World Socialist Web Site
 

WSWS : Portuguese

Trabalhadores gregos são lançados na miséria

Por Robert Stevens
21 de setembro de 2011

Utilice esta versión para imprimir | Comunicar-se com o autor

Com a Grécia beirando o calote (default) de sua dívida de cerca de 330 bilhões e euros e sofrendo uma saída forçada da Zona do Euro, o governo PASOK do primeiro-ministro George Papandreau está intensificando seu programa de austeridade contra a população já pauperizada.

Desde sua eleição em outubro de 2009, o PASOK deu início a uma contrarrevolução social, destruindo os padrões de vida da classe trabalhadora.

O desemprego atingiu o nível oficial de 16% (800 mil pessoas) em junho e, na realidade, beira os 30%. Deve subir ainda mais, uma vez que o governo pretende eliminar nada menos que 120 mil empregos do setor público por meio de demissões ou afastamentos de até um ano sob salários rebaixados. Na segunda-feira, o governo anunciou que 3500 funcionários de 151 serviços públicos e empresas estatais entrarão em uma “reserva de trabalho” e receberão um pagamento pouco acima do auxílio-desemprego.

No sábado, Papandreau usou o seu discurso anual sobre economia na Feira Internacional de Thessaloniki para confirmar que milhares de funcionários civis perderão seus empregos e outros milhares terão seus salários cortados. As medidas haviam sido decididas em gabinete na semana passada, com base na condição de a Grécia acessar a última tranche do segundo empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 190 bilhões de euros, que é a de aprofundar ainda mais as medidas de austeridade. Uma delegação do FMI/EU visitará a Grécia para avaliar se autoriza o sexto pagamento do empréstimo, de 8 bilhões de euros. Sem o empréstimo, a Grécia quase imediatamente irá entrar em default de suas dívidas.

Naquilo que se tornou um ritual diário, figuras dirigentes do governo tentam afirmar aos mercados financeiros de que a Grécia não está à beira do naufrágio. Na sexta-feira, o ministro das finanças, Evangelos Venizelos, foi constrangido a afirmar que a Grécia não iria decretar falência no fim de semana. “A mensagem mais clara que a Grécia envia neste momento... é que estamos absolutamente determinados, sem considerar qualquer custo político, a cumprir por inteiro com as obrigações que temos com nossos parceiros”, disse.

Na segunda-feira, o vice-ministro das finanças, Filippos Sachinidis, confirmou que a Grécia só tinha dinheiro em conta até Outubro.

Nada está fora do jogo em termos de destruição das condições de vida. Durante uma conferência de imprensa em Thessaloniki, Papandreau foi questionado se pretendia propor a abolição da estabilidade de emprego para o serviço público durante a revisão da Constituição. Ele respondeu: “Não deverá haver nenhum tabu no que discutirmos”.

As medidas de austeridade inflamaram uma recessão que provocou a queda do PIB em 7,3% no segundo trimestre de 2011, comparado ao mesmo período em 2010.

De acordo com um relatório das federações do trabalho GSEE/Adedy, mais de um milhão de gregos ficarão desempregados até o final do ano e o desemprego oficial chegará a 26% em 2012. Trata-se de um país de pouco mais de 11 milhões de habitantes, com uma população trabalhadora de cerca de metade desse número.

O desemprego no país cresceu 95% no primeiro trimestre de 2011, em comparação com o mesmo período em 2008.

Novos números reunidos pela agência Elstat mostram que a região norte da Macedônia Oeste, onde estima-se que 20% dos pequenos negócios fecharam durante a recessão, o desemprego oficial é agora de 22%, comparado a 14,9% em junho de 2010. Nos últimos três anos há “um aumento na desigualdade social e uma redução nos direitos e benefícios sociais em geral”, com as rendas médias tendo caído 20% e aposentadorias reduzidas de 25% a 50%.

De acordo com um informe recente da Reuters, a ONG Klimaka estima que o número de pessoas sem-teto vivendo nas ruas da Grécia aumentou 25% para 17 a 20 mil nos últimos dois anos. Em Atenas, o serviço municipal para os desabrigados relatou um aumento de 15% a 20% na demanda.

O governo decretou graves ataques ao oferecimento de educação superior com seu projeto de lei de reforma da educação, que passou no parlamento no dia 24 de agosto. A lei, apresentada pela ministra da educação, Anna Diamantopoulou, lança as bases para a privatização da educação superior e a introdução de taxas de cobrança, autorizando um estilo de administração britânico das universidades. Educação gratuita será garantida apenas por três anos, com taxas a serem cobradas nos anos posteriores. Pessoas não ligadas ao meio acadêmico serão autorizadas a administrar instituições a distância, de arrecadação baseada em sua orientação para a indústria. Faixas salariais nacionais serão abolidas e substituídas por faixas salariais baseadas na produtividade.

Os orçamentos das universidades já foram cortados em 30% em 2010 e 20% em 2011.

A Grécia ainda depende de fundos de empréstimo do acordo original de 110 bilhões de euros que assinou com o FMI/UE em 2010, mas tanto este quanto o acordo de julho estão em frangalhos. O Financial Times disse na terça-feira em relação ao pacote de empréstimo do FMI/EU: “Menos de dois meses depois, quase todas as partes do novo pacote - assim como o resgate anterior de 110 bilhões de euros, negociado em maio passado - estão à beira do colapso”.

O Financial Times também apontou: “Para entender melhor as necessidades da Grécia e por que um segundo resgate está sob ameaça, é mais instrutivo olhar a quantia de ajuda que Atenas precisa para administrar suas operações diárias pelos próximos três anos: 172 bilhões de euros. Alguém - cidadãos gregos, credores internacionais ou investidores privados - vai ter que achar dinheiro o suficiente para preencher este buraco ou a Grécia vai entrar em um potencial default desorganizado”.

Ainda este ano, o FMI/UE exigiram que Atenas começasse privatizações imediatas de 50 bilhões de euros. Isso foi prontamente atendido pelo PASOK. Na intenção de receber novos empréstimos como parte do acordo de julho, o governo prometeu aumentar em 28 bilhões de euros a venda de propriedades do Estado nos próximos três anos. Até agora só uma privatização foi completada - 10% da Hellenic Telecom foi vendida à Deutsche Telekom por 390 milhões de euros.

A derrota no cumprimento dessa meta de privatizações deve-se em grande parte ao fato de que títulos do Estado ficarão disponíveis por um preço muito mais barato no caso de um default.

Tal é o nível da crise da dívida grega, e da montanha de dívidas na Zona do Euro como um todo, que essas medidas brutais não são capazes de começar a resolver sequer os problemas fundamentais. Um artigo no New York Times de domingo, “Retornando a Grécia ao Dracma”, apontava que, em 2008, o PIB per capita da Grécia ficou em US$ 30.400 e “estava próximo da média da União Europeia”, contrastando com o PIB per capita da Bulgária, de US$ 14 mil, e o da Macedônia, de US$ 10.700, afirmando ousadamente que isso “sugere que a Grécia pode precisar de um rebaixamento nos níveis de vida de até 40% para se tornar competitiva”.

Análises recentes do banco suíço UBS concluíram que se a Grécia deixasse o Euro, cada cidadão seria atingido com um custo entre 9.500 e 11.500 euros durante o primeiro ano. Isso se acumularia a uma perda sem precedentes do PIB entre 40 e 50% somente no primeiro ano. O UBS também concluiu que a população enfrentaria um custo de 3 mil e 4 mil euros por cabeça nos anos seguintes.

Impor o que é pedido só é possível por meios autoritários. Não por acaso, a lei de educação também abole o histórico “asilo universitário” (sob o qual a polícia não poderia entrar em zonas acadêmicas). Essa lei foi originalmente aprovada em 1974 após o brutal assassinato de estudantes que protestavam na Politécnica de Atenas em 1973 em um levante contra à junta militar que estava no poder.

Os sindicatos estão trabalhando para garantir que as lutas da classe trabalhadora não saiam do controle. Após atos no fim de semana em Thessaloniki, de cerca de 25 mil pessoas protestando contra as medidas governamentais, mais atos e greves aconteceram durante a semana.

Na terça-feira, milhares de taxistas grevistas, protestando contra a “liberalização” da sua profissão, fizeram um ato do lado de fora do Parlamento. Funcionários civis continuaram a greve em protesto ao plano do PASOL de cortar seus empregos e salários, enquanto funcionários do fisco e das alfândegas concluíram uma greve de dois dias. Os lixeiros começaram uma nova greve no domingo e reivindicam a reabilitação de seus companheiros cujos contratos de curto prazo expiraram.

Comentando a queda nos níveis de vida entre os funcionários do fisco, Yiannis Grivas, o diretor do sindicato POE-DOY da categoria, disse: “Estamos falando de cortes em nossa renda de 60% no último ano e meio - 30%no ano passado e 30% neste ano com a nova estrutura salarial. É claro que somos obrigados protestar”.

Nos últimos dois anos os sindicatos organizaram inúmeros atos do tipo, com plena consciência de que não causarão nenhum impacto nos cortes contínuos que Papandreau perpetrou.

Em uma declaração nesta semana, a central sindical GSEE disse que as medidas de “reserva de trabalho” do governo eram “políticas ultimatistas que irão aumentar ainda mais as listas de desempregados e a desigualdade social”. A GSEE revelou seu papel essencial como principal ferramenta do governo PASOK e como facilitador de seu programa de austeridade acrescentando: “O governo, em vez de tomar medidas que ‘abrem’ as portas ao desemprego, deveria reorganizar os serviços e instituições para explorar produtivamente todos os trabalhadores nas organizações e departamentos do setor público mais amplo”.

Traduzido por movimentonn.org