A porta-voz do Senado da Rússia, Valentina Matvienko,
afirmou aos entrevistadores da agência de notícias
Interfax na terça-feira que funcionários da Agência
de Segurança Federal (FSB) enviaram numerosos avisos às
autoridades estadunidenses sobre o suspeito do atentado da Maratona
de Boston, Tamerlan Tsarnaev, mas "estas informações
não foram consideradas pelos americanos, do que resultou
a tragédia".
O relato surgiu após a delegação bipartidária
do congresso americana, sob a direção da representante
republicana Dana Rohrbacher, em visita ao país, numa clara
busca de dados, oportunidade em que lhe foram apresentados pelo
funcionário Sergei Besada informes do FSB revelando o que
sua agência conhecia sobre Tasarnaev desde 2011.
Aos seis congressistas foi lida a tradução de
uma carta enviada pelo FSB ao FBI que continha registro pormenorizado
das ligações do jihadista Tsarnaev. A agência
de inteligência russa subsequentemente enviou o mesmo relato
para a CIA.
A FSB relatou que Tamerlan Tsarnaev se radicalizou em Boston
em 2010 e quis filiar-se aos combatentes palestinos, mas desistiu
da ideia porque não falava árabe. Em seu lugar,
afirma a carta, as atenções de Tsarnaev voltaram-se
para o Daguestão, região de maioria muçulmana
do norte do Cáucaso, onde um movimento separatista tem
empreendido ações terroristas contra as autoridades
russas. A mãe de Tsarnaev veio do Dagestão e seu
pai, da vizinha Tchetchênia.
De acordo com um dos congressistas da delegação
americana, o representante William Keating, democrata do Massachusetts,
o informe continha a data de nascimento de Tsarnaev, o número
de seu celular e o histórico de sua carreira como boxista
e também informações sobre sua esposa e
sua mãe.
Na carta solicitava-se aos funcionários americanos
que notificasse se Tsarnaev deslocara-se para o Daguestão.
Conforme os funcionários russos, nem o FBI nem a CIA
respondeu, não houve aviso dos Estados Unidos quando Tsarnaev
viajou ao Daguestão em janeiro de 2012, onde permaneceu
por seis meses e estabeleceu contatos com separatistas.
Ele se encontrou várias vezes com Makhmud Mansur Nidal,
conhecido recrutador separatista, e também com William
Plotnikoff, jihadista nascido no Canadá, segundo os funcionários
russos, que acreditaram ter Tsarnaev decidido retornar aos Estados
Unidos somente após a eliminação desses dois
contatos por forças russas.
"Nunca pensei que tivéssemos obtido tal informação
e cooperação", declarou Keating. Ele acrescentou
que "pode-se ver pelo nível dos detalhes que, de fato,
se tivéssemos melhor intercâmbio de informações,
uma sólida oportunidade de evitar-se o atentado teria sido
possível". Ele ainda observou que os pormenores fornecidos
pelas fontes russas eram "muito mais específicos"
do que os liberados pelo FBI.
Outro membro da delegação, Steve King, republicano
do Iowa, afirmou à website Hill, que "a Rússia
quis ajudar. E concluiu por isso que o FBI não estava interessado
em observar Tamerlan".
Estas constatações tornam ainda mais inaceitável
a alegação oficial de que o FBI investigou Tamerlan
Tsarnaev em 2011 e então encerrou seu dossiê, por
"não encontrar evidências comprometedoras"
As falhas cometidas pelo FBI, pela CIA e pelo Departamento de
Segurança Interna (Homeland Security Department), não
reagindo diante das múltiplas advertências a fim
de evitar que Tsarnaev, posto na lista de terroristas sob observação,
voltasse ao Daguestão e de lá regressasse ou mesmo
deixar de interrogá-lo quando voltou, não alertando
às polícias local e do estado, antes da Maratona
de Boston, de 15 de abril, sobre o que se conhecia a respeito
de Tsarnaev - nada a respeito foi explicou-se. Em vez disto, o
álibi a que se recorreu para explicar as vacilações
da segurança e os lapsos do aparato de inteligência
demonstrativos da "falha em estabelecer a interligação
entre os vários indícios".
A mídia e ambos os partidos políticos evidenciam
o desinteresse dos órgãos de inteligência
dos Estados Unidos para a verificação atenta do
evidente papel facilitador do complô terrorista executado
por Tsarnaaev, morto em tiroteio com a polícia vários
dias após o atentado, e seu irmão mais jovem Dzhokhar,
ora sob custódia num hospital prisional a enfrentar acusação
de uso de arma de destruição em massa, crime capital,
em que três pessoas morreram e mais de 260 foram feridas
nos dois atentados próximos à linha de chegada da
maratona.
O mau cheiro de queima de arquivo intensificou-se no mês
passado quando o FBI matou a tiros uma testemunha desarmada que
era interrogada em sua casa na Flórida. A vítima,
Ibragim Todashev, nativo da Tchetchênia, morava em Boston
e era amigo de Tamerlan Tsarnaev. Não se deu nenhuma explicação
plausível para o crime, fundamentando-se, assim, a suspeita
de que silenciaram Todashev porque ele sabia muita coisa sobre
as relações de Tamerlan com o FBI e outras agências
dos Estados Unidos.