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Presidente do Fed delineia política de guerra de classes
Por Andre Damon
5 de maio de 2011
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O presidente do Banco Central Americano (Fed), Ben Bernanke,
participou de uma coletiva de imprensa na quarta-feira, na qual
ele mostrou sinais de uma intensificação da política
econômica predatória da classe dominante: a desvalorização
do dólar, alto desemprego e um ataque mais extensivo à
classe trabalhadora.
As manchetes de jornais de quarta-feira apresentaram os resultados
dessa política: o mercado de ações atingiu
a maior alta dos últimos dez anos, o preço do ouro
atingiu um novo recorde e o dólar americano chegou próximo
do nível mais baixo que já atingira anteriormente.
A coletiva de imprensa com Bernanke - a primeira vez em que
um presidente do Fed respondeu a uma bateria de perguntas da mídia
- ocorreu após um encontro do Comitê Federal de Mercado
Aberto, que publicou uma declaração horas antes
afirmando seu compromisso de concluir a extraordinária
compra de títulos, chamada QE2 (quantitative easing - flexibilização
quantitativa), até junho, como havia anunciado anteriormente.
O comitê também rebaixou suas previsões
econômicas para 2011, esperando mais desemprego, maior inflação
e um crescimento mais lento do que havia previsto anteriormente.
Os economistas aguardam um anúncio do departamento de comércio
na quinta-feira de um crescimento de 2% da economia americana
no primeiro trimestre de 2011, comparado ao de 3,4% do quarto
trimestre do ano passado e 4,5% do terceiro trimestre.
Bernanke apontou uma série de causas para a esperada
desaceleração, incluindo as baixas nas exportações,
as intempéries meteorológicas e a queda continuada
do mercado imobiliário. Notavelmente, ele não incluiu
os cortes de orçamento federais, estaduais ou municipais
na sua lista de causas. Mais tarde ele disse explicitamente que,
em sua opinião, o efeito dos cortes de gastos do governo
havia sido irrelevante ao crescimento econômico.
Geralmente reservado em suas apologias à austeridade
fiscal, Bernanke elogiou indubitavelmente os cortes de orçamento
que estão sendo discutidos pelo Congresso. Disse ele que
resolver o deficit é a questão mais importante para
o país, e disse também que era grato pelo fato de
o Congresso ter levado a sério essa discussão.
Ele não apresentou nada além de elogios à
atitude, na semana passada, da Standard & Poor's, a agência
de avaliação de dívidas, a rebaixar as perspectivas
para a dívida soberana dos EUA, dizendo que ele esperava
que o rebaixamento fosse pressionar os legisladores a reduzir
a dívida federal.
Em resposta à declaração de Bernanke,
um repórter disse: Nos últimos tempos houve
situações em que a política fiscal apertava
e o Fed optava por afrouxar sua política em resposta.
O repórter apontou para o impacto desastroso das medidas
de austeridade sobre a economia britânica, e perguntou se
o Fed poderia fazer qualquer coisa para prevenir um resultado
parecido.
Bernanke respondeu categoricamente: Os cortes que foram
feitos até agora não nos parecem ter produzido consequências
significativas para a atividade econômica a curto prazo,
uma declaração que entrou em flagrante contradição
com a desaceleração econômica que Bernanke
dizia que seria refletida nos índices do primeiro trimestre.
Os funcionários do Fed disseram que esperavam um crescimento
do produto interno bruto americano na faixa de 3,1-3,3% em 2011,
porcentagem bem abaixo de suas estimativas anteriores de 3,4-3,9%.
Também disseram que a expectativa de inflação
é de 2,1-2,8% neste ano, comparados ao 1,3% a 1,7% da estimativa
anterior.
Bernanke apresentou todas as suas medidas que se encaixam dentro
da margem de preservação do mandato duplo
do Fed: baixo desemprego e estabilidade de preços. Mas,
na realidade, o baixo desemprego não poderia estar mais
distante da cabeça do presidente do Fed. Seu verdadeiro
objetivo é escorar os lucros financeiros com dinheiro fácil,
empobrecer os trabalhadores por meio do desemprego e da inflação
e levar adiante uma guerra comercial contra os rivais dos EUA
ao desvalorizar o dólar.
Quando questionado por um repórter por que o Fed fora
incapaz de abaixar o índice de desemprego mais rapidamente,
Bernanke disse que a resposta do Fed fora bem agressiva.
Essa declaração não passou de um falso amálgama
entre os trilhões de dólares de dinheiro de resgate
dado aos bancos e o objetivo aparente de diminuir o desemprego.
Mas, ao invés de contratarem, as empresas embolsaram o
dinheiro ou usaram-no para apostar em ações e commodities.
A coletiva de imprensa aconteceu em meio a um drástico
aumento no preço dos alimentos e do gás. Os preços
mundiais de alimentos subiram 36% no ano passado, de acordo com
o Programa Alimentar Mundial, e o preço da gasolina nos
postos dos EUA aumentou em um dólar no mesmo período.
A inflação total dos EUA nos últimos 12
meses foi de 2,7%, de acordo com os números do Índice
de Preços ao Consumidor do Escritório de Estatísticas
do Trabalho, o qual enfrenta sérias críticas por
atenuar o aumento nos preços da energia e dos alimentos.
Bernanke disse que quase todo o aumento no preço
do combustível nos últimos anos deu-se por duas
causas: o conflito político no Oriente Médio e a
crescente demanda dos países em desenvolvimento. Na prática,
Bernanke descartou qualquer contribuição por parte
da política expansionista do Fed, a qual inundou a economia
mundial com dinheiro e facilitou um aumento mundial da especulação.
O dólar Americano caiu quase 17% em relação
a outras moedas desde junho, atingindo a pior baixa dos últimos
dois anos e meio na quarta-feira passada e chegando perto de seu
valor mais baixo na história. Bernanke procurou atenuar
acusações de que o Fed estaria desvalorizando o
dólar de maneira competitiva como um estímulo predatório
à indústria americana, dizendo: O Fed acredita
que um dólar forte e estável é dos melhores
interesses dos EUA e do interesse da economia mundial.
Em novembro de 2010, o Fed anunciou que iria comprar US$ 600
bilhões em títulos do tesouro, além dos ativos
já presentes em seus livros, na tentativa de expandir a
oferta de dinheiro para além do piso criado
pela taxa quase zero dos fundos federais. O Fed já havia
indicado que iria concluir o programa em junho, e confirmado seus
planos com a divulgação da declaração
do Comitê Federal de Mercado Aberto.
Bernanke insistiu que a finalização programada
do programa de compra de ativos do Fed não constituía
uma forma de aperto fiscal, uma vez que o Fed não venderia
os ativos que comprara, mas continuaria a mantê-los em seus
livros. Ele disse que, caso o Fed quisesse apertar a oferta de
dinheiro, ele o faria vendendo títulos e ativos do tesouro
que ele havia comprado. O presidente do Fed recusou-se a especificar
quando ele pensava que tal aperto monetário ocorreria.
A coletiva de imprensa de Bernanke sinaliza uma continuidade
da política parasita da classe dominante americana. Os
EUA continuarão a inundar a economia mundial com dinheiro,
alimentando a inflação mundial, disparando os preços
de energia, dos alimentos e toda a miséria que disso advém.
Ao mesmo tempo, Bernanke anunciou, mas explicitamente do que
qualquer outro presidente do Banco Central Americano antes dele,
seu apoio à austeridade, mesmo que os planos que ele apoia
ameacem afundar a economia dos EUA em uma segunda recessão,
jogando milhões de pessoas a mais no desemprego e causando
tremenda miséria humana.
[traduzido
por movimentonn.org]
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