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O retorno da pobreza em massa na Europa

Por Peter Schwarz
12 de janeiro de 2011

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Quase uma em cada 4 pessoas na União Europeia foi ameaçada pela pobreza ou exclusão social em 2010. Esta é a conclusão de um relatório oficial que a Comissão Europeia apresentou em dezembro. Segundo o relatório, 115 milhões de pessoas, ou 23% da população da UE, foram consideradas pobres ou socialmente desfavorecidas. As principais causas foram o desemprego, a idade avançada e os baixos salários, com mais de 8% de todos os trabalhadores da Europa agora pertencendo ao grupo de "trabalhadores pobres".

Famílias de mães ou pais solteiros, imigrantes e jovens são os mais afetados. Entre os jovens, o desemprego é mais do que o dobro do que entre os adultos. Cerca de 21,4% de todos os jovens da UE não tinham nenhum trabalho em setembro de 2011. A Espanha lidera todos os países da UE com uma taxa de desemprego entre os jovens de 48%. Na Grécia, Itália, Irlanda, Lituânia, Letônia e Eslováquia o desemprego dos jovens está entre 25% a 45%.

Em países como Alemanha, Países Baixos e Áustria as taxas de desemprego entre os jovens são menores apenas porque a formação escolar leva mais tempo e muitos jovens desempregados estão "estacionados" em empregos sem carteira assinada, fato que os exclui das estatísticas oficiais. Mas mesmo nesses países a chance de conseguir um emprego com remuneração decente está diminuindo. Cerca de 50% de todos os novos contratos de trabalho na UE são contratos de trabalho temporários. Para os trabalhadores com idade entre 20 e 24 anos, a proporção é de 60%.

O crescimento da pobreza e da exclusão social não é simplesmente um resultado da crise econômica, mas sim o resultado de uma política deliberada por parte dos governos europeus e da União Europeia. Apesar dessas estatísticas alarmantes, as autoridades continuam a cortar os gastos sociais, a aumentar a idade da aposentadoria, a eliminar empregos no setor público e a expandir o setor de baixos salários - todas medidas que ampliam e aprofundam a pobreza. Com a decisão na última cúpula europeia de incluir um "freio de dívida" nas constituições de todos os estados membros da UE, os governos boicotaram a si próprios de praticamente qualquer possibilidade de aliviar a crise social através de medidas fiscais.

Após a Segunda Guerra Mundial, quando o desemprego e a pobreza se generalizaram pela Europa, mesmo governos de direita se sentiram obrigados a prometer um futuro melhor e mais próspero. Hoje, todos os governos europeus não têm nada para oferecer à classe trabalhadora além de sacrifícios e privações.

Todos os discursos de Ano-Novo ecoaram este tema. O primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, advertiu seus compatriotas, que já foram sujeitos a cortes brutais: "Temos de continuar nossos esforços com determinação para que os sacrifícios que fizemos até agora não sejam em vão."

O presidente francês, Nicholas Sarkozy, proclamou: "Esta crise extraordinária, sem dúvida a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial, não acabou... vocês estão terminando o ano mais ansiosos por si mesmos e por seus filhos."A chanceler alemã, Angela Merkel, ameaçou: "O próximo ano será sem dúvida mais difícil do que 2011." E o presidente italiano, Giorgio Napolitano, um ex-stalinista, que passou décadas no Partido Comunista, convidou a população italiana a fazer sacrifícios para equilibrar o orçamento nacional: "Ninguém, nenhum grupo social, pode hoje evitar o compromisso de contribuir para a limpeza das finanças públicas a fim de evitar o colapso financeiro da Itália", disse ele.

A alegação de que as medidas de austeridade estão sendo usadas para resguardar os tesouros nacionais é uma mentira descarada. As finanças públicas estão insolventes porque elas têm sido saqueadas pela mesma elite financeira que agora é beneficiada pelas medidas de austeridade. Impostos sobre os lucros, a propriedade, e a alta renda têm sido repetidamente reduzidos. Muitos países do Leste Europeu, onde a pobreza é particularmente elevada, introduziram um imposto fixo de menos de 20%. Três anos atrás, trilhões em fundos públicos foram transferidos para os cofres dos bancos para cobrir suas perdas especulativas.

O relatório da UE documentando o crescimento da pobreza também contém dados sobre o crescente fosso entre ricos e pobres. Na Alemanha, o país mais rico, 1% da população possui 23% de toda a riqueza e os 10% mais ricos controlam 60%. Metade da população possui apenas 2% de toda a riqueza. O relatório diz: "Uma estrutura em que os pobres possuem menos de 5%, as classes médias 30-35%, e os ricos mais de 60% representa um padrão típico que pode ser encontrado na maioria dos países europeus".

A elite financeira que monopoliza uma enorme proporção de ativos sociais perdeu toda inibição social. No período pós-guerra, com as memórias de crimes de guerra ainda frescas e os sentimentos socialistas amplamente divulgados, eles foram obrigados a fazer concessões sociais para preservar seu sistema. A existência da União Soviética também exerceu um efeito moderador. Apesar da degeneração stalinista, as relações nacionais de propriedade estabelecidas pela Revolução Russa representaram uma alternativa possível ao chamado livre mercado.

No decorrer dos últimos 20 anos, a elite financeira perdeu todo constrangimento e declarou guerra à classe trabalhadora. Se as eleições democráticas estão em seu caminho, ela as varre de lado, como na Grécia e na Itália, onde os governos tecnocráticos foram instalados, os quais são responsáveis unicamente para com os bancos. Nem a oligarquia financeira fica tímida diante da violenta repressão das resistências sociais, como exemplificado pela expulsão forçada dos manifestantes que ocupavam por todo os EUA e internacionalmente.

Como a aristocracia francesa no final do século XVIII na véspera da revolução, a aristocracia financeira de hoje não está preparada para perder nem mesmo uma pequena fração de seus privilégios ou riqueza.

A elite financeira é apoiada por representantes das classes médias abastadas na mídia, pelos partidos políticos no poder, pelos sindicatos e pelos ex-esquerdistas, que insistem que não há alternativa à austeridade e usam todos os meios para sabotar a oposição social.

Um típico representante dessa espécie é o ex-líder do Partido Verde alemão, Joschka Fischer. Na edição de Réveillon do Süddeutsche Zeitung, o uma vez radical e mais tarde ministro das Relações Exteriores alemão acolheu com entusiasmo as últimas medidas de austeridade acordadas pela UE e concluiu com um hino de louvor aos mercados financeiros. "E a quem devemos todo este progresso europeu?", escreveu ele. "À sabedoria de nossos líderes? Infelizmente não. Foi quase que exclusivamente devido à pressão dos malignos mercados! "

O retorno da pobreza em massa à Europa prepara o palco para o retorno da revolução. A classe trabalhadora e a juventude devem preparar-se para o inevitável confronto com a elite financeira, rompendo com seus representantes políticos na social-democracia, os sindicatos, o Partido de Esquerda e outras organizações pseudoesquerdistas e empreender a luta por um programa socialista através da construção de partidos da Igualdade Socialista e do Comitê Internacional da Quarta Internacional na Europa.

Traduzido por movimentonn.org

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