Novos documentos divulgados pelo ex-funcionário da Agência
de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Eduardo Snowden,
revelaram a ampla operação de espionagem focalizando
milhões de cidadãos brasileiros como também
empresas e instituições governamentais. A NSA
National Secutrity Ageny (Agência Nacional de Segurança)
pôs igualmente em sua mira a embaixada brasileira em Washington
e missões do mesmo país junto às Nações
Unidas em Nova Iorque.
A abrangência da espionagem foi exposta em artigo publicado
em 07 de julho no Rio de Janeiro pelo diário O Globo,
em coedição de seu staff com Glen Greenwald, jornalista
do Guardian, que entrevistou Snowden e tem publicado vários
artigos baseados em documentos fornecidos pelo ex-colaborador
da NSA.
O relato desencadeou uma onda de protestos oficiais de investigações
do governo brasileiro atualmente liderado pela presidente Dilma
Rousseff, filiada ao PT - Partido dos Trabalhadores. O governo
exigiu explicações do Departamento de Estado Americano
e do embaixador da mesma nacionalidade em Brasília.
Ao mesmo tempo, a presidente determinou à Polícia
Federal e à ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações
que procedessem a uma investigação criminal
sobre os objetivos expostos na denúncia e averiguassem
se empresas brasileiras colaboraram com as operações
da NSA.
De acordo com documentos citados na matéria de O
Globo, o acesso às redes brasileiras era facilitado
por companhias americanas de telecomunicações associadas
a empresas brasileiras. O jornal afirmou que o documento não
evidencia se as firmas brasileiras estavam cientes quanto suas
ligações com empresas americanas eram exploradas
pela NSA.
A matéria enfatizou que o Brasil se tornou alvo
especial (prime target) da NSA ao nível do Paquistão,
do Irã, da China e da Rússia. Porquanto os meios
oficiais americanos acentuem que os programas domésticos
e internacionais de inteligência da NSA são recursos
necessários à guerra global contra o terrorismo,
nunca se supôs que o Brasil fosse origem de ameaças
terroristas. Sem dúvida, a este país provavelmente
prestou-se mais atenção devido à sua importância
econômica e a ameaça que ele representa às
tentativas do imperialismo americano para exercer sua hegemonia
na América Latina e noutras partes do mundo.
A presidente Dilma Rousseff, embora se declarando indignada
diante da reportagem, acrescentou que seu governo procederia sem
precipitação ou pré-julgamento.
Ela declarou, Nós temos de dialogar.
Afirmou ela que seu governo adotaria medida legislativa com
o fim de assegurar em primeiro lugar, os direitos humanos,
o direito à privacidade de cada pessoa e de cada cidadão
e em segundo lugar, mas não nesta ordem, simultaneamente,
para garantir a soberania do Brasil.
O ministro das Comunicações do Brasil, Paulo
Bernardo, defrontou-se com a evidência de que a Internet
está se transformando em mecanismo da espionagem global,
e que é possível chegar à situação
de estados monitorando as vidas dos cidadãos pela manhã,
à tarde e à noite, e ninguém opondo-se a
tal coisa. Ele afirmou que procederia a discussões
no sentido de alterar o domínio da Internet, que está
nas mãos exclusivas dos Estados Unidos.
O ministro do Exterior brasileiro, Antonio Patriota, referiu-se
à profunda preocupação do governo com
o fato de que as comunicações eletrônicas
e telefônicas dos cidadãos brasileiros sejam objeto
de espionagem de órgãos da inteligência americana.
Afirmou ele que Brasília agirá junto à ONU
a fim de impedir abusos e proteger a privacidade das comunicações
telefônicas e da Internet.
Ao mesmo tempo, Patriota descreveu como encorajadoras
a declarada boa vontade demonstrada por funcionários americanos
nas abordagens do assunto.
É certo que de tais sentimentos não partilham
vastas camadas da população brasileira. A realidade
é que o Departamento de Estado americano se recusou terminantemente
a comentar seu programa de espionagem.
O embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, insistiu
que O Globo apresentara uma imagem incorreta de nosso
programa, e deixou de reportar-se ao tema principal de que
a inteligência americana tem espionado milhões de
brasileiros, interceptando bilhões de comunicações.
O escritório do diretor do NSA igualmente recusou-se a
fazer outros comentários pertinentes, ao alegar que o assunto
seria abordado pelos canais diplomáticos e
que os Estados Unidos reúnem informações
sigilosas estrangeiras da mesma forma que todas as demais nações.
A matéria é particularmente sensível para
o Brasil, que foi dominado por uma ditadura militar que tomou
o poder em 1964 durante duas décadas através de
um golpe apoiado pela CIA. Durante a ditadura, os grampos telefônicos
e outras formas de vigilância doméstica eram ubíquas.
A despeito dos protestos verbais e propostas para adoção
de medidas legais, o governo do PT evidentemente não deseja
confronto direto com Washington. Mais explícito, Patriota,
o ministro do Exterior tornou claro que não tem a intenção
de reverter sua intenção de recusa sumária
de apelo em prol de asilo a Edward Snowden, a fonte de informações
sobre a espionagem dos brasileiros pelos Estados Unidos.
Nem sobre esse assunto partiu qualquer ameaça do governo
de Dilma Rousseff no sentido de pôr termo a acordos no campo
de colaboração na coleta de informações
sigilosas e militares entre os dois países.
Uma continuação da matéria publicada pelo
O Globo na segunda-feira revelou que a NSA e CIA obtiveram
permissão para instalar uma estação em Brasília
destinada à coleta de dados sigilosos provenientes de satélites
de outros países, pelos menos até 2002. A data é
significativa, pois assinala a inauguração da primeira
investidura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
Documento da NSA aparentemente obtido de Snowden, sob o título
`Primary Fornstat Collection Operations´ divulgou a existência
da estação, mas não indica se que a base
encerrou suas atividades.
As indicações são de que o governo do
PT não somente continuou a colaborar com as operações
dos serviços estadunidenses de inteligência no país,
no entanto a mídia não esclarece se o Brasil partilhou
as informações de inteligência por ele próprio
coletadas.
No curso das demonstrações que levaram milhões
de pessoas às ruas no mês passado, houve denúncia
de que o governo Rousseff determinara à Polícia
Federal que realizasse operações de espionagem da
mídia eletrônica, como parte de uma tentativa de
refrear o movimento de protesto popular.