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A crise do euro

Por Peter Schwarz
30 Noviembre 2011

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Desde que o ano começou, mal se passou um mês sem que fosse realizada uma conferência dos países europeus para tomar novas medidas pela salvação da zona do euro. O fim do ano se aproxima, e a crise do euro está mais grave do que nunca.

A criação do Complexo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF); o aumento de suas reservas; a aquisição de títulos governamentais pelo Banco Central Europeu; duras medidas de austeridade na Grécia, Portugal, Espanha, Itália e França; o monitoramento do orçamento grego pela troica UE, Banco Central Europeu e FMI; mudanças nos governos de Portugal, Grécia, Itália e Espanha - todas essas medidas, que dominaram as manchetes dos últimos meses, fracassaram em parar as convulsões dos mercados financeiros. Ao contrário, os mercados estão em pânico.

A crise da dívida veio da periferia da zona do euro e atingiu o seu núcleo. Após a Grécia, Irlanda e Portugal, a Espanha, Itália e até a França agora precisam pagar juros tão altos para vender seus títulos governamentais que não podem mais escapar da armadilha do endividamento massivo. Na quarta-feira, mesmo uma venda de títulos alemães no valor de 6 bilhões de euros não pôde atrair compradores. Analistas descrevem esse fenômeno como uma "moção de desconfiança para toda a zona do euro".

Muitos especialistas não acreditam mais na sobrevivência do euro na sua forma atual. Uma pesquisa da Reuters com 20 acadêmicos proeminentes, estrategistas governamentais e líderes empresariais afirma que somente seis acreditam que a unidade monetária do euro sobreviverá. Outros dez pensam em uma nova zona do euro "restrita", com menos membros, como uma possível alternativa.

O colapso da zona do euro teria consequências econômicas e sociais desastrosas - quanto a isso os especialistas concordam. Mergulharia o continente em levantes sociais similares aos ocorridos durante a primeira metade do século passado.

Nesse contexto, as tensões nacionais na Europa estão aumentando. França e Itália, apoiadas pelo Reino Unido e pelos EUA, defendem a criação de títulos europeus conjuntos (euro-títulos), e a disponibilização de fundos ilimitados pelo Banco Central Europeu aos países endividados para satisfazer o apetite dos mercados financeiros.

Quando o presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso apresentou seus próprios planos para os euro-títulos na quarta-feira em Bruxelas, Berlim reagiu com histeria. A mídia se enfureceu com a "provocação de Barroso", e a chanceler Angela Merkel denunciou sua iniciativa na frente do parlamento. "Nunca antes na história da UE um presidente da Comissão foi de tal maneira publicamente bofeteado por uma chanceler alemã", o Süddeutsche Zeitung comentou.

Alexandre Dobrindt, o secretário geral do CSU bavariano, atacou Barroso no Bild chamando-o de "um mercenário dos estados Dolce Vita, que querem meter suas mãos na nossa caixa registradora". O ministro da economia Philipp Roesler insistiu que a Alemanha não assumirá qualquer responsabilidade financeira por outros estados da zona do euro. "Nós dizemos 'não' aos euro-títulos", ele disse. "Uma união compensatória seria errada porque significaria que os contribuintes alemães pagariam os custos. Os euro-títulos são errados porque eles implicariam no aumento das taxas de juro na Alemanha."

Em encontro com o presidente francês Nicolas Sarkozy e com o primeiro ministro italiano Mario Monti na quinta-feira, a chanceler Merkel insistiu no seu 'não' aos euro-títulos. Ela anunciou que a Alemanha e a França apresentarão propostas de mudanças nos tratados da UE dentro de alguns dias. O objetivo é dar a Bruxelas os meios para implementar medidas de austeridade ainda mais duras. Aqueles que violarem o Pacto de Crescimento e Estabilidade "precisam prestar contas", Merkel insistiu.

Há indicações de que Merkel pode em última instância concordar com os euro-títulos, assim como concordou com o EFSF e outras medidas, após inicialmente se opor. Mas seu preço será alto. Em troca, o governo alemão está pedindo um Pacto de Estabilidade mais rígido, permitindo que Bruxelas instale uma verdadeira ditadura sobre os orçamentos de Estados-membros individuais. Isso permitiria que a UE jogasse o fardo da crise sobre os trabalhadores sem se preocupar com a opinião pública e os procedimentos democráticos.

O objetivo da criação dos euro-títulos é salvar os bens dos bancos e os fundos dos super-ricos com o uso de dinheiro público, ao mesmo tempo em que o fardo da crise é transferido para as costas da classe trabalhadora. Mesmo assim, os Social Democratas, os Verdes e o Partido de Esquerda alemão apoiam com entusiasmo essa medida.

Longe de solucionar a crise, os euro-títulos seriam tão ineficazes quanto o EFSF e outras medidas.

A ideia de que a Alemanha pode tirar a Itália, a França e a Espanha de suas dificuldades graças à sua força econômica é uma ilusão. Mesmo que ignoremos o fato de que a própria Alemanha está altamente endividada e bastante suscetível às flutuações da economia mundial devido à sua dependência sobre as exportações, sua economia não é grande o suficiente. O PIB alemão de US$ 3,3 trilhões representa apenas um quinto do PIB de toda a União Europeia, e apenas metade do PIB combinado da França, Itália e Espanha.

Além disso, a causa básica da crise não é o endividamento dos países europeus. Na realidade, a dívida média dos países da UE é consideravelmente menor que a dívida dos EUA, Japão ou Reino Unido. Na realidade se trata de uma crise internacional do sistema capitalista, cujo epicentro está nos EUA. A Europa é o principal alvo dos ataques do mercado financeiro porque está cindida e fragmentada.

A União Europeia não "unificou" a Europa, apenas subordinou-a às corporações industriais e financeiras mais poderosas; também não superou os antagonismos nacionais, que ressurgem sempre que a crise se intensifica. A classe capitalista é organicamente incapaz de unificar o continente em torno dos interesses da população, porque a propriedade privada capitalista está indissoluvelmente ligada ao Estado-nação.

Um solução historicamente progressista para a crise só é possível na base da transformação das relações de propriedade existentes. Os bancos, grandes corporações e principais fortunas privadas precisam ser expropriados, submetidos ao controle democrático, para servir à sociedade como um todo. As necessidades sociais precisam ter precedência sobre o impulso de obtenção de lucros.

Tal perspectiva socialista só pode ser realizada num continente tão estreitamente conectado econômica e socialmente através da colaboração internacional da classe trabalhadora. A tarefa é a construção dos Estados Unidos Socialistas da Europa. A alternativa, como na década de 1930, é a balcanização do continente e uma recaída na ditadura e na guerra.

Traduzido por movimentonn.org