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Crescentes conflitos sobre a crise do euro
Por Peter Schwarz
13 de setembro de 2011
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Quase todos os especialistas agora antecipam uma recessão
global profunda nesta etapa da crise. Ao mesmo tempo, líderes
políticos e economistas estão totalmente divididos
sobre como reagir. Há tantas dúvidas quanto especialistas,
e a maioria dos conselhos dados é mutuamente exclusiva.
A crise cresce completamente fora de controle.
Além da queda das previsões de crescimento nos
EUA e na Europa é o futuro do euro que domina a crise.
O pacote financeiro multibilionário destinado a evitar
a bancarrota do Estado grego e de outros países altamente
endividados não teve efeito.
O pacote de resgate do euro, que em 2013 será necessário
para substituir o mecanismo de estabilização provisória
adotado no ano passado só foi ratificado pelo parlamento
francês. Os parlamentos dos outros 16 países da zona
do euro ainda têm de concordar com ele. No entanto, esta
proposta já foi ultrapassada pelos acontecimentos.
As medidas de austeridade draconianas vinculadas ao pacote
de resgate aceleraram uma severa recessão na Grécia.
No primeiro trimestre deste ano a economia grega, na verdade,
caiu 8,1 %. Como resultado, a dívida grega está
aumentando ao invés de diminuir. Um destino semelhante
aguarda Irlanda, Itália, Portugal, Espanha e mesmo França
e Alemanha, se a economia continuar a enfraquecer como se prevê.
Os bancos, que detêm uma grande parte dos títulos
do governo, reagiram como fizeram em 2008 na época da falência
do Lehman: A desconfiança é crescente, pois eles
estão retendo o seu dinheiro e agravando a crise. O resultado
nas bolsas de valores é de completo pânico. Ações
de bancos são primeiramente afetadas. Na segunda-feira,
o índice de ações alemão DAX caiu
5 % depois de já ter perdido um quinto do seu valor em
agosto.
"A zona do euro está presa em um círculo
vicioso", escreve o economista Barry Eichengreen no Financial
Times, acrescentando: "O crédito soberano está
se deteriorando, reduzindo a confiança no sistema bancário,
o que por sua vez aumenta a probabilidade de que os governos terão
que assumir passivos bancários adicionais. Isto prejudica
ainda mais o crédito soberano, o que mina ainda mais a
confiança nos bancos. Os líderes europeus têm
se mostrado incapazes de quebrar este ciclo vicioso, aumentando
o perigo de a crise europeia tornar-se uma crise global."
A impotência da política oficial para a crise
é evidente nas diferentes propostas sobre o que fazer a
seguir. É possível encontrar pelo menos três
opiniões conflitantes em uma única edição
do Financial Times, o jornal de negócios líder
na Europa.
Na edição de 06 de agosto, o supracitado Professor
Eichengreen, da Universidade de Berkeley, argumenta a favor da
intervenção do Fundo Monetário Internacional
e do G20. Eles devem fornecer um acompanhamento mais rigoroso
dos bancos europeus, ele sugere, e fornecer-lhes capital extra
para garantir que eles tenham capital suficiente para evitar a
inadimplência.
Eichengreen retoma a sugestão feita pela chefe do FMI,
Christine Lagarde, no final de agosto, a qual em uma conferência
dos principais banqueiros dos EUA pediu uma "recapitalização
urgente" dos bancos europeus. "Esta é a chave
para cortar a cadeia de contágio", Lagarde argumentou.
"Se não for tratada, pode-se ver facilmente a propagação
da fraqueza econômica a países centrais, ou mesmo
uma crise de liquidez debilitante". Ela também propôs
ativar o mecanismo de estabilidade europeu como uma forma de recapitalizar
os bancos.
O Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble,
descarta completamente a ideia do uso de parcelas adicionais de
fundos do Estado e, ao invés disso, recomenda mais medidas
de austeridade, mesmo quando são "politicamente dolorosas".
Em uma coluna na mesma edição do Financial Times,
ele insiste que "a austeridade é a única cura
para a zona do euro".
"Houve apelo dos reguladores para controlar os especuladores
dos bancos centrais para afrouxar ainda mais a política
monetária, dos EUA e da Alemanha, para utilizar seus supostos
espaços fiscais' para incentivar a demanda, e dos
líderes da União Europeia, para dar um salto imediato
a uma união fiscal e responsabilidade solidária",
escreve Schäuble. Ele, então, rejeita todas essas
propostas: "Empilhar mais dívidas agora vai prejudicar
ao invés de estimular o crescimento no longo prazo. Governos
dentro e fora da zona do euro não precisam apenas se comprometer
com a consolidação orçamental e a melhoria
da competitividade - eles precisam começar a realizá-las
agora."
As disputas evidentes a nível internacional são
repetidas em um nível nacional. Na Alemanha, que desempenha
um papel fundamental na crise do euro devido à sua dimensão
econômica, a coalizão governista está profundamente
dividida sobre a questão do que fazer a seguir.
A chanceler alemã, Angela Merkel pronunciou-se em favor
do euro. Que era "muito, muito mais do que uma moeda",
disse ela. Foi "o que garantiu uma Europa unida", explicou
na quarta-feira no debate do orçamento no Bundestag. "Se
o euro falhar, a Europa irá falhar." Mesmo o ministro
das Finanças, Schäuble, defendeu o euro como a única
alternativa. "O que precisamos em um mundo globalizado é
uma moeda comum europeia", disse ele.
Mas Schäuble também ameaçou que a próxima
parcela de dinheiro para a Grécia não será
paga se o país não cumprir seus requisitos de poupança.
"Não há margem de manobra", disse ele.
Se a Grécia tiver seus fundos negados o resultado será
a falência nacional, com consequências incalculáveis
para o sistema financeiro internacional.
O deputado Hermann Otto Solms do Partido Democrático
Livre já pediu a exclusão da Grécia da zona
do euro. O país ainda não tem as condições
para a ajuda financeira de outros estados, argumentou. "Isso
não pode ser permitido a longo prazo."
Há também uma ala dentro da coalizão de
governo que rejeita firmemente as propostas de resgate do euro.
Uma prévia da votação na fração
de coalizão na segunda-feira revelou que o governo não
tinha uma maioria absoluta. Dezenove membros dos partidos conservadores
e seis deputados do PDL (sigla em português para Free Democratic
Party (FDP)) também votaram contra o resgate ou se abstiveram.
Isso significa que o governo poderia ser dependente do apoio do
Partido Socialdemocrata (SPD), quando o voto definitivo sobre
o pacote de resgate será realizado no Bundestag, no final
de setembro.
Em seguida, na quarta-feira, o Tribunal Federal Constitucional
rejeitou um processo contra o resgate apresentado por vários
professores. O veredicto foi bem recebido pelo governo e pelos
mercados financeiros internacionais. Uma decisão negativa
poderia ter levado até ao fim do euro.
O tribunal decidiu, no entanto, que o Bundestag tinha de ratificar
todos os empréstimos futuros, nos termos do mecanismo de
resgate já existente. Caso o exemplo alemão seja
seguido por outros países, futuros resgates serão
quase impossíveis.
O tribunal também acabou com a delegação
de poderes nacionais para outras instituições europeias.
O tipo de governo econômico europeu favorecido pela chanceler
Merkel e pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, então,
só será possível após uma alteração
na Constituição alemã.
Os acalorados debates e fortes conflitos sobre como lidar com
a crise do euro são uma expressão do colapso do
sistema capitalista. A crise não pode ser resolvida dentro
das relações sociais existentes e das instituições
políticas.
A crise da dívida europeia é o resultado de décadas
de redistribuição de renda e riqueza, o que se acelerou
no início dos anos de 1980. Proporções cada
vez maiores da riqueza social fluíram para as contas dos
bancos e para os bolsos dos ricos, enquanto os salários
dos trabalhadores estagnaram, a produção caiu e
benefícios sociais foram reduzidos.
Grande parte da riqueza acumulada durante o boom do mercado
de ações dos anos 1990 era puramente especulativa
por natureza. Não representavam qualquer valor real. Quando
essa bolha estourou em 2008 os bancos foram salvos pela infusão
de bilhões de dólares dos orçamentos nacionais.
Agora, os bancos estão insistindo para que esses fundos
sejam recuperados através de programas de austeridade maciça
dirigida à massa da população. A crise torna-se
assim um mecanismo para redistribuir a riqueza, mais uma vez,
eliminando todas as conquistas sociais das últimas décadas.
Tanto os proponentes de uma solução europeia
e nacional para a crise do euro estão unidos em insistir
que a população pague o custo da crise. As medidas
de austeridade que a Grécia teve de implementar como requisito
para a "assistência" do fundo de resgate do euro
reduziram os padrões de vida dos assalariados de renda
média em cerca de 30-40 % e estão destruindo grande
parte da infraestrutura do Estado. A queda do euro e da União
Europeia resultará na falência de países inteiros
e levará a um ressurgimento de conflitos nacionais e guerras
na Europa.
Nenhuma saída pode ser conciliada com métodos
democráticos. Este é o pano de fundo para o intenso
debate em curso no seio da classe dominante e seus partidos. A
crise política vai gerar estruturas autoritárias
se a classe trabalhadora falhar em intervir na vida política
e na luta para estabelecer a sua própria solução
alternativa.
Nem um único problema social pode ser resolvido enquanto
os mercados financeiros controlarem o destino de economias inteiras.
As principais instituições financeiras e grandes
corporações devem ser expropriadas e colocadas sob
controle democrático. A vida econômica deve ser planejada
de acordo com as necessidades da sociedade, em vez de ser deixada
para a anarquia dos mercados e dos interesses de lucro dos bancos.
Isto requer a mobilização independente de milhões
de trabalhadores para estabelecer governos de trabalhadores e
os Estados Unidos Socialistas da Europa. Isto, por sua vez, exige
a construção de um partido revolucionário
mundial - o Comitê Internacional da Quarta Internacional
- e da sua seção alemã, o Partido da Igualdade
Socialista.
(Traduzido
por movimentonn.org)
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