retratadas como incompreensíveis. Porque deveria ele sentir-se ameaçado pela expansão da “NATO (OTAN) em direção aos países bálticos”, “a aliança semelhante da União Europeia com a Polônia e a Romênia”, “a submissão da Sérvia pela NATO”, ou a patente manipulação mandatária das Nações Unidas abrindo caminho para a Líbia?”. Obviamente, Putin é louco!

Numa breve e repugnante incursão pela história, Cohen refere-se, ligeiramente, aos crimes nazistas na Ucrânia durante a II Guerra Mundial, mas sugerindo que estes eram apenas uma continuação dos crimes de Stalin. “Os nazistas (após Stalin) fizeram pior”, escreve jubilosamente, ao afirmar que “mais milhões morreram”. Aqui, Cohen acrescenta uma lista de autores direitistas que relacionam os crimes nazistas como parte de um esforço para justificar a remilitarização alemã de nossos dias.

Cohen então alude, sem explicações, ao “barranco repleto de cadáveres de Babi Yar”. Leitores não familiarizados com a história da II Guerra Mundial suporão que Cohen se refere a atrocidades de Stalin. Ele não informa a seus leitores que o barranco de Babi Yar, próximo a Kiev, capital ucraniana, foi o local onde aconteceu o massacre de 33.000 judeus perpetrado pelos nazistas em 29 e 30 de setembro de 1941.

O evento ocorreu exatamente após o início da “guerra de extermínio” nazista (Vernichtungskrieg) contra a União Soviética. As operações do imperialismo alemão incluíram a matança de seis milhões de judeus europeus. Aproximadamente 27 milhões de soldados e civis soviéticos morreram na luta para derrotar a violenta investida do regime fascista da Alemanha.

Significativamente, Cohen menciona Babi Yar sem mencionar a origem dos grupos na Ucrânia com que os Estados Unidos e Alemanha tratam hoje. A oposição é dominada por odientos anti-semitas.

O partido Svoboda é a força política majoritária nos protestos que derrubaram Yanukovych. Foi organizado em 2004 como parte da iniciativa para renomear sua organização precedente, o Partido Social-Nacional da Ucrânia (PSNU). Esse partido, cujos membros portam insígnias que eram usadas pelas Waffen SS, foi compelido a mudar sua denominação porque seu estreito vínculo com o fascismo complicava o esforço dos Estados Unidos para integrá-lo à “Revolução Laranja”, afinal concluída em 2005.

Oleg Tyahnybok é desde longa data dirigente do Svoboda e participou das reuniões com os Estados Unidos e funcionários da União Europeia que preparavam a mudança de regime do mês passado. Em 2004, Tyahnybok discursou no monte Yavoryna, quando enalteceu o Insurgente Exército Ucraniano da II Guerra Mundial que “lutou contra os russos, lutou contra os alemães, lutou contra os judeus e outras imundícies desejosas de tomar de nós o Estado da Ucrânia”, afirmou. Tyahnybok elogiou seus ouvintes, classificando-os como a força mais temida pela “máfia russo-semita” que controla a Ucrânia”. Em 2005, Tyahnybok assinou uma petição exigindo o banimento de organizações judias da Ucrânia.

Roger Cohen sabidamente evita referências às forças fascistas e anti-semitas com as quais os Estados Unidos estão aliados na Ucrânia. Neste aspecto, Cohen não está só. O assunto é quase tabu na imprensa dos Estados Unidos.

A tendência do New York Times é idêntica à do Wall Street Journal a publicar editoriais afirmando que a “afrontosa agressão da Rússia traz a ameaça de guerra para o coração da Europa pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria”), o Washington Post (insiste que a administração Obama “avalia as consequências para a Rússia pela invasão da Ucrânia”) e a revista Nation (cujo principal correspondente de política internacional é o ex-larouchite Robert Dreyfuss escreve que “Vladimir Putin deve ceder”).

A característica coordenada da mídia norte-americana torna claro que não se trata de posicionamentos individuais e é, porém, exatamente o desdobramento de um plano bem elaborado que visa à doutrinação do público para aceitar ações antes impensáveis.

Especialistas políticos influentes clamam por ação militar. Andrew Kuchins, do Centro de Estudos Políticos Internacionais, escreve que a intervenção militar russa além da Criméia “é a linha vermelha que, se for cruzada, significará a guerra com os ucranianos e as forças da NATO”. E acrescenta, “forças dos Estados Unidos e da NATO devem ser destacadas para o mar Negro bem próximo da costa ucraniana”.

Tal guerra teria consequências catastróficas. A repulsa contra a guerra requer incessante luta com o objetivo de expor as mentiras da mídia. Urge que nossos leitores divulguem a World Socialist Web Site entre os trabalhadores e a juventude. Partilhem e distribuam nossos artigos. Os povos de todo o mundo devem ser alertados relativamente ao grave perigo atual.