Com protestos contra Wall Street se espalhando para mais de
100 centros e cidades dos EUA, o presidente Barack Obama em uma
coletiva de imprensa na Casa Branca, na quinta-feira, cinicamente
procurou explorar o espontâneo levante de raiva aos bancos
e às grandes empresas como um veículo para sua candidatura
à reeleição.
Na quinta-feira, novos protestos "Ocupar Wall Street"
surgiram em várias das principais cidades, incluindo Filadélfia,
Nova Orleans, Washington, Tampa, Dallas, Houston e Austin. Eles
ocorreram após a maior manifestação até
agora na cidade de Nova York, onde entre 15 a 20 mil pessoas marcharam
pela baixa Manhattan na noite de quarta-feira.
As manifestações são movidas por uma raiva
profunda em relação aos níveis sem precedentes
de desigualdade social na medida em que, 3 anos após o
colapso financeiro em Wall Street, o desemprego e os salários
em declínio persistem e se aprofundam ao lado de lucros
recordes e aumento da riqueza do 1% no topo da população.
O primeiro repórter na Casa Branca que falou com Obama
sobre os protestos contra Wall Street disse o óbvio sobre
os manifestantes: "Eles claramente não acham que você
ou os republicanos têm feito o suficiente, vocês são,
na verdade, parte do problema."
Obama respondeu que ele tinha "ouvido falar" do movimento
de protesto e "viu na TV". Ele passou a reconhecer que
"as pessoas estão frustradas, e os manifestantes estão
dando voz a uma frustração de base mais ampla sobre
como nosso sistema financeiro funciona".
Ele seguiu a indicação de que "sentiu a
dor" daqueles que estão se manifestando com uma afirmação
imediata de seu apoio a "um forte e eficaz setor financeiro
para que possamos crescer." Referindo-se ao seu apoio incondicional
ao resgate de 750 bilhões de dólares aos bancos
através do programa TARP, ele acrescentou: "Eu usei
um monte de capital político, e vou colocá-lo a
prova, a fim de certificar que uma derrocada financeira foi evitada,
e que os bancos ficaram à tona."
Em Nova York, o governador democrata, Andrew Cuomo, emitiu
uma declaração semelhante na quinta-feira, defendendo
Wall Street contra os protestos. "Wall Street é um
importante motor econômico para o estado", disse ele
numa conferência de imprensa. "Quando tudo está
em ordem, 20 a 25% da receita do Estado vem de Wall Street."
Em resposta a um repórter que observou que nenhum executivo
de Wall Street "foi para a prisão, apesar da corrupção
desenfreada e golpes que aconteceram", Obama defendeu a incapacidade
de processar qualquer um dos responsáveis por desencadear
a crise mais profunda desde a Grande Depressão. Ele disse
que "um monte de coisas que não era necessariamente
ilegal, era apenas imoral, inadequado ou imprudente", e insistiu
em relação aos processos "que não é
o meu trabalho, que é o trabalho do Procurador-Geral".
A simpatia fingida de Obama aos protestos é parte da
tentativa acordada para canalizar o movimento por trás
do Partido Democrata, que, não menos do que os republicanos,
serve e é financiado pelos bancos e casas financeiras responsáveis
pela crise do desemprego.
Esse esforço para sequestrar o movimento de protesto
foi liderado pelos sindicatos, que participaram em massa da marcha
de quarta-feira na cidade de Nova York. O comício contou
com uma plataforma de alto-falantes cheia de burocratas que não
levaram qualquer luta própria contra Wall Street e são
responsáveis por trair os interesses dos trabalhadores
que dizem representar.
A presença de um número considerável de
políticos democratas, nenhum dos quais se atreveu a se
dirigir à manifestação, foi anunciada da
plataforma com grande entusiasmo, e alguns dos burocratas sindicais
presentes não esconderam o fato de que eles querem ver
o movimento "Ocupar Wall Street" explorado como um veículo
para a campanha de Obama à reeleição.
A velocidade com que os protestos contra Wall Street têm
se espalhado de costa a costa é ainda mais extraordinária
dada a persistente recusa da mídia de massa para dar-lhes
cobertura significativa e a tentativa em muitos dos relatos que
apareceram para zombar e menosprezá-los.
"Pontos de encontro" haviam sido estabelecidos em
761 cidades na noite de quinta-feira, de acordo com o site Occupy Together, que
se descreve como "um eixo não oficial para todos os
eventos surgindo por todo o país em solidariedade a Ocupar
Wall Street'".
Na quinta-feira, milhares de pessoas iniciaram uma ocupação
da Praça da Liberdade, em Washington, antes de organizar
uma marcha passando pelo Tesouro dos EUA e pela Casa Branca. Os
manifestantes gritavam "Nós fomos vendidos".
A marcha terminou em frente a Câmara de Comércio
dos EUA, onde os manifestantes gritavam: "Queremos emprego!
Queremos emprego!" Embora os manifestantes tenham permissão
da National Park para ocupar a praça só até
domingo, eles se comprometeram a permanecer indefinidamente.
Várias centenas de manifestantes marcharam pela Tulane
Avenue através do distrito financeiro de Nova Orleans na
quinta-feira, se reunindo na Praça Lafayette, perto da
filial de Nova Orleans do Banco da Reserva Federal. A rádio
WWL descreveu a multidão como "racialmente diversa
e, principalmente, de jovens".
"A maioria das pessoas não está recebendo
um tratamento justo", Daniel Brook, um dos manifestantes,
disse à WWL. "É um país onde o 1% superior
controla 90% da riqueza, e isso é ultrajante. Era para
isto ser uma democracia. Todos deveriam estar nessa juntos".
Marchas também aconteceram por todo Texas. Várias
centenas marcharam até o Banco da Reserva Federal de Dallas,
que foi cercado de barricadas policiais. Em Houston, centenas
marcharam a partir do prédio do JP Morgan Chase à
Prefeitura, cantando, "Os bancos foram resgatados! Nós
fomos vendidos!" A manifestação também
foi realizada fora da Câmara Municipal, na capital do estado
de Austin.
David Larrick Smith, 40, do subúrbio de Rowlett em Dallas,
disse ao Associated Press que estava protestando contra
"todos esses bilionários que compraram o nosso governo".
Ele acrescentou: "Eu votei em Obama e ele nos traiu. Ele
tinha a oportunidade de ajudar o povo americano, e se tornou um
fantoche político".
Várias centenas de pessoas começaram uma manifestação
"Ocupar a Filadélfia" na quinta de manhã
em frente à prefeitura. May Chan, 32, um pesquisador de
ciência da Universidade da Pensilvânia, disse ao Associated
Press: "Estou indignado com o resgate todo. Acho que
alguém deve ir para a cadeia.".
Em diversos lugares, os protestos contra Wall Street tiveram
prisões, brutalidade e perseguição da polícia.
Em Nova York, no final de marcha de quarta-feira pela baixa
Manhattan, a polícia usou cassetetes e spray de pimenta
contra os manifestantes pacíficos e prendeu 28 pessoas
depois que uma parte da manifestação tentou marchar
pela Wall Street.
A guarda montada foi trazida para intimidar os manifestantes
e um grande número de pessoas sofreu ferimentos conforme
os policiais as jogavam contra o chão. O Departamento de
Polícia da Cidade de Nova York abordou os protestos com
força excessiva ao longo das últimas semanas, incluindo
o sábado passado, quando cerca de 700 manifestantes foram
detidos depois de terem sido levados para a ponte de Brooklyn
e, em seguida, encurralados pela polícia por ambos os lados
.
Em Seattle, mais de 20 manifestantes foram detidos na quarta-feira
após se recusarem as ordens da polícia para derrubar
tendas em Westlake Park. Os manifestantes prometeram ficar no
parque.
Em St. Louis 11 pessoas foram presas logo após a meia-noite,
na manhã de quinta-feira, depois que a polícia tentou
impor uma proibição de manifestações
em Kiener Plaza após às 22 horas. Cerca de 100 membros
do grupo de ocupação estavam na praça à
meia-noite quando cerca de 20 de carros de patrulha invadiram
a área.
Em São Francisco, a tropa de choque invadiu o acampamento
"Ocupar SF" na Market Street na quarta-feira.
"Ocupar SF" emitiu uma declaração dizendo
que a polícia os havia alertado a "arrumar nossas
barracas" ou enfrentar a prisão. Enquanto os manifestantes
se arrumavam para cumprir a ordem derrubando as barracas e começando
a retirar os suprimentos, "na surdina, a polícia,
usando capacetes e carregando bastões, formou um perímetro
ao redor de nossas coisas e nos impediu de salvar qualquer coisa,
enquanto seus funcionários públicos supervisionavam,
eles roubavam tudo. A polícia roubou comida, água,
abrigo e outras necessidades vitais de 99% do Ocupar SF'."
Da mesma forma, em Chicago, o assédio da polícia
tornou-se uma grande preocupação dos manifestantes.
Como parte de uma tentativa completamente antidemocrática
para acabar com o protesto reunido em volta da Reserva Federal
de Chicago, da Câmara de Comércio de Chicago e da
sede local de vários grandes bancos, os policiais usaram
uma lei local para exigir que os objetos pessoais dos manifestantes
fossem mantidos fora das calçadas e impedir os manifestantes
de dormir no local, mesmo sentados ou em pé.
Em resposta, os manifestantes se moveram, certificando-se de
se manter em movimento, a fim de evitar a prisão ou multas,
e mudaram seus suprimentos para uma igreja próxima. Eles
também têm marchado em torno de diferentes partes
do centro da cidade para evitar o confronto e para divulgar o
protesto a mais moradores da cidade.
Em Los Angeles, na quinta-feira, 11 manifestantes foram presos
pelo "crime" de entrar no Bank of America no centro
da cidade carregando um cheque gigante de 673 bilhões de
dólares feito para o "povo da Califórnia".
Eles estavam procurando apresentar o cheque para o banco quando
foram detidos por seguranças e entregues à polícia
de Los Angeles.
A polícia prendeu os 6 homens e 5 mulheres, parte de
uma multidão de 500 que marchava pelo centro da cidade
quinta-feira, e os levou para a prisão com algemas. A fiança
foi fixada em 5.000 dólares por pessoa.