O ataque da polícia que ocorreu no dia 18 de novembro
contra estudantes que protestavam na Universidade da Califórnia,
Davis, expôs o caráter brutal e reacionário
das relações políticas, sociais e econômicas
nos Estados Unidos.
Por todas as suas autoproclamações vangloriosas
à democracia, a hipocrisia e falsidade da elite dominante
americana está desmascarada para que todos vejam o momento
em que os super-ricos e seu governo percebem uma ameaça
aos interesses da aristocracia corporativa e financeira que controla
os Estados Unidos.
A guarda universitária estava armada para uma zona de
Guerra. Fica claro a partir de suas ações que eles
encaravam os estudantes não como seres humanos, mas como
coisas - a serem controladas, violentadas e até mesmo assassinadas
se houvesse ordens para isso. O policial que jogou spray nos estudantes
fez seu trabalho plácida e metodicamente, tratando suas
vítimas como se fossem insetos ou, quem sabe, ervas-daninhas
em seu quintal. Seus colegas de trabalho não esboçaram
o mínimo desconforto com suas ações.
O governo americano usou a questão dos direitos humanos
para justificar seus ataques a qualquer regime que saia do controle
de seus interesses geopolíticos. É possível
imaginar imaginar o alvoroço na mídia caso os eventos
da UC Davis tivessem ocorrido em uma universidade em Teerã.
De fato, não há nenhuma classe dominante no mundo
que tenha qualquer coisa a ensinar à elite corporativa
americana quando se trata de repressão e violência.
Não é mera coincidência que o ataque aos
estudantes da UC Davis ocorre ao mesmo tempo que o regime apoiado
pelos EUA no Egito reprime violentamente os manifestantes da praça
Tahrir. A dimensão dos ataques pode ser diferente, mas
o conteúdo é o mesmo.
Por todo o mundo, trabalhadores e jovens se envolvem em uma
crescente luta de classes contra as medidas de austeridade e o
desemprego em massa. A resposta de cada governo é usar
a repressão de Estado para impor os ditames da elite financeira.
O tratamento violento dado aos estudantes da Califórnia
é uma medida do medo e da ansiedade que a elite financeira
e política estão sentindo. Se essa é a resposta
aos primeiros estágios de oposição social,
que envolve ainda um número relativamente pequeno de estudantes
e jovens, só é possível imaginar a escala
da violência com que a elite governante americana irá
responder quando confrontada com greves e manifestações
de massas de setores muito mais amplos da classe trabalhadora.
É um sinal da decadência da democracia Americana
e do crescimento explosivo da desigualdade social o fato que,
desde o princípio, o movimento Ocupa Wall Street foi combatido
com violência. As prisões em massa de manifestantes
na ponte do Brooklyn no dia 1º de outubro foram seguidas
de uma crescente perseguição que foi realizada por
todo o país. Isso inclui o uso de gás lacrimogêneo
e balas de plástico em Oakland, que deixou um veterano
da guerra do Iraque seriamente ferido, e o ataque em estilo militar
para destruir o acampamento do Ocupa Wall Street no parque Zuccotti
em Manhattan. No fim de semana passado, uma jovem manifestante
em Seattle, grávida de três meses, sofreu um aborto
após ter sido agredida duas vezes na barriga antes de levar
spray de pimenta pela polícia.
Por todo o país mais de 4.600 pessoas envolvidas nas
manifestações do Ocupa Wall Street foram presas
até agora. Governos locais, aconselhados pelo FBI e pelo
departamento de segurança interna do governo Obama, coordenaram
seus esforços para esmagar o movimento.
Esta repressão revela duas verdades fundamentais. A
primeira é que os direitos democráticos são
incompatíveis com um sistema em que a riqueza da sociedade
é monopolizada pelo 1% mais rico, as reivindicações
da elite financeira - por austeridade, pela destruição
dos programas sociais e por guerra - não podem ser realizadas
por meios democráticos. A oposição da crescente
maioria só poderá ser resolvida por meio de recursos
a métodos cada vez mais autoritários.
A segunda é que o estado - os políticos, a polícia
e a justiça - não é um corpo imparcial. É
o Estado capitalista, que funciona para defender a propriedade
e o domínio político da oligarquia corporativa e
financeira.
Deve-se notar que a violência policial na Califórnia
está sendo presidida pelo ícone liberal e governador
democrata, Jerry Brown, e que a chefe da guarda universitária
da UC Davis é uma mulher, assim como a reitora. No topo
do governo americano temos um afro-americano. Isso é para
lembrar os militantes e políticas de identidade, que constantemente
vendem a alegação de que o sistema político
pode ser transformado ao se colocar mulheres e minorias em posições
de poder!
Tampouco se trata de reivindicar aos poderes existentes que
ajam mais humanamente. Em meio à pior crise econômica
desde a Grande Depressão, os democratas e republicanos
estão engajados em uma luta acirrada sobre como será
a melhor forma de cortar trilhões das despesas governamentais.
No início da semana, o presidente Obama reafirmou aos mercados
financeiros que ele não iria voltar atrás em implementar
os cortes mais dracônicos à educação,
saúde e outros programas sociais dos quais dezenas de milhões
de pessoas dependem.
Por trás dessas ações estão os
interesses materiais e de classe. A elite financeira e seus representantes
políticos estão buscando fazer a classe trabalhadora
pagar pela crise mundial do sistema capitalista. Ela é
incapaz de educar os jovens. Ela não pode providenciar
empregos. Ela só é capaz de enriquecer o 1% que
está no topo e de organizar guerras e repressão
de Estado.
O impacto da piora das condições sociais está
levando setores cada vez maiores de trabalhadores e jovens para
a luta. É preciso compreender que se trata de uma luta
política que envolve interesses sociais e de classe irreconciliáveis.
Se as necessidades da população estiverem acima
dos interesses lucrativos dos bancos e empresas, uma transformação
revolucionária faz-se necessária. A classe trabalhadora
- a vasta maioria da população - tem que tomar as
rédeas do poder político em suas próprias
mãos.
A redistribuição da riqueza de baixo pra cima
é urgentemente necessária. Isso requer substituir
o capitalismo pelo socialismo para que a riqueza da sociedade
seja colocada a serviço da maioria - isto é, da
classe trabalhadora que produz essa riqueza.
Entre os trabalhadores há uma ampla oposição
aos ataques da polícia na UC Davis e simpatia pelos manifestantes
do movimento Ocupa Wall Street. As condições estão
postas para forjar a mais poderosa unidade entre a juventude,
que luta contra aumentos de mensalidade e pelo direito a um futuro
decente, e trabalhadores que enfrentam um incansável ataque
a seus empregos e condições de vida.
Os estudantes da UC Davis e outros manifestantes do movimento
de ocupações não podem restringir suas ações
aos campi universitários e acampamentos. Eles devem se
voltar à classe trabalhadora - a todos aqueles que vivem
contando seus salários mês a mês e trabalham
em escritórios, fábricas e serviços públicos
- e transformar essa simpatia em um poderoso movimento político,
independente dos dois partidos do grande capital e armado de um
programa para dar fim à desigualdade social de uma vez
por todas.