Publicado originalmente em inglês no dia 25 de outubro
de 2011
A Anistia Internacional, secção dos Estados Unidos,
revelou ontem que tinha evidência do massacre de 53 pessoas
efetuado por combatentes anti-Kaddafi na devastada cidade líbia
de Sirte. Os cadáveres, alguns com suas mãos amarradas
às costas de seus corpos antes de serem alvejadas na semana
passada, e encontrados no Hotel Mahari, distrito de Sirte. A Anistia
Internacional registra: Os filetes de sangue por baixo dos
corpos, buracos de balas visíveis no chão, e cartuchos
descarregados de rifles AK-47 e FN-1 espalhados em volta sugerem
fortemente que algumas, se não todas as vítimas
foram mortas no local onde foram localizadas..
Pessoas locais identificaram dois dos homens assassinados como
funcionários do governo de Gaddafi e um oficial do exército,
mas observaram que muito outros eram moradores de Sirte que tentaram
fugir quando as forças rebeldes apoiadas pela
NATO devastavam a cidade. O relatório da Anistia Internacional
continua: Outras vítimas possivelmente receberam
alta do Hospital Ibn Sina, de Sirte, afirmaram, após tratamentos
por ferimentos relacionados com o conflito. A alegação
de que algumas das vítimas foram liberadas pelo hospital
é procedente, pois constataram-se ferimentos enfaixados
em alguns corpos.
O hotel estava sob controle de forças anti-Gaddafi procedentes
de Misrata quando as 53 pessoas foram assassinadas. Inscrições
grafitadas nas paredes indicavam que cinco grupos milicianos tinham
ocupado o edifício.A matança foi executada no estágio
final do cerco de Sirte reforçado pelas incursões
da NATO, envolvendo descargas irregulares de morteiros, foguetes
e outros mísseis em áreas civis. Nenhum edifício
na cidade deixou de ser atingido, e vastas áreas encontram-se
reduzidas a escombros. A operação culminou na selvagem
eliminação de Muammar Gaddafi e no massacre de seus
assessores, de guardas e de seu filho Mo´tassim.
A Anistia Internacional relatou ontem: No local onde
Muammar Gaddafi foi capturado, encontramos os restos de 95 pessoas
que aparentemente morreram naquele dia. A vasta maioria visivelmente
pereceu lutando e no decorrer dos ataques antes da captura de
Gaddafi, mas entre seis e dez dos mortos parecem ter sido executados
à queima roupa com tiros na cabeça e noutras partes
do corpo. Mais detalhes surgem a respeito dos maus tratos
e tortura de Gaddafi antes que fosse atingido na cabeças
por disparos de um combatente rebelde.
Em cenas de vídeo tomadas após sua captura e
antes de sua execução, publicadas no sítio
GlobalPost Gaddafi, parece sodomizado com algum objeto por um
dos milicianos. Tracey Shelton, do GlobalPost, afirmou: Há
alguma dúvida se o instrumento usado foi uma faca na ponta
de uma arma, que os líbios chamam de Bicketti, ou uma ferramenta
conhecida como faca Becker, vulgarmente chamada BKT.
A conclusão da bárbara campanha militar da NATO
na Líbia demonstra a fraude da declarada libertação
do país. O Conselho de Transição Nacional
(CTN) foi instalado como uma administração títere
de Washington e seus aliados, através de operações
bélicas neo-coloniais travadas em violação
da lei internacional.
O objetivo foi o de defender a geoestratégia imposta
em toda região e para garantir o controle das ricas e lucrativas
reservas petrolíferas líbias. O presidente do Conselho
Nacional de Transição Mustafá Abdel-Jalil
anunciou ontem a formação de um comitê especial
para investigar as circunstâncias da morte de Gaddafi -
mas trata-se apenas de um acobertamento. Jalil tem afirmado que
Gaddafi foi morto num fogo cruzado ou, ainda mais
absurdamente que ele foi fuzilado por seus guardas ou por legalistas.
Jalil e outros componentes do CNT no entanto têm a obrigação
de pormenorizar as detenções arbitrárias
e as torturas de milhares de prisioneiros políticos alegadamente
partidários e combatentes de Gaddafi. O Washington Post
observou no domingo que, considerada a legislação
internacional, combatentes de guerra civil devem ser liberados
após a cessação dos combates, salvo se cometeram
crimes tais como ataque a civis.
Sob o tacão do CNT, porém, o Post assinalou:
Quase 7.000 prisioneiros de guerra estão apinhados
em prisões lúgubres e improvisadas espalhadas pela
Líbia, onde definham há semanas sem acusações,
suportando abusos e até mesmo tortura, de acordo com organizações
de direitos humanos e entrevistas com os detidos.
O CNT é um órgão autonomeado, em sua maioria
composto de ex-servidores do regime de Gaddafi, de diferentes
facções islâmicas e de agentes da inteligência
ocidental. Sua instalação como novo governo líbio
nada tem a ver com democracia, conforme proclamam
o presidente Barrack Obrama, o presidente francês Nicolas
Sarkozy e o britânico David Cameron.
Parte do discurso de libertação pronunciado
no domingo por Jalil, ex-ministro da justiça de Gaddafi,
foi um apelo às forças islâmicas no interior
da disparatada coalizão que atuou com a NATO contra o governo
anterior. Jalil classificou a Liba como um estado islâmico.
Insistindo que qualquer lei contrária aos princípios
islâmicos da xariá era legalmente nula, ele
decretou que não haveria proibição de poligamia
e que a usura seria banida.
Por traz da retórica oficial sobre uma Líbia
livre, as grandes potências prosseguem com sua
partilha do rico estado possuidor de grandes reservas petrolíferas.
Poucas pretensões têm os governos envolvidos de que
a alegada reconstrução da Líbia nada mais
é que o petróleo e a presa de suas reservas monetárias.
O secretário de defesa britânico, Philip Hammmond,
declarou à BBC: Eu tenho a esperança de que
as companhias britânicas, isto é, seus diretores
comerciais, estejam arrumando suas valises e procurando viajar
à Líbia a fim de participar da reconstrução
do país tão cedo lhes seja possível... A
Líbia é um país relativamente rico de reservas
petrolíferas e espero que tenham oportunidades para o envolvimento
de empresas britânicas e outras nas operações.
Daniel Kawaczynski - parlamentar de influência no Partido
Conservador da Grã-Bretanha, que atuou como presidente
do grupo de todos os partidos pró-Líbia - revelou
os cálculos mercenários das principais potências
em termos ainda mais grosseiros, exigindo que a nova administração
líbia assuma a conta pelas incursões da aviação
britânica durante a campanha da NATO.
Kawczynski declarou: A Líbia de forma alguma é
um país sem recursos. Não devíamos esquecer
que ao ajudarmos a libertação do povo da Líbia
da opressão, também ajudamos a liberar uma economia
rica em reservas naturais que exportou mais de 34 bilhões
de dólares em produtos petrolíferos no ano de 2009
e tinha um PNB estimado em mais de 85 bilhões de dólares
anuais.
Executivos britânicos, franceses e de outros países
europeus já viajaram a Trípoli e Bengazi em delegações
patrocinadas por seus departamentos nacionais de comércio
e de investimentos. A corporação britânica
UK Trade e Investment estimou que os contratos de petróleo
e gás - como também projetos envolvendo reconstrução,
engenharia civil, educação e telecomunicações
- alcançarão 320 bilhões de dólares
nos próximos dez anos.
Os Estados Unidos estão perseguindo tenazmente seus
interesses corporativos. O web site InvestorPlace comentou ontem:
A Líbia será um negócio multibilionário
para os capitais estadunidenses se a política estabilizar-se
com a reconstrução. E corporações
como a Exxon, General Electric e a Caterpillar serão as
primeiras e beneficiar-se da reconstrução.
Entre outros potenciais ganhadores identificados
incluem-se a Chevron, a ConocoPillips e a Halliburton.Obama está
sendo instado para que estas e outras corporações
não sejam frustradas por suas rivais européias.
O senador republicano Lindsay Graham a semana passada externou
a preocupação de que permitir-se que a Grã-Bretanha
e a França liderassem a campanha da NATO significasse que
quando um dia semelhante chegasse, não tenhamos a
infra-estrutura no lugar de que precisamos. E acrescentou:
Que ocupemos nosso lugar. Há um montão de dinheiro
a ganhar futuramente na Líbia. Muito petróleo para
extrair.