O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, voará até
Roma na próxima semana, pois conseguiu uma audiência
com o papa Francisco, o anterior Mario Jorge Bergoglio, que na
qualidade de clérigo direitista platino foi cúmplice
com os crimes da guerra suja em seu país de origem.
Este direcionamento em relação à hierarquia
clerical é a imediata sequência de acomodação
do novo presidente bolivariano com um dos mais ricos capitalistas
venezuelanos no mês passado e o encontro sigiloso de seu
ministro do exterior, Elias Jaua, com o secretário de estado
americano John Kerry, em busca de "uma "normalização"
das relações entre a República Bolivariana
e o imperialismo ianque.
Apenas dois meses após sua apertada vitoria eleitoral
sobre o candidato de direita venezuelano, Henrique Capriles, e
o embate com uma crise econômica que se aprofunda, caracterizada
por uma semi-hiperinflação de 35 por cento ao ano,
crescimento estagnado e escassez crônica de víveres,
é evidente que Maduro se volta para a direita numa tentativa
de resguardar seu governo.
Igualmente significativo é o fato de capitalistas de
Washington e venezuelanos, estes representados na pessoa do bilionário
dono do conglomerado Polar Foods, Lorenzo Mendoza, ter sido convidado
para um encontro cordial com Maduro no Palácio Miraflores,
reforçam efetivamente seu apoio aos démarches do
presidente venezuelano.
A administração Obama, deve-se lembrar, foi a
única no mundo do mundo a não reconhecer a eleição
de Maduro após sua vitória de 1,5 por cento sobre
Capriles. Os Estados Unidos também foram o único
país a exigir total recontagem dos votos da eleição
de 14 de abril, a despeito de não haver qualquer evidência
de fraude, sem mencionar o fato deprimente para o sistema eleitoral
americano que foi a instauração de um presidente
não eleito em 2000 e também a manipulação
de computadores na votação do Ohio em 2004.
Quanto a Mendonza, ao lado de sua fortuna de 4,5 bilhões
de dólares, ele abertamente apoiou o golpe abortado de
2002 que teve também o apoio dos Estados Unidos, e que
depôs por alguns dias o presidente Hugo Chavez. Obrigado
a assumir uma posição mais discreta por ocasião
da tentativa fracassada, ele organizou vigorosa defesa de sua
empresa diante das acusações de "guerra econômica"
e de "sabotagem" feitas por Maduro.
Essas posturas eleitoreiras da direita venezuelana - Washington
e Mendonza - efetivamente neutralizaram a campanha direitista
com o propósito de classificar de "ilegítima"
eleição de Maduro e forçar a realização
de novo pleito.
Igualmente revelador é a negociação dos
Estados Unidos e da Chevron no mês passado para um empreendimento
em associação com a estatal Venezuela PDVSA no valor
de 2 bilhões de dólares.
No momento, tanto o imperialismo quanto vultosos setores dirigentes
do capitalismo venezuelano vêm a estabilidade do governo
de Maduro como alternativa preferível a uma explosão
social e política. Eles se recordam do Caracazo,
o levante da massa urbana contra política do IMF em 1989,
e a revolta popular que irrompeu em resposta à tentativa
de golpe de 2002.
Embora eles se tenham irritado com a política externa
adotada por Chavez e algumas medidas políticas domésticas,
não partilham das ilusões tão vigorosamente
promovidas pela pseudo esquerda pequeno-burguesa corrente na América
Latina e internacionalmente de que o Chavismo e sua encarnação
pós-Chavez represente diretamente um desafio ao imperialismo
ou um caminho viável em direção ao socialismo.
Estão por demais conscientes de que não obstante
os 14 anos da "Revolução Bolivariana",
o pais permanece capitalista e fonte de polpudos lucros para os
bancos e empresas transnacionais, como também para os capitalistas
venezuelanos. Integralmente, 71% da produção permanecem
no setor privado e os grupos financeiros situam-se entre os mais
rentáveis do mundo, registrando crescimento da ordem de
31% no primeiro trimestre deste ano, mesmo após o setor
manufatureiro entrar em recessão e a renda dos trabalhadores
venezuelanos corroer-se por causa da desenfreada inflação,
da desvalorização monetária e da suspensão
do controle dos preços.
O país alardeia possuir a maior reserva petrolífera
do mundo, com sua economia inteiramente dependente da exportação
do petróleo, cujo maiorvolume vai para os Estados Unidos.
Os que pertencem à chamada "esquerda" divulgam
ilusões em torno da capacidade de Maduro e do chavismo
para estruturar consequente luta contra o imperialismo ou
construir uma via para o socialismo na Venezuela, de empurrar
Maduro para a esquerda, mas os que assumem a tarefa política
de levá-lo a tomar posições revolucionárias
contribuem politicamente para desarmar a classe trabalhadora diante
de perigos efetivos.
Com toda retórica em torno de "fascistas",
de "golpes" e de "guerra econômica",
os chavistas, movimento nacionalista burguês, não
sentirão dificuldades para chegar a acomodações
com os que denunciaram apenas alguns dias antes.
Se há ameaça real de golpe, ela vem de dentro
do próprio movimento chavista e de um de seus pilares,
o militar, donde é originário o próprio Chaves.
Circulam rumores inquietantes de que Diosdado Cabello, o cabeça
da assembleia nacional e representante da boliburguesia,
enriquecido através de suas ligações políticas
e da corrupção, é, a exemplo Chavez, ex-oficial
do exército, mobiliza apoio dentro dos corpos militares
para acerto de contas com Maduro.
No entanto, setores da "esquerda" ativamente procuram
negar tais ameaças. Assim, a Marea Socialista (Onda Socialista),
cuja política é promovida ao mesmo tempo pelos Pabloitas
e a Organização Socialista Internacional, recentemente
defendeu a necessidade de "ativamente incorporar os membros
militares do povo bolivariano" à ofensiva para conter
"a desilusão e a frustração" reinantes
no meio popular. A Marea Socialista, funcionando como tendência
dentro do PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela), assegura
aos seus leitores que "não há possibilidade
imediata de um golpe contra-revolucionário" em razão
do caráter "bolivariano" dos militares.
Ilusões idênticas foram repetidamente acalentadas
pelo stalinismo, pelos pequenos burgueses, pelos Pabloitas de
tendências revisionistas, na América Latina - declarações
de que o exército chileno representava o "povo uniformizado"
às vésperas do sangrento golpe de Pinhochet em 1973,
a certeza de que a esquerda nacionalista do presidente e general
J. J. Torres, na Bolívia, armaria os trabalhadores na iminência
de assalto ao poder por militares de direita em 1971. O preço
de tais devaneios foi pago com as vidas de milhares de trabalhadores.
A premente tarefa política na Venezuela e também
em toda América Latina é a construção
de um novo partido revolucionário para lutar pela independência
política da classe trabalhadora, como único instrumento
para construir o socialismo. Tais partidos devem fundamentar-se
solidamente nas de experiências de luta dos movimentos mundiais
trotskistas representados pelo Comitê Internacional da Quarta
Internacional.
Tradução do artigo Venezuela´s "normalization"
of relations with Washington, divulgado pela website World
Socialist Web Site - www.wsws.org em. Tradu repetidamente tor:
Odon.