WSWS : Portuguese
Manifestantes e polícia se confrontam em manifestação
em Atenas
Por Stefan Steinberg
18 de maio de 2011
Utilice
esta versión para imprimir |
Comunicar-se
com o autor
Publicado originalmente em inglês em 13 de maio de
2011
Trabalhadores e jovens gregos saíram mais uma vez às
ruas de Atenas nesta quarta-feira para protestar contra uma nova
rodada de medidas de austeridade que serão introduzidas
pelo governo social-democrata (PASOK), do primeiro-ministro George
Papandreou. A manifestação foi acompanhada pela
segunda greve geral realizada este ano e a décima desde
a eclosão da crise financeira internacional em 2008.
O evento expressa tanto a esmagadora hostilidade popular aos
cortes de Papandreou quanto a crescente desconfiança das
políticas dos sindicatos gregos e seus apoiadores políticos.
Controladas pelo PASOK, as principais federações
sindicais têm cinicamente chamado greves de um dia para
mostrar serviço, enquanto negociam os cortes com Papandreou.
A greve de 24 horas fechou escolas e trouxe o transporte público
a um impasse por todo o país, afetando especialmente os
serviços de trem e de balsa. As redes de televisão
e emissoras de rádio participaram da greve, e a imprensa
chegou a um acordo de paralisação com os jornalistas
para não publicar jornais do país até sexta-feira.
Professores, funcionários públicos, enfermeiros,
universitários e servidores da universidade também
entraram em greve em 14 cidades de todo o país.
Os controladores de tráfego aéreo também
atuaram em greve não autorizando voos por quatro horas.
No início da temporada turística da Grécia,
os dois principais operadores de voo, o Olympic e o Aegean, foram
forçados a cancelar ou atrasar cerca de 50 voos.
Segundo os dados da Confederação Geral dos Trabalhadores
da Grécia (GSEE) quase 100% de todos os trabalhadores de
refinarias, estaleiros e navios do país, 95% nos portos,
90% na construção, 80% nos bancos, e 85% em serviços
públicos e organizações estatais (DEKO) entraram
em greve.
O comparecimento para a principal manifestação
em Atenas chamada pelo GSEE e pela federação dos
sindicatos dos funcionários públicos ADEDY foi estimado
em cerca de 20.000.
Este número é substancialmente menor do que a
participação em manifestações anteriores,
indicando crescente desilusão com os sindicatos, cujos
protestos não oferecem nenhuma perspectiva para a oposição
política a Papandreou. Os sindicatos utilizaram o protesto
de quarta-feira para fazer uma passeata pelo centro da cidade
e entregar uma resolução para os parlamentares.
Desde o início da crise grega, os sindicatos têm
desempenhado um papel completamente cínico. Nenhuma de
suas greves de um dia foi chamada sob uma perspectiva de oposição
política, muito menos sob uma perspectiva de derrubar o
governo de Papandreou. No ano passado, os sindicatos se recusaram
a organizar qualquer tipo de ação de solidariedade
para com os motoristas de caminhão, cuja greve representou
uma ameaça real para o governo grego.
Na quarta-feira, uma seção de jovens manifestantes
interrompeu a marcha principal liderada por sindicatos. Eles seguiram
para os escritórios do governo, onde as cabeças
da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional
se reuniam com funcionários do governo para elaborar a
próxima etapa do programa nacional de austeridade.
A polícia então interveio com gás lacrimogêneo
e cassetetes para dispersar violentamente a multidão de
jovens que gritava slogans contra a série incessante de
medidas de austeridade exigida pelos bancos.
Nos confrontos que se seguiram, dois manifestantes foram feridos
seriamente. Um de 31 anos de idade sofreu ferimentos graves na
cabeça e foi dito que ele se encontra em estado grave em
um hospital de Atenas desde quinta-feira, após uma cirurgia
no cérebro. Outro manifestante de 29 anos também
recebeu tratamento em um dos principais hospitais da cidade por
ter sofrido ferimentos sérios.
Ao todo, os hospitais por toda a capital trataram de dezenas
de manifestantes com ferimentos sofridos durante o ato. Um total
de 24 manifestantes foram detidos pela polícia. Uma série
de comentaristas notou que a extensão das lesões
sofridas pelos manifestantes indicava uma mudança de tática
por parte da polícia em favor de uma estratégia
"sem reservas".
Raiva e descontentamento estão crescendo por toda a
Grécia, já que as condições de vida
para largas camadas da população estão cada
vez mais intoleráveis. O país agora tem uma taxa
oficial de desemprego de mais de 15%, com o desemprego dos jovens
em 30%. Uma série de aumentos nos impostos básicos,
combinados a cortes de salários de até 15%, tem
levado a um colapso total do consumo, uma queda drástica
de receitas para o Estado e recessão econômica prolongada.
De acordo com a câmara de comércio grega, os três
primeiros meses deste ano tiveram uma queda entre 25% e 30% do
consumo público. Isto segue um declínio de 25% em
2010. O resultado da queda da atividade econômica é
um colapso em pequenas empresas, visto por analistas financeiros
como a única esperança para uma volta ao crescimento
econômico.
A situação das pequenas empresas é evidente
ao caminhar pelas ruas de Atenas, onde o número de lojas
fechadas com tábuas aumenta diariamente. Segundo dados
oficiais, o número de empresas que fecharam na Grécia
no ano passado totalizou 56.037, com o fechamento de negócios
superiores a 10.200 nos dois primeiros meses deste ano.
Preso em uma espiral de recessão e de crescimento da
dívida, o primeiro-ministro George Papandreou introduziu
agora uma nova parcela de medidas de austeridade que visam cortar
mais 23 bilhões de euros (32 bilhões de dólares)
da despesa pública e privada. Além disso, seu governo
se comprometeu a arrecadar 50 bilhões de euros através
da privatização dos interesses do estado, incluindo
o compromisso de privatizar totalmente a Hellenic Telecommunications
Organisation, principal empresa de eletricidade do país,
e o aeroporto de Atenas.
Ao mesmo tempo, é cada vez mais evidente que a atual
estratégia da União Europeia e do FMI para a Grécia
não é suficiente para satisfazer aos investidores
em títulos do mercado e às agências de rating,
que estão especulando sobre um padrão grego em reembolsos
de empréstimo. Na quarta-feira o diário grego Kathimerini
informou que o FMI está montando um novo pacote de resgate
de 80 a 100 bilhões de euros.
Como a aristocracia financeira na Grécia e internacionalmente
se recusou a se responsabilizar por qualquer perda decorrente
da crise econômica, elas insistem que isso é a única
alternativa para a "reestruturação" da
dívida grega - isto é, para a negligência
do estado grego.
Esta opção é muito contestada dentro da
Europa. Os círculos bancários e financeiros alemães
têm indicado ativamente o seu apoio para uma reestruturação
da dívida, mas ela é ferozmente rejeitada pelo Banco
Central Europeu e, em particular pelo Ministério das Finanças
francês. Eles temem que tal medida possa provocar um colapso
do setor bancário francês e europeu.
Na quarta-feira, a ministra das Finanças francesa, Christine
Lagarde, indicou que ela poderia apoiar outra ajuda para a Grécia,
mas se colocou absolutamente ao contrário de qualquer forma
de reestruturação. Ela disse ao diário francês
Le Figaro: "Nós a excluímos totalmente [reestruturação],
sob qualquer forma. (...) Ninguém quer manter os países
em dificuldades de financiamento como este. Mas devemos absolutamente
fazê-lo, porque a reestruturação da dívida
soberana envia uma mensagem negativa para os investidores de que
toda a zona que sofre (...)"
Falando em favor do Banco Central Europeu, Lorenzo Bini Smaghi,
membro italiano do órgão, foi ainda mais direto.
Afirmou ao jornal italiano La Stampa que a reestruturação
da dívida grega não levaria apenas ao colapso do
sistema bancário grego, mas também desencadearia
uma verdadeira quebradeira econômica muito além
das fronteiras gregas.
Na Alemanha, entretanto, a oposição a qualquer
futuro resgate à Grécia cresce dentro das fileiras
do governo conservador. De acordo com uma reportagem desta quinta-feira
no Süddeutsche Zeitung, um número crescente de deputados
tanto da União Democrática Cristã e do Partido
Liberal-Democrata não mais apoiarão a linha política
da chanceler, caso ela concorde com qualquer ajuda à Grécia.
Figuras de destaque no mundo financeiro também participaram
do debate. Alguns dias atrás Hans-Werner Sinn, diretor
do IFO (Instituto para Pesquisa Econômica), insistiu em
sua defesa de que a Grécia deveria abandonar a moeda comum.
Segundo ele, isso se justificaria diante das possibilidades de
revoltas e levantes ainda mais radicalizados dos trabalhadores:
Se a Grécia decidir atender a assim chamada desvalorização
interna - que é: corte de salários e preços
dentro do país - haveria o risco de surgir uma guerra civil.
Todas as possibilidades então em discussão -
um novo empréstimo para a Grécia, vinculado com
mais medidas de austeridade, uma reestruturação
da dívida grega, ou a separação do país
da Zona do Euro - teria consequencias imensuráveis para
a classe trabalhadora não só grega, mas da Europa
como um todo.
(traduzido
por movimentonn.org)
Regresar a la parte superior de la página
Copyright 1998-2012
World Socialist Web Site
All rights reserved |