No início do mês, o World Socialist Web Site informou
que operários estão sendo contratados por US$ 12
a hora na planta da Volkswagen em Chattanooga, Tennessee, e que
a BMW abriu uma nova linha de montagem em Spartanburg, Carolina
do Sul, onde emprega principalmente trabalhadores temporários
a US$ 15 a hora.
Esses salários, entre os mais baixos pagos a metalúrgicos
de qualquer parte do mundo desenvolvido, são resultado
de um ataque implacável contra os padrões de vida
dos trabalhadores americanos durante as últimas três
décadas. Esse ataque atingiu novos patamares desde que
a crise financeira irrompeu em 2008.
Com o pleno apoio da administração Obama, corporações
de dentro e fora dos EUA estão explorando níveis
de desemprego e pobreza que encontram precedentes somente na Grande
Depressão para transformar os EUA numa plataforma de força
de trabalho barata, que possa competir diretamente com México,
China, e outros países.
O Tennessee, assim como quase metade dos estados dos EUA, tem
uma taxa de desemprego em torno de 10%, e sua verdadeira taxa
de desemprego é provavelmente o dobro. Quando a Volkswagen
começou a aceitar candidatos para 1.700 vagas de emprego
em Chattanooga, recebeu 65 mil aplicantes nas primeiras três
semanas. Ao cortar os custos da mão de obra em ao menos
um terço na sua fábrica americana, a Volkswagen
é capaz de vender carros por US$ 7.000 menos do que modelos
comparáveis fabricados na Alemanha.
Com a ajuda do dólar em desvalorização,
a diferença salarial entre os trabalhadores americanos
e suas contrapartes brutalmente exploradas no México e
na Ásia está sendo rapidamente reduzida. Questionado
por um colunista do New York Times sobre por que a Siemens escolheu
construir uma nova fábrica em Charlotte, Carolina do Norte,
em vez da China, um porta-voz disse que, para trabalho altamente
qualificado, o diferencial de custo da mão de obra não
era grande. Para este tipo de fabricação,
disse, os EUA podem competir com a China.
A redução dos salários é um componente
central do plano da administração Obama de dobrar
as exportações dos EUA até 2015. Sem fazer
nada para atenuar a crise de desemprego, a administração
encabeçou a iniciativa dos cortes salariais durante as
falências forçadas e a restruturação
da General Motors e da Chrysler em 2009.
Se apoiando na ameaça de liquidação, a
Casa Branca exigiu a implementação ampliada de salários
de fome por toda a indústria, tirou dos trabalhadores o
direito de greve e demandou que as fábricas não
sindicalizadas no Sul, operadas por fabricantes asiáticos
e europeus, se tornassem a nova referência de custos da
força de trabalho. Isso resultou num boom de lucros para
os fabricantes automotivos baseados nos EUA, que, por sua vez,
se recusavam a oferecer qualquer aumento salarial para os trabalhadores,
enquanto distribuíam dezenas de milhões de dólares
em bônus para executivos.
Longe de defender os interesses dos trabalhadores, a central
sindical United Auto Workers (UAW, sigla em inglês) facilitou
o rebaixamento sistemático dos salários. O acordo
recentemente assinado pela UAW aumentará os custos horários
da mão de obra da GM em apenas 1% ao ano, a menor taxa
nas últimas quatro décadas. Isso inclui planos para
expandir rapidamente o número de trabalhadores cujo salário
de US$ 15 a hora os coloca no mesmo patamar dos operários
da planta da Volkswagen em Chattanooga.
Por décadas, a UAW e outros sindicatos bradaram que
os trabalhadores em países de baixo salário roubavam
empregos americanos. Agora o presidente da UAW, Bob King,
propagandeia que a GM redirecionou a produção de
plantas mexicanas de volta para fábricas representadas
pela UAW no Michigan e outros estados.
O parâmetro salarial baixo estabelecido pelo UAW desencadeou
uma competição para rebaixar os salários
por toda a indústria automotiva global. Trabalhadores europeus
agora estão sendo informados que precisarão aceitar
concessões salariais como as americanas assim como flexibilidade
trabalhista, do contrário, suas fábricas serão
fechadas. Como o WSWS observou no início do mês,
no mesmo ano em que a BMW anunciou que iria transferir a produção
de seu utilitário esportivo X3 para Spartanburg, Carolina
do Sul, anunciou também 5 mil demissões na Alemanha.
O severo declínio nos padrões de vida dos trabalhadores
metalúrgicos é particularmente significativo porque
eles são historicamente os trabalhadores industriais mais
bem pagos dos EUA, recebendo assim-chamados salários de
classe média. Mas a experiência de destruir
os salários e as condições de trabalho é
comum a todo setor da classe trabalhadora no que se tornou o novo
normal na América.
Desde o início do mergulho econômico, os salários
estão em queda livre, e não há qualquer perspectiva
de recuperação no mercado de empregos. De acordo
com um relatório de censo divulgado no início do
mês, a renda média real do lar americano caiu 2,3%
(US$ 1.154) no ano passado e 7,1% abaixo da taxa atingida uma
década antes. Trabalhadores jovens foram fortemente atingidos,
com mais de um terço dos lares encabeçados por um
pai de menos de 30 anos vivendo na pobreza em 2010.
Essas condições intoleráveis só
podem ser revertidas através da resistência coletiva
da classe trabalhadora. Novas organizações de luta,
independentes do UAW e outras organizações anti-trabalhistas,
precisam ser construídas como pontas de lança de
uma luta industrial e política de todos os setores da classe
trabalhadora - sindicalizados ou não sindicalizados, em
manufatura e serviços, em companhias dos EUA e estrangeiras.
Em cada fábrica, escritório, loja, os trabalhadores
devem estabelecer comitês para planejar e organizar a resistência
coletiva aos cortes salariais e demissões.
Essa luta exige uma perspectiva política inteiramente
nova. O chauvinismo nacional e a corrida até o fundo promovidos
pelos sindicatos e pelos partidos dos grandes negócios
precisam ser rejeitados para que os trabalhadores dos EUA possam
conscientemente se unir com os da Europa, Ásia e América
Latina.
É preciso compreender que essa batalha não é
simplesmente contra esse ou aquele empregador, mas contra todo
o sistema capitalista, que empobrece a maioria da população
mundial para enriquecer a minoria rica. Em todos os países,
os partidos políticos e sindicatos defendem o sistema do
lucro e são cúmplices na pilhagem da sociedade pela
aristocracia corporativa e financeira.
Nos EUA, a administração Obama demonstrou que
o Partido Democrata, não menos que o Republicano, é
um instrumento de Wall Street e das corporações,
determinado a retalhar os padrões de vida e acabar com
programas sociais de vital importância.
A classe trabalhadora precisa construir um partido político
de massas que lute para colocar o poder em suas próprias
mãos. A ditadura econômica dos bancos e das grandes
corporações precisa ser quebrada e a vida econômica
precisa ser reorganizada de modo a atender os interesses das massas
trabalhadoras que criam a riqueza da sociedade.
O Partido da Igualdade Socialista levanta a transformação
dos grandes aparatos financeiros e industriais, incluindo a indústria
automotiva, em serviços de utilidade pública. O
capitalismo precisa ser substituído por um sistema planejado
e racional baseado nas necessidades sociais, e não nos
lucros dos bilionários. Somente assim o direito ao emprego
e a um salário decente pode ser garantido para toda a população.