Publicado originalmente em inglês em 22 de agosto
de 2013.
A condenação do divulgador de informações
secretas (whistlebower) Bradley Manning a 35 anos de prisão
encerra um julgamento que será lembrado como o marco do
colapso da democracia americana. Os verdadeiros criminosos neste
processo, encobertos sob a capa de acusadores, como tribunal militar,
procuraram acobertar crimes de estado revelados por Manning, com
a encenação de um julgamento.
A sentença de Manning foi ditada por um governo cuja
criminalidade não tem paralelo. Suas vítimas incluem
mais de um milhão de iraquianos mortos, centenas de milhares
de afegãos assassinados, milhares eliminados por ataques
de drones (aviões sem piloto) e delitos semelhantes, casos
de tortura e sequestros cujas vítimas são levadas
para lugares desconhecidos. Manning foi trancafiado por expor
alguns desses crimes, pelos quais não se responsabilizou
nenhum funcionário estatal.
Estes crimes têm sido acompanhados internamente por uma
estrutura de estado policialesca. Segundo as revelações
das atividades do NSA feitas por Edward Snowden, centenas de milhões
de pessoas foram submetidas inconstitucionalmente a programas
de vigilância e espionagem do governo estadunidense.
Ao temor da intensa oposição do povo americano
a esses crimes, a administração Obama armou o julgamento
de Manning e passou a silenciar qualquer um que, à semelhança
de Manning, tente opor-se a tais práticas criminosas. Nas
palavras do promotor-chefe capitão Joe Morrow, o governo
teve a intenção de mandar uma mensagem a qualquer
soldado que contemple a possibilidade de furtar informações
sigilosas, e assegurar que nunca mais presenciemos
caso semelhante.
O reacionário objetivo do julgamento encontrou sua expressão
em repetidas violações de princípios democráticos
básicos.
Nenhuma das acusações contra Manning teve qualquer
fundamento legal ou moral relativamente aos crimes reais daqueles
que o processaram. Durante os julgamentos dos criminosos de guerra
nazistas após a II Guerra Mundial, o promotor-chefe e principal
acusador (chief prosecutor) da Suprema Corte de Justiça
e do Tribunal de Nuremberg configurou o princípio amplamente
aceito de que preparar e iniciar guerras de agressão constitui
o crime supremo de guerra e também crime contra a humanidade.
Segundo a conceituação de Jackson, são o
presidente Obama, o presidente Bush e outras poderosas autoridades
ianques que deviam ser submetidas a julgamento.
Os oficiais ignoraram o direito de Manning a um julgamento
expedito, forçando-o a aguardar três anos antes de
comparecer ao tribunal. Durante este período, o governo
sujeitou Manning a meses de tortura. Ontem, a juíza Denise
Lind decidiu que a sentença de 35 anos de Manning devia
ser reduzida em apenas 112 dias para compensar os 11 meses em
que Manning foi inconstitucionalmente mantido em confinamento
solitário.
A despeito do reconhecimento formal de um alto funcionário
das Nações Unidas de que o governo norte-americano
era culpado do tratamento inumano e degradante a que Bradley
Manning foi submetido, o julgamento continuou.
Obama desrespeitou os trâmites legais ao afirmar que
Manning era culpado antes do início do julgamento: Não
permitimos que indivíduos tomem decisões sobre como
a lei atua. Ele violou a lei. Esta afirmação
viola princípios democráticos existentes há
800 anos de que qualquer acusado é inocente até
prova em contrário.
O julgamento escarneceu da liberdade de imprensa, pois o estado
suprimiu qualquer divulgação pertinente ao processo,
o que teria exposto seu caráter antidemocrático.
Governo e oficiais militares limitaram drasticamente o acesso
da mídia ao processo e censuraram centenas de páginas
de documentos da corte nas primeiras semanas do julgamento, e
quase nenhuma informação referente ao andamento
do processo foi publicada.
Os agentes corporativos noticiosos que cobriram o andamento
do processo lançaram vitupérios sobre Manning, denunciando-o
como traidor.
Até mesmo o principal advogado de Manning, usou de termos
depreciativos ao referir-se a seu cliente. Coombs tentou retratá-lo
de narcisista e classificou seus atos de ingênuos,
resultantes de seu idealismo pós-adolescência.
Em vez de referir-se ao suposto delito revelado pelo vazamento
de informações de seu cliente, Coombs tentou retratar
as ações de Manning como infelizes resultados de
supostas emoções ou preocupações sexuais
do réu. Estas infundadas declarações nenhuma
relação tinham com a essência do processo.
Contrária à descrição de Coombs, os
corajosos atos de Manning não se originaram de instabilidade
mental, mas eram produtos de seus corajosos princípios
políticos.
Sua coragem e seus princípios não diminuíram
diante do relato humilhante que Manning foi compelido a fazer
ao ouvir sua sentença em 14 de agosto. Como poderia
eu, na face da terra, analista iniciante, chegar à conclusão
de que poderia mudar o mundo para melhor colocando-me acima dos
detentores do poder?, afirmou ele. Na realidade, milhões
de pessoas, inclusive Manning, estão bastante atentas para
o fato de que aqueles detentores da própria autoridade
são responsáveis por crimes de guerra e devem parar.
O fato de que o tribunal achou necessário desconsiderar
tal declaração atesta seu próprio estofo,
seu grau de corrupção política e moral.
Na qualidade de prisioneiro político, Bradley Manning
coloca-se na companhia de muitos, inclusive vultos tais como Edward
Snowden e Julian Assange, cuja oposição aos crimes
do Estado americano tem atraído o repúdio à
administração Obama.
Suas defesas não podem confiar em apelos a qualquer
um dos dois partidos dos partidos representantes dos vultosos
interesses econômicos, igualmente empenhados em manter Mannning
na prisão, e que igualmente continuarão a cometer
novos crimes contra o povo dos Estados Unidos e do mundo.
Manning somente pode ser defendido através da organização
de vigorosos movimentos de massa da classe trabalhadora em prol
dos direitos democráticos, da mobilização
de uma efetiva oposição aos crimes do imperialismo
estadunidense e sob a bandeira da luta pelo socialismo. Muito
antes do desfecho de sua sentença, essa mobilização
lutará para conseguir a libertação de Bradley
Manning e colocar seus acusadores no banco dos réus.