Com a Grécia beirando o calote (default) de sua
dívida de cerca de 330 bilhões e euros e sofrendo
uma saída forçada da Zona do Euro, o governo PASOK
do primeiro-ministro George Papandreau está intensificando
seu programa de austeridade contra a população já
pauperizada.
Desde sua eleição em outubro de 2009, o PASOK
deu início a uma contrarrevolução social,
destruindo os padrões de vida da classe trabalhadora.
O desemprego atingiu o nível oficial de 16% (800 mil
pessoas) em junho e, na realidade, beira os 30%. Deve subir ainda
mais, uma vez que o governo pretende eliminar nada menos que 120
mil empregos do setor público por meio de demissões
ou afastamentos de até um ano sob salários rebaixados.
Na segunda-feira, o governo anunciou que 3500 funcionários
de 151 serviços públicos e empresas estatais entrarão
em uma reserva de trabalho e receberão um pagamento
pouco acima do auxílio-desemprego.
No sábado, Papandreau usou o seu discurso anual sobre
economia na Feira Internacional de Thessaloniki para confirmar
que milhares de funcionários civis perderão seus
empregos e outros milhares terão seus salários cortados.
As medidas haviam sido decididas em gabinete na semana passada,
com base na condição de a Grécia acessar
a última tranche do segundo empréstimo do
Fundo Monetário Internacional (FMI), de 190 bilhões
de euros, que é a de aprofundar ainda mais as medidas de
austeridade. Uma delegação do FMI/EU visitará
a Grécia para avaliar se autoriza o sexto pagamento do
empréstimo, de 8 bilhões de euros. Sem o empréstimo,
a Grécia quase imediatamente irá entrar em default
de suas dívidas.
Naquilo que se tornou um ritual diário, figuras dirigentes
do governo tentam afirmar aos mercados financeiros de que a Grécia
não está à beira do naufrágio. Na
sexta-feira, o ministro das finanças, Evangelos Venizelos,
foi constrangido a afirmar que a Grécia não iria
decretar falência no fim de semana. A mensagem mais
clara que a Grécia envia neste momento... é que
estamos absolutamente determinados, sem considerar qualquer custo
político, a cumprir por inteiro com as obrigações
que temos com nossos parceiros, disse.
Na segunda-feira, o vice-ministro das finanças, Filippos
Sachinidis, confirmou que a Grécia só tinha dinheiro
em conta até Outubro.
Nada está fora do jogo em termos de destruição
das condições de vida. Durante uma conferência
de imprensa em Thessaloniki, Papandreau foi questionado se pretendia
propor a abolição da estabilidade de emprego para
o serviço público durante a revisão da Constituição.
Ele respondeu: Não deverá haver nenhum tabu
no que discutirmos.
As medidas de austeridade inflamaram uma recessão que
provocou a queda do PIB em 7,3% no segundo trimestre de 2011,
comparado ao mesmo período em 2010.
De acordo com um relatório das federações
do trabalho GSEE/Adedy, mais de um milhão de gregos ficarão
desempregados até o final do ano e o desemprego oficial
chegará a 26% em 2012. Trata-se de um país de pouco
mais de 11 milhões de habitantes, com uma população
trabalhadora de cerca de metade desse número.
O desemprego no país cresceu 95% no primeiro trimestre
de 2011, em comparação com o mesmo período
em 2008.
Novos números reunidos pela agência Elstat mostram
que a região norte da Macedônia Oeste, onde estima-se
que 20% dos pequenos negócios fecharam durante a recessão,
o desemprego oficial é agora de 22%, comparado a 14,9%
em junho de 2010. Nos últimos três anos há
um aumento na desigualdade social e uma redução
nos direitos e benefícios sociais em geral, com as
rendas médias tendo caído 20% e aposentadorias reduzidas
de 25% a 50%.
De acordo com um informe recente da Reuters, a ONG Klimaka
estima que o número de pessoas sem-teto vivendo nas ruas
da Grécia aumentou 25% para 17 a 20 mil nos últimos
dois anos. Em Atenas, o serviço municipal para os desabrigados
relatou um aumento de 15% a 20% na demanda.
O governo decretou graves ataques ao oferecimento de educação
superior com seu projeto de lei de reforma da educação,
que passou no parlamento no dia 24 de agosto. A lei, apresentada
pela ministra da educação, Anna Diamantopoulou,
lança as bases para a privatização da educação
superior e a introdução de taxas de cobrança,
autorizando um estilo de administração britânico
das universidades. Educação gratuita será
garantida apenas por três anos, com taxas a serem cobradas
nos anos posteriores. Pessoas não ligadas ao meio acadêmico
serão autorizadas a administrar instituições
a distância, de arrecadação baseada em sua
orientação para a indústria. Faixas salariais
nacionais serão abolidas e substituídas por faixas
salariais baseadas na produtividade.
Os orçamentos das universidades já foram cortados
em 30% em 2010 e 20% em 2011.
A Grécia ainda depende de fundos de empréstimo
do acordo original de 110 bilhões de euros que assinou
com o FMI/UE em 2010, mas tanto este quanto o acordo de julho
estão em frangalhos. O Financial Times disse na
terça-feira em relação ao pacote de empréstimo
do FMI/EU: Menos de dois meses depois, quase todas as partes
do novo pacote - assim como o resgate anterior de 110 bilhões
de euros, negociado em maio passado - estão à beira
do colapso.
O Financial Times também apontou: Para
entender melhor as necessidades da Grécia e por que um
segundo resgate está sob ameaça, é mais instrutivo
olhar a quantia de ajuda que Atenas precisa para administrar suas
operações diárias pelos próximos três
anos: 172 bilhões de euros. Alguém - cidadãos
gregos, credores internacionais ou investidores privados - vai
ter que achar dinheiro o suficiente para preencher este buraco
ou a Grécia vai entrar em um potencial default desorganizado.
Ainda este ano, o FMI/UE exigiram que Atenas começasse
privatizações imediatas de 50 bilhões de
euros. Isso foi prontamente atendido pelo PASOK. Na intenção
de receber novos empréstimos como parte do acordo de julho,
o governo prometeu aumentar em 28 bilhões de euros a venda
de propriedades do Estado nos próximos três anos.
Até agora só uma privatização foi
completada - 10% da Hellenic Telecom foi vendida à Deutsche
Telekom por 390 milhões de euros.
A derrota no cumprimento dessa meta de privatizações
deve-se em grande parte ao fato de que títulos do Estado
ficarão disponíveis por um preço muito mais
barato no caso de um default.
Tal é o nível da crise da dívida grega,
e da montanha de dívidas na Zona do Euro como um todo,
que essas medidas brutais não são capazes de começar
a resolver sequer os problemas fundamentais. Um artigo no New
York Times de domingo, Retornando a Grécia ao
Dracma, apontava que, em 2008, o PIB per capita da
Grécia ficou em US$ 30.400 e estava próximo
da média da União Europeia, contrastando com
o PIB per capita da Bulgária, de US$ 14 mil, e o da Macedônia,
de US$ 10.700, afirmando ousadamente que isso sugere que
a Grécia pode precisar de um rebaixamento nos níveis
de vida de até 40% para se tornar competitiva.
Análises recentes do banco suíço UBS concluíram
que se a Grécia deixasse o Euro, cada cidadão seria
atingido com um custo entre 9.500 e 11.500 euros durante o primeiro
ano. Isso se acumularia a uma perda sem precedentes do PIB entre
40 e 50% somente no primeiro ano. O UBS também concluiu
que a população enfrentaria um custo de 3 mil e
4 mil euros por cabeça nos anos seguintes.
Impor o que é pedido só é possível
por meios autoritários. Não por acaso, a lei de
educação também abole o histórico
asilo universitário (sob o qual a polícia
não poderia entrar em zonas acadêmicas). Essa lei
foi originalmente aprovada em 1974 após o brutal assassinato
de estudantes que protestavam na Politécnica de Atenas
em 1973 em um levante contra à junta militar que estava
no poder.
Os sindicatos estão trabalhando para garantir que as
lutas da classe trabalhadora não saiam do controle. Após
atos no fim de semana em Thessaloniki, de cerca de 25 mil pessoas
protestando contra as medidas governamentais, mais atos e greves
aconteceram durante a semana.
Na terça-feira, milhares de taxistas grevistas, protestando
contra a liberalização da sua profissão,
fizeram um ato do lado de fora do Parlamento. Funcionários
civis continuaram a greve em protesto ao plano do PASOL de cortar
seus empregos e salários, enquanto funcionários
do fisco e das alfândegas concluíram uma greve de
dois dias. Os lixeiros começaram uma nova greve no domingo
e reivindicam a reabilitação de seus companheiros
cujos contratos de curto prazo expiraram.
Comentando a queda nos níveis de vida entre os funcionários
do fisco, Yiannis Grivas, o diretor do sindicato POE-DOY da categoria,
disse: Estamos falando de cortes em nossa renda de 60% no
último ano e meio - 30%no ano passado e 30% neste ano com
a nova estrutura salarial. É claro que somos obrigados
protestar.
Nos últimos dois anos os sindicatos organizaram inúmeros
atos do tipo, com plena consciência de que não causarão
nenhum impacto nos cortes contínuos que Papandreau perpetrou.
Em uma declaração nesta semana, a central sindical
GSEE disse que as medidas de reserva de trabalho do
governo eram políticas ultimatistas que irão
aumentar ainda mais as listas de desempregados e a desigualdade
social. A GSEE revelou seu papel essencial como principal
ferramenta do governo PASOK e como facilitador de seu programa
de austeridade acrescentando: O governo, em vez de tomar
medidas que abrem as portas ao desemprego, deveria
reorganizar os serviços e instituições para
explorar produtivamente todos os trabalhadores nas organizações
e departamentos do setor público mais amplo.