Publicado originalmente em inglês no dia 14 de novembro
de 2011.
A escala da operação policial organizada na quarta-feira
contra uma manifestação relativamente pequena e
inteiramente pacífica, em oposição aos cortes
educacionais no Reino Unido, mostra que a elite dominante não
irá mais tolerar qualquer forma de oposição
política e social.
Se aceitarmos a estimativa oficial do tamanho do protesto,
o uso de 4 mil policiais, muitos contando com equipamento de controle
de multidões, representa uma proporção de
policiais versus manifestantes de 1 para 1. Se partirmos de uma
estimativa mais precisa de 8 mil manifestantes, ainda assim a
proporção será de 1 para 2.
O Comissão da Nova Polícia Metropolitana Bernard
Hogan-Howe descreveu a manifestação como um teste
de sua política de Policiamento Total. O experimento
foi mais ou menos assim: Londres foi virtualmente trancada, com
todas as principais vias ao longo da rota da passeata bloqueadas
pelas fileiras de policiais, vans de controle de multidões,
cavalaria e barricadas de 3 metros de altura.
Nas estações de trem, metrô e ônibus
os manifestantes recebiam uma brochura de 11 páginas, com
o título em letras capitalizadas POLICIAMENTO TOTAL
na capa e contracapa. A brochura avisava que a polícia
faria uso da seção 60 do Ato de Justiça Criminal
e Ordem Pública de 1994 para revistas as pessoas e garantir
a remoção de máscaras.
Ao longo de uma rota pré-estabelecida de três
milhas, a marcha era contida por fileiras da polícia na
frente, atrás e em ambos os lados. Acima, helicópteros
circulavam, fazendo filmagens detalhadas dos participantes.
Numa provocação adicional, a marcha era interrompida
a cada 10 metros, de modo que uma rota de três milhas (pouco
menos de cinco quilômetros) levou três horas para
ser percorrida. As interrupções periódicas
permitiam que a polícia adentrasse a multidão em
certos pontos, empurrando e incomodando as pessoas na expectativa
de provocar uma reação.
Uma declaração emitida no dia avisava que a marcha
na London Wall deveria terminar em menos de uma hora e que a área
deveria ser completamente liberada em duas horas. Uma tentativa
dos manifestantes de estabelecer um acampamento na Trafalgar Square,
em solidariedade ao protesto do Occupy em St Paul's Cathedral,
foi frustrada em questão de minutos conforme a polícia
arrastava os envolvidos para longe.
O esforço de um grupo de eletricistas - em greve contra
ameaças da chefia de cortar seus salários em até
35% - de juntar-se ao protesto estudantil também foi confrontado
pela violência policial. A marcha dos eletricistas foi cercada,
de modo que eles foram virtualmente aprisionados. Quando alguns
tentaram se livrar do cerco, a tropa de choque avançou
com cassetetes e derrubou no chão vários dos trabalhadores.
Relatos informam que a polícia estava armada com granadas
de efeito moral. Nomes e endereços foram anotados sob a
autoridade da Seção 60 do Ato de Ordem Pública.
Antes da manifestação, o comandante encarregado,
Simon Pountain, declarou em uma conferência de imprensa
que o uso de canhões de água não era planejado,
mas balas de plástico tinham sido autorizadas algo
inédito na Inglaterra.
Mais de 450 cartas foram enviadas, advertindo pessoas presas
em conexão com outras infrações contra a
ordem pública que uma nova infração as levariam
à prisão e julgamento na primeira oportunidade.
Muitas dessas cartas foram enviadas a pessoas sem convicções
anteriores, apontando a existência de um banco de dados
da polícia daqueles que cujo crime foi apenas
ter participado de algum protesto anterior.
Em um artigo reimpresso no Police Oracle, o correspondente
criminal do Guardian casualmente descreveu a autorização
prévia do uso de cassetetes e o envio de cartas ameaçadoras
como nada de novo. O que é novo, ela disse,
era a decisão feita por Pountain de tornar isso público.
A autorização do uso de cassetetes foi dada durante
os tumultos do verão nas cidades britânicas, ela
disse, e talvez seja menos conhecido que ... também
foram autorizados durante a manifestação estudantil
contra os cortes há um ano.
A polícia também deve receber poderes adicionais,
ela observou, conferidos pela Secretária da Casa Civil
Theresa May, de modo que um superintendente da polícia
poderá retirar o público de uma área específica
durante uma manifestação - um poder indisponível
desde que o Ato Contra Tumultos foi removido dos estatutos em
1973.
O protesto estudantil de outubro passado viu 150 prisões,
tanto durante quanto após a manifestação.
Os tumultos desse verão - provocados pelo assassinato de
um homem desarmado pela polícia - foram seguidos de mais
de 4 mil prisões e mais de 2 mil processos criminais, com
longas sentenças de custódia para punir as infrações
mais triviais.
Um quadro similar se repete em todo o mundo. Onde quer que
trabalhadores e jovens procurem protestar contra a imposição
dos bárbaros cortes de austeridade, esbarram na repressão
brutal das forças policiais.
Na Grécia, por exemplo, um protesto durante a greve
geral de 20 de outubro foi atacado por um efetivo de 15 mil policiais
da tropa de choque, e a Praça Syntagma foi inundada com
gás lacrimogêneo. Nos EUA, as manifestações
do Occupy Wall Street se espalharam por todo o país após
duas semanas, em grande parte como uma resposta à prisão
de 700 manifestantes - quase um terço do total - que protestavam
na Ponte do Brooklyn.
O uso de medidas repressivas é um barômetro da
extrema polarização entre as classes.
Na Inglaterra, o Ato Contra Tumultos atualmente citado foi
originalmente esboçado em 1714, tornando a incitação
de tumultos uma infração punível com a morte.
Em 1837 a punição foi reduzida para cárcere
perpétuo em colônias penais.
Seu uso mais célebre se deu durante o Massacre de Peterloo
em 1819, em Manchester, quando o avanço da cavalaria sobre
80 mil manifestantes exigindo reforma parlamentar e assistência
contra as dificuldades econômicas matou 15 e feriu 700.
Em Glasgow, durante a Sexta-feira Negra de 1919, a polícia
anti-tumulto e 10 mil tropas foram alocadas contra trabalhadores
que faziam campanha pela redução da jornada de trabalho.
A Sexta-feira Negra ocorreu na esteira da Revolução
de Outubro de 1917 na Rússia, numa época em que
a elite britânica temia um levante bolchevique.
O fato de que poderes similares estão sendo aplicados hoje,
primeiro às escondidas e agora em meio à fanfarra
oficial, deve ser tomado como um aviso para a classe trabalhadora
na Inglaterra, Europa e internacionalmente.
Atualmente, uma oligarquia fabulosamente rica dita todos os
aspectos da vida social na busca de enriquecimento pessoal cada
vez maior. Sob condições de uma crise econômica
que se agrava, isso se traduz na exigência de cortes e austeridade
para milhões, exigência cujo cumprimento não
pode ser garantido por um mandato governamental democrático.
É isso o que determina as ações dos governos
burgueses ao redor do mundo para pôr em prática medidas
características de Estados policiais e, na Grécia,
a ameaça de um golpe militar.
A resposta dos trabalhadores e jovens precisa ser a construção
de um movimento socialista de massas e a adoção
de uma perspectiva revolucionária para lutar por uma sociedade
verdadeiramente igualitária e democrática, baseada
na expropriação da oligarquia e na organização
da produção em função das necessidades
sociais de todos por educação, saúde, moradia
e um emprego bem pago.